
O ano, descobri agora, era 1991. Tinha eu dez anos, portanto. O Hans Donner dava um tapa na peruca da Isadora Ribeiro, que a esta altura já não estava mais saindo das águas todo domingo na abertura do Fantástico a cantar o famoso "A U U A! A U U A! É FAN-TAS-TI-CÔ!".
Isto quer dizer que Valéria Valença ainda não era a Mulata Globeleza, já que ela e o austríaco (que pensa ser o Kubrick das aberturas de novela, mas que é apenas um Hans Donner) com ela está até hoje - eles se conheceram ali nas gravações, na tela de TV no meio desse povo.
Não era nada disso que eu queria dizer. Assistia eu ao desfile de escolas de samba ao lado do meu pai, que sempre diz que tudo aquilo é uma tranqueira, mas que nunca deixa de acompanhar. A narração da TV Manchete era feita por Paulo Stein, um mangueirense fanático que também narrava jogos de futebol e que tinha um sotaque carioca a la Zeca Pagodinho.
Em um dado momento, o câmera da Manchete dá um close em uma mulata carnuda e rebolante. Não havia roupa. Havia sim, uma imperceptível tanga, um fio dental milimétrico a "proteger" - as aspas são necessárias - as partes pudentas. Não protegia, é claro. Via-se ali, ao vivo naquele princípio de madrugada carnavalesca, a primeira exibição ginecológica da TV brasileira. O útero era focado em close, os ovários sambavam, as trompas mandavam beijos para a câmera. E lembro de Paulo Stein e seu fiel escudeiro Fernando Pamplona, reféns dos próprios hormônios, a balbuciar algo como: "Taí... que maravilha... essa é a mulher brasileira! Manda o replay que eu quero ver de novo!"
Acho que foi no mesmo dia, mas não tenho certeza. Eu pensava que fosse na Beija-Flor, mas, ao buscar a foto aí de cima, descobri que foi na Império Serrano. O ator Jorge Lafond se encontrava no cume de um carro alegórico de uns 68 andares: digo 68 andares, mas talvez fosse mais. Era o próprio Word Trade Center em versão tropical e carnavalesca que atravessava a Sapucaí. E, como era um dia sem nuvens, via-se perfeitamente Jorge Lafond, que estaria como veio ao mundo não fosse a tonelada de purpurina que grudava em seu corpo.
Minto: como você pode observar pela foto, Lafond não estava totalmente nu. Além do coturno de meganha, vestia uma placa de trânsito que cobria sua parafernália genital. Mais que isso: a indicação vetorial da placa sugeria um pipi - digo pipi porque crianças podem achar este blogue no Google - marotamente apontada para o chão. O problema é que, assim como a mulata carnuda e rebolante do parágrafo acima, a placa de trânsito se mexia mais do que deveria quando o ator rebolava, de modo que os maracujás do cidadão ficavam expostos ao léu, para quem, com binóculos, conseguisse enxergar o topo do carro alegórico.
Aí entra em cena Paulo Stein: "Absurdo! Absurdo! Tirem pontos desta escola! Jorge Lafond está pelado! Pelado!"
Cai o pano.
* Foto: Bolha de S. Paulo
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