segunda-feira, 29 de maio de 2006

O PADEIRO É LOBO DO PADEIRO

Recentemente adquiri o estranho hábito de possuir um chica-bom após o almoço. Não um qualquer reles picolé, e sim um chica-bom, que, é verdade, não passa de um reles picolé. Mas qualquer Gelatto ou picolé prestígio não tem o glamour vira-latesco de um saboroso chica-bom de carrocinha.

Mas não era isso que eu queria dizer. Eu tentava contar que, após jantar na padaria perto de minha casa, parti rumo à geladeira do recinto farejando um chica-bom feito cachorro velho que procura pelo quintal o osso que enterrou na adolescência. Mas no meio do caminho havia uma vitrine, havia uma vitrine no meio do caminho, e nunca esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas e sedentas por um chica-bom.

A intenção de quem montou a disposição dos doces naquela vitrine era atrair gordinhas românticas, pois todos os doces tinham o formato de coraçõezinhos. Uns maiores, outros menores, alguns pontiagudos, e mais alguns tão feios que pareciam terem sido vitimados por doença de chagas horas antes.

Mas o que me chamou a atenção foi um tipo de sequilho em forma de coração coberto com chocolate e que não deu certo. Motivo: os dois gomos de cima do coração - seriam os ventrícolos ou os aurícolos? - estavam redondos e curtos, enquanto o gomo inferior da peça cardíaca e achocolatada era pontiaguda e roliça. Em palavras ordinárias, o safado do padeiro decorou sua vitrine com pipizinhos de chocolate que estavam ali ao léo, para que qualquer dona de casa mais religiosa tivesse uma síncope cardíaca ao observar tamanha obscenidade, ou, então, liberar-se de vez na vida, comprar um quilo dos pipizinhos de chocolate e ser feliz onde não fora até então.

Peguei o meu chica-bom e depositei um papelzinho na urna de reclamações, contra essa atentado à moral do bairro onde moro, pois não tolero esse tipo de transtorno confeiteiro na padaria onde faço compras.

Mas a título de serviço - meu amigo Felipe Mucosolvan Corizza já está com os olhos ariscamente piscando de curiosidade - eis a localização: os pipizinhos de chocolate podem ser adquiridos na padaria da Alameda Barros, quase esquina com a Angélica, ao lado do Futurama.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

DESOCUPADOS: O SORRYPERIFERIA FOI FEITO PARA VOCÊ

There´s no other way, there´s no other way, já dizia Margareth Thatcher nos anos 80, período em que completou 45 sem sexo. Diria também Forrest Gump que a vida é como uma caixa de bombons, você nunca sabe o que vai encontrar nela. Em verdade, de uma caixa de bombons se espera que saiam bombons, for God´s sake, o que me lembra aquela canção estapafúrdia que dizia "Marrom bombom, marrom bombom, nossa cor marrom", e que mandava a mina tirar a calça jeans e pôr o fio dental, e que a mina você é tão sensual.

Gostaria de pedir desculpas a você que não lê este blogue por não atualizá-lo com a freqüência devida. A você que o lê, que se foda, deixe se ser pervertido e vá ser útil para a sociedade copulando, tendo filhos e morrendo, porque a Previdência tá perigando e não é conveniente que você dure muito.

Enfim, todo este intróito foi pra dizer que a vida anda competitiva e que tenho que dividir minha atenção para com este blogue com os pepinos da minha liberdade condicional, a minha sífilis que nunca se cura e com o meu trabalho, cujo endereço é este: www.abril.com.br/copa2006. Lá tem um blogue sobre a Copa do Mundo no qual escrevo dia sim, dia não.

Portanto, escrevo aqui quando o couro não estiver comendo. Ou, como diria o meu pai e poeta Miserê da Conceição Vives: "são os ossos do orifício". Logo, atordoado permaneço atento, na arquibancada pra qualquer momento ver emergir o monstro da Lagoa.

Tchau, benzinho.

