terça-feira, 3 de junho de 2008

BLAIRO MAGGI, O BLAIRO NOBRE DA GALINHA AZUL


Lula e seu amigo governador do Desmato Grosso

O Brasil vive um momento único na história. Falam de um potencial econômico enorme e que aos poucos se deslancha, da quantidade exorbitante de pobres da classe D que migram como pombos para a C, de pobres da classe C que migram como gaivotas para a B (perceba como a qualidade das aves vai subindo. Ao chegar à classe A, os pobres viram faisão), etc. Até aquelas entidades místicas chamadas agências de avaliação de risco, que dão as cartas na economia mundial, passaram a dizer que, aqui em Buenos Aires, agora tem-se oportunidades interessantes para as grandes empresas estrangeiras fazerem uma fezinha no bicho. Mas o fenômeno ao mesmo tempo assustador e fascinante é que caminhamos para o mundo desenvolvido simultaneamente em que não temos indício algum de que muitos dos problemas crônicos, sinais tradicionais do nosso terceiromundismo, estejam sendo corrigidos: violência extrapolante, educação precária, polícia e justiça viciadas, o coronelismo e outros detalhes deselegantes.

Se Lula fosse um calouro do Raul Gil, e eu um jurado que sentasse ao lado de Decio Pitinini e Elk Maravilha para avaliá-lo, ele ganharia uma nota cinco e meio, talvez seis. É uma nota pífia, de fato, mas certamente seria a nota mais alta que um governo brasileiro teria recebido, o que é um sinal claro de que há 508 anos que o Brasil navega em águas merdejantes. Lula então pegaria o microfone e falaria - rapaz, como ele adora falar isso - que "nunca na hiftória deffe paíf houve um governo tão bom quanto efte". E ganharia beijos da Elk e aplausos do Décio Pitinini.

Mas desta vez não estou aqui pra falar bem do Lula. Vou me ater ao que ele fez de errado. Lula seguiu a cartilha de jogar o jogo típíco da política nacional: esqueça o passado, junte-se aos seus inimigos, deixe-os roubar e governe o que der pra governar. Até entenderia que um pouco disso é necessário em nome da governabilidade, mas Lula o PT seguiram isso até a alma. Com o apoio de latifundiários, coronéis e bandidos regionais, ele consegue permanecer no poder e, como não seria diferente, é obrigado a fazer tantas concessões que acaba por não mudar nada das questões mais desesperadoras. Logo, Lula não deixa também de ser mais do mesmo.

Vejam, por exemplo, sua nova amizade com o governador Blairo Maggi, o Blairo nobre da Galinha Azul. Nascido no Rio Grande do Sul do Norte - vulgo Paraná - Blairo Maggi foi um dos muitos sulistas que migraram com a família para plantar coisas no Centro-Oeste. Hoje há quem diga que ele é o maior agricultor de soja de mundo. É o exemplo clássico do self made man, expressão que abomino, uma vez que exemplifica um vencedor como se ele se destacasse em meio de milhões de perdedores. Hoje governa o estado do Desmato Grosso.

Pois bem, Blairo Maggi foi eleito pelo Greenpeace como o maior responsável pelo desmatamento da Amazônia Legal, fato confirmado pelo Ministério do Meio Ambiente nesta segunda-feira. Maggi fala abertamente em continuar desmatando em nome do avanço econômico do estado que governa (e do crescimento de seu próprio negócio, a soja), uma vez que "os matogrossenses têm o mesmo direito de qualquer brasileiro de querer uma vida melhor", como se a "vida melhor" fosse acabar com a floresta, ficar rico vendendo madeira, plantando soja e transformando o Mato Grosso em um estado cheio da grana e completamente poluído.

Fosse um sujeito realmente inteligente e bem intencionado, o governador do Mato Grosso assumiria a vocação que seu estado tem, ao norte, em ser uma reserva florestal. É o diferencial, e não o problema da região. Já temos mil outras regiões no mundo dominadas pelo agronegócio. Deixar um espaço para a Amazônia Legal por ali talvez fizesse dos matogrossenses pioneiros em preservação mundial e, enfim, diferenciados e respeitados pelo restante do país - sim, porque o Mato Grosso, em boa parte do Brasil, é sinônimo de latifúndio, desmatamento e pistolismo (acabei de cunhar esta palavra) de aluguel.

Quando a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, peitou Maggi, este ligou para seu grande amigo Lula, que tomou as dores dele, mais uma vez em nome da governabilidade e todo aquele papo furado de sempre. Marina caiu, Maggi segue forte na queda de braço, de mãos dadas com o presidente.

Sinto saudades do Lula de 89. Houvesse um investment grade moral, Lula teria sido rebaixado.

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