domingo, 28 de setembro de 2008

NA CALADA DA NOITE, UMA CONFISSÃO

Ao longo destes 27 anos e meio de vida, sofri muitas críticas sobre isso, mas o fato é que eu apóio e acredito no potencial do sushi de churrascaria. Não só do sushi, mas também do sashimi e qualquer outra referência à culinária japonesa dentro deste tipo de restaurante que, por excelência, tem variedade de tudo e, geralmente, gosto de nada.

É claro que a consistência do sushi de churrascaria é um tanto disgusting: a alga não raro está com a aparência da pela de uma velhinha que acabou de sair da hidroginástica. Mas digo por experiência própria: até chegar em São Paulo, quando eu era só um menino franzino do interior, adorava um churrascão e abominava comida japonesa. E foi nalguma churracaria da vida que garfei meu primeiro sushi e disse "isso pode ser bom, mesmo tendo essa consistência desagradável". Semanas depois fui até um japa de responsa e agora dificilmente passo mais de 15 dias sem bater um PFão com shimeji e aquele sorvete de alga que as pessoas insistem em chamar de temaki (aliás, que conste: praticamente nunca vou a churrascarias).

Talvez o fato do sushi paliativo não ser bem feito contribua para uma experiência positiva no restaurante japonês: depois de comer o ruim, fui testar o original que, por pior que estivesse, estava muito melhor. Logo, o gosto do original pareceu excepcional e me peguei assim, praticamente apaixonado pela culinária dos chineses do Japão.

Portanto, fino leitor, termino este post com um recado de auto-ajuda: goze o ruim de hoje para valorizar o mais ou menos de amanhã. Chupa, Roberto Shinyashiki, que está para a literatura assim como os shushis de churrascaria estão para a gastronomia.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A MÃO INVISÍVEL DÁ SUAS PORRADAS


As duas faces da economia

E tudo passa, e tudo passará, já disseram tanto Nelson Ned quanto Franklin Roosevelt e os mentores do New Deal dos anos 30. Digo isso para incentivar você, econômico leitor, a não se impressionar com o noticiário de finanças dos últimos dias. Parece que já tem comentarista econômico rondando a Bovespa com um crucifixo embaixo do braço a ler trechos do apocalipse. E Deus disse: “Dança, Wall Street”. E Wall Street dançou.

Se você é daqueles que, como eu, só lêem o caderno de esportes do jornal e as tirinhas do Angeli e do Larte, vou rudemente contextualizar.

Nos Estados Unidos dos anos 90, todo mundo era feliz. Os americanos estavam ricos e entupiam suas veias com o colesterol ruim enquanto Bill Clinton dava um tapa na peruca da estagiária mocoronga. A economia crescia e os economistas da escola neoliberal – os mesmos que nos anos 80 mantinham embaixo da cama um pôster da Margareth Thatcher em trajes íntimos – abaixaram os juros até aparecer o cofrinho a dizer: “A gente vamos estar se auto-regulando”.

Foi então que o mercado de crédito resolveu financiar até casinha de cachorro. Era só passar na frente de um banco que o americano médio – ou seja, o gordão das veias entupidas – ganhava uma graninha. No fim das contas, isso virou uma bolha especulativa que o governo americano não estava preparado, uma vez que deixou a supervisão disso a cargo da mão invisível, que não só é invisível como também não existe. O abacaxi explodiu primeiro no setor imobiliário com as hipotecadoras de nomes engraçados, a Fannie Mae e a Freddie Mac (parecem nomes de casal de seriado dos anos 60), as maiores do mercado americano. Semana passada, faliu o banco de investimento Lehman Brothers, que tinha 158 anos.

Pausa para um comentário non-sense: “bolha especulativa” me lembra problemas médicos. Imagino um doutor de ar grave dizendo “Pois é, caro paciente, sua infecção urinária gerou uma bolha especulativa no canal da uretra para a qual recomendo o procedimento cirúrgico. Vai entrar na faca!”. Fim do comentário non-sense.

Pois bem, lembro que, há uns dez anos, as pessoas falavam do ex-presidente do BC Americano, Alan Greenspan, com uma alegria efusiva, como se ele fosse uma espécie de Renato Aragão das teorias econômicas. Sabe aquele cara que todo mundo gosta e fala bem, e que de repente aparece no Criança Esperança para confirmar o quanto o que ele faz é bom para a humanidade, e que é legal deixá-lo ali fazendo o que sempre fez? É por aí. Agora Greenspan aparece nos jornais com a carapuça do sujeito que deveria ter previsto a crise durante a euforia desenfreada.

