segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ELEIÇÕES 2008: RELAXA MAS NÃO GOZA


Kassab eleito: See that girl, watch that scene, dig in the dancing queen*


Desde que neste domingo o juiz do TSE ergueu os braços e apitou o fim dos pleitos municipais de 2008, jornalistas, cientistas políticos, assessores de candidatos e modelos famosas de todas as matizes políticas têm ligado ininterruptamente para a redação de SorryPeriferia perguntando por minha opinião. Um político ex-pefelista ligado a Gilberto Kassab me procurou em nome dele sondando-me para um jantar a luz de velas com o prefeito no restaurante do hotel Deliriu´s, na Raposo Tavares, o que neguei peremptoriamente.

Portanto, eleitor leitor, aqui vão simpaticíssimos pitacos de um esquerdista que ainda tem algum flerte com o PT - apesar da desilusão com o partido -, e tem ojeriza a tucanices e peefelidades em geral. A conclusão é triste: em São Paulo as coisas não vão tão mal. Nos outros três principais centros do país, é melhor abrir a porta do hospício.


São Paulo

Contrariando as expectativas, não acho que Gilberto Kassab será um mau prefeito, embora talvez também não seja bom. Dois são os motivos.

Primeiro, nossa referência de pavor administrativo é a gestão Maluf/Pitta, e está claro que o alcaide (sempre quis usar essa palavra) que chegar perto dela, daqui a quatro anos, só irá agradar a taxistas reacionários.

Segundo, a cidade de São Paulo provavelmente é o lugar do Brasil em que a democracia funcione melhor, tanto pela importância da cidade no cenário nacional quanto por conta da exposição de mídia. Resumindo: a dona Marta e o Giba Kaká prometeram mundos e fundos na campanha. Se o Giba Kaká não cumprir, depois não se elegerá nem como síndico de condomínio.

Ainda há o fato de que, justamente pelos dois motivos citados acima, Kassab não ter o direto de não fazer nada para a periferia da cidade. A periferia vota por conta própria, não vai mais na onda da classe média. É agir ou perder a eleição daqui a quatro anos. Por isso, ver o DEM (demagogos? Demoníacos?) criando na marra AMA´s na Zona Leste é, com o perdão do maior de todos os clichês eleitorais, uma vitória da democracia.

Ponto positivo: O prefeito eleito vai ter que fazer tudo o que prometeu, ou depois de 2012 pode procurar uma vaga de balconista no Shopping Frei Caneca.

Ponto negativo: O governador e mordomo de filme de terror José Serra conseguiu criar um monstro chamado DEM no maior reduto eleitoral do país, justamente onde o DEM nunca foi absolutamente nada.


Rio de Janeiro

O Rio atualmente é tão relevante no cenário político quanto o Botafogo o é no futebol: já teve dias de glória, mas hoje é aquela zica que todo mundo conhece.

O eleito da vez é Eduardo Paes, um demagogozinho vaselina bem mais ou menos à melhor tradição dos últimos políticos cariocas, como Marcelo Alencar, César Maia, Luiz Paulo Conde e, mais recentemente, Sergio Cabral. Fosse carioca, eu teria votado no Gabeira no 2º turno. Não que ele seja grande coisa – Gabeira é politicamente dissimulado e tem certo desconhecimento da cidade – mas, reza a lenda, prega a ética no funcionalismo público e tem certo apelo ambientalista. Entre as nulidades, seria a nulidade diferente. O futuro político do Rio continua nebuloso.

Ponto Positivo: A ascensão de Fernando Gabeira brecou o crescimento de Marcelo Crivella, herdeiro da política garotinha e adorado pelos evangélicos de má fé.

Ponto Negativo: Se a política do Rio é o Botafogo, a esquerda carioca é o Bangu.


Belo Horizonte

Certa vez escrevi neste blogue que a política é transexual, e a eleição de BH é a maior prova disso: Aécio Neves, o tucano de narinas brancas, fechou acordo com o petista prefeito da capital Fernando Pimentel para criar um terceiro nome de consenso aliando PSDB e PT.