*SorryPeriferia tem o oferecimento de:

- Balas Mariabel. Tome pipoco do PCC desde que as balas sejam Mariabel.

- É uma guerra? É uma revolução? Tão atirando na puliça de novo? Não, é a megaliquidação do DIC!

- Macarrão Oriental Nagazaki: agora com o novo sabor Césio 137

- Nietzsche: há 150 anos negando a tara pela irmã

sexta-feira, 19 de maio de 2006

"DEVAGAR AS JANELAS OLHAM", OU "CAPÍTULO DAS PECULIARIDADES INTESTINAS"

Descoberto, enfim, em que Jundiaí conseguiu o seu trono

Ah, o romantismo das cidades do interior. Jundiaí transpira ares bucólicos, Jundiaí transpira nostalgia, Jundiaí... foi evacuada na última segunda-feira porque a gurizada do PCC explodiu umas bombas na praça da Igreja Matriz e fez a galera correr pra casa na maior vula, com a mão na cabeça pro chapéu não cair. Pomar, amor, cantar. Mas essa foi uma observação impertinente de um oposicionista sentimental que não nota as casas entre laranjeiras e as mulheres entre bananeiras ou, no caso, de parreiras, já que Jundiaí supostamente é a terra da uva.

Mas declaro que está de lado meu amargor e relato aqui as peculiaridades jundiaienses para você, ignóbil, que acha que Jundiaí é aquela coisa toda que se viu em Terra Nostra, com o Mateo e a Giuliana eternamente em prática copulativa sob complacentes pezinhos de uva.

Primeiro, na primeira entrada da cidade, o quartel sauda os que chegam com uma estrepitante mensagem no muro que dá para a Anhangüera: ABRAÇADO AO CANHÃO MORRE O ARTILHEIRO. O curioso é que a gente sempre lembra disso no carnaval, quando nos referíamos uns aos outros como "artilheiros", mas tal fato não vem ao caso agora.

Na entrada principal, na avenida de mesmo nome da cidade, outra placa, dessa vez de autoria da prefeitura: Bem-vindo à Jundiaí, Terra da Uva: Circuito das Frutas. Enfim, de uma singeleza homo-erótica ímpar, da qual não compactuo nem faço parte, mas respeito, porque o mundo moderno é isso aí e o São Paulo Futebol Clube é campeão do mundo, coisa e tal.

Agora, o que nem os jundiaienses sabiam é que Jundiaí não só é a Terra da Uva e do Trabalho (como está escrito nos ônibus urbanos), mas também a terra dos assentos sanitários. Sim, vasos. Privada, meu. Porque juntei os pauzinhos e constatei hoje que a grande maioria das fábricas de privada ficam em Jundiaí. Tive esse estalo como se uma jaca caísse na cabeça de Newton, e perguntei ao meu pai sobre a sui generis quantidade de fábricas de tronos, da qual obtive a seguinte resposta:

- É... Jundiaí tem fábrica de privada pra caralho...

A título de informação - sempre quis usar essa expressão pedante -, a Astra, a Deca e a Ideal Standard - ou seja, três das quatro principais marcas de vasos, bidês e outros artigos glúteos - têm sede em Jundiaí. A quarta marca, a Celite - que recentemente foi comprada pela Roca, conglomerado espanhol gigante do ramo de privadas - não tem sede, mas sim um importante estoque na cidade onde nasceram Marcelo Augusto, Cida Marques e o primeiro eliminado da história do Big Brother Brasil.

Como se pode ver, Jundiaí é a meca das privadas. Não fale mal da cidade que mais trata seus glúteos com carinho. Aliás, tá aí um slogan pra botar na entrada da cidade. Fica aí a sugestão.

