terça-feira, 30 de outubro de 2007

SAUDADES DOS LÁBIOS DE SUVACO


http://www.sorryperiferia.blogger.com.br/fhc_3010_238.jpg

Lembro do tempo em que eu lia a Revista Bundas. E já abro parênteses logo de cara: fui educado pela Revista Bundas. Colecionei todas as edições dos dois primeiros anos e quis ser jornalista pra fazer as coisas que faziam o Ziraldo, o Jaguar, o Luiz Fernando Veríssimo, o Sergio Augusto, o Redi e, acima de todos, o Fausto Wolff, que anda fazendo cagadas, mas que será para sempre o meu ídolo-mor. Lembro das representações do então presidente FHC feitas pelo Aroeira, um dos grandes cartunistas do Brasil. O nosso guru sorbonal era inevitavelmente representado com os lábios enormes, como que atacados pelas aftas da vaidade. Acho que foi o Fausto quem o apelidou de "Lábios de Suvaco". Enfim, foi com o lema "Quem põe a bunda em Caras não põe a cara em Bundas" que eu aprendi a ser gente, sempre na hipótese de que tenha obtido êxito nesta empreitada.

Mas este intróito saudoso surgiu porque queria falar de Fernando Henrique (não sei se já disse isso, mas no dia em que eu tiver um cachorro, daqueles vira-latas bem feios e safados, certamente vou chamá-lo de Fernando Henrique). Os jornais desta segunda-feira estamparam manchetes dizendo que o antecessor de Lula considera uma grande insensatez um possível terceiro mandato do sapo barbudo. Reproduzo as aspas expelidas por FH no Estadão:

- Uma questão é a reeleição, que é uma coisa normal, existe na maioria dos países. Outra questão é a extensão do mandato. Iria no caminho de um mandato indeterminado, o que é antidemocrático.

Essa frase seria perfeita se não fosse dita justamente por Fernando Henrique, que se mostra detentor de um cinismo de filme inglês dos anos 60. Um terceiro mandato de Lula seguido seria sim um absurdo - e que o deputado petista Devanir Ribeiro, mentor da idéia, tenha sucessivas cãimbras nas partes íntimas caso continue com isso na cabeça - mas essa coisa de reeleição, da maneira como foi feita no Brasil pelo PSDB, foi como se crianças jogassem o Jogo da Vida e, no meio dele, decidissem mudar as regras para beneficiar aquele que já estava ganhando. Faltando pouco menos de dois anos para as eleições de 98, a bancada tucana comprou deputados, senadores (há quem diga até governadores) por valores bem altos em nome de mais quatro anos no poder. Para o caso de um país com a estrutura democrática aperfeiçoada, aprova-se a releição para o mandato seguinte. Mas como vivemos na Índia, FH se fartou com mais quatros anos, suficientes para implementar a quebradeira do país.

Mas o ponto alto da fanfarronice foi esta frase:

- Precisamos mesmo da CPMF? No passado, precisávamos. Não posso ser incoerente quanto a isso. Mostramos que era necessário. Mas, de lá pra cá, a situação fiscal melhorou. A arrecadação fiscal melhorou muito.

Estima-se que Fernando Henrique Cardoso queira dizer o seguinte: "Quando eu estava lá, podia. Agora que eu saí, não pode mais". Assusta o fato de o discurso de FHC de antigamente ser o muito próximo do de Lula hoje e vice-versa. Mas não vou cair em tentação de dizer que é tudo a mesma coisa. Ainda tenho certeza de que, apesar dos defeitos, o legado de Lula é algo que vá ficar por muito tempo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

QUE MERDA



após um porre, soltei um "que porra" e resolvi ler bukowski. puta beberrão do caralho, eu teria que me identificar com algo desse cara. mas aí fui procurar a vida do sujeito e vi que, tirando a barba e o porre eventual que tomo, sozinho ou não, tenho nada a ver com o cidadão. que merda.

mas pra descobrir isso, além de ler o Crônica de Um Amor Louco, resolvi usar a internet pra fazer alguma porra inútil de pesquisa. Caí na wikipedia, essa enciclopédia escrita por alunos de quinta série que passam com nota C em conteúdo e forma.

