quinta-feira, 11 de outubro de 2007

ASSUMAM AS TIRIRICAS


Sopas, muitas sopas

Na primeira vez que vi uma tartaruga já fui logo pensando numa sopa. Há quem, em ocasião semelhante, tenha se extasiado com esta suposta maravilha da natureza. Alguns dizem que o bicho é lindo e querem ter um plantado na sacada do apartamento. Outros refletem que o bicho não mudou desde alguma era terminada em "zóica" e fazem um discurso emocionado sobre a evolução das espécies.

Eu não. Eu vejo uma tartaruga e logo penso numa sopa. Aproveitar aquele casco como cumbuca, rodelas de cebola e pimentão ao leite de coco junto das tirinhas do quelônio, tudo boiando na mistura. Moqueca de tartaruga.

Exemplifico minha reação com o réptil para dizer que tenho estranhado minha presença contínua em restaurantes vegetarianos. Há seis anos, quando cheguei a São Paulo, isso seria impossível. Mas hoje gosto, com restrições. Pois falemos então das restrições, porque é muito mais legal.

Há alguns dias almocei num restaurante vegetariano, como de praxe. Pedi, atônito, um suco de clorofila. O gosto é quase bom. Tomei dois copos e passei a tarde inteira fazendo fotossíntese. Me senti uma begônia de dois metros de altura. Recomendo suco de frutas mesmo e, sempre que possível, uma cerveja.

Mas o suco de clorofila não é a grande toupeirice vegetariana que se tem notícia. O que me incomoda em rigorosamente todos os restaurantes deste tipo em que fui na vida é a culpa em ser vegetariano. Explico melhor.

Raciocine comigo: o sujeito que vai a um restaurante só de vegatais já está ciente de que o único bicho que lá vai ver é o papagaio do hippie proprietário do estabelecimento. No entanto, a grande maioria dos pratos simula a existência da carne: hambúrguer de soja, estrogonofe de glúten, salmão fake e outras excentricidades. Juro que partirei para a ignorância no dia em que entrar no restaurante e um garçom vestido de gaúcho me disser, com sotaque de Passo Fundo: "Hoje o prato principal é acelga no rolete".

Veja bem, se você puder adquirir um quadro do Picasso pintado pelo próprio e uma imitação pintada por Fernando Vives, é óbvio que você fica com o original. Logo, entre um bife à parmegiana de contra-filé e um com bife de soja, fica-se com o primeiro. É de conhecimento até do mundo mineral que se vai a restaurante de mato para comer mato e não boi. Mas não, há essa culpa, essa necessidade de provar que o homem pode substituir a carne em sua vida e assim deixar os bichinhos em paz.

Aliás, este é outro ponto delicado de certas correntes do vegetarianismo: a de que o homem é, em sua essência, um herbívoro. Me disseram que são os vegas que dizem isso mas, nos 30 segundos que minha paciência permitiu pesquisar na internet, não achei nada a respeito. Então não acusarei os vegas desta toupeirice. O cérebro do homem só se desenvolveu tanto por conta das proteínas e coisas que se acha na carne, no leite e nos ovos. Se os restaurantes vegetarianos estivessem na moda durante a Era Antropozóica, talvez estivéssemos hoje disputando capim com os bois.

Mas isso não quer dizer que os vegetarianos são burros ou coisa que o valha. Não. Há quem não coma carne por ideologia que, se é discutível, ao menos é uma ideologia. Há os que simplesmente não gostam de carne. Pois eu digo então que os donos de restaurantes vegetarianos deveriam se libertar desta culpa quase católica na hora de elaborar os pratos. Se a meta é comer tiririca, pois que tenhamos então um prazer bovino em comê-las em pratos que não nos escondam que ali estão tiriricas, nada além de saborosas e nutritivas tiriricas.

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