segunda-feira, 6 de setembro de 2004

AS ILUSÕES PERDIDAS

Como de costume, noite dessas, ao me jogar na cama para dormir, deitei o braço na testa e comecei a divagar sobre coisas importantes. Normalmente é essa a oportunidade em que tento responder questões profundas da humanidade, do tipo "Christopher Lee, como Francisco Scaramanga, foi um vilão mais competente do que Christopher Walken, como Max Zorin, nos filmes de James Bond?", ou então "Mira Sorvino está mais sexy em O Verão de Sam ou em À Primeira Vista?" Enfim, o ser, o tudo e o nada, com ênfase no nada. 
Mas semana passada algo que não estava no script ocorreu. Lembrei dos gibís da Disney que eu comprava quando pivete, sobretudo os do Tio Patinhas. E, ao pensar a respeito, uma constatação que me fez sentar na cama, me tirou o sono e quase me botou o fígado pela boca: a Margarida era uma vagabunda. Sim, uma vagabunda, uma reles rampeira. Margarida era a noiva do Pato Donald, mas era só o Gastão pintar na área e balançar a carteira que, no quadrinho seguinte, dois ou três coraçõezinhos já apareciam em volta da cabeça dela. Como é que eu nunca percebi isso antes? Ela vivia dando voltas na baratinha do Gastão, o que faz da Margarida um clichê da maria-gasolina típica. Meu Deus, não é possível que eu só vim perceber isso uns 13 anos depois do último gibi de Walt Disney comprado. 
Em verdade, eu nunca gostei do Pato Donald. Menos pelo fato dele ser um looser, corno, pau mandado do tio e ter três sobrinhos mais espertos do que ele, mas sobretudo por não compreender uma palavra do que ele dizia. Pra mim, episódio bom do Duck Tales era quando o Donald pouco se manifestava. Assim eu entendia o enredo. Mas também não gostava do Gastão, porque ele tinha aquele cabelo ridículo de quem dorme com bobs. Eu gostava mais do Peninha, que pouco aparecia, apesar de seu aspecto hostil nos permitir sentir suas axilas em polvorosa. Também achava legal o Professor Ludovico, a Florisbela, o Professor Pardal e a Lampadinha (quando vejo o Leandro e seu cabelo exótico andando com a Karen e sua pequena dimensão, associo logo com o Professor Pardal e a Lampadinha). E, neste hall de personagens simpáticos, estava também a Margarida. Vaca deplorável. 
Depois dessa noite lamentada e mal dormida, só me resta a depressão. Eu devia era ser fã da Marvel. Duvido que tivesse alguma decepção depois de 13 anos. Tira esse sorriso da minha frente, que eu quero passar com minha dor.

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