Eta vida besta, meu Deus.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

CLÁUDIO LEMBO É QUASE UM SARGENTO LASSAR

- O PCC matando por aí, o Alckmin longe das câmeras e o Jamanta cuidando daquela floricultura...
Antoine Petit Garçon tomou uma sorvetada na testa na convenção do PMDB e nem por isso entrou em greve de fome novamente, abrindo discussão sobre o que é in e o que é out na sociedade neste momento. Greve de fome é coisa do passado, a moda agora é invadir o centro tocando o terror, espancando umas criancinhas, estuprando umas velhinhas e, de quebra (literalmente), estourar umas vidraças de banco porque ninguém é de ferro.

Divertido mesmo é ver um sujeito chamado Godofredo Bittencourt, diretor do DEIC, tão sábio quanto o nome dele é bonito, a declarar para a humanidade que a PM tinha 130 mil pessoas nas ruas do estado para combater o crime e que, portanto, a situação estava sob controle. Ele se esqueceu que, naquele exato instante, parte destes 130 mil estava ocupada morrendo nas ruas de São Paulo, além, é claro, de tomar uma piaba da galera que desceu o morro imitando Conan, o Bárbaro.
Não houve meio especialista em crises deste tipo que não viesse a TV dizer que as gangues que organizaram o rastapé nas ruas de todo o estado o faria por três, quatro dias no máximo, para depois recuar, uma vez que não são organizados o bastante para manter posição de guerra contra a puliça. No entanto, o comando da puliça entrou em acordo com a nata da malandragem para que eles parassem com a confusão e, se já não bastasse o tamanho da estapafurdice, ainda negaram tal fato e comemoraram a "vitória", a suposta tomada de controle por parte das otoridades puliçais.

Impagável também foi a cara do governador Cláudio Lembo, o dirigente político que mais se parece com um flamingo no mundo, sem saber o que fazer. Mas a imprensa subitamente se esqueceu do Doutor Geraldo Alckmin, governador até outro dia aí, que esteve no poder tempo suficiente para se produzir o tal "choque de competência" que os marqueteiros dele tanto gostam de pregar na questão dos presídios públicos.
Lembro que em 1998 fui ao cinema assistir Impacto Profundo, mais um desses filmões de tragédia ruins que Hollywood faz pra meter medo nos americanos. No fim do filme, quando o meteoro ia colidir contra a Terra, um jornal do filme deu a manchete "Em pânico, gangues tomam as cidades do Brasil". Fiquei puto na hora, onde já se viu gangues tomarem as cidades, quem os americanos pensam que somos, e esas patriotadas que a gente tem de vez em quando. Mas não é que os boçais dos Esteites de vez em quando dão uma dentro? Agora, quem dá fora mesmo é o Cláudio Lembo, candidato ao prêmio Sargento Lassar de competência policial, e o aspirante a presidente Geraldo Alckmin, candidato ao prêmio Geraldo Alckmin de falácia mercadológica da década.

Felizes eram os tempos em que celular era coisa de afrescalhado, não de presidiário.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

O FATOR RETROSSEXUAL DE ANTHONY LITTLE BOY




Greve de fome. Oferecimento: água Minalba
Respeito a decisão do garotinho Anthony de se recusar a comer até que a Boa Forma o convide para ser a capa da edição de junho. O movimento populista-dietético liderado por ele pode vir a calhar numa capa com a foto do queridão em questão a comemorar a calça jeans larga fazendo um joinha pra câmera, com a manchete: "Dez receitas garotinhas para ficar em forma na época da eleição".

Fosse um bom cristão, Anthony Little Boy deixaria de balela e compraria Diet Shake para atingir seus objetivos, uma vez que época de jejum é na Semana Santa. Mas o que me incomoda mesmo é o fenômeno da arrastação das bolas garotinhas por parte de seus assessores, que quase choram diariamente para que ele enfie alguma coisa na boca - não pensem besteira, seus impuros, ele é evangélico. Se continuar mimado desse jeito, ele vai ficar tão chato quanto um outro garotinho, o Elián Gonzalez, aquele cubano que apareceu mais na TV Mundial que a Sasha na Contigo.
Agora, o que não entendi foi a relação entre não comer e não fazer a barba, como se o jejum englobasse também a falta de higiene. Em todas as aparições públicas, o ex-governador, ex-secretário de segurança, ex-radialista e ex-gordo surge em estilo retrossexual, com a barba mal feita, pose melancólica e de colarinho aberto. Seu mau hálito é tão intenso e hostil que faz a tela da minha TV transpirar.
Talvez a pose de Chuck Norris e Bruce Willis dê a ele o apelo sexual que Collor teve nas eleições de 89, quando muita mulher cabeça-de-vento votou nele porque era o mais bonitão. Faz todo sentido. Garotinho precisa de vocês, não o deixem só.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

