segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

O INTERIORANO SÓ É SOLIDÁRIO NO ÓCIO

Não sei. Não lembro. Provavelmente estava de porre prolongado. Responda rápido: o que você estava fazendo nos cinco dias que separam o almoço de Natal da noite do Reveillon em outros anos? Achei que fosse só comigo, mas ao interpelar segundos, terceiros e quartos, a resposta não é diferente de "não sei", "não me lembro" ou "provavelmente estava de porre prolongado". Mesmo quando na praia, não consigo lembrar do que fazia, além de estar queimando essa cútis sensível sob o sol de Santos ou Itanhaém.


O fato é que estou nesse período inútil do ano sob júdice de meu ócio não criativo, me recuperando dos tufões de dezembro na capital e tentando por um fim no atual tufão da província. Eu devia era ser o moço do tempo. Mas o fato é que não tenho um puto no bolso e fico em casa inventando o que fazer. Pensei em jogar botão contra minha consciência: eu em frente ao espelho. Tête-a-tête. Mas temo que uma das partes roubasse descaradamente. Enxuguei a louça e lavei o carro. Meu pai tá me achando estranho. Eu também. Ontem, me peguei assistindo Pânico na TV, com o Inri Cristo na Noites do Terror do Playcenter. E adorei.

É então que proponho-me um desafio: ler um livro de Paulo Coelho. É isso. Ao terminar esse post, desço a escadaria desse Gabinete de Leitura, vou até a biblioteca e escolho o menor livro de Paulo Coelho que estiver disponível. Darei um desconto ao mago da barbicha: até o final do livro, não o chamarei de Pauno Coelho, nem seu livro de Diário de Um Bago e não duvidarei de sua masculinidade. Também vou fazer de conta que nunca ouvi falar dele. É como se pegasse o livro de um autor desconhecido. Come on, vamos considerar que algo de bom ele tenha feito. É o mesmo sujeito que ajudou Raul Seixas a compor Gità, uma das músicas mais bonitas que conheço.

Se gostar, digo com toda a sinceridade que gostei. Se for ruim, digo que é ruim, volto a chamá-lo de Pauno Coelho, a duvidar de sua masculinidade e bola pra frente. Por que estou fazendo isso? Primeiro, como falei, porque estou cansado dessa modorra e torcendo para que um maremoto ocorra no rio Jundiaí-Mirim e devaste essa cidade. Enquanto isso não ocorre, testo o Paul Bunny. Segundo, porque gosto de aparecer. Quando algum idiota me vir falando de Paulo Coelho e bradar: "Mas aposto que você nunca leu um livro dele", respondo: "Li sim", e sorrio um sorriso de satisfação, só porque gosto de aparecer. Sou o mesmo sujeito que há muito tempo atrás roubou um pote de mercúrio-cromo do banheiro da casa de um amigo meu, passou pela perna e saiu gritando dizendo que estava sangrando. A mãe dele, deselegante, me disse: "Fernando, deveriam mudar seu nome para Aparecido". Enfim.

Desse modo, daqui a alguns anos, vou ter como me lembrar do que eu fiz nos cinco dias inúteis que, em 2004, como em todos os anos, separam o almoço de Natal da noite do Reveillon. Agora chega de escrever. Já não lembro pronde mesmo que vou, mas vou até o fim.

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