quarta-feira, 3 de maio de 2006

BREVE RELATO DA INVIABILIDADE HUMANA


Pare e pense rápido: o que vem à mente quando você pensa na Bolívia? Cocaína e Macchu Picchu, é claro, mesmo levando-se em conta que Macchu Picchu fica no Peru. Mas é tudo a mesma coisa, no War são todos o mesmo país. Você também pode pensar na lhama, que nada mais é que um camelo mais peludo e que cospe na gente quando chegamos perto demais. Topograficamente, a Bolívia é um conglomerado de morros sem saída para o mar, tendo ao centro um lago com o deselegante nome de Titicaca, onde a Marinha Boliviana treina seus soldados. Sim, porque a Bolívia tem sua Marinha, e ela fica em um lago.

Pois bem, ninguém lembrava da existência desse país de índios miseráveis figurantes de filmes bangue-bangue dos anos 40, até que um dia um sujeito enfiou uma pá no chão, que abriu um buraco de onde começou a sair gás. Outras pessoas fizeram outros buracos, e mais gás surgiu, percebendo-se que, se fizerem um buraco muito fundo e nele jogarem um palito de fósforo aceso, o país vai pelos ares. Foi então que um cara gritou: "Rapaz, podemos ganhar dinheiro com isso", e imediatamente uma limousine com bandeira americana chegou no local celebrando as grandes relações entre a Bolívia e a civilização ocidental.

A partir daí, uma série de empresas de petróleo, gás e outros setores poluentes invadiram o país, compraram deputados, rasgaram a constituição boliviana e estabeleceram o que na minha terra convencionou-se chamar de Carnaval na Zona, onde (meninas, não leiam isso) o bobo é quem não goza com o pau dos outros (eu avisei).
Mas as pessoas amarelas que lá habitam um belo dia decidem enfiar no poder um amarelo como eles, que simplesmente diz: "Isso está errado, vamos mudar". Ele viu que a maior empresa no país, do vizinho Brasil, lá se estabeleceu sem cumprir as exigências da lei, e mandou os caras embora porque, afinal de contas, o gás está na Bolívia e ao povo boliviano pertence.
É então que começa um massacre na mídia do país vizinho com mania de grandeza (tanto o país quanto a imprensa dele), dizendo que é um absurdo mandar uma empresa que dá tanto lucro embora, e que é, vejam só, lamentável nacionalizar uma empresa por motivos ideológicos, como está fazendo esse índio bobo, feio, calhorda, apedeuta, estróina, sacripanta, esquerdista, preto e muçulmano chamado Evo Morales.
Portanto, idiota que lê isso, vamos passar a comer com as mãos, vamos copular com as cabritas, vamos colocar as criancinhas no forno para serví-las no jantar. Porque - como prega o editorial do Estadão - se é feio ter ideologia, uma das coisas que nos diferencia dos outros animais, o melhor a fazer é dar um control/alt/del na raça humana e todos passarmos a brincar de Kaspar Hausen celebrando a inviabilidade de nossa existência.

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