BREVE RELATO DA INVIABILIDADE HUMANA


Pare e pense rápido: o que vem à mente quando você pensa na Bolívia? Cocaína e Macchu Picchu, é claro, mesmo levando-se em conta que Macchu Picchu fica no Peru. Mas é tudo a mesma coisa, no War são todos o mesmo país. Você também pode pensar na lhama, que nada mais é que um camelo mais peludo e que cospe na gente quando chegamos perto demais. Topograficamente, a Bolívia é um conglomerado de morros sem saída para o mar, tendo ao centro um lago com o deselegante nome de Titicaca, onde a Marinha Boliviana treina seus soldados. Sim, porque a Bolívia tem sua Marinha, e ela fica em um lago.

Pois bem, ninguém lembrava da existência desse país de índios miseráveis figurantes de filmes bangue-bangue dos anos 40, até que um dia um sujeito enfiou uma pá no chão, que abriu um buraco de onde começou a sair gás. Outras pessoas fizeram outros buracos, e mais gás surgiu, percebendo-se que, se fizerem um buraco muito fundo e nele jogarem um palito de fósforo aceso, o país vai pelos ares. Foi então que um cara gritou: "Rapaz, podemos ganhar dinheiro com isso", e imediatamente uma limousine com bandeira americana chegou no local celebrando as grandes relações entre a Bolívia e a civilização ocidental.

A partir daí, uma série de empresas de petróleo, gás e outros setores poluentes invadiram o país, compraram deputados, rasgaram a constituição boliviana e estabeleceram o que na minha terra convencionou-se chamar de Carnaval na Zona, onde (meninas, não leiam isso) o bobo é quem não goza com o pau dos outros (eu avisei).
Mas as pessoas amarelas que lá habitam um belo dia decidem enfiar no poder um amarelo como eles, que simplesmente diz: "Isso está errado, vamos mudar". Ele viu que a maior empresa no país, do vizinho Brasil, lá se estabeleceu sem cumprir as exigências da lei, e mandou os caras embora porque, afinal de contas, o gás está na Bolívia e ao povo boliviano pertence.
É então que começa um massacre na mídia do país vizinho com mania de grandeza (tanto o país quanto a imprensa dele), dizendo que é um absurdo mandar uma empresa que dá tanto lucro embora, e que é, vejam só, lamentável nacionalizar uma empresa por motivos ideológicos, como está fazendo esse índio bobo, feio, calhorda, apedeuta, estróina, sacripanta, esquerdista, preto e muçulmano chamado Evo Morales.
Portanto, idiota que lê isso, vamos passar a comer com as mãos, vamos copular com as cabritas, vamos colocar as criancinhas no forno para serví-las no jantar. Porque - como prega o editorial do Estadão - se é feio ter ideologia, uma das coisas que nos diferencia dos outros animais, o melhor a fazer é dar um control/alt/del na raça humana e todos passarmos a brincar de Kaspar Hausen celebrando a inviabilidade de nossa existência.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

O SILÊNCIO DOS MARCHAS LENTAS

Tenho apreço pelas pessoas que falam pouco. As pessoas que falam demais acabam falando demais também delas mesmas, o que faz com que em duas ou três conversas você descubra quase tudo da vida delas, salvo um fato desses bem cabeludos que a pessoa em questão tenha cometido em um passado remoto. Vai-se o charme rapidinho. Tenho uma tia-avó que conta para qualquer um que ela foi operada das joanetes aos cinco anos de idade. Ou seja, há 81 anos, tempo suficiente para a história ficar enjoativa até para os pés dela, maiores vítimas da situação. Ela é solteira, e talvez a eloqüência verborrágica dela explique muita coisa sobre esse fato.


