Em tempos de crise, qualquer idiota se transforma em um filósofo em potencial. É o que eu chamo de O Enigma Rasputin. Qualquer frase de efeito vira um dogma de cabeceira, qualquer fato similar que tenha acontecido à vizinha da prima da cunhada torna-se o exemplo a ser seguido, a luz no fim do túnel. O leiteiro vira Confúcio. O Confúcio vira leiteiro.
Em tempos de crise, qualquer factóide fora de seu contexto faz terceiros beijarem a lona do inferno. Napoleões de hospício são acusados de invadir a Prússia; Pastores-alemães são apontados na rua como colaboracionistas; Qualquer barba-bífida morenão é fichado como taleban. A rede de informação e contra-informação se instala. Fatos são mudados. Conclusões precipitadas são tomadas. Reputações são jogadas no lixo. Decapitem o czar! Castrem o tirano! Joguem bosta na Geni!
E como é típico de crises, cachorros mordem o próprio rabo até descobrir que o gato já sumiu faz tempo. Ninguém é de ninguém. Eis que em determinado momento, entre tapas, mordidas e arranhões, um olha pra cara de outro e pergunta: "Mas por que diabos a gente começou isso mesmo?". Então tome pés espalhando a pólvora do rastilho, Napoleões de hospício trazendo baldes d´água e brincando de bombeiro, sorrisos nervosos, lágrimas de alívio, tenores cantando Amigos para Siempre e e incômoda sensação de que tudo poderia ter sido evitado. "Vão-se os anéis, ficam os dedos", já diria a vizinha de Nelson Rodrigues, gorda, patusca e cheia de varizes.
Logo, matem esse maldito cantor desafinado e chamem o garçom. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas sempre aprendendo a jogar.
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