Greesnpan não é o único que passou de Deus a Diabo em pouco tempo. Há um ano atrás, a revista Forbes elegia o hoje falido banco Lehman Brothers como a empresa mais admirada de 2007. Portanto, keynesiano leitor, da próxima vez que encontrar com aquele seu vizinho da FEA ou da PUC do Rio a ajeitar o broche do PSDB na lapela, vá até ele e dê-lhe umas boas traulitadas nos cornos. Se ele reclamar, dê mais. Por fim, se ele perguntar o por quê, diga que sua mão invisível está tentando regulamentar a proliferação de idiotas no mercado.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

UMA SAIDEIRA, MUITA SAUDADE, E A LEVE IMPRESSÃO DE QUE JÁ VOU TARDE

Tecnológico leitor: como diria João Dória Júnior, o Princesão do Jardim Europa: cansei.

Após 4 anos de fidelidade - ou seria preguiça? - ao Blogger BR, a junta militar que controla este hebdomadário virtual resolveu tomar uma atitude ao mesmo tempo drástica e letárgica: fugir rumo ao Wordpress tal qual Moisés ao Egito, provavelmente demorando uns 40 anos para concretizar a missão.

A partir deste post, teremos o início de uma abertura lenta, gradual e insegura rumo a um novo template e novas tecnologias que esta entidade mística chamada blogosfera anda mostrando por aí.

Aliás, a tal blogosfera e a insistência em manter-me no Blogger BR por mais de quatro anos provam que eu nunca levei este blogue muito a sério.

Compare: se a blogosfera for São Paulo, SorryPeriferia está em Engenheiro Marsilac, lá na divisa com Itanhaém. Quase não mantenho contato com blogueiros que não conheço pessoalmente e são poucos os blogues que leio que não estejam lincados aqui - estes cuja maioria é de amigos meus.

Não há nenhuma ojeriza à blogosfera, muitíssimo pelo contrário. É que eu apenas gosto de escrever e usar este blogue para fazer contatos nunca foi uma aspiração de primeira instância. Como diria a filósofa Carla Perez: penso tanto que, se não escrever, enlouqueço.

Em segundo lugar porque, nestes quatro últimos anos, o Blogger BR foi comprado pela Globo.com, que foi obrigada a manter gratuito os blogues que já existiam, como SorryPeriferia. Nunca neste período foi oferecido uma mísera possibilidade de se atualizar tecnologias por aqui. Nem RSS o Blogger BR/Globo.com oferece ao seu usuário que não paga. Absolutamente nada.

De quebra, ainda tenho que agüentar os cada vez mais constantes bugs no site. Se queriam que eu fosse embora, era só mandar um email devolvendo o Neruda que me tomaram e nunca leram. O Blogger BR/Globo.com provou que não entende absolutamente nada de internet. Tudo que não for excepcionalmente bom tem que ser de graça. O Blogger BR há quatro anos era ótimo; hoje não é nem mais ou menos.

Portanto, exorbitante leitor, teremos mudanças em breve. É possível que o nome do blogue, uma homenagem aos cronistas sociais Ibrahim Sued (autor da frase "Sorry, periferia") e Nataniel Jebão, mude. Já são quase cinco anos emprestando-o e talvez ele lembre muito mais dos tempos românticos da faculdade do que dessa vida de gente grande.

Eu só não consigo parar a brincadeira. Decadente ou não, vou seguir escrevendo. Como diria Karl Marx: o que é imortal não morre no final.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

BREVE HISTÓRIA DA SEXUALIDADE EXTEMPORÂNEA

- Subway Delivery, boa noite?

- Por favor, eu queria um sanduíche.

- O senhor quer o de 15 ou de 30 centímetros?



Desisti.

O ANO DA BOLÍVIA NO BRASIL

Provavelmente a última vez em que a Bolívia esteve tanto em voga na mídia quanto nesta quarta-feira foi quando o General Lino Oviedo se suicidou no Palácio da La Moneda em 11 de setembro de 1973 - aniversário hoje! -, e é claro que eu comecei este post com uma saladização histórica latino-america, só pelo prazer da bazófia. Mas veja só: no fim da última noite, todos os portais de internet davam manchetes bolivianas. Havia mais a palavra "Bolívia" no capa do UOL desta quarta que tucano apunhalando o Alckmin nas costas nestas eleições paulistanas.

Primeiro, o presidente Evo Morales tá saindo na mão com a rapeize de Santa Cruz de la Sierra. Parece que os mano lá das quebrada de Santa Cruz explodiram um botijão de gás na fronteira com a Argentina em retaliação. Depois, o mesmo Morales - que, registra-se, usa a peruca do Zacarias - expulsou o embaixador americano porque esse aí, a cada declaração de Evo contra os mano de Santa Cruz, ficava botando pilha na treta utilizando-se de frases como "Ô loooooooco... vão deixar esse indião aí zoar os cara desse jeito? Vai lá e depõe o cara, mano...".

Como se não bastasse, no fim da noite, a seleção boliviana de futebol, composta por 11 sósias do Evo Morales, veio ao Brasil e empatou com a antipática seleção do Dunga com um jogador a menos num estádio vazio - é a primeira vez que vi a seleção jogando em estádio vazio.

E digo mais: a Bolívia só não venceu os anões de Dunga porque os meias de ligação são de La Paz e se recusaram a passar a bola para os atacantes, que são de Santa Cruz. Ficaram de fazer um referendo para definir o esquema tático durante a partida, mas o jogo acabou antes da votação.

Falando em futebol, parece que a política está para os bolivianos assim como o ludopédio está para os brasileiros. Passando Corumbá, até as lhamas cospem umas nas outras por conta de referendos, constituições, autonomias e outros assuntos que nos deixariam impetuosamente babando na gravata.

Então tem-se um quadro paradoxalmente convergente:

Os bolivianos discutem tanto a política que estão sempre brigando e nunca chegam a lugar nenhum.

Os brasileiros falam tão pouco de política que ninguém está aí para nada e, conseqüentemente, estamos sempre na merda.

Acontece que o Brasil é maior e sempre tem uma camada pré-sal (a palavra da moda) para tirar do bolso do colete, o que faz de nós mais ricos do que eles. Então os bolivianos acabam migrando para cá e cada vez mais ocupam os prédios e escolas do centro de São Paulo (o que é bom, porque ninguém mais faz isso).

Outro dia encontrei um na Alameda Eduardo Prado usando um poncho típico. Rapaz, sem qualquer ironia, eu achei o máximo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

FAUSTIN von WOLFFENBÜTTEL (1940-2008)



Nos anos 50, havia em Porto Alegre um menino que tinha certo gosto pelos livros. Certa vez ele entrou numa livraria em uma das avenidas movimentadas do centro. Apanhou um exemplar numa estante e, ao ver que o dono do recinto não estava olhando, saiu com o livro embaixo do braço. A partir de então, toda semana o menino visitava a livraria e, quando o livreiro se distraía, deixava o local com um exemplar escondido.

Repetiu o gesto por anos. Porém houve uma vez em que, antes de passar pela porta, o menino resolveu também embolsar um maço de cigarros, porque aos 12 anos ele e todos os seus amigos já fumavam. Foi quando certa mão puxou-lhe pelo braço. Era o livreiro, que lhe disse: “Livro pode. Cigarro não”.

Este menino chamava-se Fausto Wolff e contou a história no romance À Mão Esquerda, meu livro de cabeceira. É por isso que, desde sexta-feira, embora cheias, as garrafas de whisky jamais estiveram tão vazias. Nunca mais o Bunda de Fora verá os grandes porres, nem os ataques contra o governo em tom etílico, nunca mais ouvirá as grandes piadas inventadas de supetão. Foi-se o filho do barbeiro de Santo Ângelo, foi-se o jet-setter pobretão das altas rodas cariocas, o franco-atirador de Copenhague, o professor de Literatura que só tinha até a quarta série do primário. Já não existe mais aquele que foi talvez o maior jornalista da geração pé rapada que vinha da periferia e para a periferia escrevia.

Fausto Wolff e seu corpanzil de quase dois metros já não cabiam nestes anos 2000. Algumas mancadas no fim de vida e a insistência de ver o mundo sob o olhar dos anos 60 não cativavam como um dia já cativaram, é verdade, mas nada disso ofusca seus 68 anos de vida que foram tão intensamente vividos que pareciam ser muito mais. Foi para mim o exemplo máximo de inconformismo com as injustiças e do radical compromisso em ser bom enquanto ser humano.

Se eu me tornei jornalista, é porque queria ser Fausto Wolff. Se aprendi a destilar alguma ironia indignada, é porque lia o Fausto Wolff. Se blogo há seis anos ininterruptos, é porque quero escrever como Fausto Wolff. Se nutro algum respeito enquanto homem perante os meus próximos, devo grande parte disso a Fausto Wolff. Tornar isso público talvez seja a única forma de agradecer, mesmo que tardiamente.

Desde sexta-feira, todos os porres deste mundo perderam um pouco da graça. O acrobata que pedia desculpas enfim caiu.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O WALDICK DE CADA UM DE NÓS



Quando moleque, sempre achei o Waldick Soriano sinônimo dos piores momentos do Programa Silvio Santos. Provavelmente nunca falei isso por aqui, mas eu abomino o Silvio Santos.

Anos depois, quando a barba já tomava meu rosto, fui inspirado por Falcão Marcondes (o maior filósofo do cotidiano dos anos 90) a pesquisar sobre música brega. A Internet deu uma (dane-se o cacófato) mãozona e passei a conhecer quase a fundo o submundo da música popular brasileira dos anos 60, 70 e 80 – entenda-se música brega.

Mas, diferente do que ocorria com Odair José, Almir Rogério e Reginaldo Rossi, só para citar alguns, eu continuava a ignorar o Waldick Soriano. A voz dele era consideravelmente péssima e as letras, além de tratar exclusivamente da dor de cotovelo, não permitiam gargalhadas como as canções dos outros três, por mais que esta não fosse a intenção deles (e por mais que eu ainda encontrasse alguma sensibilidade nelas).

Um dia isso mudou. Há dois anos comprei na Netto Discos – gasto um salário por ano na Netto Discos - um CD da Maria Creuza, a cantora de MPB que me faz lembrar que, às vezes, a vida pode ser muito bela. Nele ouvi uma canção que me deixou tal qual manteiga no sol chamada Tortura de Amor, que virou post neste hebdomadário virtual. Meu queixo visitou o umbigo ao constatar no encarte que Waldick Soriano era o autor dela. Não era possível: aqueles acordes profundos e tão sentidos foram concebidos pelo músico que sempre rejeitei.

Pois bem, a história de Waldick Soriano é uma história de rejeição. Sua mãe o abandonou quando menino - como qualquer psicólogo pode deduzir, era a pessoa a quem ele mais se apegava no mundo. Anos depois, já se aventurando a soltar a voz de troglodita, Waldick era vítima de chacota na cidadezinha do interior da Bahia em que vivia. Era feio pra dedéu. Chegou a ser garimpeiro. Veio para São Paulo trabalhar como engraxate. Se havia alguém para quem a vida era um cactus enterrado na alma, este alguém era Waldick Soriano.

E então o que fazia Waldick? Ao contrário de mim e, talvez, de você, angustiado leitor, o mais famoso dos cantores brega não ruminava suas desilusões. Vestia-se de preto, enterrava o chapelão na cabeça e cantava sua rejeição. A diluía toda na música. Viveu bem assim.

Waldick Soriano tinha pose de macho, o cara durão à moda antiga, mas no fundo só queria mostrar que o jiló dessa vida cumprida a sol é que o fez deste jeito, e que, apesar de tudo, havia alguma doçura dentro dele. É como uma rapadura moral e que também existe dentro de cada um de nós. Todo mundo já se rasgou por paixões não compreendidas, amores não correspondidos, chifres, fez tempestades em copo d´água ou já tomou um porre por ser rejeitado enquanto se sentia o pior dos seres humanos dessa vida. Às vezes a gente pensa que é Frank Sinatra; quando menos espera, dá de cara com o nosso Waldick Soriano.

Que o Paraíso dos desiludidos, incompreendidos e rejeitados conforte os timbres melodramáticos do grande ícone dos que nunca foram ícones. Descanse em paz, meu caro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ESCANCARANDO DE VEZ

Sonhei que fui ver ao vivo uma partida de basquete num ginásio qualquer. Não lembro quais eram os times. Tudo que lembro é que o pontapé inicial - no caso do basquete, quando a bola é jogada para cima - foi dado pelo Elymar Santos.

Não tenho nenhum comentário a fazer sobre isso.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

E AGORA, UM MOMENTO CULTURAL



Porque a vida é feita de pequenas alegrias.*

*Crédito: Libanesa