terça-feira, 30 de outubro de 2007

SAUDADES DOS LÁBIOS DE SUVACO


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Lembro do tempo em que eu lia a Revista Bundas. E já abro parênteses logo de cara: fui educado pela Revista Bundas. Colecionei todas as edições dos dois primeiros anos e quis ser jornalista pra fazer as coisas que faziam o Ziraldo, o Jaguar, o Luiz Fernando Veríssimo, o Sergio Augusto, o Redi e, acima de todos, o Fausto Wolff, que anda fazendo cagadas, mas que será para sempre o meu ídolo-mor. Lembro das representações do então presidente FHC feitas pelo Aroeira, um dos grandes cartunistas do Brasil. O nosso guru sorbonal era inevitavelmente representado com os lábios enormes, como que atacados pelas aftas da vaidade. Acho que foi o Fausto quem o apelidou de "Lábios de Suvaco". Enfim, foi com o lema "Quem põe a bunda em Caras não põe a cara em Bundas" que eu aprendi a ser gente, sempre na hipótese de que tenha obtido êxito nesta empreitada.

Mas este intróito saudoso surgiu porque queria falar de Fernando Henrique (não sei se já disse isso, mas no dia em que eu tiver um cachorro, daqueles vira-latas bem feios e safados, certamente vou chamá-lo de Fernando Henrique). Os jornais desta segunda-feira estamparam manchetes dizendo que o antecessor de Lula considera uma grande insensatez um possível terceiro mandato do sapo barbudo. Reproduzo as aspas expelidas por FH no Estadão:

- Uma questão é a reeleição, que é uma coisa normal, existe na maioria dos países. Outra questão é a extensão do mandato. Iria no caminho de um mandato indeterminado, o que é antidemocrático.

Essa frase seria perfeita se não fosse dita justamente por Fernando Henrique, que se mostra detentor de um cinismo de filme inglês dos anos 60. Um terceiro mandato de Lula seguido seria sim um absurdo - e que o deputado petista Devanir Ribeiro, mentor da idéia, tenha sucessivas cãimbras nas partes íntimas caso continue com isso na cabeça - mas essa coisa de reeleição, da maneira como foi feita no Brasil pelo PSDB, foi como se crianças jogassem o Jogo da Vida e, no meio dele, decidissem mudar as regras para beneficiar aquele que já estava ganhando. Faltando pouco menos de dois anos para as eleições de 98, a bancada tucana comprou deputados, senadores (há quem diga até governadores) por valores bem altos em nome de mais quatro anos no poder. Para o caso de um país com a estrutura democrática aperfeiçoada, aprova-se a releição para o mandato seguinte. Mas como vivemos na Índia, FH se fartou com mais quatros anos, suficientes para implementar a quebradeira do país.

Mas o ponto alto da fanfarronice foi esta frase:

- Precisamos mesmo da CPMF? No passado, precisávamos. Não posso ser incoerente quanto a isso. Mostramos que era necessário. Mas, de lá pra cá, a situação fiscal melhorou. A arrecadação fiscal melhorou muito.

Estima-se que Fernando Henrique Cardoso queira dizer o seguinte: "Quando eu estava lá, podia. Agora que eu saí, não pode mais". Assusta o fato de o discurso de FHC de antigamente ser o muito próximo do de Lula hoje e vice-versa. Mas não vou cair em tentação de dizer que é tudo a mesma coisa. Ainda tenho certeza de que, apesar dos defeitos, o legado de Lula é algo que vá ficar por muito tempo.

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