
Riviera Francesa, primavera de 2024. O famoso free-lancer F. Vives lê seu jornal enquanto mordisca um croissant na calçada do Café L' Spoir, em Nice. Após tomar nota sobre as notícias do mundo, Vives se levanta tentando esboçar em pensamentos a coluna que escreverá ao entardecer, e que será publicada em 12 jornais ao redor do mundo no dia seguinte. Mas nada lhe ocorre em mente. Veste seu sobretudo bege e ganha as ruas em direção ao Hotel Negresco, onde vive. E o que parecia ser mais um dia típico em sua rotina aconchegante torna-se uma enorme interrogação ao ouvir vozes do outro lado da rua:
- Vives!!!!!!! Vives!!!!!!!!!!! É você????
Ao notar que toda a rua olhava para o sujeito que gritava, e percebendo que toda ela inclinaria o pescoço para o outro lado a fim de saber quem é o tal Vives, o free-lancer aperta o passo e tenta passar desapercebido. Mas nada que resolvesse o caso.
- Vives, Vives, É você!!! Que mundo véio sem porteira!!!!
Ao ouvir tão rude expressão, Vives parou e ergueu as sobrancelhas. Qual não foi a surpresa ao notar que o dito cujo que gritava vestia uma roupa obtusa, uma camisa branca sob jaleco verde, chapeuzinho de Robin Wood, saiote britânico cinza e vermelho, deselegantes meias brancas até os joelhos e um par de tamancos de madeira nos pés. Era L. Beguoci, um antigo conhecido dos tempos de Brasil.
- Cara, o que você tá fazendo aqui? - perguntou a exótica figura.
- Eu é que pergunto: o que você está fazendo na Riviera? - retrucou Vives.
- Ah, agora eu pertenço a um grupo católico que prega que Jesus está voltando. Lembra do Cornelius Horan, o cara que se meteu em frente ao brasileiro na Maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas? Então, meu guru. Juntos fundamos a PJC: a Pastoral Jesus is Coming.
- Peraí, quer dizer que você agora invade maratonas? - perguntou Vives, lançando um olhar atônito.
- Não necessariamente. Invado qualquer evento pra mostrar o cartaz Jesus is coming. Look busy. Tâ aqui de olho na Volta da França.
- E aquela sua namoradinha, que fim levou? Como era mesmo o nome dela? Bromélia, Azálea...
- Hilda. Casamos e tivemos mais quatro filhos. Lembra do Lucas? Então, se formou ano passado em Relações Públicas pela Cásper. A gente se dá bem, mas ele me reprime por minhas atividades. E depois dele vieram a Natércia, o Vantuir, o Jordão e o Eric Estrada.
- ERIC ESTRADA?
- É sim - respondeu a ovelha - Não te contei: assim que terminei a faculdade, virei fã da série Chips e montei um fã-clube. Cornelius também era fã da série e nos conhecemos pelo Orkut. Aí ficamos amigos e juntos fundamos a PJC. Mas os outros nomes foi minha esposa quem escolheu.
Nitidamente envergonhado, F. Vives resolveu cortar a conversa, pois todos apontavam na rua para os trajes vergonhosos da ovelha transviada e o cartaz que ela carregava, com os dizeres: Jesus is coming. Look busy.
- Bem, assim como Jesus, ando um pouco atarefado ultimamente. Prazer revê-lo.
Ambos apertaram as mãos e Vives voltou-se para o caminho do Hotel Negresco. Pelo menos naquela tarde o free-lance já teria assunto para sua coluna.
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