Quando pequeno, defronte à minha casa morava um casal cinqüentão com uma filha trintona. Eles eram absolutamente silenciosos e tinham um gato siamês homossexual, que vira e mexe era flagrado fazendo amor com o gato do outro vizinho, sempre no papel da donzela da relação. Pudera, o nome do bichano era Fluf, e com um nome dessas não se espera nada além da perobagem exacerbada. Mas não era do gato maricas que eu queria falar.


Pois bem, os três simplesmente não emitiam sons. Fui ouvir a voz de um deles somente quando um amigo meu resolveu dar cabo de velhas Havaianas arremessando-as no telhado da casa dessa família. No dia seguinte, a dona da casa veio ter conosco pra dizer que um par de Havaianas amarelas quebrara algumas telhas no dia anterior. E então soubemos que não se tratava de uma família de mudos.


Além de pouco afeito às cordas vocais, o pai deles era eletricista e tinha um jeitão meio paradão, de quem chega em casa e senta ao pé do portão pra fumar um cigarro e ver a vizinhança chegar do trabalho. A profissão e o peculiar costume quotidiano fizeram meu pai apelidá-lo de "Marcha Lenta", num arroubo de humor negro que o Papai Vives tem a cada ano bissexto.


Mas ninguém é calado impunemente. Parece que todo mundo nasce com sua própria cota de sons a ser emitida em vida, e disso nem a família Marcha Lenta teve como escapar. Eles tinham um Corcel I vermelho cereja na garagem, daqueles bem antigos e barulhentos. O Sr. Marcha Lenta saia para o trabalho pontualmente às seis da manhã, e esquentava o Corcel todos os dias por dez enlouquecedores minutos. Eu e os amigos da rua apelidamos o carro de "O Mausoléu do Marcha Lenta".


Fosse só o Mausoléu o problema e estaríamos bem, mas o Sr. Marcha Lenta tinha um irmão pinguço que eventualmente dormia na casa dele. Não um pinguço com glamour como eu e os meus amigos atuais, que vamos ao Ibotirama xingar o Lúcio Ribeiro, mas desses pudins de cachaça que não podem fumar para não correr o risco de entrar em combustão. Sempre chegava em casa emitindo sons que, suponho, eram de músicas sertanejas. Essa cara também nos foi apelidado como "Santa Bebedeira". Certa manhã ensolarada de sábado, jogávamos bola quando o Santa Bebedeira subiu a rua vindo do Bar do Flor com uma marmita em mãos, com passos de tartaruga e chamando Jesus de Genésio. Não deu outra: ele estava tão bêbado que enfiou a marmita no poste, sujando a calçada de arroz e feijão, para nosso deleite. É por isso que nos odiava. Mas um belo dia, enquanto jogávamos Super Trunfo na calçada, ele veio fazer as pazes dizendo que qualquer dia nos convidaria para assistir uns filmes de bangue-banque na casa dele.


Acho que uns bons 15 anos separam esses fatos da tarde de hoje, quando abri a janela e dei de cara com com a casa dos Marcha Lenta. Eles se mudaram faz tempo, ninguém sabe pra onde. O Santa Bebedeira morreu de cirrose há uns 10 anos. Na sacada, reformada, um escandaloso chiwawa fêmea insistia em se fazer presente para a vizinhança, enquanto uma voz de dentro berrava: "Carina, calada!". Interessante a dissonância que o tempo provocou naquele espaço. Acho que a lembrança da sutileza dos Marcha Lenta, sobreposto aos latidos ardidos da chiwawa, me fizeram gostar um pouquinho mais das pessoas silenciosas.