quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

SONHOS

2. Todo o traquejo do homem nacional-socialista



Sonhei na última noite que estava em Rio das Ostras com meu pai. O velho Vives dirigia por uma via paralela à avenida beira-mar. Por uma aberração neuronial inexplicável de minha pessoa, todas as casas das ruas tranversais eram em estilo enxaimel, a arquitetura típica alemã. Foi então que o Papai Vives olhou para o seu filho dentro do carro, a dizer:

- Há uma coisa que você precisa saber sobre essas ruas - parou e limpou um pigarro imaginário - Nem todas essas casas são alemãs. Muitas delas são austríacas.

Levantei uma sobrancelha com ar de interrogação. Nada menos alemão, nada menos frio, nada mais malemolente do que Rio das Ostras. Como se dava aquela aberração enxaimel se dias antes eu passara por lá a constatar as casinhas típicas de beira-mar do litoral fluminense? O pater-família dos Vives prosseguiu:

- Vê esta rua? É alemã. Está vendo aquela outra ali da frente? - apontou para uma via idêntica à anterior, com as mesmas casas, os mesmos números, as mesmas folhas caídas no chão, mas com a única diferença de que contava, por toda sua extensão, com uma faixa pregada nas casas com três listas, vermelha, branca e vermelha, as cores da Áustria. E prosseguiu - Já esta rua é austríaca. A diferença entre a Alemanha e a Áustria é Hitler.

Aí vem a cereja do bolo: na esquina da rua austríaca, ninguém menos que Adolf Hitler aportava o traseiro na sarjeta. Ao ouvir a sentença "a diferença entre a Alemanha e a Áustria e Hitler", o próprio acenou nazisticamente para o nosso carro, esboçando um singelo sorriso. Assustei.

Na quadra seguinte, meu pai repetiu a dose: "Esta rua é alemã. Esta outra é austríaca. A diferença entre a Alemanha e a Áustria é Hitler". E na esquina austríaca seguinte, novamente o Hitler acenava para nós a sorrir o seu sorriso nazista.

Estupefacto, comecei a xingar meu pai por dizer tamanha besteira sem sentido e incomodado com a presença de, não um, mas dois ditadores alemães. E meu pai não me ouvia, me ignorava por completo. Nas esquinas seguintes, mais do mesmo:

- Esta rua é alemã. Esta outra, austríaca. A diferença entre a Alemanha e a Áustria é Hitler - e o próprio acena para nós, sorrindo.

Deu-se então o fenômeno da agulha da vitrola que enrosca no disco: todas as esquinas seguintes se alternavam entre alemãs e austríacas, estas últimas sempre com uma faixa vermelha, branca e vermelha por toda a extensão. E meu pai a repetir "Esta rua é alemã. Esta outra, austriaca. A diferença entre a Alemanha e a Áustria é Hitler", culminando com um Hitler maroto a nos acenar fanfarronicamente.

Irritado com a postura paterna, acordei suando o suor que só se sua em Rio das Ostras - e acabo de criar uma frase de efeito sonoro. Chupa Cruz e Sousa.

Nenhum comentário: