domingo, 2 de março de 2008

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS SERÁ TELEVISIONADA*

Gostaria de constatar aqui a existência recente de uma nova modalidade jornalística: o jornalismo de zoológico, ou zoo-jornalismo.

Explico já dizendo de antemão que não se trata de uma crítica, e sim de mera e simples constatação. Todo portal de internet, jornal ou revista de informação tem hoje uma seção, uma coluna ou quiçá uma orelhinha de página para falar de bichinhos. O urso Knut, que foi rejeitado pela mãe e que por isso mora no zoológico de Berlim - se não é essa a história, ao menos chega perto disso -, é provavelmente um fenômeno de mídia tão grande quanto a Sasha (pela chatice), o Elian Gonzales (pelo dó coletivo) ou o joelho do Ronaldinho (pela insistência). Se colocamos a chamada indigesta sobre a criança que, para vingar os antepassados, se explodiu na Palestina, ao lado mostra-se a foto do Knut todo meigão comendo um brócoli. E tem-se aí supostamente um equilíbrio que não poucas vezes descamba para o mau gosto.

Pois bem, o Knut está para o zoo-jornalismo assim como os Beatles estão para o rock: não foi ele quem inventou a coisa, mas depois dele tudo ficou diferente. O Knut invadiu as páginas de internet e agora qualquer capivara se afogando no zoológico de Budapeste já rende uma notinha. Não precisa ser no zoológico, basta ser bichinho. Se tiver foto então, pronto, já temos a capa do Folha Ciência.

Mas o fenômeno interessantíssimo desta nova vertente jornalística é que ela abrange várias outras vertentes jornalísticas. Já digo que são pelo menos quatro: o jornalismo social ("os pandas estão no cativeiro porque o homem quase os extinguiu"), o jornalismo científico ("cientistas tentam a reprodução artifical de pandas em cativeiros"), o jornalismo popularesco ("pandas não conseguem transar") e o jornalismo de celebridades ("casal de pandas flagrado em momentos picantes no zoológico de Ibiza").

A aparição do Knut na mídia foi tão grande que até filme em Hollywood o ursinho sacripanta vai estrelar. Se ganhar o Oscar, os órgãos de imprensa vão ter correspondentes especiais em diversos zoológicos do mundo. Tudo pela informação.

* Colaborou: Caio de Almeida Quero, enviado do SorryPeriferia ao zoológico revolucionário de Havana.

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