eis um trecho do verbete de bukowski:

- Bukowski tem sido erroneamente identificado com a Geração Beat, por certos temas e estilo correlatos, mas sua vida e obra nunca mostraram essa inclinação.

aí o toupeirão aqui resolve clicar no link dos porras da Geração Beat e dou de cara com a seguinte inscrição:

- Capítulo à parte da literatura norte-americana pelo seu conteúdo iconoclasta, pelo método de criaçao incomum - nas coxas, pelo universo fictício mais denso e (grotesco, até) que qualquer outro escritor metido a marginal jamais conseguiria criar. Bukowski é injustamente (mesmo que a seu pedido) colocado à parte dos beatniks, (a maioria dos quais conhecia, quando nao admirava) porque morava em outra cidade, Los Angeles.

como é que eu vou confiar num troço que se nega tão bisonhamente em dois cliques? em homenagem à wikipedia deixo aqui um trecho da crônica máquina de foder, que cuja expressão transcedental dá nome a este post:

- quais as novidades, Tony? - perguntei.
- ah, uma merda - respondeu.
- isso não é nenhuma novidade.
- uma merda - repetiu Tony.
- ah bom, então tá, uma merda - disse o Índio Mike.
bebemos a cerveja.
- o que você acha da lua? - perguntei a Tony.
- uma merda.
- é - comentou Índio Mike, - quem já está fodido na terra também vai se foder na lua. não faz diferença.
- dizem que em marte é quase certo que não tem vida - continuei.
- e daí? - retrucou Tony.
- ah, que merda - exclamei - dá mais duas.

que merda.

AINDA SOBRE VEGETAIS

Volto ao assunto vegetais, mas não me considerem um obsessivo. A redação de SorryPeriferia foi inundada por cartas de papel reciclado vindas de veganos das mais variadas espécies após o penúltimo post, que relata a relação freudiana entre os restaurantes vegetarianos e a carne, esta última aqui apenas em seu sentido degustativo mesmo. Três adolescentes vegans declararam ter feito vudu contra mim, dando agulhadas em uma batata gigante, sendo esta uma representação de minha humilde pessoa. Por outro lado, um hare krishna diz ter encontrado a luz, estando internado há cinco dias em uma churrascaria da zona sul acossado por uma súbita vontade de comer maminha freneticamente. Chupa, Maharishi.

O fato é que o comentário da estagiária e aspira Juliana Canhestra naquele post alertou para minha ignorância quanto ao termo veganismo. Escrevi "vega" no Google quando o correto é "vegan", o que apenas é mais feio. Logo, os vegans cultuam os bichos de tal forma que não comem nada que derive deles, nem leite, nem ovos – e isso vai de encontro ao que então escrevi.

A correspondência da leitora vegana Henriqueta Zucchini foi uma das mais exaltadas: “Há 15 anos não consumo carne, ovos ou leite. Fui feliz casada com um nabo por sete anos até ele entrar numa receita alternativa de salada ceaser e cumprir sua missão na Terra. Estou tão anêmica que poderia participar dos Simpsons sem ter que me pintar de amarelo, mas considere que sou extremamente feliz com isso, seu onívoro deplorável”.

À senhorita Zucchini respondo que cada um sabe o que faz da vida. Porém, antes de tudo, este é um blogue que está aí para sacanear, não para explicar, de modo que gostaria de enxergar a situação pelo viés da bazófia.

Vamos simular uma cena que, do ponto de vista vegan, é degradante: um porco sendo abatido no matadouro. O bicho está lá, quieto, comendo sua lavagem, quando chega o assassino e seu avental branco todo sujo de vermelho – já havia matado 12 porcos naquela manhã. O porco ergue as orelhas, levanta a sobrancelha direita e pensa consigo mesmo: “Fudeu”. É quando o algoz pede a ele que se levante e, quando obedecido, dá-lhe um tiro no coração (os matadouros da minha imaginação são muito mais emotivos que os da vida real, onde provavelmente o algoz passa a faca no pescoço do bicho e estamos todos conversados).

