terça-feira, 25 de março de 2008

20 MILHÕES DE BABETAS EM AÇÃO (E UMA PERGUNTA FILOSÓFICA NO FINAL)

Qualquer coisa que eu vá dizer sobre o Big Brother vai cair na mesmice que você já conhece. Independente de assistir ou não, você já sabe que o programa é fútil, bobo e levemente retardado. Posto o intróito, contextualizemos, para chegar na pitada filosofal só no final, tal qual uma redação de colegial - rimou tudo, que péssimo.

Estava eu no meu plantão de domingo à noite pronto para sair, tomar uma cerveja e depois dormir. Mas antes havia um paredão em minha vida, que é um troço importante também no BBB, não só em regimes ditatoriais. No tal paredão, um dos participantes do programa é eliminado. Parece que o tal paredão era ainda mais importante, já que era o último. Pois bem, liguei na Globo, joguei os pés sobre a mesa e acendi um cigarro existencial - eu que não fumo só acendo cigarros existenciais.

Não sejamos hipócritas. Não vou dizer que o programa é ruim porque é fútil, não transmite cultura, os participantes são limítrofes ou coisas do tipo. Se fosse fútil, mas daquelas futilidades exorbitantes e escancaradas, ms que fosse divertido, eu assistiria numa boa.

Acontece que o lance é de uma chatice de missa em latim às seis da manhã. São todas as reclamaçõezinhas e futriquinhas que existem em uma república de faculdade ou em casa de família grande. A diferença é que é uma rapaziada bombada e/ou siliconada cantando u-uhu- ai ai ai ai ai ai. E tinha-se lá duas loiras cansativas e um rapaz com nome em diminutivo que, após duas ou três frases jogadas ao vento, concluí ser um pulha. Agora não lembro, mas se o nome dele não for Rafinha, certamente é Jaiminho, ou algo no diminutivo condizente com sua pulhice. Resumindo: é mais emocionante a vida num aquário, tipo o Nemo naquele consultório do dentista chato, do que o BBB.

Porém, o que me chocou foi ler no Terra que uma das loiras foi eliminada naquela noite num pleito de aproximadamente 42 milhões de votos - eu disse 42 milhões de votos - em 24 horas.

Contextualizemos mais uma vez. Segundo o Seade, a população do Estado de São Paulo tem mais de 41 milhões de habitantes. É como se você que é paulista, toda sua vizinhança, seu primo de Araçatuba e toda a vizinhança dele ligassem pro Doutor Roberto para tirar uma das loiras da casa. Se você tem complexo de inferioridade e prefere comparações internacionais, a Espanha tem pouco mais que isso de habitantes; a Argentina, pouco menos.

Sim, eu sei que se pode votar quantas vezes quiser, e que tem gente que passa o dia todo fazendo isso. Supomos então que o número de pessoas, os "usuários únicos", seja a metade disso. Mesmo assim temos 20 milhões de pessoas, ou toda uma Minas Gerais, participando ativamente da degola loirística.

Agora me dê licença que eu abri uma Therezópolis, o que me deixa profundamente emotivo e filosófico.

Fico de pé sobre a cadeira para escrever estas linhas, as quais digito furiosamente, como se gritasse: cadê a polícia que não faz nada? É pra isso que os dinossauros foram extintos, que aprendemos a tocar fogo, que Moisés organizou a primeira maratona aquática da História rumo ao Egito, que livramos a Europa dos bárbaros, que destronamos o czar, que salvamos os judeus? Para que 20 milhões de pessoas ficassem mandando SMS para degolar loiras? Foi pra chegar a isso que Karl Marx tirou o megafone do Engels e gritou pra rapaziada: "Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão"? Foi pra chegar a isso que Jean Paul Sartre, um sujeito que acreditava no ser humano, pegou um pandeiro na aula-magna da Sorbonne e batucou filosoficamente "O que que vou fazer com essa tal liberdade"?

Vou dormir triste e desolado com a experiência dessa vida. É por isso que eu bebo. Ou, como diria outro poeta que entendia a alma humana: "Aí eu me afogo num copo de cerveja".

quinta-feira, 20 de março de 2008

SOBRE A IMPOTÊNCIA, NÃO A SEXUAL

Até um cachorro sabe que a gente sofre quando a gente vê alguém que a gente estima, e não estou preocupado em substituir os três "gente" desta frase. Aliás, os cachorros sabem muito bem disso, e vale uma historieta que não tem nada a ver com o que eu vou dizer até o fim deste post.

Lembro de quando era pequeno e comecei a jogar bola na rua com os outros moleques. Eu tinha uns 9 anos, era o maior deles, e também o mais quieto. Quase não aparecia. Jogava razoavelmente mal, só chutava de bico e, para aproveitar alguma coisa do meu tamanho, ficava na zaga trombando em quem vinha. Assim eu era útil. Nunca fazia nada certo, mas me orgulhava de não comprometer o jogo.

Até que um dia marcamos um "contra".

Explico: "tirar um contra" era jogo de seleção. Significava que o time da nossa rua ia enfrentar alguém de verdade e não dar caneladas em nós mesmos. No caso, o "contra" era com o pessoal da rua de cima. Até as velhinhas que ficavam na calçada reclamando da dor nas costas paravam pra assistir. Uma semana inteira falando do tal "contra" do sábado, o primeiro da minha vida. E, no sábado, algumas horas antes da partida, treinávamos correndo como loucos atrás da bola.

Eis que eu faço merda. Numa disputa de lance, peguei embaixo demais da bola que, impetuosa, subiu demais e atravessou o muro, caindo na funilaria do Seu Oscar. Era sábado à tarde, o Seu Oscar não estava, como não estava mais a bola do jogo, que agora estava na funilaria do Seu Oscar. Era a única que tínhamos, era a bola do "contra".

Rapaz, foi a primeira vez que sete ou oito moleques me cercaram pra apontar o dedo na minha cara. Eu encostei na parede e gelei. "Seu fiodaputa, agora não vai ter 'contra' porque você não sabe chutar uma bola, o pessoal da rua de cima vai ralhar da gente por meses" foi o que de mais sutil eu ouvi. Criança, quando quer ser cruel, o é até o talo. Achei que pegaria mal ir embora, então segurei com dificuldade o choro e fiquei sentado de costas para o muro, ouvindo a molecada descontar toda a frustração em mim.

Um tempo depois - parecia umas seis horas, mas acho que não foi nem uma - pediram para eu ir embora, já que tinha estragado o jogo. Lembrei que subi a rua e entrei na casa da vizinha. Afinal, meninos durões como eu não apareciam em casa chorando (minha mãe era capaz de reclamar com as mães dos outros moleques, e aí adeus reputação). Abri o portão da vizinha, sentei no chão e chorei todo um rio Jundiaí-Mirim.

Porém, na casa da vizinha tinha uma pastora-alemã que eu adorava, a Poena. Ela me viu e soltou um grunhido, algo entre a solidariedade e a desaprovação, abanou o rabo e me deu uma lambida na cara com toda a sinceridade desse mundo. Rapaz, como eu precisava daquela lambida na cara. Foi preciso que um cachorro me esfregasse a língua nas bochechas para que me lembrasse, na primeira vez em que fui escurraçado em vida, que eu não era tão desprezível assim. Isso me marcou tanto que até hoje lembro o resultado do jogo: 10 a 4 pra gente. Sim, o "contra" ocorreu, os moleques da rua de cima trouxeram uma bola. Eu não vi, estava sendo lambido pela Poena.

Voltando ao que eu queria dizer, é claro que dói na gente quando vê chorando alguém que estima. Porém, mais doloroso que isso é quando não vemos, só ouvimos. Passei por isso duas vezes essa semana e, rapaz, como deu. Pelo telefone, sem a imagem da pessoa a desatar o choro por conta de dores tão injustas, tão estúpidas, parece que a dor é mais funda, sai da alma dela, atravessa os postes na rua ou os satélites da Telefônica, entra no ouvido e bate fundo também na alma da gente. Nessas horas de dor profunda é que todas as defesas que a gente aprendeu na vida caem por terra. Fica só o choro límpido, desnudo, ali entrando no seu ouvido, enquanto você torce pra que uma Poena surja do outro lado da linha pra lamber essas pessoas.

terça-feira, 11 de março de 2008

LER É CULTURA: AS LEITURAS QUE SORRYPERIFERIA RECOMENDA

Os principais lançamentos literários da temporada que você não vai ver na próxima FLIP:

PREPÚCIOS DE UMA SAUDADE: DE JUDÁ A ISRAEL, UMA HISTÓRIA DA CIRCUNCISÃO NO MUNDO HEBREU. De: Doutor Muir Dickmann: Sagrado ou profano? Místico ou anti-higiênico? A obra do sociólogo e urologista israelense Muir Dickmann opera um interessante estudo sobre um dos maiores tabus dos descendentes do Rei Davi: a extração da fimose. Após extenso trabalho de campo, onde entrevistou mais de 1300 prepúcios israelenses, o doutor Dickmann desfaz mitos, aprofunda relações conturbadas entre judeus famosos e suas fimoses e revela detalhes até agora desconhecidos da urologia ocidental. Destaque para o capítulo em que o sociólogo expõe evidências de que o Gigante Golias não tombou com uma pedrada na costeleta, e sim em uma cirurgia tardia e mal realizada de circuncisão. Editora Baba do Sharon, 350 páginas. Preço sugerido: varia de acordo com o seu plano de saúde.

CAETANO: POR DENTRO DESTA VACA PROFANA. De: Kail Iwanna: Instigado por meia dúzia de garrafas de cerveja, o jornalista cubano-cangaibense Kail Iwanna escreveu este manifesto gigante, onde declara que o compositor misógeno Caetano Veloso é mais genial que Chico Buarque, Beethoven, Sófocles e as Facas Ginsu juntos. Após uma semana de entrevistas com o ídolo e algumas sessões sexuais depois, o apaixonado jornalista Iwanna entrou em fase depressiva, que gerou o truncado capítulo 78C, em que declara: “Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida. Caetano falou que me ama, só que é da boca pra fora”. Editora Leãozinho, 7468 páginas de amor declarado. Preço sugerido: Meia dúzia de garrafas de cerveja em botecos da Bela Cintra.

VI, VIM E... ESQUECI: RONALD REAGAN, UMA MEMÓRIA. De: João Doria Jr. : Após cair no ostracismo junto com o Movimento Cansei, o modelo, manequim, ator, promoter e bom moço João Doria Júnior tenta uma nova manobra para voltar a ocupar as manchetes: escreveu as memórias esquecidas de seu ídolo Ronald Reagan. Como Doria e Reagan nunca se encontraram, o modelo, manequim, ator, promoter e bom moço apelou para um pai de santo – branco, de classe média alta e que realiza trabalhos no Jardim Europa, é claro – para entrar em contato com o ex-presidente dos States no Além. Apesar de ainda padecer do Alzheimer no post mortem, as conversas entre o republicano e o modelo geraram 180 páginas de riquíssimo material em branco. Destaques para os trechos em que Reagan esquece que foi ator de Hollywood e para a passagem em que o ex-presidente esquece que foi presidente norte-americano. Editora Fosfosol, 180 páginas. Preço sugerido: não lembro, mas tem desconto para quem tem a carteirinha da Farmácia Popular.

SorryPeriferia: humor negro mesmo é não fazer piada.

sexta-feira, 7 de março de 2008

INCIDENTE NO SANTA CECÍLIA



Alguns fins de semana atrás, ocorreu-me um fato de singeleza sem par nestas matas, compartilhado com alguns amigos à época: quase fui atropelado por um anão.

Descia eu a Avenida Angélica rumo ao mercado com uma sacola de feira sob as axilas quando, ao atravessar a rua Barra Funda, um Toyota Corolla verde se jogou pra cima de mim que, estupefacto, não tive tempo sequer daquele flashback tradicional, pelo qual toda sua vida passa em sua mente antes de morrer. Dois segundos e uma freada brusca depois, encontrei-me parado com o Corolla verde a 20 centímetros de meus joelhos. A sacola de feira suava. Dentro do carro, um anão sobre um banco especial, com toda uma família ao lado e atrás - e não lembro se a família era também anã. O sinal estava vermelho para ele que, distraído, seguiu em frente até o pára-choque beijar minhas rótulas.

