terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

SONHOS

1. A glande final da Terra Santa



Sonhei que estava em misteriosa expedição pela Terra Santa. Veja bem, eu disse expedição, agregada ao adjetivo "misterioso", porque não se tratava de uma reles excursão das Viagens Costa. Disse expedição porque eu andava pelo deserto a caráter, vestido como um expedicionário, um caçador ou, se você preferir torcer até enxugar por completo o glamour da coisa, como um garçom do Outback, com chapeuzinho, meiões até os joelhos e tudo mais. Patético, mas não mais patético que o amigo imaginário que me acompanhava: um sujeito que é a cara daquele australiano caçador de crocodilos que morreu com uma rabada de arraia no peito meses atrás. Pra quem não conhece, um misto de Rick Moranes com Richard Claydermann. Esse sujeito não existe, mas éramos amigos neste sonho, embora eu só o chamasse por "Hey, Mister".

Pois bem, andávamos pelo deserto até avistarmos as Colinas de Golã. No alto de um dos montes, uma elevação. Chamarei de glande, embora o correto seja cume (meu objetivo sempre é chocar os conservadores). Esta glande era feito de areia e tinha a forma de um barco. Eu e o "Hey, Mister" escalamos o monte e tivemos uma desabalada surpresa: a embarcação glandular tinha poltronas feitas também de areia, mais um cyber café no canto. Dentro, uma porção de velhinhos turistas gringos, com seus óculos de sol e câmeras fotográficas, e vários judeus ortodoxos vestidos com aquela roupa preta típica que nos faz suar só de olhar.

Perguntei a alguém (não consigo precisar quem, talvez um dos turistas) o que se passava ali, e tive como resposta

- Esta é a nova Arca de Noé, embora não tenhamos um Noé. Ela vai partir a qualquer momento.

Ri da situação, um barco de areia no topo do Monte Sinai, esses caras só podiam estar de brincadeira.

Sentei em um dos computadores do cyber café e vi a previsão do tempo em um site inglês. Nele, o videozinho apresentava uma moça a dizer algo como: "... e na Terra Santa, previsão de fortes pancadas de chuva a partir do fim de semana, que devem durar mais de 30 dias e 30 noites" (eu sei que o correto é 40, mas estou sendo fiel ao que sonhei). Assustado, olhei para o Hey, Mister e disse: "Rapaz, acho melhor a gente se instalar por aqui, porque tudo indica que o bicho vai pegar".

Aliás, falando em bicho, eu sei que havia uma porção de animais na Arca de Noé, mas nesta só teríamos uma porção de turistas senis e judeus ortodoxos, o que talvez dê a entender que meu inconsciente não acredita no futuro da humanidade.

Meus sonhos costumam dizer que sou um megalomaníaco frustrado, pois sempre há algo de natureza grandiosa que acontece comigo. Este não foi diferente. Ao instalar-me em uma das poltronas de areia, peguei para ler um jornal, vejam só, a Folha de S. Paulo. Dela puxei o suplemento Fovest, que fala de vestibular. Era uma edição especial, um manual do bixo da USP para este ano.

Rápidos parênteses para a vida real: prestei História na Fuvest. Fecha parênteses. Corri ao suplemento para ver se meu nome constava na lista dos aprovados e, o que não foi surpresa, não estava. Porém, qual não foi meu espanto ao ver que uma manchete interna do Fovest constava o seguinte:

"F. VIVES NÃO PASSA NO VESTIBULAR - Nota baixa na 1º fase eliminou chances do jornalista, que reclamou do tema de redação".

Ao lado da manchete, uma foto minha de relance, com semblante frustrado.

Como todo sonho típico, a história não tem desfecho. Lembro só de observar turistas velhinhos em confraternização com judeus ortodoxos e o "Hey, Mister", e mais outros pequenos detalhes sem sentido.

Amanhã pretendo contar o sonho que tive esta noite, em que eu e meu pai percorríamos as ruas de Rio das Ostras enquanto ele me apresentava uma estranha teoria entre a arquitetura local, a Alemanha, a Áustria e Adolf Hitler.

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