domingo, 26 de novembro de 2006

CAPÍTULO DAS FRUSTRAÇÕES


Falta um mês para o ano terminar e a minha vizinha de 70 anos provavelmente vai alugar meus ouvidos no elevador a dizer coisas como "Nossa, esse ano passou tão rápido...". O fato é que dezembro sempre remete às mesmas coisas: a instituição do chatíssimo amigo secreto, onde você é obrigado a dar uma caixa de bombons praquela pessoa cujo nome não se lembra - você só sabe que ela já deu pro chefe e que tem mau hálito. Tem também as promessas que todo mundo faz pro ano seguinte e que costumam durar até a segunda semana de janeiro. E sempre que tem aquela figura xarope-depressiva que te aluga n´alguma festa de fim de ano dizendo, aos prantos: "Esse ano eu prometo ser feliz". Enfim.

Particularmente o que me tem marcado nos fins de ano é a quantidade exorbitante de dinheiro gasto em bar. Porque sempre tem um amigo que concluiu TCC e chama pra beber. E tem a festa de fim de ano da turma do ginásio, da turma do jardim da infância, da turma do quartel, da turma do primeiro emprego, da turma dos alcoólicos anônimos, etc.

Ano passado eu pretendia aproveitar o 13º para comprar um sofá. Lá pelo dia 20 de dezembro notei que tinha um sincero default orçamentário: 700 reais gastos exclusivamente com bebida, e o mês nem tinha acabado ainda. Em outras palavras: bebi o sofá e, até hoje, um ano depois, uso colchões pra ver TV. Minha irritação com este fato é tamanha que não posso ouvir a palavra "sofá" sem sentir um ligeiro arrepio no fígado, de puro remorso.

Uma coisa é gastar dinheiro com um carro, por exemplo. Porque você gasta uma fábula mas, depois, você pode vendê-lo e recuperar parte dele. Não deixa de ser um investimento. Mas a bebida não: você bebe, paga e foi-se. Só a barriga cresce, exponencialmente, aliás. Sonho com um fundo de recuperação de dinheiro gasto em bar, uma espécie de Manguaça Esperança, onde você passaria um dia todo urinando tudo o que bebeu durante o ano e recuperaria parte do dinheiro investido. Só assim eu teria um sofá - e, diga-se, um senhor sofá, daqueles de cinco lugares em forma de "L" na quina da parede.

Lembro que comecei a beber porque achava legal o James Bond levantando as sobrancelhas cercado de mulheres a pedir um dry martini shaken but not stirren. Mas vou ao bar e normalmente a única coisa em minha volta é o meu office-boy Felipe Corizza, também conhecido pela alcunha de O Pavão Misterioso do Baixo Glicério, completamente mamado tentando passar a mão na minha perna. Eu sempre digo que respeito a opção dele mas que não compactuo com a coisa, o que o deixa completamente depressivo a patolar os garçons. "Não custa nada perguntar", diz ele.

Enfim, eu queria concluir com alguma lição de moral dizendo que não vale a pena beber, e que o bom mesmo é ficar em casa assistindo Emanuelle, a Rainha das Galáxias, lendo Senhor dos Anéis ou dormindo pra acordar cedo e passar a manhã na academia definindo o bíceps. Como diria Hegel: "É bom para o moral".

Nenhum comentário: