Eu não tenho a menor dúvida de que Evita Perón, durante aqueles jantares nababescos da aristocracia argentina, enfiasse o dedo nos dentes para arrancar o pedacinho da alface. Porque Evita veio da merda, do subúrbio, da lona. Era uma rampeira fudida que passou a vida decorando os talheres certos para o peixe e para a carne, represando o comer de colher e de boca aberta que a condicionaram na infância.
Evita pode ter passado a vida tentando provar para si mesma que ela não foi a suburbana vulgar que a julgaram quando nova, que mesmo vivendo dúzias de vidas não conseguiria. Você sai do gueto mas a merda do gueto inexoravelmente não sai de você. Você sabe que ele está lá, que ele pode ficar calado, escondido, fingindo-se de morto, e você passa toda uma vida a represá-lo, colando milhões de paralelepípidos em torno dele. Mas basta uma pedra se descolar para tudo aquilo vir abaixo e o gueto se mostrar para você, firme e forte a dar um tapinha nas suas costas, como se dissesse: "O valor insuportável desta lembrança toda continua pendurado na tua conta, é você quem vai pagar".
Não conheço um só sujeito que não tenha sua própria criptonita moral guardada consigo, lembrança de menino do pai bêbado lembrando o quanto você era custoso para a família, os moleques mais velhos da rua dizendo o quanto você era um bosta, a professora a rir do quão burro você era, o seu primeiro amor de adolescência dizendo que daria bola para o mundo mas não daria bola para você, o bonitão da classe te chamando de lambisgóia de água parada na frente das tuas amigas.
No fundo, mas lá no fundo onde o seu inconsciente não deixa você entrar, grande parte das tuas atitudes são todas para provar para toda essa gente que, sim, eles estão errados. Mas basta um detalhe dar errado que é o suficiente para a represa vir abaixo, desnudando o maldito gueto que não saiu e nem quer sair de você.
É então que começa tudo de novo, você passa a querer provar novamente que você não é aquilo que um dia te fizeram e que denegriu o sentido de você existir. Eis o grande nó do sentido humano: você sai do gueto, mas ele não sai de você, e você continua alimentando a sina tal qual o Sísifo da mitologia, condenado a passar o resto de sua vida a empurrar a pedra até o topo da montanha, sabendo que de lá ela vai rolar abaixo tudo de novo.
O sujeito que criou o Mito de Sísifo entendeu a maior parte do legado da miséria individual humana.
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