Cruel? Talvez. Mas passamos para uma cena similar onde a vítima passa a ser um pé de alfafa. Lá está ele na horta, dialogando suas folhas com o vento, a organizar um balé com os mosquitos que nele vão pousar. Aí chega o mesmo algoz, com seu avental branco todo sujo de verde – já havia degolado 12 alfafas naquela manhã.

Perceba: por ser um animal, o porco ainda tem a chance de se defender. Ele pode atacar seu algoz, guinchar ou, na pior das hipóteses, morrer com dignidade. Dizem que, antes do fuzilamento, Che Guevara disse ao seu carrasco: “Saiba que está atirando em um homem”. O suíno bem poderia dizer: “Saiba que está atirando em um porco”, para depois cair com as patas no coração.

Mas e a alfafa? Imagine o desespero do vegetal. Vem o sujeito e amola a faca na frente dela, assobiando um sambinha do Nelson Sargento. E a alfafa sua. Sabe que vai morrer, mas não pode fazer nada: é só uma alfafa que não tem como se defender. E então o executor interrompe a atividade labial e crava o facão em seu corpo. Horror inenarrável. Qual morte é a mais cruel, a do porco revolucionário ou da alfafa que não tem como se defender? Eu voto na última.

Aguardo o próximo modismo gastronômico e, já de antemão, deixo uma sugestão: o veganismo mineral. Troca-se o leite e os ovos pelas pedras. Salada de soja com glúten e quartzo ao molho páprica. Chupa, Ferran Adrià.

P.S.: 68 animais foram maltratados durante a produção deste post.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

DAS COISAS QUE BUSCARAM NA INTERNET E CAÍRAM NESTE BLOG*

travesti jundiaí (três vezes)

patolada (duas vezes)

jogador do são paulo corno (duas vezes)

janelas austríacas típicas

marimbondos de fogo (duas vezes)

pólo aquático para surdos

corizza

sexo na periferia

jorge lafond

jornalismo carnavalesco

parapa pa pa pa pa letra

cabelereiro soho brigadeiro

historias que nossas babas nao contavam

* estatísticas referentes a busca no Google e Yahoo! desde julho, quando instalei o programa.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

ASSUMAM AS TIRIRICAS


Sopas, muitas sopas

Na primeira vez que vi uma tartaruga já fui logo pensando numa sopa. Há quem, em ocasião semelhante, tenha se extasiado com esta suposta maravilha da natureza. Alguns dizem que o bicho é lindo e querem ter um plantado na sacada do apartamento. Outros refletem que o bicho não mudou desde alguma era terminada em "zóica" e fazem um discurso emocionado sobre a evolução das espécies.

Eu não. Eu vejo uma tartaruga e logo penso numa sopa. Aproveitar aquele casco como cumbuca, rodelas de cebola e pimentão ao leite de coco junto das tirinhas do quelônio, tudo boiando na mistura. Moqueca de tartaruga.

Exemplifico minha reação com o réptil para dizer que tenho estranhado minha presença contínua em restaurantes vegetarianos. Há seis anos, quando cheguei a São Paulo, isso seria impossível. Mas hoje gosto, com restrições. Pois falemos então das restrições, porque é muito mais legal.

Há alguns dias almocei num restaurante vegetariano, como de praxe. Pedi, atônito, um suco de clorofila. O gosto é quase bom. Tomei dois copos e passei a tarde inteira fazendo fotossíntese. Me senti uma begônia de dois metros de altura. Recomendo suco de frutas mesmo e, sempre que possível, uma cerveja.

Mas o suco de clorofila não é a grande toupeirice vegetariana que se tem notícia. O que me incomoda em rigorosamente todos os restaurantes deste tipo em que fui na vida é a culpa em ser vegetariano. Explico melhor.

