A única vez que estudei em colégio particular foi aos 15 anos, no primeiro colegial. E não foi uma experiência agradável. Entrei no primeiro dia de aula crente que, por vir de uma escola estadual para um dos colégios da elite da cidade, eu seria atrasado em relação aos demais e fatalmente sofreria um choque de realidade em meio a um povo que só estaria interessado em estudar, fazer faculdade, ler, essas coisas. Ledo engano: a grande massa era composta por filhos de gente rica que não tinha plano algum porque tinha certeza que o pai estava lá para sustentar. Eram pessoas de uma infantilidade ímpar.
Havia na minha classe um filho de chineses que era o grande alvo do que hoje as pedagogas que dão entrevista para a Veja chamam de bullying. Ele era absurdamente inteligente e ingênuo. Seus pais tinham uma pastelaria ao lado da rodoviária da cidade que, como todas as pastelarias de rodoviária, não primava pela higiene. Só este fato já poderia fazer dele alvo de chacotas, mas não parava por aí: ele era gordo e tinha espinhas na cara. Acho que 60% dos adolescentes hoje são gordos e 100% têm espinhas na cara, mas os idiotas da minha classe faziam da vida do chinês um inferno por conta disso, antes de tudo.
Durante o pouco que estudei naquele colégio vi o chinês sofrer trotes realmente absurdos. Antes das provas, os ditos fodões da turma pregavam o chinês na parede e obrigavam a passar cola, o que ele fazia religiosamente. Depois roubavam seus cadernos, pichavam-no, batiam-no, chutavam-no em rituais diários. Por conta de tudo isso, rigorosamente todos os dias o chinês chorava copiosamente na sala de aula.
Chorar é pouco: ele urrava. Diariamente os professores interrompiam as explanações, o china era encaminhado para a psicóloga da escola, o diretor era chamado e vinha com aquele papo de sempre: "Vocês precisam parar com isso", "vocês estão atrapalhando a vida do menino", "vocês estão causando traumas profundos nele", "vocês não estão respeitando o coleguinha", etc.
Ouvi uma vez no corredor a psicóloga tentando melhorar a auto-estima dele dizendo o básico: que ele era especial, inteligente, e que deveria ficar perto só dos que gostavam dele. Os diretores chamavam os pais do china à escola, mas, como é de domínio público, se houvesse um ranking de sensibilidade entre os povos, os chineses cairiam para a segunda divisão. Diziam que, em casa, também acabava sobrando umas bolachas ao pobre coitado.
O ritual do vandalismo no chinês, seguido do choro compulsivo dele, as aulas interrompidas e a ladainha dos professores e diretores, perdurou por meses a fio. Até que um dia ele chorou na aula de um professor chamado Norberto, de Biologia.
Norberto era um professor quietão. gente boa e low profile. Falava pouco e não aparecia muito. Ele entrou na classe e pegou o chinês desconsolado, arrancando os cabelos numa crise de choro compulsivo realmente desoladora. Então ao invés de repetir o procedimento de chamar a direção ou a psicóloga, chegou perto do china e disse mais ou menos isso, sem elevar o tom de voz:
- Moleque, todo dia eu ouço lá embaixo que você chora todo dia. E hoje entro aqui e você tá nesse berreiro. Faz um favor pra mim: vê se cresce. Você chora por causa de um monte de criança que atira bolinha de papel em você. Pois você é tão criança quanto eles. Aos 15 anos, você deveria ser muito melhor do que isso. Não tenho dó de você não. Vê se vira homem - e se virou para o lousa para escrever a matéria.
Até dezembro daquele ano, não vi o chinês verter mais nenhuma lágrima na escola.
Moral da história: às vezes, a única psicologia eficaz é um soco no estômago.
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