Até um cachorro sabe que a gente sofre quando a gente vê alguém que a gente estima, e não estou preocupado em substituir os três "gente" desta frase. Aliás, os cachorros sabem muito bem disso, e vale uma historieta que não tem nada a ver com o que eu vou dizer até o fim deste post.
Lembro de quando era pequeno e comecei a jogar bola na rua com os outros moleques. Eu tinha uns 9 anos, era o maior deles, e também o mais quieto. Quase não aparecia. Jogava razoavelmente mal, só chutava de bico e, para aproveitar alguma coisa do meu tamanho, ficava na zaga trombando em quem vinha. Assim eu era útil. Nunca fazia nada certo, mas me orgulhava de não comprometer o jogo.
Até que um dia marcamos um "contra".
Explico: "tirar um contra" era jogo de seleção. Significava que o time da nossa rua ia enfrentar alguém de verdade e não dar caneladas em nós mesmos. No caso, o "contra" era com o pessoal da rua de cima. Até as velhinhas que ficavam na calçada reclamando da dor nas costas paravam pra assistir. Uma semana inteira falando do tal "contra" do sábado, o primeiro da minha vida. E, no sábado, algumas horas antes da partida, treinávamos correndo como loucos atrás da bola.
Eis que eu faço merda. Numa disputa de lance, peguei embaixo demais da bola que, impetuosa, subiu demais e atravessou o muro, caindo na funilaria do Seu Oscar. Era sábado à tarde, o Seu Oscar não estava, como não estava mais a bola do jogo, que agora estava na funilaria do Seu Oscar. Era a única que tínhamos, era a bola do "contra".
Rapaz, foi a primeira vez que sete ou oito moleques me cercaram pra apontar o dedo na minha cara. Eu encostei na parede e gelei. "Seu fiodaputa, agora não vai ter 'contra' porque você não sabe chutar uma bola, o pessoal da rua de cima vai ralhar da gente por meses" foi o que de mais sutil eu ouvi. Criança, quando quer ser cruel, o é até o talo. Achei que pegaria mal ir embora, então segurei com dificuldade o choro e fiquei sentado de costas para o muro, ouvindo a molecada descontar toda a frustração em mim.
Um tempo depois - parecia umas seis horas, mas acho que não foi nem uma - pediram para eu ir embora, já que tinha estragado o jogo. Lembrei que subi a rua e entrei na casa da vizinha. Afinal, meninos durões como eu não apareciam em casa chorando (minha mãe era capaz de reclamar com as mães dos outros moleques, e aí adeus reputação). Abri o portão da vizinha, sentei no chão e chorei todo um rio Jundiaí-Mirim.
Porém, na casa da vizinha tinha uma pastora-alemã que eu adorava, a Poena. Ela me viu e soltou um grunhido, algo entre a solidariedade e a desaprovação, abanou o rabo e me deu uma lambida na cara com toda a sinceridade desse mundo. Rapaz, como eu precisava daquela lambida na cara. Foi preciso que um cachorro me esfregasse a língua nas bochechas para que me lembrasse, na primeira vez em que fui escurraçado em vida, que eu não era tão desprezível assim. Isso me marcou tanto que até hoje lembro o resultado do jogo: 10 a 4 pra gente. Sim, o "contra" ocorreu, os moleques da rua de cima trouxeram uma bola. Eu não vi, estava sendo lambido pela Poena.
Voltando ao que eu queria dizer, é claro que dói na gente quando vê chorando alguém que estima. Porém, mais doloroso que isso é quando não vemos, só ouvimos. Passei por isso duas vezes essa semana e, rapaz, como deu. Pelo telefone, sem a imagem da pessoa a desatar o choro por conta de dores tão injustas, tão estúpidas, parece que a dor é mais funda, sai da alma dela, atravessa os postes na rua ou os satélites da Telefônica, entra no ouvido e bate fundo também na alma da gente. Nessas horas de dor profunda é que todas as defesas que a gente aprendeu na vida caem por terra. Fica só o choro límpido, desnudo, ali entrando no seu ouvido, enquanto você torce pra que uma Poena surja do outro lado da linha pra lamber essas pessoas.
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