Criar mesmo: há três meses, se o administrador Marcio Lacerda fosse comprar um pão de queijo na esquina da Pampulha, ninguém o reconheceria. Foi eleito prefeito disputando o segundo turno com um Zé Mané chamado Leonardo Quintão, um nulo, o que me faz entender o que o mineiro Carlos Drummond quis dizer com Estrambote Melancólico.

Ponto positivo: não tem. Como diria o amigo Matheus Pichonelli: nem no câncer o mineiro é mais solidário.

Ponto negativo: as eleições em BH promovem desconhecidos da mesma forma que o Big Brother. E ainda prova que PT e PSDB estão cada dia mais parecidos.


Porto Alegre

O prefeito e coxinha João Fogaça foi reeleito, contrariando as expectativas. Sim, porque a tendência era de que a petista Maria do Rosário absorvesse, no 2º turno, os votos da comunista Manuela Ávila, formando a maioria, o que não aconteceu - grande parte dos votos desta foi para o risólis peemedebista. Isso prova uma coisa muito feia: uma horror de gente votou na Manuela não por conta do contexto ideológico da candidata, mas porque ela é bonitinha.

Há 15 anos, os gaúchos debochavam dos paulistas por termos o Maluf sempre nas cabeças das eleições de São Paulo. E tinham toda razão. Hoje o cenário gaúcho decaiu barbaridade.

É por isso que, quando vejo um gaúcho dizendo que gostaria da separação do Rio Grande do restante do país porque as coxilhas são mais desenvolvidas, eu já logo saio gritando: Onde é que eu assino?

Eu queria ver o Germano Rigotto de presidente, ou a Yeda Crusius de primeira-ministra ou o Neguinho do Pastoreio de presidente do Banco Central. Se houver algum leitor de SorryPeriferia uruguaio, eu pergunto: quer pra vocês? O pôr-do-sol no Guaíba é lindo.

Ponto Positivo: apesar de ter quatro grandes nomes estaduais – Raul Pont, Tarso Genro, Dilma Roussef e Olívia Dutra – o PT abre espaço para mais um nome, Maria do Rosário. O PT que eu gosto sempre foi o PT gaúcho.

Ponto Negativo: As bolhas eleitorais funcionam muito bem no Rio Grande. De repente o Rigotto vence a eleição. De repente a Yeda vence a eleição. De repente a Manuela ganha um monte de votos só porque é bonitinha. Já lanço a campanha para 2010: “Kleiton governador, Kledir vice”. E aí vou pra Porto Alegre e... bá! Tri-legal...

Se preparem, porque, como diria o cientista político Luciano Huck, as eleições de 2010 vão ser loucura, loucura.


Mais sobre os resultados das eleições:

- Blog do Savarese

- Blog do Alon Feuerwerker


* Foto: UOL.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O MARQUETEIRO É O LOBO DO HOMEM

Sejamos sinceros: se Jesus Cristo tivesse marqueteiros ao invés de apóstolos, a Santa Ceia teria sido um grande showmício com farta distribuição de macarronada pra rapaziada. Mais: um show da dupla caipira de apóstolos Simão e Tiago, que dariam um abraço fraterno no filho do homem enquanto todos fizessem o "V" da vitória. No discurso, Jotacê mostraria seus dentes clareados artificialmente enquanto prometeria transformar água em suco de uva - vinho é álcool, o que tiraria voto dos conservadores - e canalizá-lo até o morro da Babilônia.

Se a história fosse assim, Jesus não teria, como diria Daniel Piza, morrido enforcado. Poderia até virar um político influente da Palestina, feito uma aliançazinha marota com o PFL de Poncius Pilatus e, com um pouco de ajuda divina que de fato ele já tinha, até se tornado prefeito de Judá, com maioria no conselho de anciãos.

No entanto, o legado dele, sempre na hipótese de que de fato ele tenha existido, não teria durado dois mil anos, e sim até a eleição seguinte ou no próximo escândalo de corrupção.

Na verdade, eleitor leitor, eu falei tudo isso pra falar mesmo é da campanha eleitoral. Aqueles contos de ficção científica em que os robôs dominam os humanos já estão acontecendo, só que no lugar dos robôs nós temos a figura do marqueteiro de campanha, este um já uma entidade mística das eleições e governos mundo afora e que dita os rumos de quem faz política. Antigamente tínhamos os conselhos de anciãos, caciques, curandeiros, sábios e até filósofos por trás (no bom sentido) dos homens da vida pública. Hoje nós temos um sujeito que fez 4 anos de ESPM e um estágio com o Nizan Guanaes. Chupa, humanidade.

Em uma reunião entre o marqueteiro e o candidato em campanha, o primeiro tenta pegar a mensagem que o segunda quer passar (se é que ela existe), coloca umas bolas de natal pra enfeitar, uns artistas pra apelar e umas boas xícaras de hipocrisia e melodrama. Se na primeira pesquisa o Ibope (outra entidade mística) não apontar ascensão do candidato, aí joga tudo fora e parte pra baixaria. Enredo mais batido que os episódios do Ri Tim Tim.

É por isso que eu prego o combate ao marketing político, e ao dizer isso já posso visualizar os sorrisos sarcásticos de quem me enxerga como ingênuo ou anacrônico. Ingênuo vá lá, mas anacrônico mesmo é a Marta Suplicy subentender que Gilberto Kassab, seu adversário, é sãopaulino, tática usada pelo PSDB de José Serra em 2004 ao soltar um documento intitulado “Dona Marta e seus dois maridos”. No fundo é a mesma tática de política feita por coronéis do Nordeste de antigamente, que usavam argumentos como “não vote no Fulano porque ele é corno”.

É por isso que defendo a franciscanização da campanha política e, sobretudo, do horário eleitoral na TV. Não tem musiquinha, não tem artista falando, não tem figurantes passando por situações felizes. No máximo, uma produção a la Glauber Rocha: alguém segura uma câmera bem mixuruca e o candidato se vira nos cinco minutos. Ficaria muito chato, mas a separação entre política e entretenimento um dia vai ser tão importante para o século 21 quanto a separação entre igreja e estado o foi dois séculos atrás.

E pra encerrar, digo que um dia vou ter um hamster de estimação chamado Duda Mendonça. Uma metáfora de inversão de papéis não muito sutil.

POR ISSO CUIDADO MEU BEM, HÁ PERIGO NA ESQUINA...

Entraram neste blogue procurando por:

eu quero a mãe do vives do sorry periferia**
fernando fernandes pelado
penugem na cara
vasos ideal standard
patolar
espirito negão suzane
cotação de azeitona
bolacha hipopo
marcos ricca pelado
judeus famosos
gostosas de presidente epitacio em ponografia
vivi e o labrador
tira calça jeans poe o fio dental morena voce
travesti pontos são paulo berrini
salmo 23 analise sintatica
travesti do pau grande
show do boy george em são paulo
ser humano bicho analise
motel e insalubridade
mumia fenicia no brasil
cantores gospeu mexicanos
comentario do texto entre a jaula de aula e o picadeiro de aula
havanir pernas
o que e plutao eu quero so uma resposta bem piquena que esplique o que e
horoscopo mae dinah
que descobre o salto com vara
o que significa songa-monga
jequitinhonha gay
mulheres do cocotão
lhama minalba
belo felacio
estranho comportamento de elefantes
erasmo nuzzi -alaska
edson lobao biografia
quero saber o email da jornalista salete lemos
fernando pavao de sunga
ginastica ritmica para deficiente mental
porto riquenhas peludas
roqueiro costela
rinha de galos de jacutinga
menininhas carente de rola
como tirar agua do ouvido
tapa na peruca
musica dos viados
bolivia pais do caralho
a travesti me comeu em goiania
gostosas sem roupa de rio das ostras
dalva de oliveira travesti
lindberg farias , viado
erotismo programa amaury jr
sexo bater coxinha
vestimentas albanesas
coroinhas fashion
bar bacante swing

