segunda-feira, 20 de setembro de 2004

PELO DIREITO DE NÃO SER NERD

Não tenho o hábito de falar de mim aqui, mas hoje abro uma exceção. Tive uma discussão com um amigo meu que iniciou uma frase "nós dois que somos nerds...". A resposta veio árida: 

- Nós, você diz, você e sua mão esquerda? 

Então deixemos uma coisa bem clara, de uma vez por todas: não sou nerd. Tenho muitos amigos que se auto-intitulam nerds e nada tenho contra quem o seja. Mas me incluam fora dessa e, no caso do nerdismo ser um frustração em sua vida, não a desconte em mim. Em primeiro lugar, não sou fã de nenhum seriado obscuro que passa na TV a cabo nas madrugadas de terças-feiras, a única banda nerd que gosto é o Weezer, acho Harry Potter o típico moleque em que eu tacaria bolinha de papel o tempo inteiro na escola e, se tivesse que classificar Senhor dos Anéis em uma só palavra, esta seria "aborrecedor". Não tenho nada contra quem gosta, você não vai me ver debochando de quem gosta, mas me reservo o direito de não gostar, não ler o livro, não ver o filme e não me sentir um ET por não gostar de um moleque de 12 anos que faz mágicas em vez estar jogando bola por aí, comprando Playboy escondido da mãe ou assistindo filmes de James Bond. Acho A Guerra dos Botões setenta e cinco vezes mais interessante que Harry Potter, e nem por isso saio por aí xingando meus amigos fãs do nerdinho mágico (a recíproca acontece comigo a cada novo filme da série). 
"Mas você não sai do computador, seu nerd", já está dizendo algum trilambda leitor disso aqui, frustrado com minha condição anérdica. De fato, passo a tarde no computador e, chegando em casa, prefiro a internet a TV. Na net eu faço o que quero, na TV sou obrigado a ver a cara do Gilberto Barros no Boa Noite Brasil, e isso não é agradável. Em compensação, pouco sei do que não é internet no mundo dos computadores. Sexta-feira passada meu editor me ensinou que existe uma ferramenta no Word que transforma as letras maiúsculas em minúsculas e vice-versa. Coisa que qualquer nerd sabe desde dos 13 anos, quando usava o 386 do irmão mais velho. Mal sei usar o Word, não sei usar o Excel, o PowerPoint, Acrobat e todo o resto. E, se me permitem um mea culpa aqui, não tenho orgulho disso. Todo conhecimento é bom. 
Acho Guerra nas Estrelas um filme legal, assim como Matrix. Nada além. O último seriado que eu parava o que estava fazendo para assistir foi Agente 86, quando tinha uns oito anos. O último video game que joguei foi o Super Nintendo, e atualmente, no computador, só uso o SimCity, Civilization, Commandos, GTA3 e o Need For Speed Underground. Absolutamente abomino qualquer coisa relativa a RPG e, justamente por isso, prefiro pagar 20 reais pra assistir uma pornochanchada dos anos 70 do que receber 20 reais pra por a bunda durante três horas no cinema pra ver um senhor e seus anéis, num exemplo hipotético. 
Entrei no Orkut quando poucos já haviam entrado, me senti uma menina de treze anos diante de seu diário e saí. Em absoluto não acho você, nerd e orkútico, uma menina de treze anos diante do diário. Eu me senti assim, o que não quer dizer que te ache assim. Não encho ninguém que ama o Orkut e acho que quem gosta tem que aproveitar mesmo. Mas ando com as bolas feito balões de tanto que me chamam de chato por não estar no "mundo de dentro" do Orkut. 
Mas não sejamos simplistas. Não ser nerd não significa que eu me ache um fodão, por mais que eu diga isso por aí, sempre aspirando a galhofa. Em verdade, sou um ex-fodão. Até o cursinho, eu era o moleque interiorano tipíco e "cheio de querer", pra quem a vida eram as risadas na escola, a tarde pra dormir, o clube de noite e a cerveja antes de dormir. Todos os dias. Foi bom enquanto durou, mas não é mais e, pra falar a verdade, nem sinto mais falta. 
Hoje sou um sujeito normal, com amigos nerds e fodões de quem gosto muito, independente de qual lado estejam, mas que não se enquadra em nenhum dos pólos. Se você é nerd assumido ou não, tem o meu respeito. Mas eu não sou nerd, e me sinto muito feliz do jeito que sou.

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