Raciocine comigo: o sujeito que vai a um restaurante só de vegatais já está ciente de que o único bicho que lá vai ver é o papagaio do hippie proprietário do estabelecimento. No entanto, a grande maioria dos pratos simula a existência da carne: hambúrguer de soja, estrogonofe de glúten, salmão fake e outras excentricidades. Juro que partirei para a ignorância no dia em que entrar no restaurante e um garçom vestido de gaúcho me disser, com sotaque de Passo Fundo: "Hoje o prato principal é acelga no rolete".

Veja bem, se você puder adquirir um quadro do Picasso pintado pelo próprio e uma imitação pintada por Fernando Vives, é óbvio que você fica com o original. Logo, entre um bife à parmegiana de contra-filé e um com bife de soja, fica-se com o primeiro. É de conhecimento até do mundo mineral que se vai a restaurante de mato para comer mato e não boi. Mas não, há essa culpa, essa necessidade de provar que o homem pode substituir a carne em sua vida e assim deixar os bichinhos em paz.

Aliás, este é outro ponto delicado de certas correntes do vegetarianismo: a de que o homem é, em sua essência, um herbívoro. Me disseram que são os vegas que dizem isso mas, nos 30 segundos que minha paciência permitiu pesquisar na internet, não achei nada a respeito. Então não acusarei os vegas desta toupeirice. O cérebro do homem só se desenvolveu tanto por conta das proteínas e coisas que se acha na carne, no leite e nos ovos. Se os restaurantes vegetarianos estivessem na moda durante a Era Antropozóica, talvez estivéssemos hoje disputando capim com os bois.

Mas isso não quer dizer que os vegetarianos são burros ou coisa que o valha. Não. Há quem não coma carne por ideologia que, se é discutível, ao menos é uma ideologia. Há os que simplesmente não gostam de carne. Pois eu digo então que os donos de restaurantes vegetarianos deveriam se libertar desta culpa quase católica na hora de elaborar os pratos. Se a meta é comer tiririca, pois que tenhamos então um prazer bovino em comê-las em pratos que não nos escondam que ali estão tiriricas, nada além de saborosas e nutritivas tiriricas.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

CAMPANHA PELA PROLIFERAÇÃO DO ROLEX EM PULSO ALHEIO E UM PROTESTO SEM SENTIDO

Ao que parece, um motoboy emparelhou o Luciano Huck numa esquina do Itaim e ficou com o relógio dele. Indignado, Huck mandou um texto ao seu jornal predileto reclamando das balas de caramelo que não tomou após o cafezinho. Para o caso de o Kaspar Hausen ler este blog e não saber quem é o Luciano Huck, digo que ele é uma espécie de Platão de Moema, até então com um Rolex no punho, agora apenas com a indignação na cabeça.

Eu não queria falar sobre a carta em questão, nem sobre a resposta do Ferrez, e sim do Rolex. Na hipótese de você, fino leitor, ganhar por mês uns 800 salários mínimos, peço por gentileza para sair às ruas de Rolex em punho. Cada vez que um bandido roubar um relogião desses nas ruas, umas quinze pessoas normais deixam de ser assaltadas, tamanho é o investimento que o bandido em questão acaba por fazer. É a distribuição de renda chegando também ao submundo do crime. Ou, como diria Leibniz, citado pelo próprio Luciano Huck nos sábados à tarde: "Loucura, loucura, meu".

Agora, o ícone Francisco Cuoco foi assaltado outro dia e ninguém fala, né? Aposto que quando o Agnaldo Rayol, nosso Pavarotti da Matriz da Sé, tiver um radinho de pilha roubado antes de entrar numa igreja para cantar no casamento, nem o Diário de S. Paulo vai dar uma notinha. Como diria a vizinha do Nelson Rodrigues, gorda, patusca e cheia de varizes: "Hoje ninguém mais valoriza o artista". A lamentar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O PAU-DE-ARARA MORAL

É estranho mas, quando doente - e, por consegüinte, entupido de remédios - urino em uma cor mais psicodélica que todo o David Bowie em 1972. E, falando em urina, queria falar sobre o Arnaldo Jabor.

