terça-feira, 21 de outubro de 2008

O MARQUETEIRO É O LOBO DO HOMEM

Sejamos sinceros: se Jesus Cristo tivesse marqueteiros ao invés de apóstolos, a Santa Ceia teria sido um grande showmício com farta distribuição de macarronada pra rapaziada. Mais: um show da dupla caipira de apóstolos Simão e Tiago, que dariam um abraço fraterno no filho do homem enquanto todos fizessem o "V" da vitória. No discurso, Jotacê mostraria seus dentes clareados artificialmente enquanto prometeria transformar água em suco de uva - vinho é álcool, o que tiraria voto dos conservadores - e canalizá-lo até o morro da Babilônia.

Se a história fosse assim, Jesus não teria, como diria Daniel Piza, morrido enforcado. Poderia até virar um político influente da Palestina, feito uma aliançazinha marota com o PFL de Poncius Pilatus e, com um pouco de ajuda divina que de fato ele já tinha, até se tornado prefeito de Judá, com maioria no conselho de anciãos.

No entanto, o legado dele, sempre na hipótese de que de fato ele tenha existido, não teria durado dois mil anos, e sim até a eleição seguinte ou no próximo escândalo de corrupção.

Na verdade, eleitor leitor, eu falei tudo isso pra falar mesmo é da campanha eleitoral. Aqueles contos de ficção científica em que os robôs dominam os humanos já estão acontecendo, só que no lugar dos robôs nós temos a figura do marqueteiro de campanha, este um já uma entidade mística das eleições e governos mundo afora e que dita os rumos de quem faz política. Antigamente tínhamos os conselhos de anciãos, caciques, curandeiros, sábios e até filósofos por trás (no bom sentido) dos homens da vida pública. Hoje nós temos um sujeito que fez 4 anos de ESPM e um estágio com o Nizan Guanaes. Chupa, humanidade.

Em uma reunião entre o marqueteiro e o candidato em campanha, o primeiro tenta pegar a mensagem que o segunda quer passar (se é que ela existe), coloca umas bolas de natal pra enfeitar, uns artistas pra apelar e umas boas xícaras de hipocrisia e melodrama. Se na primeira pesquisa o Ibope (outra entidade mística) não apontar ascensão do candidato, aí joga tudo fora e parte pra baixaria. Enredo mais batido que os episódios do Ri Tim Tim.

É por isso que eu prego o combate ao marketing político, e ao dizer isso já posso visualizar os sorrisos sarcásticos de quem me enxerga como ingênuo ou anacrônico. Ingênuo vá lá, mas anacrônico mesmo é a Marta Suplicy subentender que Gilberto Kassab, seu adversário, é sãopaulino, tática usada pelo PSDB de José Serra em 2004 ao soltar um documento intitulado “Dona Marta e seus dois maridos”. No fundo é a mesma tática de política feita por coronéis do Nordeste de antigamente, que usavam argumentos como “não vote no Fulano porque ele é corno”.

É por isso que defendo a franciscanização da campanha política e, sobretudo, do horário eleitoral na TV. Não tem musiquinha, não tem artista falando, não tem figurantes passando por situações felizes. No máximo, uma produção a la Glauber Rocha: alguém segura uma câmera bem mixuruca e o candidato se vira nos cinco minutos. Ficaria muito chato, mas a separação entre política e entretenimento um dia vai ser tão importante para o século 21 quanto a separação entre igreja e estado o foi dois séculos atrás.

E pra encerrar, digo que um dia vou ter um hamster de estimação chamado Duda Mendonça. Uma metáfora de inversão de papéis não muito sutil.

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