** este tem o Caio como réu confesso.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

PSICOLOGIA DE RESULTADOS

A única vez que estudei em colégio particular foi aos 15 anos, no primeiro colegial. E não foi uma experiência agradável. Entrei no primeiro dia de aula crente que, por vir de uma escola estadual para um dos colégios da elite da cidade, eu seria atrasado em relação aos demais e fatalmente sofreria um choque de realidade em meio a um povo que só estaria interessado em estudar, fazer faculdade, ler, essas coisas. Ledo engano: a grande massa era composta por filhos de gente rica que não tinha plano algum porque tinha certeza que o pai estava lá para sustentar. Eram pessoas de uma infantilidade ímpar.

Havia na minha classe um filho de chineses que era o grande alvo do que hoje as pedagogas que dão entrevista para a Veja chamam de bullying. Ele era absurdamente inteligente e ingênuo. Seus pais tinham uma pastelaria ao lado da rodoviária da cidade que, como todas as pastelarias de rodoviária, não primava pela higiene. Só este fato já poderia fazer dele alvo de chacotas, mas não parava por aí: ele era gordo e tinha espinhas na cara. Acho que 60% dos adolescentes hoje são gordos e 100% têm espinhas na cara, mas os idiotas da minha classe faziam da vida do chinês um inferno por conta disso, antes de tudo.

Durante o pouco que estudei naquele colégio vi o chinês sofrer trotes realmente absurdos. Antes das provas, os ditos fodões da turma pregavam o chinês na parede e obrigavam a passar cola, o que ele fazia religiosamente. Depois roubavam seus cadernos, pichavam-no, batiam-no, chutavam-no em rituais diários. Por conta de tudo isso, rigorosamente todos os dias o chinês chorava copiosamente na sala de aula.

Chorar é pouco: ele urrava. Diariamente os professores interrompiam as explanações, o china era encaminhado para a psicóloga da escola, o diretor era chamado e vinha com aquele papo de sempre: "Vocês precisam parar com isso", "vocês estão atrapalhando a vida do menino", "vocês estão causando traumas profundos nele", "vocês não estão respeitando o coleguinha", etc.

Ouvi uma vez no corredor a psicóloga tentando melhorar a auto-estima dele dizendo o básico: que ele era especial, inteligente, e que deveria ficar perto só dos que gostavam dele. Os diretores chamavam os pais do china à escola, mas, como é de domínio público, se houvesse um ranking de sensibilidade entre os povos, os chineses cairiam para a segunda divisão. Diziam que, em casa, também acabava sobrando umas bolachas ao pobre coitado.

O ritual do vandalismo no chinês, seguido do choro compulsivo dele, as aulas interrompidas e a ladainha dos professores e diretores, perdurou por meses a fio. Até que um dia ele chorou na aula de um professor chamado Norberto, de Biologia.

Norberto era um professor quietão. gente boa e low profile. Falava pouco e não aparecia muito. Ele entrou na classe e pegou o chinês desconsolado, arrancando os cabelos numa crise de choro compulsivo realmente desoladora. Então ao invés de repetir o procedimento de chamar a direção ou a psicóloga, chegou perto do china e disse mais ou menos isso, sem elevar o tom de voz:

- Moleque, todo dia eu ouço lá embaixo que você chora todo dia. E hoje entro aqui e você tá nesse berreiro. Faz um favor pra mim: vê se cresce. Você chora por causa de um monte de criança que atira bolinha de papel em você. Pois você é tão criança quanto eles. Aos 15 anos, você deveria ser muito melhor do que isso. Não tenho dó de você não. Vê se vira homem - e se virou para o lousa para escrever a matéria.

