
As duas faces da economia
E tudo passa, e tudo passará, já disseram tanto Nelson Ned quanto Franklin Roosevelt e os mentores do New Deal dos anos 30. Digo isso para incentivar você, econômico leitor, a não se impressionar com o noticiário de finanças dos últimos dias. Parece que já tem comentarista econômico rondando a Bovespa com um crucifixo embaixo do braço a ler trechos do apocalipse. E Deus disse: “Dança, Wall Street”. E Wall Street dançou.
Se você é daqueles que, como eu, só lêem o caderno de esportes do jornal e as tirinhas do Angeli e do Larte, vou rudemente contextualizar.
Nos Estados Unidos dos anos 90, todo mundo era feliz. Os americanos estavam ricos e entupiam suas veias com o colesterol ruim enquanto Bill Clinton dava um tapa na peruca da estagiária mocoronga. A economia crescia e os economistas da escola neoliberal – os mesmos que nos anos 80 mantinham embaixo da cama um pôster da Margareth Thatcher em trajes íntimos – abaixaram os juros até aparecer o cofrinho a dizer: “A gente vamos estar se auto-regulando”.
Foi então que o mercado de crédito resolveu financiar até casinha de cachorro. Era só passar na frente de um banco que o americano médio – ou seja, o gordão das veias entupidas – ganhava uma graninha. No fim das contas, isso virou uma bolha especulativa que o governo americano não estava preparado, uma vez que deixou a supervisão disso a cargo da mão invisível, que não só é invisível como também não existe. O abacaxi explodiu primeiro no setor imobiliário com as hipotecadoras de nomes engraçados, a Fannie Mae e a Freddie Mac (parecem nomes de casal de seriado dos anos 60), as maiores do mercado americano. Semana passada, faliu o banco de investimento Lehman Brothers, que tinha 158 anos.
Pausa para um comentário non-sense: “bolha especulativa” me lembra problemas médicos. Imagino um doutor de ar grave dizendo “Pois é, caro paciente, sua infecção urinária gerou uma bolha especulativa no canal da uretra para a qual recomendo o procedimento cirúrgico. Vai entrar na faca!”. Fim do comentário non-sense.
Pois bem, lembro que, há uns dez anos, as pessoas falavam do ex-presidente do BC Americano, Alan Greenspan, com uma alegria efusiva, como se ele fosse uma espécie de Renato Aragão das teorias econômicas. Sabe aquele cara que todo mundo gosta e fala bem, e que de repente aparece no Criança Esperança para confirmar o quanto o que ele faz é bom para a humanidade, e que é legal deixá-lo ali fazendo o que sempre fez? É por aí. Agora Greenspan aparece nos jornais com a carapuça do sujeito que deveria ter previsto a crise durante a euforia desenfreada.
Greesnpan não é o único que passou de Deus a Diabo em pouco tempo. Há um ano atrás, a revista Forbes elegia o hoje falido banco Lehman Brothers como a empresa mais admirada de 2007. Portanto, keynesiano leitor, da próxima vez que encontrar com aquele seu vizinho da FEA ou da PUC do Rio a ajeitar o broche do PSDB na lapela, vá até ele e dê-lhe umas boas traulitadas nos cornos. Se ele reclamar, dê mais. Por fim, se ele perguntar o por quê, diga que sua mão invisível está tentando regulamentar a proliferação de idiotas no mercado.
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