sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

POR CONTA DE UMAS QUESTÕES PARALELAS, QUEBRARAM O MEU BANDOLIM

Um insistente cheiro de alcova paira sobre este hebdomadário virtual. As tiriricas crescem por entre os vãos dos posts e não há muito que eu consiga fazer quanto a isso neste momento. Então, como diria Luana Piovani a Dado Dolabela: "O melhor a fazer, meu bem, é dar um tempo" - apesar da referência, prometo não estapear o ilustre leitor.

Digo apenas que volto em poucas semanas com novidades impressionantes. Enquanto isso, deixo uma frase de alto impacto para o leitor pensar enquanto contempla o infinito durante o próximo churrasco na laje do seu primo:



"Suprimamos as tarifas, e assim será declarada a aliança dos povos, reconhecida a sua solidariedade e proclamada a sua igualdade. Aquele que botar as mão sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo"

Andrezinho do Molejo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

RITA CADILLAC AMOU POR SETE FILMES E MUITOS CONTOS DE RÉIS

Semana passada, cliquei na home do UOL e acabei indo parar na sala de bate-papo que entrevistava ao vivo a Rita Cadillac.

E aqui vale uma rubrica: devo deixar bem claro que fiz isso por acaso, é claro, enquanto zapeava pela internet. Porque eu, fino leitor, assim como você e todos os nossos amigos e conhecidos, não gosto de baixaria, assim como só assistimos ao programa da Luciana Gimenez enquanto mudamos de canal. Nem eu, nem você nem todas as pessoas de nosso nível obviamente não vemos os desfiles de langerie do Superpop às quartas-feiras (durante o intervalo do jogo da Globo), nem os pega-pra-capar entre modelos e atrizes de filmes da Brasileirinhas. Quem faz isso são os corintianos da periferia, nós jamais.

Posto o intróito, vamos ao conteúdo: Rita falava sobre seu último filme pornô, Puro Desejo, onde ela é protagonista ao lado daquele que foi sabiamente apelidado por José Simão como "o rinoceronte de sunga", Alexandre Frota.

Último mesmo: segundo a ex-chacrete, após sete pornôs - entre os quais atuou com Carlão Bazuca, Mateus Carrieri e Oliver, o galã do Teste de Fidelidade -, está na hora de pendurar a camisinha e deixar essa vida.

O mesmo vale para Alexandre Frota: após uma intensa carreira no mundo da putaria, o ex de Claudia Raia virou evangélico e diz estar arrependido de ter sido o principal ator da Brasileirinhas nos últimos anos.

Não questiono nem de longe que as pessoas resolvam fazer filmes pornôs. Mas é impressionante como praticamente todas as celebridades B que vão para este mundo acabam, ao fim do contrato, por dizer que estão arrependidos de ter ido por este caminho. É claro que nenhum deles rasga os cheques que ganharam...

Mas não era exatamente desta questão que eu queria falar.

Entrei neste assunto porque notei que todas as salas de bate-papo do UOL têm nomes artísticos e, por alguma ironia do destino, a entrevista com Rita Cadillac ocorreu na sala Machado de Assis. Foi na sala Machado de Assis que Rita respondeu aos fãs que gosta de homens mais velhos que ela, que escolheu os atores com quem atuou "pelos neurônios" e que ela não tem prazer ao fazer os filmes.

Não que o filme vá vender muito. Depois da invenção da internet e do Rapidshare, o público da Brasileirinhas não gasta um centavo para ver Rita e o "Frotinha" em ação.

Ou, atualizando o próprio Machado: o mundo foi estreito para Alexandre (o da Macedônia, não o Frota). Um desvão na internet é o infinito para duas andorinhas.

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Clique aqui para ver a Rita Cadillac no bate-papo do UOL, na sala Machado de Assis. Destaque para os comentários dos usuários sobre o mau desempenho dela nas filmagens.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SERÁ BABÁ MARAVILHA O FILHO DO DEMÔNIO?


Barack Obama venceu John McCain...


... e agora pode se tornar o anticristo, como em A Profecia

Você provavelmente já sabe que os Estados Unidos são compostos por 52 estados politicamente divididos entre republicanos (os da direita) e democratas (os um pouquinho menos de direita), e que entre estes ainda existem meia dúzia de não alinhados e outros tantos que são destaques só em seus estados ou condados. No entanto, há uma divisão silenciosa mais profunda que domina este país: os babetas e os não-babetas.

Beira o irresistível dizer que os rincões republicanos são os primeiros e que os democratas se enquadram na segunda categoria, mas a coisa provavelmente não é bem assim. O democrata que quiser se dar bem num estado composto por rednecks que dividem a humanidade em brancos bons de um lado e comunistas pretos ateus do outro têm que vestir as ferraduras da humildade e se dispor a relinchar. Por outro lado, o republicano que quiser se dar bem em Nova Iorque tem que ter noção do ridículo. Portanto, o buraco é mais embaixo.

E agora que Dadá Maravilha derrotou Valdir Espinoza na corrida presidencial dos Estados Unidos, dúvidas, angústias e tristezas profundas surgiram das profundezas do Texas, Oklahoma e companhia. Por exemplo: quanto de melanina tem o Presidente Obama?

Aproveito o ensejo klukluxklânico para adubar ainda mais a fértil mente dos excessivamente conservadores do interior da América (adoro quando os americanos referem-se a si mesmos como América e ao restante do continente como México). Há um trecho nas revelações de João - não estou falando do Movimento Cansei, nem este João é o Dória Júnior -, também conhecido como o Livro do Apocalipse, que fala da Besta que vai dominar o mundo, conforme apresentado no filme A Profecia:

Quando os judeus retornarem à Sião / e um cometa varar o céu / o Sagrado Império Romano se erguerá / e você e eu iremos morrer. / Do mar eterno ele se ergue / criando exércitos em ambas as costas / virando o homem contra seu irmão / até o homem deixar de existir.

Um pouco de conspiração sempre é legal. Judeus voltando à Sião é Israel. O Sagrado Império Romano é a Europa; Do mar eterno, de acordo com o filme, é a política. Só ficou meio capenga esse cometa varando o céu, mas a gente bota um Fokker 100 da TAM no meio e estamos aí com a verdade factual.

O fato é a série de de A Profecia interpreta este trecho do Apocalipse a apontar o filho do demônio como um presidente dos States que surge do nada e cativa a todos. Provavelmente é o filme mais requisitado do Netmovies de Kentucky no momento.

No mais, jogando para escanteio a questão demoníaca, por um lado, e a euforia pela vitória obamística, pelo outro, penso que o primeiro presidente negro da história do nosso grande irmão será não mais que um bom presidente dos Estados Unidos, o que nem sempre - nunca? - tem relação alguma com ser bom para o restante do mundo.

Ao menos a vitória simbólica de um negro que chegou à presidência é a coisa mais fantástica que já ocorreu no combate ao racismo dos babetas. Embora não espere muito do novo presidente, não custa nada torcer. Ou, como diria Vladimir Lênin em outubro de 1917: O sol é só uma promessa, eu tenho pressa, vamos nessa direção.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ELEIÇÕES 2008: RELAXA MAS NÃO GOZA


Kassab eleito: See that girl, watch that scene, dig in the dancing queen*


Desde que neste domingo o juiz do TSE ergueu os braços e apitou o fim dos pleitos municipais de 2008, jornalistas, cientistas políticos, assessores de candidatos e modelos famosas de todas as matizes políticas têm ligado ininterruptamente para a redação de SorryPeriferia perguntando por minha opinião. Um político ex-pefelista ligado a Gilberto Kassab me procurou em nome dele sondando-me para um jantar a luz de velas com o prefeito no restaurante do hotel Deliriu´s, na Raposo Tavares, o que neguei peremptoriamente.

Portanto, eleitor leitor, aqui vão simpaticíssimos pitacos de um esquerdista que ainda tem algum flerte com o PT - apesar da desilusão com o partido -, e tem ojeriza a tucanices e peefelidades em geral. A conclusão é triste: em São Paulo as coisas não vão tão mal. Nos outros três principais centros do país, é melhor abrir a porta do hospício.


São Paulo

Contrariando as expectativas, não acho que Gilberto Kassab será um mau prefeito, embora talvez também não seja bom. Dois são os motivos.

Primeiro, nossa referência de pavor administrativo é a gestão Maluf/Pitta, e está claro que o alcaide (sempre quis usar essa palavra) que chegar perto dela, daqui a quatro anos, só irá agradar a taxistas reacionários.

Segundo, a cidade de São Paulo provavelmente é o lugar do Brasil em que a democracia funcione melhor, tanto pela importância da cidade no cenário nacional quanto por conta da exposição de mídia. Resumindo: a dona Marta e o Giba Kaká prometeram mundos e fundos na campanha. Se o Giba Kaká não cumprir, depois não se elegerá nem como síndico de condomínio.

Ainda há o fato de que, justamente pelos dois motivos citados acima, Kassab não ter o direto de não fazer nada para a periferia da cidade. A periferia vota por conta própria, não vai mais na onda da classe média. É agir ou perder a eleição daqui a quatro anos. Por isso, ver o DEM (demagogos? Demoníacos?) criando na marra AMA´s na Zona Leste é, com o perdão do maior de todos os clichês eleitorais, uma vitória da democracia.

Ponto positivo: O prefeito eleito vai ter que fazer tudo o que prometeu, ou depois de 2012 pode procurar uma vaga de balconista no Shopping Frei Caneca.

Ponto negativo: O governador e mordomo de filme de terror José Serra conseguiu criar um monstro chamado DEM no maior reduto eleitoral do país, justamente onde o DEM nunca foi absolutamente nada.


Rio de Janeiro

O Rio atualmente é tão relevante no cenário político quanto o Botafogo o é no futebol: já teve dias de glória, mas hoje é aquela zica que todo mundo conhece.

O eleito da vez é Eduardo Paes, um demagogozinho vaselina bem mais ou menos à melhor tradição dos últimos políticos cariocas, como Marcelo Alencar, César Maia, Luiz Paulo Conde e, mais recentemente, Sergio Cabral. Fosse carioca, eu teria votado no Gabeira no 2º turno. Não que ele seja grande coisa – Gabeira é politicamente dissimulado e tem certo desconhecimento da cidade – mas, reza a lenda, prega a ética no funcionalismo público e tem certo apelo ambientalista. Entre as nulidades, seria a nulidade diferente. O futuro político do Rio continua nebuloso.

Ponto Positivo: A ascensão de Fernando Gabeira brecou o crescimento de Marcelo Crivella, herdeiro da política garotinha e adorado pelos evangélicos de má fé.

Ponto Negativo: Se a política do Rio é o Botafogo, a esquerda carioca é o Bangu.


Belo Horizonte

Certa vez escrevi neste blogue que a política é transexual, e a eleição de BH é a maior prova disso: Aécio Neves, o tucano de narinas brancas, fechou acordo com o petista prefeito da capital Fernando Pimentel para criar um terceiro nome de consenso aliando PSDB e PT.

Criar mesmo: há três meses, se o administrador Marcio Lacerda fosse comprar um pão de queijo na esquina da Pampulha, ninguém o reconheceria. Foi eleito prefeito disputando o segundo turno com um Zé Mané chamado Leonardo Quintão, um nulo, o que me faz entender o que o mineiro Carlos Drummond quis dizer com Estrambote Melancólico.

Ponto positivo: não tem. Como diria o amigo Matheus Pichonelli: nem no câncer o mineiro é mais solidário.

Ponto negativo: as eleições em BH promovem desconhecidos da mesma forma que o Big Brother. E ainda prova que PT e PSDB estão cada dia mais parecidos.


Porto Alegre

O prefeito e coxinha João Fogaça foi reeleito, contrariando as expectativas. Sim, porque a tendência era de que a petista Maria do Rosário absorvesse, no 2º turno, os votos da comunista Manuela Ávila, formando a maioria, o que não aconteceu - grande parte dos votos desta foi para o risólis peemedebista. Isso prova uma coisa muito feia: uma horror de gente votou na Manuela não por conta do contexto ideológico da candidata, mas porque ela é bonitinha.

Há 15 anos, os gaúchos debochavam dos paulistas por termos o Maluf sempre nas cabeças das eleições de São Paulo. E tinham toda razão. Hoje o cenário gaúcho decaiu barbaridade.

É por isso que, quando vejo um gaúcho dizendo que gostaria da separação do Rio Grande do restante do país porque as coxilhas são mais desenvolvidas, eu já logo saio gritando: Onde é que eu assino?