Até dezembro daquele ano, não vi o chinês verter mais nenhuma lágrima na escola.

Moral da história: às vezes, a única psicologia eficaz é um soco no estômago.

domingo, 12 de outubro de 2008

DE QUANDO PAREI DE BEBER

Do enviado ao sul da Bahia

Beber com freqüência e quantidade de gente grande tem suas descompensações. Aliás, só tem descompensações. A primeira e mais óbvia é a financeira, e lembro de certa vez de ter escrito neste blogue de como bebi toda a grana que estava destinada a compra de um sofá que até hoje nunca comprei. A segunda é a barriga de cerveja, acompanhada pela terceira e pela quarta, que são, respectivamente, a dificuldade de auto-controle quando embriagado e a dificuldade em se voltar para casa, ainda mais em dias de lei seca.

Porém, aqui nas praias da Bahia onde a lua se parece com a bandeira da Turquia, com a facilidade de uma vida saudável - frutas e iogurte no café da manhã, suco em todos os lugares - encanei numa vertente de pensamento cuja retórica é que urjo (acabo de personalizar abominavelmente o verbo urgir) parar de beber, ao menos em escala industrial.

Tirei o dia de ontem para fazer o teste que, se dependesse da minha empolgação, seria o primeiro dia do resto de minha vida. Cheguei na praia e pedi um suco de maracujá. O atendente, que já é meu brother mas cujo nome esqueci, me olhou de soslaio, mas trouxe o pedido. Pois bem, o que me incomoda no suco é que o copo é pequeno, não dá pra nada, e por isso pedi um de abacaxi cinco minutos depois. Depois outro de limão e acabou a variedade da barraca do Jonas, em Trancoso. Fiquei três horas na praia, tomei uns oito sucos, ora de maracujá, ora abacaxi, ora limão (gastei bem mais do que gastaria em cerveja). À noite, no jantar, repeti a dose e tomei mais uns dois sucos. Fui dormir com uma sensação de que agora seria uma pessoa saudável e que, no futuro, talvez até perca minha barriga de cerveja.

Hoje acordei com a boca infestada de aftas. Lembrei de que, quando era pequeno, tinha sérios problemas com aftas, geralmente causados pela acidez de alguns alimentos - sucos, por exemplo. À época, a médica falou para ficar longe dos sucos. Ela tinha toda razão, era uma gênia.

Quando cheguei à praia hoje, pedi uma caipirinha para comemorar. Não bebo mais suco por razões médicas, eles degradam meu sistema digestivo. Agora é só álcool mesmo. E termino este post com um aviso a você, abstêmio: pare de beber suco. Você não sabe o risco que sua saúde está correndo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

QUEM ME DERA TÁ SENDO UM PEIXE, PARA EM TEU LÍMPIDO AQUÁRIO TÁ MERGULHANDO...

Do enviado ao sul da Bahia

Após sucessivos porres à beira da praia, de ouvir um tatuador ambulante chegar pra mim e dizer "E aí, my friend, duiuanti a tatu?" e de observar um cão pitbull enorme e manso alucinadamente a tentar copular com uma senhora muito gorda que tomava sol na areia, concluí que, felizmente, os muitos meses de trabalho árduo não inibiram a minha capacidade de observar e/ou ser vítima de acontecimentos tão bizarros quanto fúteis. Faz parte da minha quintessência, seja lá o que quintessência signifique.

Achei um canto em Arraial d´Ajuda fora do eixo para turistas que faz um PF pantagruélico e honestíssimo por 10 reais. Trata-se de um botecão simplório de aparência similar àquelas mercearias de novela das oito que se passam no Nordeste (acho que a Globo desistiu delas neste década). Falando em novelas, dentro do bar, a meia dúzia de clientes bebia enquanto via a Patrícia Pillar fazendo malvadezas na tela da minúscula TV. Só conversavam no intervalo. E quando voltava deste, todos cerravam os olhos na tela novamente, concentrados. Depois dizem que novela é coisa de mulher: a única com cromossomos XX no recinto era a dona, que só olhava para a tela quando tinha gritaria.

