sexta-feira, 17 de setembro de 2004

A MINHA PARTE EU QUERO EM FROLIC

Descendo a Angélica após sessão de Garotas do ABC na Augusta, reparo em uma faixa estendida na esquina com a Baronesa de Itú. Demorou um pouco para que estes olhos míopes e astigmáticos percebessem não se tratar de mais uma faixa da campanha Suje a cidade mas escolha um vereador. Não. Era uma importante demonstração de civilismo e apego às coisas importantes de nossa sociedade que as dondocas higienopólicas estão organizando: trata-se de convocação para uma passeata na ex-praça Buenos Aires (dizem que agora é parque, mas não é). Passeata? Em verdade, uma cachorrata. Sim, isso mesmo que você, otário, entendeu: uma passeata de cachorros na ex-praça Buenos Aires nesse domingo próximo, acho eu, com o patrocínio de um veterinário local. Não é fantástico? Como diria o Bill Gates naquela propaganda do Unibanco de dez anos atrás: "Why didn´t my bank think of that?" Nesse bairro, onde as pessoas só se mobilizam pro Roxaxaná e pras reuniões da TFP, agora há também uma cachorrata. 
Já estou fantasiando cenas para meu mais puro deleite. Dondocas higienopólicas e seus Yorkshire tarados são o que há de mais cinematográfico e humorístico desde que o Monte Python criou a corrida de cem metros rasos para pessoas sem senso de direção. As senhoras maquiladíssimas e seus cachorros perfumados se misturando sob um sol de trinta e poucos graus. Serão tantos batons, coleiras, beijos, abraços, pêlos, perfumes, mordidas, cocôs e cãimbras que eu não posso deixar de comparecer. Mas tenho que entrar na onda e por isso procuro um parceiro canino. Cogito a Doutora Havanir. Mas sem maldade, trata-se apenas de uma questão de eventual auto-defesa. Se alguma gangue de marombados permitir que seus pitbulls cheirem meu cangote, lanço-lhe a frente minha comparsa canina: 

-MEU NOME É HAVANIR CINQUENTA E SEIS! 

E até o mais machão dos pitbulls virará um dócil hamster por causa do aspecto hostil e do mau hálito da doutora (só eu sinto o bafo dela durante a propaganda eleitoral na TV?). E tenho que me preparar para a parte mais desarmônica da cachorrata: os pobres que dormem nos entornos da ex-praça pediriam um tiquinho de ração pra poderem alimentar os filhos. Isso será a mais pura deselegância, pois, apesar da ex-praça ser pública, este é um evento nobre e classudo. É proibida a entrada de negros, só de cachorros. Por favor, se você é mindingo e está lendo estas bem traçadas linhas, já te digo que de nada adiantará argumentar que você teve que vender o baço pra alimentar o filho doente. As dondocas higienopólicas só utilizam ração importada com a qual seu sistema digestivo rude não está preparado. Na pior das hipóteses, Frolic, o que ainda é muito caro para vocês. Lembram-se quando vocês eram pequenos, passavam em frente das Casas Bahia e viam nos televisores da CEE o anúncio "Só Frolic faz seu cachorro fazer fezes mais firmes e sadias"? Pois é. Não é pra vocês. Homem que come pedra sabe o intestino e o bolso vazio que tem. Como diria Fausto Wolff, sempre ele: não comer é uma questão de disciplina. 
O fundamental aqui é a boa notícia que eu tinha que dar para a Karen (Minha única leitora. Todos os outros são colegas de blog): o pós-modernismo está acabando. A sociedade está se mobilizando novamente. Uma cachorrata hoje, Diretas Já para Cuba amanhã. 

Cidadania é isso aí.

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