Eu queria ver o Germano Rigotto de presidente, ou a Yeda Crusius de primeira-ministra ou o Neguinho do Pastoreio de presidente do Banco Central. Se houver algum leitor de SorryPeriferia uruguaio, eu pergunto: quer pra vocês? O pôr-do-sol no Guaíba é lindo.

Ponto Positivo: apesar de ter quatro grandes nomes estaduais – Raul Pont, Tarso Genro, Dilma Roussef e Olívia Dutra – o PT abre espaço para mais um nome, Maria do Rosário. O PT que eu gosto sempre foi o PT gaúcho.

Ponto Negativo: As bolhas eleitorais funcionam muito bem no Rio Grande. De repente o Rigotto vence a eleição. De repente a Yeda vence a eleição. De repente a Manuela ganha um monte de votos só porque é bonitinha. Já lanço a campanha para 2010: “Kleiton governador, Kledir vice”. E aí vou pra Porto Alegre e... bá! Tri-legal...

Se preparem, porque, como diria o cientista político Luciano Huck, as eleições de 2010 vão ser loucura, loucura.


Mais sobre os resultados das eleições:

- Blog do Savarese

- Blog do Alon Feuerwerker


* Foto: UOL.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O MARQUETEIRO É O LOBO DO HOMEM

Sejamos sinceros: se Jesus Cristo tivesse marqueteiros ao invés de apóstolos, a Santa Ceia teria sido um grande showmício com farta distribuição de macarronada pra rapaziada. Mais: um show da dupla caipira de apóstolos Simão e Tiago, que dariam um abraço fraterno no filho do homem enquanto todos fizessem o "V" da vitória. No discurso, Jotacê mostraria seus dentes clareados artificialmente enquanto prometeria transformar água em suco de uva - vinho é álcool, o que tiraria voto dos conservadores - e canalizá-lo até o morro da Babilônia.

Se a história fosse assim, Jesus não teria, como diria Daniel Piza, morrido enforcado. Poderia até virar um político influente da Palestina, feito uma aliançazinha marota com o PFL de Poncius Pilatus e, com um pouco de ajuda divina que de fato ele já tinha, até se tornado prefeito de Judá, com maioria no conselho de anciãos.

No entanto, o legado dele, sempre na hipótese de que de fato ele tenha existido, não teria durado dois mil anos, e sim até a eleição seguinte ou no próximo escândalo de corrupção.

Na verdade, eleitor leitor, eu falei tudo isso pra falar mesmo é da campanha eleitoral. Aqueles contos de ficção científica em que os robôs dominam os humanos já estão acontecendo, só que no lugar dos robôs nós temos a figura do marqueteiro de campanha, este um já uma entidade mística das eleições e governos mundo afora e que dita os rumos de quem faz política. Antigamente tínhamos os conselhos de anciãos, caciques, curandeiros, sábios e até filósofos por trás (no bom sentido) dos homens da vida pública. Hoje nós temos um sujeito que fez 4 anos de ESPM e um estágio com o Nizan Guanaes. Chupa, humanidade.

Em uma reunião entre o marqueteiro e o candidato em campanha, o primeiro tenta pegar a mensagem que o segunda quer passar (se é que ela existe), coloca umas bolas de natal pra enfeitar, uns artistas pra apelar e umas boas xícaras de hipocrisia e melodrama. Se na primeira pesquisa o Ibope (outra entidade mística) não apontar ascensão do candidato, aí joga tudo fora e parte pra baixaria. Enredo mais batido que os episódios do Ri Tim Tim.

É por isso que eu prego o combate ao marketing político, e ao dizer isso já posso visualizar os sorrisos sarcásticos de quem me enxerga como ingênuo ou anacrônico. Ingênuo vá lá, mas anacrônico mesmo é a Marta Suplicy subentender que Gilberto Kassab, seu adversário, é sãopaulino, tática usada pelo PSDB de José Serra em 2004 ao soltar um documento intitulado “Dona Marta e seus dois maridos”. No fundo é a mesma tática de política feita por coronéis do Nordeste de antigamente, que usavam argumentos como “não vote no Fulano porque ele é corno”.

É por isso que defendo a franciscanização da campanha política e, sobretudo, do horário eleitoral na TV. Não tem musiquinha, não tem artista falando, não tem figurantes passando por situações felizes. No máximo, uma produção a la Glauber Rocha: alguém segura uma câmera bem mixuruca e o candidato se vira nos cinco minutos. Ficaria muito chato, mas a separação entre política e entretenimento um dia vai ser tão importante para o século 21 quanto a separação entre igreja e estado o foi dois séculos atrás.

E pra encerrar, digo que um dia vou ter um hamster de estimação chamado Duda Mendonça. Uma metáfora de inversão de papéis não muito sutil.

POR ISSO CUIDADO MEU BEM, HÁ PERIGO NA ESQUINA...

Entraram neste blogue procurando por:

eu quero a mãe do vives do sorry periferia**
fernando fernandes pelado
penugem na cara
vasos ideal standard
patolar
espirito negão suzane
cotação de azeitona
bolacha hipopo
marcos ricca pelado
judeus famosos
gostosas de presidente epitacio em ponografia
vivi e o labrador
tira calça jeans poe o fio dental morena voce
travesti pontos são paulo berrini
salmo 23 analise sintatica
travesti do pau grande
show do boy george em são paulo
ser humano bicho analise
motel e insalubridade
mumia fenicia no brasil
cantores gospeu mexicanos
comentario do texto entre a jaula de aula e o picadeiro de aula
havanir pernas
o que e plutao eu quero so uma resposta bem piquena que esplique o que e
horoscopo mae dinah
que descobre o salto com vara
o que significa songa-monga
jequitinhonha gay
mulheres do cocotão
lhama minalba
belo felacio
estranho comportamento de elefantes
erasmo nuzzi -alaska
edson lobao biografia
quero saber o email da jornalista salete lemos
fernando pavao de sunga
ginastica ritmica para deficiente mental
porto riquenhas peludas
roqueiro costela
rinha de galos de jacutinga
menininhas carente de rola
como tirar agua do ouvido
tapa na peruca
musica dos viados
bolivia pais do caralho
a travesti me comeu em goiania
gostosas sem roupa de rio das ostras
dalva de oliveira travesti
lindberg farias , viado
erotismo programa amaury jr
sexo bater coxinha
vestimentas albanesas
coroinhas fashion
bar bacante swing

** este tem o Caio como réu confesso.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

PSICOLOGIA DE RESULTADOS

A única vez que estudei em colégio particular foi aos 15 anos, no primeiro colegial. E não foi uma experiência agradável. Entrei no primeiro dia de aula crente que, por vir de uma escola estadual para um dos colégios da elite da cidade, eu seria atrasado em relação aos demais e fatalmente sofreria um choque de realidade em meio a um povo que só estaria interessado em estudar, fazer faculdade, ler, essas coisas. Ledo engano: a grande massa era composta por filhos de gente rica que não tinha plano algum porque tinha certeza que o pai estava lá para sustentar. Eram pessoas de uma infantilidade ímpar.

Havia na minha classe um filho de chineses que era o grande alvo do que hoje as pedagogas que dão entrevista para a Veja chamam de bullying. Ele era absurdamente inteligente e ingênuo. Seus pais tinham uma pastelaria ao lado da rodoviária da cidade que, como todas as pastelarias de rodoviária, não primava pela higiene. Só este fato já poderia fazer dele alvo de chacotas, mas não parava por aí: ele era gordo e tinha espinhas na cara. Acho que 60% dos adolescentes hoje são gordos e 100% têm espinhas na cara, mas os idiotas da minha classe faziam da vida do chinês um inferno por conta disso, antes de tudo.

Durante o pouco que estudei naquele colégio vi o chinês sofrer trotes realmente absurdos. Antes das provas, os ditos fodões da turma pregavam o chinês na parede e obrigavam a passar cola, o que ele fazia religiosamente. Depois roubavam seus cadernos, pichavam-no, batiam-no, chutavam-no em rituais diários. Por conta de tudo isso, rigorosamente todos os dias o chinês chorava copiosamente na sala de aula.

Chorar é pouco: ele urrava. Diariamente os professores interrompiam as explanações, o china era encaminhado para a psicóloga da escola, o diretor era chamado e vinha com aquele papo de sempre: "Vocês precisam parar com isso", "vocês estão atrapalhando a vida do menino", "vocês estão causando traumas profundos nele", "vocês não estão respeitando o coleguinha", etc.

Ouvi uma vez no corredor a psicóloga tentando melhorar a auto-estima dele dizendo o básico: que ele era especial, inteligente, e que deveria ficar perto só dos que gostavam dele. Os diretores chamavam os pais do china à escola, mas, como é de domínio público, se houvesse um ranking de sensibilidade entre os povos, os chineses cairiam para a segunda divisão. Diziam que, em casa, também acabava sobrando umas bolachas ao pobre coitado.

O ritual do vandalismo no chinês, seguido do choro compulsivo dele, as aulas interrompidas e a ladainha dos professores e diretores, perdurou por meses a fio. Até que um dia ele chorou na aula de um professor chamado Norberto, de Biologia.

Norberto era um professor quietão. gente boa e low profile. Falava pouco e não aparecia muito. Ele entrou na classe e pegou o chinês desconsolado, arrancando os cabelos numa crise de choro compulsivo realmente desoladora. Então ao invés de repetir o procedimento de chamar a direção ou a psicóloga, chegou perto do china e disse mais ou menos isso, sem elevar o tom de voz:

- Moleque, todo dia eu ouço lá embaixo que você chora todo dia. E hoje entro aqui e você tá nesse berreiro. Faz um favor pra mim: vê se cresce. Você chora por causa de um monte de criança que atira bolinha de papel em você. Pois você é tão criança quanto eles. Aos 15 anos, você deveria ser muito melhor do que isso. Não tenho dó de você não. Vê se vira homem - e se virou para o lousa para escrever a matéria.

Até dezembro daquele ano, não vi o chinês verter mais nenhuma lágrima na escola.

Moral da história: às vezes, a única psicologia eficaz é um soco no estômago.

domingo, 12 de outubro de 2008

DE QUANDO PAREI DE BEBER

Do enviado ao sul da Bahia

Beber com freqüência e quantidade de gente grande tem suas descompensações. Aliás, só tem descompensações. A primeira e mais óbvia é a financeira, e lembro de certa vez de ter escrito neste blogue de como bebi toda a grana que estava destinada a compra de um sofá que até hoje nunca comprei. A segunda é a barriga de cerveja, acompanhada pela terceira e pela quarta, que são, respectivamente, a dificuldade de auto-controle quando embriagado e a dificuldade em se voltar para casa, ainda mais em dias de lei seca.

Porém, aqui nas praias da Bahia onde a lua se parece com a bandeira da Turquia, com a facilidade de uma vida saudável - frutas e iogurte no café da manhã, suco em todos os lugares - encanei numa vertente de pensamento cuja retórica é que urjo (acabo de personalizar abominavelmente o verbo urgir) parar de beber, ao menos em escala industrial.

Tirei o dia de ontem para fazer o teste que, se dependesse da minha empolgação, seria o primeiro dia do resto de minha vida. Cheguei na praia e pedi um suco de maracujá. O atendente, que já é meu brother mas cujo nome esqueci, me olhou de soslaio, mas trouxe o pedido. Pois bem, o que me incomoda no suco é que o copo é pequeno, não dá pra nada, e por isso pedi um de abacaxi cinco minutos depois. Depois outro de limão e acabou a variedade da barraca do Jonas, em Trancoso. Fiquei três horas na praia, tomei uns oito sucos, ora de maracujá, ora abacaxi, ora limão (gastei bem mais do que gastaria em cerveja). À noite, no jantar, repeti a dose e tomei mais uns dois sucos. Fui dormir com uma sensação de que agora seria uma pessoa saudável e que, no futuro, talvez até perca minha barriga de cerveja.

Hoje acordei com a boca infestada de aftas. Lembrei de que, quando era pequeno, tinha sérios problemas com aftas, geralmente causados pela acidez de alguns alimentos - sucos, por exemplo. À época, a médica falou para ficar longe dos sucos. Ela tinha toda razão, era uma gênia.

Quando cheguei à praia hoje, pedi uma caipirinha para comemorar. Não bebo mais suco por razões médicas, eles degradam meu sistema digestivo. Agora é só álcool mesmo. E termino este post com um aviso a você, abstêmio: pare de beber suco. Você não sabe o risco que sua saúde está correndo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

QUEM ME DERA TÁ SENDO UM PEIXE, PARA EM TEU LÍMPIDO AQUÁRIO TÁ MERGULHANDO...

