Olha, até acho que houve um tempo em que os Jogos Olímpicos eram algo sensacional. Não, fino e escasso leitor, não boicotei as Olimpíadas de Pequim e inclusive perdi algumas madrugadas para assistir, por exemplo, uma dupla brasileira do vôlei-de-praia perder para a da Áustria, que não tem praia. Se fosse vôlei-de-porão eu até entenderia, porque de porão os austríacos entendem, conforme atestaria a família Fritzel. Mas também não tenho nada que falar mal da meia dúzia de medalhas de bronze que o Brasil trouxe da China.
Para falar a verdade, olímpico leitor, há algo que me incomoda muito. É como uma pedra no rim moral. Trata-se da decepção por conta da amarelite aguda que toma conta da psique do atleta brasileiro em momentos importantes, e que em Pequim atingiu os 40 graus no termômetro no judô e na ginástica artística.
Veja só que vida miserável tem um atleta. Peguemos (no bom sentido) o Diego Hypólito, ginasta até então considerado o melhor do mundo e que caiu sentado (no bom sentido) no tablado junto como sonho da medalha olímpica. Anti-carismático por natureza e consideravelmente arrogante, Diego passou a maior parte de sua vida ouvindo um treinador ucraniano gritar todos os dias os dias todos para que ele melhorasse cada salto, cada movimento, cada gesto. Aos poucos ele passou a se destacar, ganhar competições cada vez mais importantes, e, conseqüentemente, a ouvir o tal ucraniano gritar cada vez mais para ele se preparar cada vez mais para o objetivo maior, que era o ouro olímpico. Não deu. Minutos depois de encostar os glúteos no tablado ao vivo para milhões de pessoas, um destroçado Diego deu entrevista aos prantos pedindo desnecessárias desculpas ao Brasil.
Se o financeiro leitor acha que o Diego Hypólito ganha o suficiente para viver sob confinamento e tamanha pressão, simplesmente não entendeu nada do que estou tentando dizer. Isso não tem nada a ver com dinheiro. Eu não trocaria nada desta minha vida classe média tatibitate pela vida de um atleta de alto rendimento. Enquanto nos últimos quatro anos eu passava as terças-feiras à noite no Asterix jogando conversa fora com os amigos e calibrando a barriga de cerveja, Diego dormia sonhando com medalhas olímpicas.
Para não ficar apenas nos mal sucedidos, peguemos o exemplo de César Cielo, primeiro medalhista de ouro da história da natação brasileira. Se refugiou dos Galvões Buenos da vida ao ir aos Estados Unidos, onde treina em uma universidade no Alabama. Há alguns meses, a revista Piauí fez um perfil da vida que Cielo leva nos States. Seu técnico é tão comovente quanto um ditador latino-americano dos anos 70: grita sem parar, é constantemente cruel com o nadador (o objetivo é sempre incentivá-lo) e o confina o máximo possível. Moral da história: a vida de Cielo é tão interessante quanto a de um exilado na Gulag. Quando Cielo levou o ouro, chorou feito uma criança. De alívio, claro. Se ele refugasse tal qual Baloubet do Rouet fez nos Jogos de Sidney, vai saber o que aconteceria com a cabeça do menino.
O amigo Leandro Beguoci tem escrito ótimos posts desancando o Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei. Bernardinho é o tipo vencedor que tem legiões de fãs entre os alpinistas corporativos que têm como único objetivo de vida subir na empresa. “Ele é osso duro, tira o sangue do time, sempre mostra resultados”, já cansei de ouvir. Não, toupeira, Bernardinho é uma figura deplorável. Se para atingir um objetivo eu tiver que viver sob a angústia e o medo, então este objetivo não merece ser atingido. Prefiro ficar tomando cerveja no Asterix.
Triste daquele que vive em função de um só objetivo na vida. E o esporte de alto rendimento é isso: percamos a vida por a merda de uma medalha. Vou injetar umas tranqueiras nas minhas veias, vou morrer de câncer aos 40 anos, mas vou ganhar o ouro e entrar para a História.
Lembrei de tudo isso neste sábado, quando voltei pra minha terra e dei de cara com minha coleção de Super Trunfo. Passei boa parte da infância a jogar cartas com o vizinho da frente na garagem dele ou na minha. Este meu amigo hoje é metalúrgico, trabalha de madrugada e quase não temos contato. Sei dele por minha mãe, que fala com a mãe dele, e vice-versa. Nas poucas vezes em que nos vemos, de relance, sempre encerro as conversas com “Qualquer dia passo na tua casa pra gente jogar um Super Trunfo”. Se fosse modalidade olímpica, eu iria a Pequim, com certeza. E não estaria muito preocupado em ganhar medalhas. Não é essa a liturgia da coisa. Chupa, Michael Phelps.
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Há 5 semanas
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