Quando acabou a novela, debandada geral. Eu abocanhava o bife acebolado quando entrou outro local quarentão, barbudo, quase a gritar para a dona: "Bota na novela! Bota na novela!". A dona respondeu com desdém dizendo que tinha acabado de acabar. E o marmanjo: "Não essa! Bota na Pantanal!! Na Pantanal!!!".

Foi então que, direto da Bahia, onde vim para comer peixes mas que, com os preços absurdos destes, eu comia um bife acebolado, acabei também por observar tuiuius no lugar das gaivotas. Não que esteja reclamando. Aliás, tirando o ACM Neto, não tenho nada a reclamar da Bahia.

domingo, 5 de outubro de 2008

UMA SOLUÇÃO ECOLOGICAMENTE RADICAL

Tive um pesadelo de inspiração Shyamalaniana esta tarde. Talvez o pão de berinjela do almoço não tenha caído bem.

Primeiro, cabe contextualizar: neste sonho, São Paulo era uma cidade de túneis. Havia uma quantidade enorme deles, a grande maioria dos quais passando sob rios e correntes subterrâneas de água limpa.

Coisas estranhas começaram a ocorrer. Lembro de pagar o túnel Ayrton Senna para ir trabalhar de madrugada num dia chuvoso – no sonho, eu trabalhava de madrugada. Ao entrar no túnel, gotas sinistras de água caíam sobre o carro. Diminuí a velocidade. As gotas ficaram maiores, mais freqüentes e levemente avermelhadas. Foi como se começasse a chover dentro do túnel, que passa sob o lago do Ibirapuera. Ao fazer a primeira curva dele, o horror: vários cadáveres enfileirados de cabeça para baixo pendiam do teto. Com o susto, tentei desviar acelerando, mas eles estavam por toda a parte. Suas mãos batiam no vidro da frente do carro, deixando rastros de sangue maiores ainda no pára-brisa. Alguns cadáveres acabavam tendo os pés desprendidos do teto do túnel e caíam na via. Eu passava por cima, aterrorizado. Cheguei no trabalho ofegante e com o carro amassado, com manchas de sangue terríveis e um dedo enroscado na placa da frente.

Tal fato sinistro passou a se repetir em todas as madrugadas chuvosas por todos os túneis de São Paulo que, reitero, era uma cidade de túneis. No trabalho, todos comentavam assustados, pois havia acontecido com outros (em Miami, espécie de matriz da empresa, as pessoas diziam que tal fato era desculpa para que não trabalhássemos). Quando começava a chover, o rádio fazia alertas: “evite os túneis, pois fenômenos os sobrenaturais estão ocorrendo. Pessoas desaparecem e, quando chove, seus corpos reaparecem nas vias dos túneis, vindos dos lençóis freáticos acima deles”, dizia Milton Jung, na CBN. Quando as nuvens se formavam, as ruas ficavam desertas.

Depois de uma série de acontecimentos dos quais tenho vagas lembranças – dentre os quais, repetir o encontro com os cadáveres no túnel, mas na companhia de uma Kombi velha cheia de moleques com paus em mãos batendo nos cadáveres -, a polícia passou a investigar os rios e lençóis freáticos da cidade. Eles estavam infestados de corpos. O mesmo ocorria no lago do Ibirapuera, o que explica os cadávares aparecem no túnel Ayrton Senna.

Descobriu-se depois que havia uma milícia ecológica radical que resolveu combater as invasões domiciliares em áreas de mananciais – ou seja, à beira dos rios, lagos e represas – matando os moradores e jogando seus cadáveres na própria água. Um policial me pediu encarecidamente que eu fosse atrás de milícias para combatê-las, no que respondi que estava saindo de férias para a Bahia (o que é verdade) e que não tinha condições psicológicas nenhumas de lidar com um problema deste tamanho.