Do enviado ao sul da Bahia

Após sucessivos porres à beira da praia, de ouvir um tatuador ambulante chegar pra mim e dizer "E aí, my friend, duiuanti a tatu?" e de observar um cão pitbull enorme e manso alucinadamente a tentar copular com uma senhora muito gorda que tomava sol na areia, concluí que, felizmente, os muitos meses de trabalho árduo não inibiram a minha capacidade de observar e/ou ser vítima de acontecimentos tão bizarros quanto fúteis. Faz parte da minha quintessência, seja lá o que quintessência signifique.

Achei um canto em Arraial d´Ajuda fora do eixo para turistas que faz um PF pantagruélico e honestíssimo por 10 reais. Trata-se de um botecão simplório de aparência similar àquelas mercearias de novela das oito que se passam no Nordeste (acho que a Globo desistiu delas neste década). Falando em novelas, dentro do bar, a meia dúzia de clientes bebia enquanto via a Patrícia Pillar fazendo malvadezas na tela da minúscula TV. Só conversavam no intervalo. E quando voltava deste, todos cerravam os olhos na tela novamente, concentrados. Depois dizem que novela é coisa de mulher: a única com cromossomos XX no recinto era a dona, que só olhava para a tela quando tinha gritaria.

Quando acabou a novela, debandada geral. Eu abocanhava o bife acebolado quando entrou outro local quarentão, barbudo, quase a gritar para a dona: "Bota na novela! Bota na novela!". A dona respondeu com desdém dizendo que tinha acabado de acabar. E o marmanjo: "Não essa! Bota na Pantanal!! Na Pantanal!!!".

Foi então que, direto da Bahia, onde vim para comer peixes mas que, com os preços absurdos destes, eu comia um bife acebolado, acabei também por observar tuiuius no lugar das gaivotas. Não que esteja reclamando. Aliás, tirando o ACM Neto, não tenho nada a reclamar da Bahia.

domingo, 5 de outubro de 2008

UMA SOLUÇÃO ECOLOGICAMENTE RADICAL

Tive um pesadelo de inspiração Shyamalaniana esta tarde. Talvez o pão de berinjela do almoço não tenha caído bem.

Primeiro, cabe contextualizar: neste sonho, São Paulo era uma cidade de túneis. Havia uma quantidade enorme deles, a grande maioria dos quais passando sob rios e correntes subterrâneas de água limpa.

Coisas estranhas começaram a ocorrer. Lembro de pagar o túnel Ayrton Senna para ir trabalhar de madrugada num dia chuvoso – no sonho, eu trabalhava de madrugada. Ao entrar no túnel, gotas sinistras de água caíam sobre o carro. Diminuí a velocidade. As gotas ficaram maiores, mais freqüentes e levemente avermelhadas. Foi como se começasse a chover dentro do túnel, que passa sob o lago do Ibirapuera. Ao fazer a primeira curva dele, o horror: vários cadáveres enfileirados de cabeça para baixo pendiam do teto. Com o susto, tentei desviar acelerando, mas eles estavam por toda a parte. Suas mãos batiam no vidro da frente do carro, deixando rastros de sangue maiores ainda no pára-brisa. Alguns cadáveres acabavam tendo os pés desprendidos do teto do túnel e caíam na via. Eu passava por cima, aterrorizado. Cheguei no trabalho ofegante e com o carro amassado, com manchas de sangue terríveis e um dedo enroscado na placa da frente.

Tal fato sinistro passou a se repetir em todas as madrugadas chuvosas por todos os túneis de São Paulo que, reitero, era uma cidade de túneis. No trabalho, todos comentavam assustados, pois havia acontecido com outros (em Miami, espécie de matriz da empresa, as pessoas diziam que tal fato era desculpa para que não trabalhássemos). Quando começava a chover, o rádio fazia alertas: “evite os túneis, pois fenômenos os sobrenaturais estão ocorrendo. Pessoas desaparecem e, quando chove, seus corpos reaparecem nas vias dos túneis, vindos dos lençóis freáticos acima deles”, dizia Milton Jung, na CBN. Quando as nuvens se formavam, as ruas ficavam desertas.

Depois de uma série de acontecimentos dos quais tenho vagas lembranças – dentre os quais, repetir o encontro com os cadáveres no túnel, mas na companhia de uma Kombi velha cheia de moleques com paus em mãos batendo nos cadáveres -, a polícia passou a investigar os rios e lençóis freáticos da cidade. Eles estavam infestados de corpos. O mesmo ocorria no lago do Ibirapuera, o que explica os cadávares aparecem no túnel Ayrton Senna.

Descobriu-se depois que havia uma milícia ecológica radical que resolveu combater as invasões domiciliares em áreas de mananciais – ou seja, à beira dos rios, lagos e represas – matando os moradores e jogando seus cadáveres na própria água. Um policial me pediu encarecidamente que eu fosse atrás de milícias para combatê-las, no que respondi que estava saindo de férias para a Bahia (o que é verdade) e que não tinha condições psicológicas nenhumas de lidar com um problema deste tamanho.

Acordei com a imagem da Patrícia Pillar na TV. Já eram nove da noite. Diga não ao pão de berinjela.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

OVERDOSES PÓSTUMAS DE MACHADO DE ASSIS

Millôr Fernandes está cada dia mais babeta, porém ainda é um dos poucos gênios vivos da humanidade. Foi ele a primeira pessoa a ter uma interpretação absolutamente original de Dom Casmurro, o livro que todo mundo odeio aos 15 anos e passa a adorar quando completa 20.

A azeitona da empada da mais polêmica obra machadiana não é a suposta cornitude de Bentinho Santiago, diz Millôr. Na verdade isso poderia importar tão pouco - e sou eu que digo isso - que o autor não faz questão de confirmar ou desconfirmar os galhos premiados do protagonista, embora Millôr diga, na lata: Escobar deu um tapa na peruca da Capitu sim senhor.

Segundo ele, o grande lance do romance é que Bentinho é gay. E para provar tal teoria, o infelizmente colunista da Veja cita, de bazófia, vários trechos do livro que exemplificariam as peripécias libidinosas do menino Bento, seu amigo Escobar e, eventualmente, algum padre do colégio de ambos.

Por conta da sisudez do personagem, confesso que tenho dificuldade em pensar no Dom Casmurro como gay. Mas talvez eu esteja olhando a situação com os olhos do século 21, de quem vai ao cinema do Shopping Frei Caneca (Gay Boneca?).

Ou seja: o construção gay de Bento Santiago me faz imaginá-lo um quarentão de baby look (para ressaltar o pãozinho francês que se formou no lugar do bíceps por conta da academia), brincos na orelha e tatuagem na nuca. Óbvio que não são todos os gays que se encaixam neste perfil, mas este é um tipo facilmente visto por lá.

Desconfio que ser gay no Rio de Janeiro do século 18 deve ter sido um pouquinho diferente, mais ou menos como aquele vizinho do Kevin Spacey em Beleza Americana. A amargura pela não compreensão do amor proibido pela society carioca o faz se casar com a amiga de infância, represando as mágoas pelo resto de sua vida e achando o máximo quando Escobar, Capitu e o filho morrem (o século 21 me parece um pouco mais saudável...).

Escobar, portanto, seria uma espécie de Sergei da época: comeu o Bentinho, a Capitu, a cartomante, o Quincas Borba, Esaú, Jacó e todo o staff machadiano. Só não comeu a Janis Joplin porque esta não existia ainda.

Millôr Fernandes montou sua teoria por pura bazófia. Na verdade, o recado que ele quer dar é que Machado de Assis é um autor não tão grande quanto pensam, e que Dom Casmurro é um romance fraco, o que, modestamente, discordo - vale lembrar que a expressão "um tapa com ferradura de pelica" foi franca inspiradora da origem deste blogue (tanto quanto o próprio Millôr), dando origem à versão drogada e prostituida sob a foto acima.

O fato é que toquei no assunto para dizer que já encheu os pacovás esse povo a comemorar os cem anos de morte de Machado de Assis.

Primeiro, porque a expressão "Bruxo do Cosme Velho" está para a literatura assim como "futebol é uma caixinha de surpresas" está para o mundo esportivo.

Segundo, a overdose de informações recicladas das velhas apostilas de cursinho dos jornalistas é tão farta que estão fazendo do Machado quase uma Avril Lavigne. Deixem disso, pô.

Se continuarem neste toada, desconfio que, no próximo domingo, ao ligar na TV Gazeta para assistir ao Amigos do Forró, o ilustre Nerivan Silva vai apresentar o Belina Mamão a cantar uma versão forrozística de trechos Memórias Póstumas. "Amou-me por 15 meses, minha nega, e quinze contos de réééééééééééíssssss (tira o pé do chãããããããããão, galeráááááá)".

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- Eis malfadado artigo de Millôr sobre Dom Casmurro.

- Mais sobre a polêmica do Millôr.

domingo, 28 de setembro de 2008

NA CALADA DA NOITE, UMA CONFISSÃO

Ao longo destes 27 anos e meio de vida, sofri muitas críticas sobre isso, mas o fato é que eu apóio e acredito no potencial do sushi de churrascaria. Não só do sushi, mas também do sashimi e qualquer outra referência à culinária japonesa dentro deste tipo de restaurante que, por excelência, tem variedade de tudo e, geralmente, gosto de nada.

É claro que a consistência do sushi de churrascaria é um tanto disgusting: a alga não raro está com a aparência da pela de uma velhinha que acabou de sair da hidroginástica. Mas digo por experiência própria: até chegar em São Paulo, quando eu era só um menino franzino do interior, adorava um churrascão e abominava comida japonesa. E foi nalguma churracaria da vida que garfei meu primeiro sushi e disse "isso pode ser bom, mesmo tendo essa consistência desagradável". Semanas depois fui até um japa de responsa e agora dificilmente passo mais de 15 dias sem bater um PFão com shimeji e aquele sorvete de alga que as pessoas insistem em chamar de temaki (aliás, que conste: praticamente nunca vou a churrascarias).

Talvez o fato do sushi paliativo não ser bem feito contribua para uma experiência positiva no restaurante japonês: depois de comer o ruim, fui testar o original que, por pior que estivesse, estava muito melhor. Logo, o gosto do original pareceu excepcional e me peguei assim, praticamente apaixonado pela culinária dos chineses do Japão.

Portanto, fino leitor, termino este post com um recado de auto-ajuda: goze o ruim de hoje para valorizar o mais ou menos de amanhã. Chupa, Roberto Shinyashiki, que está para a literatura assim como os shushis de churrascaria estão para a gastronomia.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A MÃO INVISÍVEL DÁ SUAS PORRADAS


As duas faces da economia

E tudo passa, e tudo passará, já disseram tanto Nelson Ned quanto Franklin Roosevelt e os mentores do New Deal dos anos 30. Digo isso para incentivar você, econômico leitor, a não se impressionar com o noticiário de finanças dos últimos dias. Parece que já tem comentarista econômico rondando a Bovespa com um crucifixo embaixo do braço a ler trechos do apocalipse. E Deus disse: “Dança, Wall Street”. E Wall Street dançou.

Se você é daqueles que, como eu, só lêem o caderno de esportes do jornal e as tirinhas do Angeli e do Larte, vou rudemente contextualizar.

Nos Estados Unidos dos anos 90, todo mundo era feliz. Os americanos estavam ricos e entupiam suas veias com o colesterol ruim enquanto Bill Clinton dava um tapa na peruca da estagiária mocoronga. A economia crescia e os economistas da escola neoliberal – os mesmos que nos anos 80 mantinham embaixo da cama um pôster da Margareth Thatcher em trajes íntimos – abaixaram os juros até aparecer o cofrinho a dizer: “A gente vamos estar se auto-regulando”.

Foi então que o mercado de crédito resolveu financiar até casinha de cachorro. Era só passar na frente de um banco que o americano médio – ou seja, o gordão das veias entupidas – ganhava uma graninha. No fim das contas, isso virou uma bolha especulativa que o governo americano não estava preparado, uma vez que deixou a supervisão disso a cargo da mão invisível, que não só é invisível como também não existe. O abacaxi explodiu primeiro no setor imobiliário com as hipotecadoras de nomes engraçados, a Fannie Mae e a Freddie Mac (parecem nomes de casal de seriado dos anos 60), as maiores do mercado americano. Semana passada, faliu o banco de investimento Lehman Brothers, que tinha 158 anos.