Houve um tempo em que todas as colunas do Arnaldo Jabor no Estadão continham alguma pitada de sexo. Era uma ejaculaçãozinha aqui, um gozo ali, um prazer carnal encrustado nalguma frase sobre... o Congresso Nacional. Nada contra sexo, muito pelo contrário, ainda mais quando este vem nas páginas do Estadão - fico imaginando o Doutor Ruy a abrir o Caderno 2 e enrubecer por tamanha ousadia em seu próprio jornal. Na verdade o sexo ali é a parte boa, a parte ruim é que o ato vem acompanhado do Arnaldo Jabor.

Não sei se fui claro. Veja bem, há certas partes (o livro todo, na verdade) de Amor ao Natural, do Carlos Drummond, em que o leitor é tomado de um estupor hormonal sem par nestas matas. A Pfeizer poderia pintá-lo de azul e vendê-lo na forma de pílulas. Agora, quando você abre o jornal numa terça-feira pela manhã e dá de cara com o Krust do Jornal Nacional com arroubos de Lord Byron, a construção imagética tende a ser a pior possível.

Por exemplo: minha mente é varrida com a imagem de Arnaldo Jabor prestando uma homenagem a Deusa Onã em um banheiro minúsculo, fétido. Ele abaixa os suspensórios, afrouxa a gravata borboleta (imagino todo sujeito por quem nutro algum desprezo sempre de gravatas borboletas e suspensórios, como um Nhonho), bota pra fora sua parafernália sexual e trata de descabelar o palhaço. Uma gota de suor escorre-lhe pela testa. Suas axilas encharcam. E, perto do ato final, com o olhar sintilante, ele diz, sonhando: "Me beija, FHC".

Falei no Arnaldo Jabor mas era da Veja que queria falar - e que me perdoe o fino leitor, pois este é um post todo voltado para a escatologia. A edição desta semana da revista mais significativa do mundo desde que Joseph McCarthy deixou de emitir boletins com sua opinião tripudia sobre a morte de Che Guevara - eu poderia colocar o link para a reportagem aqui, mas não vou dar alguns cliques de lambuja para a revista. A reportagem toda já soa absurda - como é praxe na Veja, aliás - mas desta vez os editores e repórteres desceram ao esgoto. A revista conta que Che Guevara, diferente da imagem que passava, foi preso abatido e maltrapilho, tentou negociar sua vida com os algozes e - o filé mignon do texto - tripudia sobre o comportamento dele quando preso e torturado, subentendendo-o como covarde.

Veja bem, não sou do time que compra camisas com a cara do Che Guevara no shopping. Mas a bile correu solta. Fosse Che Guevara ou Adolf Hitler, é de uma imoralidade tacanha debochar de quem é vítima de tortura. Imagine se um estudante da Fefelete (desses com a camisa do Che Guevara, cabelo comprido e com um O Capital debaixo do braço) pegasse um editor da Veja e o pendurasse num pau-de-arara - imagino que muitos deles sonham em fazer isso. Então está lá o Eurípedes Alcântara de cabeça para baixo e bunda ao léu. Imagine também que o cabeludo da Fefelete cola um eletrodo no pipi do diretor de redação diretamente na bateria da Veraneio, que está ligada do lado de fora. Como será que o Vejudo reagiria? Opções: 1) Gritaria, tal qual um William Wallace da ultra-direta: "Perco o pinto para entrar na História!", ou 2) Imploraria chorando por sua vida, dizendo que faria qualquer coisa para pararem com aquilo.

Sim, é claro que existe uma diferença transcendental entre Che Guevara e Eurípedes Alcântara - o primeiro é, concorde ou não com ele, o símbolo de uma geração e de uma luta. O segundo é um cidadão comum que dirige uma publicação tão ruim que, imagino, até os cachorros dos assinantes evitam buscá-la no quintal no sábado à tarde. Mas é exatamente aí que eu queria chegar: sob tortura, não existem ídolos, não existem heróis. Mesmo que se delate até a própria mãe, ninguém é capaz mesurar a dor de quem é torturado.

Todo mundo sabe que o bom senso não é praxe na Veja. A revista hoje é referência menos por seu jornalismo que por seus descaminhos ideológicos. Mas a questão já está mais para a psiquiatria que para a ideologia.