Fino leitor, por gentileza, faça com que neste momento a construção da imagem em sua mente dê uma volta de 360 graus com a cena congelada, tal qual Matrix. De um lado, eu, 1.95 de altura, tão branco quanto um pudim de padaria. Do outro, o pequeno homem com o volante em mãos. Não se trata apenas de um quase atropelamento. São, na verdade, duas filosofias de vida antagônicas, duas visões de mundo opostas que, frente a frente, conheceram o outro sem entendê-lo. Havia ali, a um quarteirão do Teatro São Paulo, todo um choque de dimensões: o PP contra o GG.

Caro leitor, por favor, simule agora uma câmera em contre-plongée . No visor, eu. Eu, minha camisa branca e minha sacola de feira. Papetes, mas isso você não está vendo porque a câmera está em contre-plongeé. Quase dois metros de altura, cabeça achatada nos pólos tal qual a letra Ó na fonte Century Gothic (tamanho 14, procura lá no Word). Há ainda a papada maciça, os ombros que, na hipótese de adotar o espantalhismo como profissão, certamente serviria de ninho para uma meia dúzia de tico-ticos, e também a barriga de cerveja, há tanto tempo cultivada. É a personificação do excesso, do exorbitante, a ode ao hiperbólico, uma herança assustosa da Rússia Soviética stalinista.

Do outro lado (agora a câmera em plongeé), o pequeno e honesto homem, vítima da desatenção momentânea e, antes dali, de todo tipo de piadas, crendices e dificuldades que o cotidiano impõe à sua vida compacta.

Pois bem, caro leitor, perceba o cenário curioso que se formou naquela esquina. Havia ali uma chance em milhões, talvez só repetida anteriormente quando o pequeno Davi Cardoso enfrentou o gigante Ronald Goliás (peraí, confundi pornochanchada com trechos bíblicos. Recapitulando: quando Davi enfrentou Golias e o derrubou com uma pedrada na cabeça). E lá estava o nosso pequeno Davi de Lilliput em seu Toyota Corolla, com a pedra em forma de acelerador que poderia derrubar aquela pantagruélica figura na sua frente, justamente o tipo que mais o humilha, que o trata jocosamente, que cria factóides de baixa conduta moral - o oprimido sempre carrega dentro de si o opressor.

Se o minúsculo homem apertasse ali o acelerador, passasse por cima de mim, desse a ré, passasse de novo, engatasse a primeira para atropelar em definitivo, se tornaria instantaneamente o libertador dos diminutos, homologando assim a vitória do mundo moderno sobre o passado a ser esquecido. O futuro é compacto, reduzido, sensível. Estatelado na faixa da Barra Funda com a Angélica ficaria o velho, o demodé, este mundo vagaroso e descordenado dos gigantes. E então todas as pessoas pequenas poderiam desembestar rumo à vitória, tal qual a Yoná Magalhães na cena final de Deus e o Diabo na Terra do Sol, e sair sem medo de ouvir anedotas nas ruas, e adaptar o mundo às suas necessidades e esperanças.

No entanto, naquela troca nada erótica de olhares assustados entre o pequeno e o grande, quem se manifestou foi o último:

- Qualé que é, fera? Tá vermelho, pô.

Assustado, o pobre pequeno disse, com a voz que saiu embargada de sua garganta playmobil:

- Desculpa, seu moço!

Nossos olhares nada eróticos se descruzaram e terminei de atravessar a rua. Ainda assustado, acendi um cigarro existencial - eu que não fumo só acendo cigarros existenciais. Quantos anos mais teremos para conhecer o desempate desta peleja? Davi fez um a zero na Terra Santa, eu empatei numa esquina do Santa Cecília. O legado das piadas de baixo calão (com trocadilho) sobreviverá.

segunda-feira, 3 de março de 2008

UM POST REPLETO DE SIMPLIFICAÇÕES ÉTNICAS

Ao que parece, os mexicanos da Colômbia, os mexicanos do Equador e os mexicanos da Venezuela tão na maior treta. Tudo porque os colômbias entraram na plantação de bananas dos equadores e esfolaram a cara de um tiozinho lá que era mó temido pela rapaziada do society de Bogotá. Aí os xicanos colombianos acusaram o xicano-mor da Venezuela de liberar uma bufunfa marota pra galera que zoa os cara nas selvas da Colômbia, galera esta a qual pertencia o tiozinho que teve as botas batidas à força no Equador.

Posto o cenário, tenho algumas indagações de suma importância que levarei às autoridades competentes:

1) O mercado financeiro está preparado para um desaquecimento no comércio de bananas?

2) O Acre, sempre na hipótese de que exista, está preparado para abrigar provisoriamente o plantio, o feitio e a distribuição de drogas para o Mundo Desenvolvido?

3) Uma possível guerra regional pode enfim provar a existência de duas Guianas e uma Suriname ao norte deste continente?

4) Os mexicanos do Brasil finalmente poderão exercer a tão sonhada liderança regional financiando arcos, flechas e espelhinhos e know-how para os três exércitos vizinhos?

5) O povo do mundo desenvolvido finalmente vai saber qual a capital dos três Méxicos vizinhos e, talvez, do México do Brasil?

6) Em caso de guerrra, estariam os mexicanos do Brasil preparados para uma imigração em massa dos mexicanos desses três países, o que promoveria conjuntos de flauta doce em massa a cantar El Condor Pása nos metrôs de Buenos Aires, digo, São Paulo?

7) Qual a posição do cantor Luiz Miguel a respeito? Ele é mais equador, mais venezuela, mais colômbia ou, como um bom tucano, apenas diz que la distancia es el olvido, pero no concibe esta razón ?

Words, words, words, doubts, doubts, doubts. Já deixei meu LP do Trio Los Panchos de sobreaviso para o caso de guerra. Aguardo o desfecho deste imbróglio como si fosse esta noche la última vez.

Agora, acabar com as Farc é fácil. Quero ver invadirem Macondo.

domingo, 2 de março de 2008

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS SERÁ TELEVISIONADA*

Gostaria de constatar aqui a existência recente de uma nova modalidade jornalística: o jornalismo de zoológico, ou zoo-jornalismo.

Explico já dizendo de antemão que não se trata de uma crítica, e sim de mera e simples constatação. Todo portal de internet, jornal ou revista de informação tem hoje uma seção, uma coluna ou quiçá uma orelhinha de página para falar de bichinhos. O urso Knut, que foi rejeitado pela mãe e que por isso mora no zoológico de Berlim - se não é essa a história, ao menos chega perto disso -, é provavelmente um fenômeno de mídia tão grande quanto a Sasha (pela chatice), o Elian Gonzales (pelo dó coletivo) ou o joelho do Ronaldinho (pela insistência). Se colocamos a chamada indigesta sobre a criança que, para vingar os antepassados, se explodiu na Palestina, ao lado mostra-se a foto do Knut todo meigão comendo um brócoli. E tem-se aí supostamente um equilíbrio que não poucas vezes descamba para o mau gosto.

Pois bem, o Knut está para o zoo-jornalismo assim como os Beatles estão para o rock: não foi ele quem inventou a coisa, mas depois dele tudo ficou diferente. O Knut invadiu as páginas de internet e agora qualquer capivara se afogando no zoológico de Budapeste já rende uma notinha. Não precisa ser no zoológico, basta ser bichinho. Se tiver foto então, pronto, já temos a capa do Folha Ciência.

Mas o fenômeno interessantíssimo desta nova vertente jornalística é que ela abrange várias outras vertentes jornalísticas. Já digo que são pelo menos quatro: o jornalismo social ("os pandas estão no cativeiro porque o homem quase os extinguiu"), o jornalismo científico ("cientistas tentam a reprodução artifical de pandas em cativeiros"), o jornalismo popularesco ("pandas não conseguem transar") e o jornalismo de celebridades ("casal de pandas flagrado em momentos picantes no zoológico de Ibiza").

A aparição do Knut na mídia foi tão grande que até filme em Hollywood o ursinho sacripanta vai estrelar. Se ganhar o Oscar, os órgãos de imprensa vão ter correspondentes especiais em diversos zoológicos do mundo. Tudo pela informação.

* Colaborou: Caio de Almeida Quero, enviado do SorryPeriferia ao zoológico revolucionário de Havana.