Pausa para um comentário non-sense: “bolha especulativa” me lembra problemas médicos. Imagino um doutor de ar grave dizendo “Pois é, caro paciente, sua infecção urinária gerou uma bolha especulativa no canal da uretra para a qual recomendo o procedimento cirúrgico. Vai entrar na faca!”. Fim do comentário non-sense.

Pois bem, lembro que, há uns dez anos, as pessoas falavam do ex-presidente do BC Americano, Alan Greenspan, com uma alegria efusiva, como se ele fosse uma espécie de Renato Aragão das teorias econômicas. Sabe aquele cara que todo mundo gosta e fala bem, e que de repente aparece no Criança Esperança para confirmar o quanto o que ele faz é bom para a humanidade, e que é legal deixá-lo ali fazendo o que sempre fez? É por aí. Agora Greenspan aparece nos jornais com a carapuça do sujeito que deveria ter previsto a crise durante a euforia desenfreada.

Greesnpan não é o único que passou de Deus a Diabo em pouco tempo. Há um ano atrás, a revista Forbes elegia o hoje falido banco Lehman Brothers como a empresa mais admirada de 2007. Portanto, keynesiano leitor, da próxima vez que encontrar com aquele seu vizinho da FEA ou da PUC do Rio a ajeitar o broche do PSDB na lapela, vá até ele e dê-lhe umas boas traulitadas nos cornos. Se ele reclamar, dê mais. Por fim, se ele perguntar o por quê, diga que sua mão invisível está tentando regulamentar a proliferação de idiotas no mercado.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

UMA SAIDEIRA, MUITA SAUDADE, E A LEVE IMPRESSÃO DE QUE JÁ VOU TARDE

Tecnológico leitor: como diria João Dória Júnior, o Princesão do Jardim Europa: cansei.

Após 4 anos de fidelidade - ou seria preguiça? - ao Blogger BR, a junta militar que controla este hebdomadário virtual resolveu tomar uma atitude ao mesmo tempo drástica e letárgica: fugir rumo ao Wordpress tal qual Moisés ao Egito, provavelmente demorando uns 40 anos para concretizar a missão.

A partir deste post, teremos o início de uma abertura lenta, gradual e insegura rumo a um novo template e novas tecnologias que esta entidade mística chamada blogosfera anda mostrando por aí.

Aliás, a tal blogosfera e a insistência em manter-me no Blogger BR por mais de quatro anos provam que eu nunca levei este blogue muito a sério.

Compare: se a blogosfera for São Paulo, SorryPeriferia está em Engenheiro Marsilac, lá na divisa com Itanhaém. Quase não mantenho contato com blogueiros que não conheço pessoalmente e são poucos os blogues que leio que não estejam lincados aqui - estes cuja maioria é de amigos meus.

Não há nenhuma ojeriza à blogosfera, muitíssimo pelo contrário. É que eu apenas gosto de escrever e usar este blogue para fazer contatos nunca foi uma aspiração de primeira instância. Como diria a filósofa Carla Perez: penso tanto que, se não escrever, enlouqueço.

Em segundo lugar porque, nestes quatro últimos anos, o Blogger BR foi comprado pela Globo.com, que foi obrigada a manter gratuito os blogues que já existiam, como SorryPeriferia. Nunca neste período foi oferecido uma mísera possibilidade de se atualizar tecnologias por aqui. Nem RSS o Blogger BR/Globo.com oferece ao seu usuário que não paga. Absolutamente nada.

De quebra, ainda tenho que agüentar os cada vez mais constantes bugs no site. Se queriam que eu fosse embora, era só mandar um email devolvendo o Neruda que me tomaram e nunca leram. O Blogger BR/Globo.com provou que não entende absolutamente nada de internet. Tudo que não for excepcionalmente bom tem que ser de graça. O Blogger BR há quatro anos era ótimo; hoje não é nem mais ou menos.

Portanto, exorbitante leitor, teremos mudanças em breve. É possível que o nome do blogue, uma homenagem aos cronistas sociais Ibrahim Sued (autor da frase "Sorry, periferia") e Nataniel Jebão, mude. Já são quase cinco anos emprestando-o e talvez ele lembre muito mais dos tempos românticos da faculdade do que dessa vida de gente grande.

Eu só não consigo parar a brincadeira. Decadente ou não, vou seguir escrevendo. Como diria Karl Marx: o que é imortal não morre no final.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

BREVE HISTÓRIA DA SEXUALIDADE EXTEMPORÂNEA

- Subway Delivery, boa noite?

- Por favor, eu queria um sanduíche.

- O senhor quer o de 15 ou de 30 centímetros?



Desisti.

O ANO DA BOLÍVIA NO BRASIL

Provavelmente a última vez em que a Bolívia esteve tanto em voga na mídia quanto nesta quarta-feira foi quando o General Lino Oviedo se suicidou no Palácio da La Moneda em 11 de setembro de 1973 - aniversário hoje! -, e é claro que eu comecei este post com uma saladização histórica latino-america, só pelo prazer da bazófia. Mas veja só: no fim da última noite, todos os portais de internet davam manchetes bolivianas. Havia mais a palavra "Bolívia" no capa do UOL desta quarta que tucano apunhalando o Alckmin nas costas nestas eleições paulistanas.

Primeiro, o presidente Evo Morales tá saindo na mão com a rapeize de Santa Cruz de la Sierra. Parece que os mano lá das quebrada de Santa Cruz explodiram um botijão de gás na fronteira com a Argentina em retaliação. Depois, o mesmo Morales - que, registra-se, usa a peruca do Zacarias - expulsou o embaixador americano porque esse aí, a cada declaração de Evo contra os mano de Santa Cruz, ficava botando pilha na treta utilizando-se de frases como "Ô loooooooco... vão deixar esse indião aí zoar os cara desse jeito? Vai lá e depõe o cara, mano...".

Como se não bastasse, no fim da noite, a seleção boliviana de futebol, composta por 11 sósias do Evo Morales, veio ao Brasil e empatou com a antipática seleção do Dunga com um jogador a menos num estádio vazio - é a primeira vez que vi a seleção jogando em estádio vazio.

E digo mais: a Bolívia só não venceu os anões de Dunga porque os meias de ligação são de La Paz e se recusaram a passar a bola para os atacantes, que são de Santa Cruz. Ficaram de fazer um referendo para definir o esquema tático durante a partida, mas o jogo acabou antes da votação.

Falando em futebol, parece que a política está para os bolivianos assim como o ludopédio está para os brasileiros. Passando Corumbá, até as lhamas cospem umas nas outras por conta de referendos, constituições, autonomias e outros assuntos que nos deixariam impetuosamente babando na gravata.

Então tem-se um quadro paradoxalmente convergente:

Os bolivianos discutem tanto a política que estão sempre brigando e nunca chegam a lugar nenhum.

Os brasileiros falam tão pouco de política que ninguém está aí para nada e, conseqüentemente, estamos sempre na merda.

Acontece que o Brasil é maior e sempre tem uma camada pré-sal (a palavra da moda) para tirar do bolso do colete, o que faz de nós mais ricos do que eles. Então os bolivianos acabam migrando para cá e cada vez mais ocupam os prédios e escolas do centro de São Paulo (o que é bom, porque ninguém mais faz isso).

Outro dia encontrei um na Alameda Eduardo Prado usando um poncho típico. Rapaz, sem qualquer ironia, eu achei o máximo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

FAUSTIN von WOLFFENBÜTTEL (1940-2008)



Nos anos 50, havia em Porto Alegre um menino que tinha certo gosto pelos livros. Certa vez ele entrou numa livraria em uma das avenidas movimentadas do centro. Apanhou um exemplar numa estante e, ao ver que o dono do recinto não estava olhando, saiu com o livro embaixo do braço. A partir de então, toda semana o menino visitava a livraria e, quando o livreiro se distraía, deixava o local com um exemplar escondido.

Repetiu o gesto por anos. Porém houve uma vez em que, antes de passar pela porta, o menino resolveu também embolsar um maço de cigarros, porque aos 12 anos ele e todos os seus amigos já fumavam. Foi quando certa mão puxou-lhe pelo braço. Era o livreiro, que lhe disse: “Livro pode. Cigarro não”.

Este menino chamava-se Fausto Wolff e contou a história no romance À Mão Esquerda, meu livro de cabeceira. É por isso que, desde sexta-feira, embora cheias, as garrafas de whisky jamais estiveram tão vazias. Nunca mais o Bunda de Fora verá os grandes porres, nem os ataques contra o governo em tom etílico, nunca mais ouvirá as grandes piadas inventadas de supetão. Foi-se o filho do barbeiro de Santo Ângelo, foi-se o jet-setter pobretão das altas rodas cariocas, o franco-atirador de Copenhague, o professor de Literatura que só tinha até a quarta série do primário. Já não existe mais aquele que foi talvez o maior jornalista da geração pé rapada que vinha da periferia e para a periferia escrevia.

Fausto Wolff e seu corpanzil de quase dois metros já não cabiam nestes anos 2000. Algumas mancadas no fim de vida e a insistência de ver o mundo sob o olhar dos anos 60 não cativavam como um dia já cativaram, é verdade, mas nada disso ofusca seus 68 anos de vida que foram tão intensamente vividos que pareciam ser muito mais. Foi para mim o exemplo máximo de inconformismo com as injustiças e do radical compromisso em ser bom enquanto ser humano.

Se eu me tornei jornalista, é porque queria ser Fausto Wolff. Se aprendi a destilar alguma ironia indignada, é porque lia o Fausto Wolff. Se blogo há seis anos ininterruptos, é porque quero escrever como Fausto Wolff. Se nutro algum respeito enquanto homem perante os meus próximos, devo grande parte disso a Fausto Wolff. Tornar isso público talvez seja a única forma de agradecer, mesmo que tardiamente.

Desde sexta-feira, todos os porres deste mundo perderam um pouco da graça. O acrobata que pedia desculpas enfim caiu.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O WALDICK DE CADA UM DE NÓS



Quando moleque, sempre achei o Waldick Soriano sinônimo dos piores momentos do Programa Silvio Santos. Provavelmente nunca falei isso por aqui, mas eu abomino o Silvio Santos.

Anos depois, quando a barba já tomava meu rosto, fui inspirado por Falcão Marcondes (o maior filósofo do cotidiano dos anos 90) a pesquisar sobre música brega. A Internet deu uma (dane-se o cacófato) mãozona e passei a conhecer quase a fundo o submundo da música popular brasileira dos anos 60, 70 e 80 – entenda-se música brega.

Mas, diferente do que ocorria com Odair José, Almir Rogério e Reginaldo Rossi, só para citar alguns, eu continuava a ignorar o Waldick Soriano. A voz dele era consideravelmente péssima e as letras, além de tratar exclusivamente da dor de cotovelo, não permitiam gargalhadas como as canções dos outros três, por mais que esta não fosse a intenção deles (e por mais que eu ainda encontrasse alguma sensibilidade nelas).

Um dia isso mudou. Há dois anos comprei na Netto Discos – gasto um salário por ano na Netto Discos - um CD da Maria Creuza, a cantora de MPB que me faz lembrar que, às vezes, a vida pode ser muito bela. Nele ouvi uma canção que me deixou tal qual manteiga no sol chamada Tortura de Amor, que virou post neste hebdomadário virtual. Meu queixo visitou o umbigo ao constatar no encarte que Waldick Soriano era o autor dela. Não era possível: aqueles acordes profundos e tão sentidos foram concebidos pelo músico que sempre rejeitei.

Pois bem, a história de Waldick Soriano é uma história de rejeição. Sua mãe o abandonou quando menino - como qualquer psicólogo pode deduzir, era a pessoa a quem ele mais se apegava no mundo. Anos depois, já se aventurando a soltar a voz de troglodita, Waldick era vítima de chacota na cidadezinha do interior da Bahia em que vivia. Era feio pra dedéu. Chegou a ser garimpeiro. Veio para São Paulo trabalhar como engraxate. Se havia alguém para quem a vida era um cactus enterrado na alma, este alguém era Waldick Soriano.

E então o que fazia Waldick? Ao contrário de mim e, talvez, de você, angustiado leitor, o mais famoso dos cantores brega não ruminava suas desilusões. Vestia-se de preto, enterrava o chapelão na cabeça e cantava sua rejeição. A diluía toda na música. Viveu bem assim.

