
Eu não vi, mas o aperobado Caio Quero me contou: Ilha das Virgens, cinema brasileiro genuíno dos 70. Jece Valadão, o ator principal, chega em ilha deserta onde há uma quantidade interessantíssima de mulheres nuas ao léu na areia. A câmera fita seus olhos. Ele olha para um lado, olha para o outro, e encara a lente:
- Comerei todas.
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Calou-se o ícone. Eu e todos os caras durões que ainda resistem à onda emo, ao metrossexualismo e ao São Paulo Futebol Clube campeão do mundo ficamos tristes e quase esboçamos uma lágrima - quase, porque caras durões não choram - com o deslize divino que tirou o ícone-mor de nossa cultivada canastrice masculina.
Jece Valadão remete a tempos gloriosos do cinema. Enquanto ele gigolotava as cachorras aqui na Latin America, Charles Bronson desbravava puteiros em Boca Ratón, o inspetor Beretta mandava a mulher parar de reclamar e esquentar a sopa e, acima de tudo, James Bond dava uns tapas em uma desconhecida de biquini que, ao fim da cena, invariavelmente dizia: "Oh James... I love you". Simples assim.
Eram tempos em que até desenho animado não queria saber dessas frescuras - pega no meu viés educativo e balança, oras. O Coiote enfiava uma espingarda na cara do papa-léguas e atirava, o pica-pau disputava com o jacaré para ver quem era o mais cruel e conseguiria enfiar o outro no forno, o Armando Bogus espancava as crianças de Vila Sésamo e, nos Trapalhões, o Mussum tomava um banho de pinga no domingo à noite após o Didi tirar a peruca do Zacarias e chamá-lo de "rapaz alegre".
Hoje, no cinema, só fuma quem for vilão ou perturbado. Os mocinhos têm o torso depilado e querem atrair as mulheres fazendo beicinho; James Bond se apaixona por suas bond girls, o que já anula metade de sua personalidade; moleques de 1.60 fazem o papel de briguentos, boxeadores ou mafiosos que antes só cabiam aos Robert de Niro da vida. E, acima de tudo, não há um só ator que vai logo tirando a cinta da calça toda vez que avista uma feminista querendo queimar um sutiã.
Getúlio Vargas que me perdoe, mas é Jece Valadão quem sai da vida para entrar na História. Provavelmente está comendo todas as virgens do paraíso e a tomar um whiscão vagabundo com o Charles Bronson nalgum puteiro do Além. Seu legado sobreviverá.
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