Nova Iorque. Busão Pines-Aclimation, sentido Aclimation, oito horas da noite. Na subida letárgica da Theodore Sampay, um homem grande e descabelado encontrava-se sentado solitariamente no fundo do veículo. É quando uma moça pequena mas também descabelada e com cara de maluca ultrapassa a roleta e vai sorrindo em direção ao homem grande, que está com o disk-man tocando As the world falls down, de David Bowie.
O homem grande percebe, olha e não reconhece a figura exótica que se aproxima. Acha que não é com ele. Mas ela vem com tudo, tasca-lhe um beijo na bochecha e diz:
- Carlão, tudo bem?
O homem grande não move seu rosto, mas acompanha com os olhos a mulher maluca e descabelada sentar no banco ao lado do seu:
- (silêncio)
A familiaridade com a qual a dita cuja lhe trata o incomoda. É quando finalmente ela parece notar algo diferente com o "Carlão":
- Peraí... você é o Carlão?
- É a primeira vez que me chamam de Carlão, senhora... - respondeu o homem grande, ainda sem se mexer, acompanhando a mulher só com os olhos.
Se o coroinha da Catedral da Sé ficasse pelado durante uma missa lotada e gritasse "I need an exorcist!", o padre não ficaria tão constrangido quanto o homem grande e a mulher maluca ficaram naquele momento. Até o metrô mais próximo, a mulher maluca permaneceu sentada ao lado do homem grande, rindo e completamente desgostosa.
Revoltado, o homem grande continuou sem se mexer.
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