Waldick Soriano tinha pose de macho, o cara durão à moda antiga, mas no fundo só queria mostrar que o jiló dessa vida cumprida a sol é que o fez deste jeito, e que, apesar de tudo, havia alguma doçura dentro dele. É como uma rapadura moral e que também existe dentro de cada um de nós. Todo mundo já se rasgou por paixões não compreendidas, amores não correspondidos, chifres, fez tempestades em copo d´água ou já tomou um porre por ser rejeitado enquanto se sentia o pior dos seres humanos dessa vida. Às vezes a gente pensa que é Frank Sinatra; quando menos espera, dá de cara com o nosso Waldick Soriano.

Que o Paraíso dos desiludidos, incompreendidos e rejeitados conforte os timbres melodramáticos do grande ícone dos que nunca foram ícones. Descanse em paz, meu caro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ESCANCARANDO DE VEZ

Sonhei que fui ver ao vivo uma partida de basquete num ginásio qualquer. Não lembro quais eram os times. Tudo que lembro é que o pontapé inicial - no caso do basquete, quando a bola é jogada para cima - foi dado pelo Elymar Santos.

Não tenho nenhum comentário a fazer sobre isso.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

E AGORA, UM MOMENTO CULTURAL



Porque a vida é feita de pequenas alegrias.*

*Crédito: Libanesa

domingo, 31 de agosto de 2008

POLÍTICA, PINDAMONHANGABA E O ALASCA

Todos sabem que sou um excepcional comentarista de política internacional. Á Áustria nunca mais foi a mesma depois que SorryPeriferia dissertou sobre o porão da família Fritzl. Já Francis Fukuyama leu a comparação física entre Obama Barack e Dadá Maravilha postada aqui há alguns meses e declarou: "É o fim da História". Pois vou seguir nesta toada de sucesso, mas não sem antes falar sobre as eleições municipais paulistanas.

Tenho um amigo que trabalha na campanha de Geraldo Alckmin. Ele está apaixonado pelo candidato tucano. É sério. É comum chamarmos as pessoas que gostamos de "Chuchu", mas nunca vi tamanha propriedade quando este meu amigo chamou o dito cujo de "o meu chuchu". Primeiro, porque Alckmin é a encarnação humana desta leguminosa e, segundo, porque havia no olhar deste meu amigo um pantagruélico estupor sexual. Coisas de campanha.

Mas o fato é que, tirando a tietagem explícita deste meu amigo, Geraldo Alckmin está só. Primeiro foi o prefeito Giba Kaká que nem cogitou em apoiá-lo, como queria o tucano. Preferiu a carreira solo e, se as pesquisas continuarem assim, é até capaz de ir ao segundo turno no lugar do outro. Depois, o governador José Serra viu que Geraldo estava na beira do precipício e resolveu ajudá-lo a dar um passo a frente: apoiou o Giba Kaká.

Veja bem, eleitor leitor, a coisa não pára por aí. Desde 1994 que eu era obrigado a agüentar o Dominguinhos fazendo a maioria dos jingos de campanha do PSDB. No entanto, esta semana liguei no horário político e não havia nem sinal do forrozeiro. É impressionante: até o Dominguinhos abandonou Geraldo Alckmin.

Em favor da falta de carisma do mais leguminoso dos tucanos está o fato de que existe uma tendência internacional em políticos sem carisma, mesmo com esta onda de achar que o Obama Dadá Maravilha é o novo Messias. John McCain, o republicano candidato a brincar com estagiárias no Salão Oval da Casa Branca, escolheu uma vice-candidata que é um chuchu, no mau sentido.

A companheira se chama Sarah Pelin, tem 44 anos, cinco filhos e é governadora do fundamental estado do Alasca - segundo um estrategista da campanha democrata, "McCain escolheu uma vice que é a governadora de primeiro mandato de um estado que tem mais rena do que gente"*.

Sarah Pelin é casada, tem cinco filhos e seu marido é quem leva os cinco filhos pra escola. Até aí tudo bem. Mas antes que alguém comece a enxergar ares de feminismo na moça, é melhor avisar que ela é membro-militante da Associação Nacional Do Rifle (que o Exu Bebeta o tenha, Charlon Heston), é contra o casamento gay e o aborto, adora uma caçada e recentemente ficou possessa porque botaram o urso polar na lista de animais sob risco de extinção. Segundo ela, colocar o urso nesta lista dificulta a exploração do petróleo nas reservas onde eles vivem.

O fato é que McCain jogou na lareira o único discurso que tinha para beter no Babá Maravilha: a falta de experiência. Vai ver o que McCain, vendo que o elefante republicano está atolando-se no brejo, resolveu trucar e colocar um ingrediente inusitado jogo desta eleição: a desconhecidíssima Sarah Palin. Se nem a razão nem a emoção estão do seu lado, o melhor é apelar ao exótico.

Se as próximas pesquisas anunciarem um crescimento do McCain, Geraldo poderia seguir a mesma estrégia e anunciar alguma bizarrice, tal como adotar o Aerotrem do Levi Fidélix ou anunciar o Sérgio Mallandro (candidato a vereador) como Secretário da Cultura. Amadurecimento das instituições democráticas é isso aí.

*frase tirada do Estadão deste sábado.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

DE REPENTE, UM ACONTECIMENTO IMPRESSIONANTE

Aproveitando a quentura da noite desta quinta-feira, saí por aí a caminhar para aliviar as marcas de pneu nas minhas costas e acender um cigarro existencial nalgum bar. O escolhido, muito por acaso, foi o Esquina do Fuad, que é, ao mesmo tempo, um dos piores bares de São Paulo e um dos que eu mais freqüento (não deixe de reparar nos erros de português do cardápio, que dão um charme nada especial ao recinto).

Depois de duas Serra Malte e de ficar chuchando um pãozinho no azeite jogado ao prato, fazendo de conta que o azeite é de oliva mesmo, e não óleo Soya, eis que surge do meu lado um dos meus ídolos: o apresentador Nerivan Silva, do Amigos do Forró, espetacular programa brega/trash que passava na TV Gazeta aos sábados à tarde.

Nerivan está com um cabelão anos 80 a la Echo and the Bunnyman e foi logo pedindo uma chuleta na brasa. Engasguei de emoção. Bati nos bolsos da calça procurando a câmera fotográfica, mas ela ficou em casa.

Se eu fosse um fã profissional, teria perguntado qual o futuro do Amigos do Forró, teria questionado sobre a marca de xampu que ele usa, teria ao menos oferecido o prato com óleo Soya pro Nerivan também chuchar um pãozinho.

Mas não. Pedi a conta e fui embora. Eu e essa mania de fugir do sucesso. Besouro, quando cai de costas, não se levanta nunca mais.

P.S.: Aqui, uma espetacular entrevista em ping pong com Nerivan Silva.

DE QUANDO EU ME TORNEI POLÊMICO

Foi mais ou menos assim: era aula de História da Arte com uma professora para quem um dia alguém disse que seria uma gênia ou uma louca. Essa pessoa evidentemente estava mentindo, pois juro por minhas unhas encravadas que ela era 100% doida varrida, mas doida varrida mesmo, com gigantes exclamações ao fim desta expressão.

Ela explicava a diferença entre impressionismo e expressionismo porque era a única coisa que ela conseguia fazer. A companheira doida varrida então pediu para que exemplificássemos uma comida que fosse impressionista - leve, sutil - e outra expressionista - forte, chocante.

Bem, eu gosto de exemplificar coisas. Mas na hora de falar sobre minha experiência gastronômica impressionista, outros alunos ergueram o dedinho antes e citaram o mousse de maracujá. Ok, mousse de maracujá é impressionista.

Na hora de citar um exemplo expressionista, novamente fui lento o bastante para permitir que outra pessoa erguesse o dedo antes e citasse o mousse de chocolate. Ergui as sobrancelhas em reprovação. Mas a doida varrida do corpo docente juntou as mãos e, atônita, bateu palminhas curtinhas: "Excelente!!! Mousse de maracujá é mais leve; o de chocolate é uma experiência mais expressionista mesmo!!!".

Inconformado com o último exemplo, ergui os dois braços e já fui logo rasgando: "Professora, expressionista pra mim é buchada de bode...".

Parte dos presentes riu, outra parte me censurou por atravessar a experiência artístico-gastronômica de maneira tão pouco sutil, e a companheira professora da porca solta me repreendeu com a veemência de um Napoleão de hospício.

Mas apostaria uma buchada de bode que eu ainda tenho razão.

Moral da História 1: Quando um louco está acima de você, não importa o que ele faça: o louco sempre vai ser você.

Moral da História 2: A bienal de arte moderna está chegando e a polícia não faz nada.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

NÃO TEM SUPER TRUNFO NAS OLIMPÍADAS

Olha, até acho que houve um tempo em que os Jogos Olímpicos eram algo sensacional. Não, fino e escasso leitor, não boicotei as Olimpíadas de Pequim e inclusive perdi algumas madrugadas para assistir, por exemplo, uma dupla brasileira do vôlei-de-praia perder para a da Áustria, que não tem praia. Se fosse vôlei-de-porão eu até entenderia, porque de porão os austríacos entendem, conforme atestaria a família Fritzel. Mas também não tenho nada que falar mal da meia dúzia de medalhas de bronze que o Brasil trouxe da China.

Para falar a verdade, olímpico leitor, há algo que me incomoda muito. É como uma pedra no rim moral. Trata-se da decepção por conta da amarelite aguda que toma conta da psique do atleta brasileiro em momentos importantes, e que em Pequim atingiu os 40 graus no termômetro no judô e na ginástica artística.

Veja só que vida miserável tem um atleta. Peguemos (no bom sentido) o Diego Hypólito, ginasta até então considerado o melhor do mundo e que caiu sentado (no bom sentido) no tablado junto como sonho da medalha olímpica. Anti-carismático por natureza e consideravelmente arrogante, Diego passou a maior parte de sua vida ouvindo um treinador ucraniano gritar todos os dias os dias todos para que ele melhorasse cada salto, cada movimento, cada gesto. Aos poucos ele passou a se destacar, ganhar competições cada vez mais importantes, e, conseqüentemente, a ouvir o tal ucraniano gritar cada vez mais para ele se preparar cada vez mais para o objetivo maior, que era o ouro olímpico. Não deu. Minutos depois de encostar os glúteos no tablado ao vivo para milhões de pessoas, um destroçado Diego deu entrevista aos prantos pedindo desnecessárias desculpas ao Brasil.

Se o financeiro leitor acha que o Diego Hypólito ganha o suficiente para viver sob confinamento e tamanha pressão, simplesmente não entendeu nada do que estou tentando dizer. Isso não tem nada a ver com dinheiro. Eu não trocaria nada desta minha vida classe média tatibitate pela vida de um atleta de alto rendimento. Enquanto nos últimos quatro anos eu passava as terças-feiras à noite no Asterix jogando conversa fora com os amigos e calibrando a barriga de cerveja, Diego dormia sonhando com medalhas olímpicas.

Para não ficar apenas nos mal sucedidos, peguemos o exemplo de César Cielo, primeiro medalhista de ouro da história da natação brasileira. Se refugiou dos Galvões Buenos da vida ao ir aos Estados Unidos, onde treina em uma universidade no Alabama. Há alguns meses, a revista Piauí fez um perfil da vida que Cielo leva nos States. Seu técnico é tão comovente quanto um ditador latino-americano dos anos 70: grita sem parar, é constantemente cruel com o nadador (o objetivo é sempre incentivá-lo) e o confina o máximo possível. Moral da história: a vida de Cielo é tão interessante quanto a de um exilado na Gulag. Quando Cielo levou o ouro, chorou feito uma criança. De alívio, claro. Se ele refugasse tal qual Baloubet do Rouet fez nos Jogos de Sidney, vai saber o que aconteceria com a cabeça do menino.

O amigo Leandro Beguoci tem escrito ótimos posts desancando o Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei. Bernardinho é o tipo vencedor que tem legiões de fãs entre os alpinistas corporativos que têm como único objetivo de vida subir na empresa. “Ele é osso duro, tira o sangue do time, sempre mostra resultados”, já cansei de ouvir. Não, toupeira, Bernardinho é uma figura deplorável. Se para atingir um objetivo eu tiver que viver sob a angústia e o medo, então este objetivo não merece ser atingido. Prefiro ficar tomando cerveja no Asterix.

Triste daquele que vive em função de um só objetivo na vida. E o esporte de alto rendimento é isso: percamos a vida por a merda de uma medalha. Vou injetar umas tranqueiras nas minhas veias, vou morrer de câncer aos 40 anos, mas vou ganhar o ouro e entrar para a História.

