
Quando moleque, sempre achei o Waldick Soriano sinônimo dos piores momentos do Programa Silvio Santos. Provavelmente nunca falei isso por aqui, mas eu abomino o Silvio Santos.
Anos depois, quando a barba já tomava meu rosto, fui inspirado por Falcão Marcondes (o maior filósofo do cotidiano dos anos 90) a pesquisar sobre música brega. A Internet deu uma (dane-se o cacófato) mãozona e passei a conhecer quase a fundo o submundo da música popular brasileira dos anos 60, 70 e 80 – entenda-se música brega.
Mas, diferente do que ocorria com Odair José, Almir Rogério e Reginaldo Rossi, só para citar alguns, eu continuava a ignorar o Waldick Soriano. A voz dele era consideravelmente péssima e as letras, além de tratar exclusivamente da dor de cotovelo, não permitiam gargalhadas como as canções dos outros três, por mais que esta não fosse a intenção deles (e por mais que eu ainda encontrasse alguma sensibilidade nelas).
Um dia isso mudou. Há dois anos comprei na Netto Discos – gasto um salário por ano na Netto Discos - um CD da Maria Creuza, a cantora de MPB que me faz lembrar que, às vezes, a vida pode ser muito bela. Nele ouvi uma canção que me deixou tal qual manteiga no sol chamada Tortura de Amor, que virou post neste hebdomadário virtual. Meu queixo visitou o umbigo ao constatar no encarte que Waldick Soriano era o autor dela. Não era possível: aqueles acordes profundos e tão sentidos foram concebidos pelo músico que sempre rejeitei.
Pois bem, a história de Waldick Soriano é uma história de rejeição. Sua mãe o abandonou quando menino - como qualquer psicólogo pode deduzir, era a pessoa a quem ele mais se apegava no mundo. Anos depois, já se aventurando a soltar a voz de troglodita, Waldick era vítima de chacota na cidadezinha do interior da Bahia em que vivia. Era feio pra dedéu. Chegou a ser garimpeiro. Veio para São Paulo trabalhar como engraxate. Se havia alguém para quem a vida era um cactus enterrado na alma, este alguém era Waldick Soriano.
E então o que fazia Waldick? Ao contrário de mim e, talvez, de você, angustiado leitor, o mais famoso dos cantores brega não ruminava suas desilusões. Vestia-se de preto, enterrava o chapelão na cabeça e cantava sua rejeição. A diluía toda na música. Viveu bem assim.
Waldick Soriano tinha pose de macho, o cara durão à moda antiga, mas no fundo só queria mostrar que o jiló dessa vida cumprida a sol é que o fez deste jeito, e que, apesar de tudo, havia alguma doçura dentro dele. É como uma rapadura moral e que também existe dentro de cada um de nós. Todo mundo já se rasgou por paixões não compreendidas, amores não correspondidos, chifres, fez tempestades em copo d´água ou já tomou um porre por ser rejeitado enquanto se sentia o pior dos seres humanos dessa vida. Às vezes a gente pensa que é Frank Sinatra; quando menos espera, dá de cara com o nosso Waldick Soriano.
Que o Paraíso dos desiludidos, incompreendidos e rejeitados conforte os timbres melodramáticos do grande ícone dos que nunca foram ícones. Descanse em paz, meu caro.
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