Acordei com a imagem da Patrícia Pillar na TV. Já eram nove da noite. Diga não ao pão de berinjela.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

OVERDOSES PÓSTUMAS DE MACHADO DE ASSIS

Millôr Fernandes está cada dia mais babeta, porém ainda é um dos poucos gênios vivos da humanidade. Foi ele a primeira pessoa a ter uma interpretação absolutamente original de Dom Casmurro, o livro que todo mundo odeio aos 15 anos e passa a adorar quando completa 20.

A azeitona da empada da mais polêmica obra machadiana não é a suposta cornitude de Bentinho Santiago, diz Millôr. Na verdade isso poderia importar tão pouco - e sou eu que digo isso - que o autor não faz questão de confirmar ou desconfirmar os galhos premiados do protagonista, embora Millôr diga, na lata: Escobar deu um tapa na peruca da Capitu sim senhor.

Segundo ele, o grande lance do romance é que Bentinho é gay. E para provar tal teoria, o infelizmente colunista da Veja cita, de bazófia, vários trechos do livro que exemplificariam as peripécias libidinosas do menino Bento, seu amigo Escobar e, eventualmente, algum padre do colégio de ambos.

Por conta da sisudez do personagem, confesso que tenho dificuldade em pensar no Dom Casmurro como gay. Mas talvez eu esteja olhando a situação com os olhos do século 21, de quem vai ao cinema do Shopping Frei Caneca (Gay Boneca?).

Ou seja: o construção gay de Bento Santiago me faz imaginá-lo um quarentão de baby look (para ressaltar o pãozinho francês que se formou no lugar do bíceps por conta da academia), brincos na orelha e tatuagem na nuca. Óbvio que não são todos os gays que se encaixam neste perfil, mas este é um tipo facilmente visto por lá.

Desconfio que ser gay no Rio de Janeiro do século 18 deve ter sido um pouquinho diferente, mais ou menos como aquele vizinho do Kevin Spacey em Beleza Americana. A amargura pela não compreensão do amor proibido pela society carioca o faz se casar com a amiga de infância, represando as mágoas pelo resto de sua vida e achando o máximo quando Escobar, Capitu e o filho morrem (o século 21 me parece um pouco mais saudável...).

Escobar, portanto, seria uma espécie de Sergei da época: comeu o Bentinho, a Capitu, a cartomante, o Quincas Borba, Esaú, Jacó e todo o staff machadiano. Só não comeu a Janis Joplin porque esta não existia ainda.

Millôr Fernandes montou sua teoria por pura bazófia. Na verdade, o recado que ele quer dar é que Machado de Assis é um autor não tão grande quanto pensam, e que Dom Casmurro é um romance fraco, o que, modestamente, discordo - vale lembrar que a expressão "um tapa com ferradura de pelica" foi franca inspiradora da origem deste blogue (tanto quanto o próprio Millôr), dando origem à versão drogada e prostituida sob a foto acima.

O fato é que toquei no assunto para dizer que já encheu os pacovás esse povo a comemorar os cem anos de morte de Machado de Assis.

Primeiro, porque a expressão "Bruxo do Cosme Velho" está para a literatura assim como "futebol é uma caixinha de surpresas" está para o mundo esportivo.

Segundo, a overdose de informações recicladas das velhas apostilas de cursinho dos jornalistas é tão farta que estão fazendo do Machado quase uma Avril Lavigne. Deixem disso, pô.

Se continuarem neste toada, desconfio que, no próximo domingo, ao ligar na TV Gazeta para assistir ao Amigos do Forró, o ilustre Nerivan Silva vai apresentar o Belina Mamão a cantar uma versão forrozística de trechos Memórias Póstumas. "Amou-me por 15 meses, minha nega, e quinze contos de réééééééééééíssssss (tira o pé do chãããããããããão, galeráááááá)".

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- Eis malfadado artigo de Millôr sobre Dom Casmurro.

- Mais sobre a polêmica do Millôr.