Lembrei de tudo isso neste sábado, quando voltei pra minha terra e dei de cara com minha coleção de Super Trunfo. Passei boa parte da infância a jogar cartas com o vizinho da frente na garagem dele ou na minha. Este meu amigo hoje é metalúrgico, trabalha de madrugada e quase não temos contato. Sei dele por minha mãe, que fala com a mãe dele, e vice-versa. Nas poucas vezes em que nos vemos, de relance, sempre encerro as conversas com “Qualquer dia passo na tua casa pra gente jogar um Super Trunfo”. Se fosse modalidade olímpica, eu iria a Pequim, com certeza. E não estaria muito preocupado em ganhar medalhas. Não é essa a liturgia da coisa. Chupa, Michael Phelps.

domingo, 17 de agosto de 2008

OSCAR NIEMAYER, O MICHAEL SCHUMACHER DA GERIATRIA

Pois é, não tem mais bobo na terceira idade. 2008 chegou para abalar os corações mais sensívels (safenados) e já mostrou que joga no time de Oscar Niemayer, o arquiteto de Stonehage.

Veja só: até o mês de junho, nosso Matusalém predial tinha concorrentes centenários ou quase centenários à altura, todos com suas dentaduras cerradas para - como diriam Milionário e José Rico - ver quem chega mais longe nesta longa estrada da vida.

Mas em junho foi-se Jamelão aos 95 anos. O grande Jamela puxava samba-enredo no Morro da Mangueira desde que este tinha vista para a África, não para o Oceano Atlântico, porque durante a Pangéia era tudo ali grudadinho. Não precisava nem de uma Rio-Niterói. Mas nos últimos anos, tal qual a Super Aguri na Fórmula 1, o motor dava sinais de que ia pifar em breve. E pifou. Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu.

Eis que veio o mês de julho e levou a líder da prova, Dercy Gonçalves, que chegou aos 101 anos esbanjando absolutamente nada. É como a McLaren, que sempre entrega no final. E Niemayer viu-se então líder da prova com certa folga, seguido a uma certa distância por Dorival Caymmi que, com seus 94 anos, permitia ao arquiteto poder até dar uma parada nos boxes e mesmo assim voltar líder à corrida.

Mas agosto chegou e levou Dorival para Maracangalha, deixando Niemayer sem o mais longínquo sinal de que terá adversário pela próxima década. É o Schumacher da velhice. Quem tem Oscar não precisa de Cocoon.

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Agora prometo voltar ainda esta semana com alguns comentários sobre os Jogos Abertos do Interior que estão ocorrendo ali em Pequim. Como diria Nietzsche: "É, amigo... haja coração!!!!"

segunda-feira, 28 de julho de 2008

OS MUTANTES: CAMINHOS DO CORAÇÃO

Ando tão babeta que escrevi o último post e as pessoas não entenderam absolutamente nada. Vou tentar explicar: eu quis dizer que não tirarei férias do blogue, mas também me reservo o direito de não fazer nenhum sentido. Os assuntos importantes para os caminhos da humanidade no momento são importantes somente para a humanidade. Para mim, o que interessa mesmo são tag clouds, spaceids, hotlist paths, API´s e outras nerdisses impressionantes. Durante todo agosto, você, nababesco leitor, só verá aqui coisas fúteis, como as que eu vou contar no próximo parágrafo, assim que colocar o ponto final aqui, pular uma linha e colocar os dois dedos pra dar espaço da margem, como ensinou minha professora da primeira série.

Não sei se você já teve a oportunidade de acompanhar a levemente retardada novelinha da Record que dá nome a este post. Confesso que não entendi bem o título. Parece que o autor babou na gravata ao tentar abraçar o mundo no nome. Tem mutante no imbróglio, logo contém ficção científica, e já imagino o Tuca Andrada interpretando um Wolverine evangélico. Mas também tem caminhos e tem coração, donde-se deduz que os mutantes vão viajar pra cacete e também vão se apaixonar pela rapaziada. Enfim, diversão pra família inteira.

Inspirado por Os Mutantes: Caminhos do Coração, vou passar a criar títulos de posts que fazem nenhum sentido e que também querem abranger o maior número de assuntos. Deixo aqui sugestões de títulos para as futuras novelas da Record:

- Humberto Martins e Leo Jaime: Não tem mais bobo no futebol.

- Emmanuelle nas Galáxias: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.

- A difícil vida dos suricatos: tira a calça jeans e bota o fio dental.

- Lei de incentivo fiscal: Vou-me embora para Pasárdega.


Como diria o Feliz: "E piririri, e pororô".

COISAS PRA SE FAZER NA WEB QUANDO SORRYPERIFERIA ESTÁ MORTO

Não sabe o ilustre leitor que, no começo de 2007, fiz um pacto comigo mesmo. Uma coisa assim meio Paulo Coelho. Fui para minha terra natal, cacei um morcego vesgo no cemitério e, numa noite de lua cheia, fiz um refogadão com o bicho (exagerei na noz-moscada) e o tomei-o emitindo cânticos que aprendi em vidas passadas. Dois fatos resultaram deste pacto: primeiro, me engasquei todo, uma vez que não é possível tomar um refogado ou qualquer outra coisa ao mesmo tempo em que se cantarola uma canção do Jamelão, quanto mais ao emitir cânticos de vidas passadas. Segundo, que passaria os anos de 2007 e 2008 absorto em trabalho árduo, mas que no fim deste período eu teria minha vida pessoal de volta.

Pois bem, este pacto encontra-se em seu auge neste fim de julho e deve adentrar agosto com a quinta engatada, colocando-me um pouco distante deste blogue e de qualquer outra coisa que não seja o trabalho árduo e o álcool excessivo. É por isso que estas mal trançadas linhas andam perigando, dissertando sobre o supérfluo ou, não poucas vezes, sobre o nada.

Para o momento, este blogue não passará por uma pausa e continuará dando vazão a assuntos pouco interessantes, justamente para não perder o hábito da escrita. Em poucos meses, o ilustre leitor poderá conferir, tal qual uma Dalva de Oliveira, que estarão voltando as flores, o que deverá merecer um pileque homérico e uma reformulação do visual bloguístico (migrar ou não migrar para o Wordpress?).

Enquanto SorryPeriferia fica na defensiva, sugere que o fino leitor acompanhe as aventuras de Maurício Savarese e Felipe Corazza na China, uma dupla da pesada que vai aprontar as mais loucas aventuras durante os Jogos Olímpicos de Seul (Pequim? Tòquio? É tudo a mesma coisa).

Aos quatro leitores deste blogue, portanto, digo estas palavras de sapiência filosofal: o que é imortal não morre no final. Rimou tudo e tenho dito.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O MAU GOSTO ESTÁ DE LUTO

A morte de Dercy Gonçalves, a última atriz de cro-magnon, é um fato relevante exclusivamente porque deixou Oscar Niemayer, o arquiteto de Stonhage, líder no ranking de geriatria avançada no mundo dos famosos. Veja só, não há um mísero famoso chegando perto dele.

De resto, quem fala que Dercy Gonçalves foi uma pessoa irreverente, como pregam vários atores, está babando na gravata. Ela foi, na melhor das hipóteses, uma atriz de chanchada com algum carisma e uma velha que falava palavrão. Felizmente, todos os meus amigos presentes no último bar compactuam da opinião.

Segue o jogo.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

IT HURTS TO SET YOU FREE, BUT YOU´LL NEVER FOLLOW ME

Quando todos os seus ídolos têm mais de 60 anos, se não há algo errado com você, certamente o há com o restante da humanidade. Mas não seria esta última uma hipótese arrogantemente improvável?

Se Che Guevara saísse vivo da selva boliviana, quem garante que não seria ele quem teria promovido o neoliberalismo na América Latina durante os anos 80?

Será que um sessentão Jim Morrison, ídolo de 9 em cada 10 adolescentes revoltadóides, não estaria hoje dividindo os palcos com Britney Spears?

Por outro lado, se Brizola tivesse morrido na década de 60 e não em 2004, depois de tantas alianças políticas espúrias e tantas frases infelizes, não estaríamos agora carregando cartazes com a inscrição "Brizola Vive"?

O tempo é implacável em abalar valores de muitas das grandes pessoas que estão vivas. Na pior das hipóteses, os anos os transformam em bobões chatos que abrem a boca para exalar o mau álito anacrônico que tomou o lugar de antigas palavras de sabedoria.

Em todo caso, ainda é muito melhor que não ter ídolos.

Ou não?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A HORA EM QUE A CRIANÇA CHORA E A MÃE NÃO VÊ

Sonhei que abandonei fisicamente o local que trabalho e passei a despachar em uma espécie de pousada para pessoas que trabalham. Explico: é como uma pousada, no meio de uma selva, mas com todo mundo com seu notebook e um telefone ao lado. Todos eram obrigados a trabalhar três horas sem parar e, em seguida, ter três horas para beber e comer churrasco - não me pergunte do porquê do churrasco. E era esse esquema todos os dias.

Lembro de que fiz um monte de amigos, nenhuma pessoa que eu conheça na vida real. Lembro que fiz amizade com um sujeito branquelo que ficou bêbado, sumiu e depois de dias voltou de táxi para a pousada, ainda alcoolizado. Quando ele saiu do táxi, o motorista muçulmano acionou um dispositivo que explodiu uma bomba atômica. Me escondi atrás de um muro e vi tudo voar pelos ares, as pessoas, a pousada, exceto eu, a planta que estava ao meu lado e esse inexplicável muro. E fiquei horas assim, atrás do muro, esperando o vento e o clarão passarem, vendo um cogumelo gigantesco se abrir sobre mim, tentando achar uma solução rápida e genial para escapar da massa atômica que me esmagava contra a parede.

É a segunda vez que sonho com bomba atômica, que a visualizo, que vejo minha camisa rasgada por um clarão. É a primeira que acordo com dor de cabeça.

domingo, 13 de julho de 2008

AS ALGEMAS E A CIRROSE

Do enviado a Jundiaí

Ficar bêbado na cidade em que a gente nasce é alugar o próprio cérebro para uma sessão de cinema interna que passa pelos neurônios alucinadamente, às vezes sem sentido, e que acionam porres anteriores, amigos antigos, amores passados, festas, desilusões, as grandes coisas que você fez, as grandes coisas que você não fez e por aí vai. Tudo porque você voltou a andar bêbado pelas mesmas ruas que já te assistiram a fazer isso outras tantas vezes e que parecem te abraçar, como a um vizinho antigo, e dizer "Volte sempre".

Ficar bêbado num país que não é o seu te obriga a dar um Control+ALT+DEL no GPS da sua cabeça pois, ao pensar, no fim da noitada, "agora tenho que voltar pra casa", você cai na gargalhada, porque a sua casa está 8 mil quilômetros longe e seus pés não reconhecem aquelas ruas, sua bexiga estranha aqueles postes limpos e o Bar do Estadão está longe demais pra você amanhecer comendo um pernil.

Ficar bêbado no dia-a-dia é uma forma de deixar os problemas ali na esquina te esperando enquanto você entorna o caneco. Depois vocês dois vão juntos pra casa e no dia seguinte tudo começa de novo, só que com dor de cabeça e de estômago.

Para quem tem superego militarista, cair bêbado cotidianamente é uma competição acirradíssima entre o seu próprio superego e o seu fígado. É como o rochedo e o mar. No entanto, o superego tem a vantagem de só existir no campo das idéias, o que com o passar dos anos faz diferença, além de a cirrose e a hepatite lhe ser indiferente.

Ficar bêbado em tempos de lei seca para motoristas é desistir de sair, comprar bebida pra tomar em casa e ficar absolutamente emotivo com qualquer música, qualquer trecho de livro ou qualquer outra coisa que te faça recordar que o mundo lá fora é tão interessante, mas que, neste exato instante, você não está fazendo parte dele.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O PETRÓLEO É DELES

Do enviado a Miami, sem gravata amarela

O cucaracha é, antes de tudo, um nababesco. Ao menos os cucarachas que desembarcam nesta grande Itanhaém dos novos ricos latinos que é Miami. Devo registrar que a maioria gosta de ostentar, mas não a maioria absoluta, o que é sempre um alento. Mas eu só quero falar da parte ruim, que é o que dá ibope nessa vida, conforme nos atestaria a Folha de S. Paulo.

