
Minha capacidade de pensar sobre o nada quando sozinho em casa comoveria até um mordomo de filme de terror. Há pouco peguei-me encostado na janela fumando um cigarro existencial - eu que não fumo só trago cigarros que não existem. Eu era naquele momento o próprio canastrão fundamental de filme noir, pecando apenas pela ausência do fog emanando da calçada até minha janela.
Mas não era isso que eu queria dizer. Eis: são nestes momentos de extrema perplexidade quanto a minha capacidade em ser inútil que me permito divagar sobre alguns assuntos recorrentes. Exemplifico: por que o Sean Connery deixou pro imbecil do George Lazenby fazer o 007 à Serviço de Vossa Majestade, o mais importante filme de James Bond? Se fosse o Fernando Henrique a aparecer com uma sunga de crochê na praia, a Vigilância Sanitária continuaria a não fazer nada? Se parasse de beber, eu compraria não só a cama de casal king size como também um apartamento novo?
Mas estas são questões já batidas. Nelas não sentia mais a centelha do desafio. Foi quando ressuscitei uma dos grandes debates dos velhos tempos, sempre travados por mim mesmo, com a janela por testemunha: Eva. Veja bem, eu não disse Adão e Eva. Apenas a Eva. Só a mulher me interessava.
Talvez esteja exagerando. Em verdade era uma questão hormonal esta uma, que me surgiu durante a adolescência: seria Eva uma gostosa?
Pausa para reflexão. Desenvolvi duas vertentes de pensamento a respeito.
A primeira, a qual me considerava um adepto, já foi inclusive tema deste blog (leia aqui). Trata de Eva como a gostosa fundamental. Vejamos: fosse ela um tribufu, um portão do inferno ou o cruzamento de um tatu com um fusca, o inexperiente Adão não sentiria o despertar de seu corpo e continuaria a colher frutos pelos campos do Éden, tal qual um irritante cenário de novela das seis. Deus, sempre na hipótese de que ele exista, teve que caprichar na costela de Adão para que o próprio tivesse que ser útil ao criador e, portanto, perpetuar a espécie.
Porém, digamos que o inexperiente da trama não fosse Adão e sim Deus. É a isso que se apega a segunda vertente: Deus nunca havia concebido uma mulher. E de onde ele vai querer fazer? De uma reles costela. Veja bem, uma costela é um naco de carne e cartilagem abraçado a um osso simplório. Ora, não se faz de mortadela caviar, e Eva devia ter sido o que Machado de Assis singelamente definiu como "um bucho". Era o rascunho elevado à categoria de projeto principal. Eva teria sorte caso contasse com o nariz instalado abaixo dos olhos, e as orelhas no lugar das orelhas, e a boca no lugar da boca.
Veja que esta segunda teoria tem uma cláusula, sem a qual a humanidade fracassaria já em seu ponto de partida: Adão tinha que obrigatoriamente ser priápico, detentor de hormônios de adolescente. Imagine um Adão chochão, meio Panda, ao lado de uma Eva que mais parecia um chupacabra: não rolaria. É por isso que, indubitavelmente, segundo a teoria, Adão era daqueles moleques que misteriosamente acordam suados, com Deus sempre a dizer: "Pelo meu próprio amor, menino, pare de encoxar essa figueira!". Após judiar de suas mãos, das melancias e das cabras, Adão enfim tinha algo para fazer sua lambança, e este algo era Eva.
Saí da janela indeciso, sem resposta a curto prazo. A única certeza foi a de que, não importa no que a gente pensa, sempre acaba pensando em sexo. E Deus viu que era bom, já diriam as Escrituras.
* Charge achada em sites de busca. Não consigo achar a fonte. Estava no blog Vida Noturna , cujo link não abre nem por xamanismo.
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