
Mistura de Garoto Enxaqueca com Beth a Feia, Heloísa Helena construiu a carreira política na base do corpo-a-corpo com as camadas mais marginalizadas da população, o que é bom, e na base de frases feitas, o que é ruim. Sempre se disse a favor do calote da dívida externa, da queda acentuada dos juros e da reforma agrária ampla, que são propostas da esquerda clássica, mas também adora uma conversinha de tiazona católica papa-missa, que não poucas vezes ultrapassa o limite do conservadorismo joãopaulosegúndico. Não pode ouvir falar em aborto, por exemplo, proposta básica das feministas que normalmente simpatizam com a esquerda. Quando candidata à prefeitura de Maceió em 1996, tentou processar a candidata rival, Kátia Born (PSB), por "conduta sexual inadequada" - reza a lenda que Kátia gosta que a chamem de Vantuir. Naturalmente, a processada foi a própria Heloísa Helena, que também tomou nabo no pleito - no bom sentido, é claro.
Mino Carta define a candidata do PSOL como udenista. Faz sentido. Quando da cassação de José Dirceu no ano passado, um avalanche de discursos moralistas da oposição invadiu o Congresso, geralmente vindos do PSDB e do PFL. Mas entre estes estava a senadora HH. Não digo que Dirceu seja inocente, mas não havia meia prova contra ele para que fosse cassado, apenas a suspeita. Foi uma cassação política, caça às bruxas, um vexame republicano. O discurso de Helena pedindo a cabeça do petista foi digno de um Carlos Lacerda, de mera promoção política, quando um sujeito sensato votaria contra a cassação por falta de provas.
Enfim, falta a Heloísa Helena profundidade e escrúpulos - eu ia dizer que falta estrógeno, mas isso seria maldade e portanto não vou fazer. A favor dela, é bom dizer que há gente boa no PSOL, e que o voto nela seria ao menos um sinal de protesto. Ou, como diz aquele sambão do Nelson Sargento: "Nosso amor é tão bonito, você finge que me ama, eu finjo que acredito".
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