A maneira mais comum de ostentação são os automóveis (digo automóveis e já vejo algum chato erguer o dedinho pra mim e dizer que só os velhos chamam carros de automóveis, no que respondo prontamente que gosto de esgotar os sinônimos). Repare: não é tão fácil mostrar pras pessoas que você está usando uma roupa espetacularmente cara. Só algumas dondocas com MBA em peruagem nas ruas de Miami conseguem tal feito com profissionalismo. Relógios, bolsas e correntinhas, menos ainda, e a melancia no pescoço só será chique no dia em que a cotação da melancia for relevante. Logo, sobram os carros (ainda mais porque os homens também ostentam muito).

Outro fator primordial para isso: as ruas de Miami são tranqüilas, as zonas residenciais são deliciosamente arborizadas e o clima é chamativo pra se ficar na rua. No entanto, como na maior parte dos States (dizem), não se encontra absolutamente ninguém nas vias em hora alguma do dia. Resolvi caminhar uma noite dessas. Luar enorme, sem vento, tudo perfeito. Na falta do que fazer, e abismado com a falta do povo nas ruas, resolvi contar quantas pessoas eu encontrava. Resultado: três horas de caminhada, 17 pessoas vistas em plena véspera de feriado, entre 7 e 10 da noite.

Além da febre consumista, ajuda muito o fato de que há pouquíssimas linhas de ônibus, e só há uma linha de trem que deve ser e metade do metrô do Rio de Janeiro, se tanto. Logo, toda família que tem, por exemplo, cinco adultos, tem cinco carros na garagem. Ninguém vai a pé na padoca da esquina. Ou vai de carro ou pede em domicílio.

Pois no país do carrocentrismo, o grande assunto da imprensa nos jornais e nas TV´s não é a eleição presidencial entre o Valdir McCain Espinoza e o Dadá Obama Maravilha, e sim o preço recorde da gasolina: entre 4 e 5 dólares o galão (tudo nos States é em galão, até o iogurte no mercado). Não se fala de outra coisa. Nos programas de debates, a tônica sempre é o que fazer para baixar o preço da gasolina ou desenvolver um outro tipo de motor que faça andar esses carros enormes e beberrões. Eu vi uns três programas que debatiam o assunto: em apenas um uma telespectadora sugeriu que se investisse e se incentivasse as pessoas a usarem o transporte coletivo. Quem respondeu a ela foi o secretário do companheiro Jorge WC Bush para essas coisas, um xicano chamado Carlos Gutierrez. A resposta foi de babar na gravata: “É, esta é mais uma boa sugestão popular, mas eu quero ressaltar que o que vai fazer diferença é o Congresso aprovar a extração de petróleo dentro de nosso país, o que deixaria a gasolina mais barata”. Ele dizia sobre um estado específico, mas eu esqueci qual é – este blog não exerce o jornalismo.

Enquanto isso, essa rapaziada segue nos braços de nababo a comprar essas caminhonetes gigantes, algumas com o dobro de tamanho das que vemos no Brasil. Hummer, aquele jipão desengonçado que era do Exército na Guerra do Golfo e que agora é carro civil, tem um em cada esquina. Isso me lembra uma charge do Ziraldo ou do Jaguar, na saudosa revista Bundas: um cara parava sua caminhonete gigantesca do lado de um menino, que pra ele dizia: “Po, moço, ainda acho que o velho truque do lenço dentro da calça surtiria o mesmo efeito, e ainda é muito mais barato...”

terça-feira, 8 de julho de 2008

(...)Às vezes, na realidade, sonho que estou no inferno. Ou não sonho nada. Ou sonho que me castraram e que, com o passar do tempo, uns testículos bem miúdos, como duas azeitonas incolores, voltam a brotar em minhas virilhas e que eu os acaricio com um misto de amor e temor e os mantenho em segredo. O dia afugenta os fantasmas. Claro, não falo disso com ninguém. Preciso me mostrar forte. O mundo da literatura é uma selva. O preço que pago com minha relação com a carteira são uns tantos pesadelos, uns tantos fenômenos auditivos. Não é tão ruim assim, eu aceito a paga. Se tivesse menos sensibilidade, certamente nem me lembraria mais dela. Às vezes tenho até vontade de ligar pra ela, de segui-la em seu percurso diário e de vê-la, pela primeira vez, trabalhar. Às vezes tenho vontade de me encontrar com ela em algum bar do seu bairro, que não é mais o meu, e lhe perguntar sobre sua vida: se já tem um novo amante, se distribuiu alguma carta proveniente da Malásia ou da Tanzânia, se ainda recebe, no Natal, a gratificação dos carteiros. Mas não o faço. Só me conformo com ouvir seus passos, cada vez mais débeis. Eu me conformo em pensar na imensidão do Universo. Tudo que começa como comédia termina como filme de terror.

Os detetives selvagens, de Roberto Bolaño*. Um excepcional companheiro de viagem.

* Presente da querida Karen.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

HAVA TEMAKI HAVA TEMAKI HAVA TEMAKI HEIA

Do enviado a Miami, sem gravata amarela

A cena é insólita e pode ser vista à esquerda do meu carro (aluguei um, é mais barato que táxi). A estrada passa a milhas lentas e a paisagem é sempre a mesma. Foi quando avistei este restaurante à beira da pista com a frente negra e algumas estrelas de Davi gigantes na faixada. Estava a 60 milhas por hora mas joguei o carro no acostamento freando tal qual um Charles Bronson em filme dos anos 70, para dar a meia-volta e estacionar na frente do recinto. Aqui vale uma nota: nomeei o carro de Al Flores, nome do funcionário do mês de um supermercado de Coral Gables em que fui no dia anterior. Fazia um calor etíope, não menos etíope que a minha fome, e eram duas da tarde do dia 4 de julho, feriado nacional nos States porque um daqueles caras estampados nas notas de dólares um dia mandou os americanos da Inglaterra saírem vazados do país.

Ao entrar no restaurante, havia muitos judeus, como se supunha, mas alguma coisa estava errada. Uma mesa grande com jovens, todos latinos, parte deles com aquele meio-coco que os judeus colocam na cabeça para não serem confundidos com os palestinos, porque são todos parecidos, talvez os palestinos mais escurinhos, mas ainda assim similares fisicamente, por mais que ambos odeiem ouvir isso, aliás os judeus de origem hispânica são mais escurinhos e, conseqüentemente, ainda mais parecidos com os palestinos...

Mas não desviemos do assunto. Dizia eu que havia alguma coisa errada no restaurante. Estava atrás da mesa dos judeus-latinos: a decoração era toda tailandesa, com aqueles quadros típicos emoldurados nos restaurantes tailandeses, com um velho barbudo pelado sentado em posição estranha com as mãos e os pés juntos. Minha sobrancelha direita se ergueu espontaneamente. Pior: num outro canto, oposto ao que estava a mesa dos judeus e os quadros pastiches da Tailândia, havia um sushi-man, mexicaníssimo, e um letreiro onde dizia os preços do sushi, sashimi, temaki, etc. Ergui a outra sobrancelha e, com uma enorme interrogação pairando sobre minha cabeça, compreendi que teria babado ali mesmo na minha gravata, caso usasse uma. Não entendia nada.

Instalei-me em uma mesa na frente de um velho judeu lendo um livro, possivelmente a cabala. Uma japa de proporções liliputianas veio me atender. Antes de saciar minha sede e fome, tentei saciar minha curiosidade:

- Miss, please... is this restaurant a half jewish and... a half what?

A japinha me olhou com repreensão:

- No, not jewish – aqui ela quase soltou um “Dããã, vacilão” - It´s half japanese and half thai.

Babei na minha gravata imaginária com veemência. Tem-se o seguinte quadro: avistei um restaurante com estrelas da Davi na frente. Dentro dele, quase todos os clientes eram judeus. No entanto, ele não era judáico, e sim meio japonês meio tailandês. Abri o cardápio, que começava com pratos dos japas da Tailândia, depois ia aos japas do Japão mesmo e... Surprise! – se encerrava com pratos kosher e toda uma gama de comida judaica típica.

Como os preços dos pratos kosher eram bem mais caros, optei por uma salada tailandesa e sashimis. A salada tailandesa era tão tailandesa quando eu, mas tinha um molho agridoce que, talvez, com boa vontade, fosse tailandês - possivelmente molho pronto de sachê. De sobremesa, tempura de sorvete. Isso mesmo, não me pergunte.

Paguei os 16 dólares para a japa e, sob o sol etíope, voltei para o carro. Para o Al Flores eu disse, com um cigarro existencial entre os dedos: “Vamos. Nem tão rápido que pareça que estamos fugindo, nem tão devagar que pareça provocação”.

Só volto a restaurantes judáicos acompanhado de meu amigo Henry Sobel, ambos devidamente engravatados, para que nela possamos babar com consistência, quando necessário.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

AS VEIAS FECHADAS DA AMÉRICA LATINA

Do enviado a Miami, sem gravata amarela

Pois é. Quis o destino que eu, sempre tão esquerda Jack Daniels, sempre tão quase-revolucionário de botequim, fizesse minha primeira viagem internacional para Miami, paraíso dos aspirantes a Roberto Justus. Cabe-me a ventura de ter vindo a trabalho e não a passeio ou compras – aliás, muito menos a compras, e que me perdoem as 15 pessoas que souberam da empreitada e que tentaram me encomendar quinquilharias. Não, não vesti a gravata amarela, última moda entre os executivos que têm a Flórida como símbolo de status.

Veja se essa vida não é irônica: por ser um vôo de fim de junho e, conseqüentemente, de fim de férias, as Tia Augusta e Stella Barros da vida fizeram o favor de lotar o meu redor de adolescentes nhenhenhéns no avião, todos com destino à Disneylândia. Pior: ainda no aeroporto de Miami, passei duas horas na fila da alfândega americana junto da Hebe Camargo (fotos no Flickr em breve), que, com seu cabelo tão amarelo quanto um pudim estragado, tirava fotos com a rapaziada e distribuía o seu chavão favorito: “Obrigado, gracinha”, “Também adoro vocês, gracinhas”, e por aí vai.

Faz um calor abismal em Miami. Como a temperatura é em Farenheit e eu fugia das aulas de Termologia, suspeito que esteja por volta de 32 graus Celsius (sempre quis ter um cachorro chamado Celsius), sem o menor indício de vento.

Falando em termômetro, dois fatos relevantes ocorreram na América Latina nesta quarta-feira e que de alguma forma me fizeram sentir com força a quentura de nuestra latinidad. Primeiro, o desseqüestro daquela tia colombiana chamada Ingrid Betancourt (a imprensa já torcida pela soltura dela porque não agüentava mais ilustrar estas notícias com as mesmas fotos de seis anos atrás, quando ela foi presa). Segundo, o futebol, com a conquista da Libertadores da América pela primeira vez por um clube equatoriano, a Liga Deportiva Universitaria, a LDU, sobre o Fluminense.

Com a notícia de que Ingrid Betancourt estava livre, muita gente do trabalho parou para ver TV – o escritório está cheio de colombianos aqui, e eles gostam tanto de política quanto nós de futebol. A grande polêmica ficou por conta da discurso de Ingrid, que agradeceu a todo mundo, menos ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.

À noite, fui com o amigo Alvez ver o Flu x LDU num bar parecido com qualquer um dos Jardins (só que a era comida boa), com uma diferença e uma curiosidade. A diferença é que vi a decisão por pênaltis ao som alto de remixes de Duran Duran, porque eles não desligam a música pra ver o jogo. Não tem jeito, eles não entendem a liturgia do futebol. A curiosidade, que provavelmente jamais vou repetir na vida, é ver a conquista do time do Equador ao lado de ao menos cinco equatorianos fanáticos pela LDU. Ao fim da partida, ficaram todos bêbados, saíram berrando e não paravam de ligar aos amigos no Equador, aos prantos. Eu entendo esses equatorianos. Quando a gente está longe de casa, gosta um pouquinho mais dela.

Na saída do bar, encontramos uma colombiana que trabalha no escritório. Tocamos no assunto Ingrid Betancourt para ouvir, de bate-pronto: “Aquella grã-puta!!!”. A colega ficou uns 15 minutos ininterruptamente falando mal da ex-seqüestrada. A moça em questão é uma uribista fanática, rival político de Betancourt. O fato é que provavelmente a última vez em que a América Hispânica esteve duas vezes com tanta evidência na mídia mundial no mesmo dia foi quando o Francisco Pizarro desceu da caravela e matou uma rapeize morena ali pelas bandas do Peru.

Bom, por hora é o suficiente. Fico aqui durante o 4 de julho - agitar uma bandeira de Cuba durante a marcha e ser deportado ou não? - e no fim de semana, quando pretendo esticar até Palm Beach para tirar fotos na loja onde o Henry Sobel roubou umas gravatas. Talvez eu roube uma amarela. Que o Roberto Justus esteja com vocês.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

A DEBACLE PSICOLÓGICA DE CAIUS CUERUS

Sei que já comentei por aqui sobre o jornalista latino Caius Cuerus, mas já não me lembro de quando foi a última vez. Faz tempo. Recordo de quando ele era só um menino idealista do Cangaíba. Pregava o amor proletário e, na menor discussão política que aparecesse, tirava uma foice e um martelo do bolso, subia na mesa e cantava a Internacional em oito línguas eslavas, depois em espanhol com sotaque cubano e, por fim, acendia um charuto. Tinha pretensões de mudar o nome do Cangaíba, distrito onde nasceu, para Caiogrado.

Pois bem, me refiro a Caius Cuerus para dizer que fiquei meses sem ter sinal de vida dele. Desapareceu completamente. Quando seu nome vinha à tona em nosso grupo de amigos, as teias de aranha sopravam dentro de nossos ouvidos. Até que neste fim de semana, visitei por acaso a birosca Princesinha dos Jardins e o encontrei completamente alcoolizado, chamando Jesus de Genésio. Estava só. Bebia uma garrafa de Drehar. Postei-me em sua frente, e ele, ao me ver, apenas perguntava:

- Por quê? Por quê? Deve haver uma conciliação...

Foi então que compreendi o seu sumiço. Pausa para o suspense: Caius pediu para eu sentar, virou para o garçom e disse:

- Ô Camisa 10, faz o favor de descer mais um copo, que o companheiro aqui vai sorrir enquanto eu passo com minha dor.

Vou explicar o espiral de amargura caioquerano. Nosso amigo tem dois ídolos absolutos: Fidel Castro, comandante-em-chefe mexicano de Cuba (ou seria Jamaica?), e Caetano Veloso, cantor brega nordestino. Tem dias em que Caius acorda meio Fidel; em outros, caetana por aí. Eis porém que de repente que os seus ídolos saem na porrada na mídia. Desde que leu a notícia, Caius Cuerus bebe oito garrafas de Drehar por dia.

Veja bem, ilustre leitor, é mais que uma questão de idolatraria: é uma questão psicológica. De um lado, o superego repressor do jornalista Caius Cuerus. Do outro, seu id. Resta saber qual é qual e quem tem razão. Seria o lado fidélico de Caius Cuerus o seu Superego? A responsabilidade do comandante em implementar a revolução numa ilha paradisíaca é notória, e tem que ter muita doutrina e responsabilidade para conseguir consertar aqueles carrões americanos dos anos 50 que servem como táxi. Por outro lado, a revolução é libertadora, chega como um impulso, é como a Yoná Magalhães correndo rumo ao infinito no fim de Deus e o Diabo na Terra do Sol, uma coisa que vem do Id.

Porém, permita-se divagar caetanicamente: há algo mais policialesco, repressor e menino-brasileiro que desconstruir a Bossa Nova em versos tropicalistas? Superego é Caetano, a que será que se destina? Mas Caê também é Id. Quando Caius Cuerus desce a Baixa Augusta descalço e beija cinco emos no Ibotirama após cantar everybody knows that our cities were built to be destroyed, ele dá vazão ao seu lado sensível.

Estas são as dúvidas que angustiam meu ilustre amigo. Seu terapeuta behavourista está analisando o caso antes de dar um veredito. Seu mentor esotérico o aconselhou a acender uma vela preta ao Exu Babeta na esquina da Alameda Campinas.

Portanto, você que, como eu, é amigo de Caius Cuerus, não o reprima. Pague a ele uns pedaços de pizza na Bela Paulista para ele ficar Odara. E prometo voltar em breve para divulgar quem vai o apoio de Caius Cuerus, tão logo ele se decida.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

“É esse o sentido da segunda pergunta”, responde o general, sem tirar a mão da maçaneta da porta. “Ei-la: o que ganhamos com nosso orgulho e nossa presunção? O verdadeiro significado de nossa vida não terá sido a atração irresistível por uma mulher que morreu? É uma pergunta difícil, eu sei. De minha parte, não sei o que responder. Em minha vida experimentei tudo, vi tudo, a paz e a guerra, coisas miseráveis e grandiosas; vi um covarde como você e um presunçoso como eu; vi desencadearem-se lutas e restabelecerem-se compromissos. Mas quem sabe se, no fundo, o significado de nossa vida e de todas as nossas ações não tenha sido o laço que nos unia a alguém que nos magoou – o laço ou a paixão, chame-o como quiser. É esta a pergunta? Sim, é esta. Gostaria que você dissesse”, prossegue baixinho, como se receasse ter alguém às suas costas escutando suas palavras, “o que acha disso. Não acredita que o significado da vida é simplesmente a paixão que um dia invade nosso coração, nossa alma e nosso corpo e que, aconteça o que acontecer, continua a queimar eternamente, até a morte? E não acredita que não teremos vivido em vão, se um dia sentimos esta paixão? É aí que me pergunto: a paixão é de fato tão profunda, tão má, tão grandiosa, tão desumana? Será que realmente é desejar uma pessoa específica, ou é apenas o próprio desejo? Será que consiste em querer uma criatura bem definida, a mesma e misteriosa criatura que pode ser boa ou má – tanto faz -, pois não são suas ações nem suas qualidades que vão modificar a intensidade de nosso sentimento? Esta é a pergunta. Responda, se for capaz”, diz, levantando a voz.

“Por que você me pergunta?”, responde calmamente o hóspede. “Você sabe muito bem que é assim.”

E examinam-se longamente, com atenção.

O general respira com dificuldade. Abaixa a maçaneta. O vestíbulo espaçoso está riscado de sombras e luzes ondulantes. Descem os degraus em silêncio, os criados correm até eles levando-lhes lanternas, o capote e o chapéu de Konrad. Diante do portão, as rodas do carro rangem no cascalho. Konrad e o general despedem-se em silêncio, com um aperto de mão e uma profunda reverência.

As brasas, Sándor Márai.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A SELEÇÃO BRASILEIRA, O NABO E AS FACAS GINSU

Talvez o ilustre e futebolístico leitor não se lembre, mas houve um tempo em que torcer para a Seleção Brasileira era divertido. Eu ia dizer que não faz tanto tempo assim, mas talvez isso já seja mentira.

Lembro-me de quando eu era pequeno. Uma das primeiras e parcas lembranças da tenra infância que o menino Vives guarda consigo foi durante a Copa de 86. Tal qual um Caio Quero, eu não gostava de futebol - pudera, tinha só cinco anos - mas adorava aquela tal copa do mundo, especialmente quando o Brasil ganhava, porque o céu se enchia de balões. Era uma orgia de cores e formatos, e a meninada correndo nas ruas atrás dos que iam caindo. Aos olhos de um moleque assustado de cinco anos que acompanhava tudo da sacada de casa, era como se o mundo fosse uma coisa extraordinariamente bela. Para mim aos cinco anos, ao atravessar o portão de casa, as pessoas eram todas felizes e soltavam balões.

Durante minha infância e adolescência, um jogo do Brasil, mesmo que amistoso chinfrim, era um evento. Acompanhávamos a escalação, torcíamos para que os jogadores do nosso time fossem convocados e, no dia do jogo, comprávamos pipoca e nos juntávamos na frente da TV na casa de algum, faltando na escola, se necessário.

Hoje, relutei em deixar de torcer para o Brasil, mesmo quando exercer este ato de fé passou a ser algo brutalmente artificial. Mas a gente não pode lutar contra certas coisas, e o fato é que não tenho a menor identificação com esta e as últimas Seleções Brasileiras, esteja ela ganhando ou perdendo.

Para este que vos escreve, dois fatores são os grandes responsáveis por esta ausência de carisma da seleção que sempre foi a mais carismática de todas, a brasileira: a clara transformação do time em balcão de negócios, dos quais a torcida não se beneficia e muitas vezes é prejudicada, como os amistosos caça-níqueis que ocorrem longe do país e de madrugada, e a superexposição dos craques.

Sobre este último, nos próximos anos teremos a curiosa experiência de acompanhar a aposentadoria da primeira geração de craques superexpostos pela mídia e pela publicidade. Até outro dia, o craque fazia propaganda de pilha, no máximo. Hoje, os principais jogadores têm dois ou três contratos vitalícios com a Nike, a Nestlé, a Gillette, Hollywood, a CIA, etc. Quando isso ocorre, o craque é vendido pelos jornais e pelas propagandas como um representante de Deus, da mesma forma como nossas avós acreditavam nos milagres da Menina Izildinha ou do Padre de Tambaú. Aí vem um fracasso, como o nabo que foi a Copa de 2006 para nós, e eles todos então parecem ridículos, pois não corresponderam à expectativa.

Veja bem, é como as Facas Ginsu. A propaganda dizia que a mais babeta das Ginsu era capaz de cortar um prego. Mas se você comprar o kit e não conseguir com ela cortar um prego, vai achar que todas as facas Ginsu são ridículas, mesmo que elas cortem tomate muito bem. E nunca mais vai querer comprar Facas Ginsu. Ronaldinho Gaúcho é uma Faca Ginsu. Hoje está com depressão, porque não dá para segurar um tranco desses.

Junto disso, temos a saturação da imagem. Ninguém agüenta mais ouvir falar em Ronaldo Picanha, e olha que ele não joga faz tempo. Primeiro, estava gordo. Depois, jogou gordo e se contundiu novamente no joelho. Quando todos achavam que ele ia ficar longe da mídia por um tempo, Picanha é pego com umas superfêmeas num motel chamado Papillon, no Rio. E depois volta com a namorada, que o perdoa. E depois ele é visto com outra mulher. Quando ele se aposentar, vai fazer falta nos gramados, mas vai ter muita gente dando vivas por ter que agüentar menos o Ronaldo Picanha na mídia.

Diferente de mim e da maioria, o menino que hoje tem cinco anos, daqui a 20 vai olhar para trás e se lembrar de como a seleção brasileira era enigmaticamente chata e de como ainda haviam algumas pessoas estranhas que insistiam em torcer para ela. A lamentar.

terça-feira, 17 de junho de 2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

UM POST ABSOLUTAMENTE SEM SENTIDO

Sonhei que fui incumbido de voltar no tempo para a fazer a autópsia de Antônio Carlos Magalhães, uma vez que alguém tinha-me encomendado a biografia dele. Na autópsia, coisas importantes seriam descobertas. Tento recordar de como eu sabia que era importante comparecer à autópsia, se alguém me disse durante o sonho ou se eu investiguei isso durante todo o processo, mas, no fundo, acho mesmo que é daquelas informações com as quais a gente já entra no sonho. Sabe quando você joga Detetive ou Scotland Yard, tira uma carta e que lá diz uma informação importante? Então, deve ter sido por aí.

Mas, voltando ao sonho, de repente eu me peguei em Salvador às vésperas da morte dele (talvez ele tenha morrido em São Paulo, mas ninguém disse que este sonho é lógico). Quando ele enfim esticou as canelas, tentei entrar na sala de autópsia, mas fui impedido por um leão de chácara maior que eu. Lá dentro eu vi umas negras baianas vestidas como nos rituais de umbanda, eu disse que tinha papo com a rapaziada da umbanda, e me deixaram entrar.

Colado ao peito de ACM havia muitos papéis, os quais eu pude checar enquanto as mães de santo rezavam e cobriam o corpo dele com arruda. Nos papéis, muita mandinga pra manter o corpo fechado e alguns documentos sigilosos, acho que de contas no exterior. Quando fui roubar os papéis, tomei uma comida de uma das mães de santo, que disseram que o painho seria enterrado com tudo aquilo. Tive então que ir pra fora esperar o enterro, pra depois violar o túmulo e enfim pegar a papelada e escrever a biografia.

No velório, descobri que estava em Recife, não em Salvador, uma vez que os funcionários da empresa onde trabalho que moram em Pernambuco foram até lá para me cumprimentar.

Fui acordado por um telefonema do meu estagiário.

terça-feira, 10 de junho de 2008

SEMELHANÇAS


Senador Álvaro Dias e Agnaldo Rayol: testosterona à flor da pele

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Carlos Minc...


... e ET: Amazônia, minha casa, telefone.

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Dilmão Roussef...


... e Roz, do Monstros S/A: bonito mesmo é se impor.