terça-feira, 5 de outubro de 2004

TE CUIDA, MATUSALÉM

É impossível deixar de ler Maldição e Glória, de Carlos Maranhão, a biografia de Marcos Rey. Comecei ontem e já alcancei as última páginas. Não costumo ler rápido. Diminuí o ritmo e releio trechos, porque não quero que acabe. 

Mas esqueçamos o biografado e sua vida cinematográfica (que eu desconhecia por completo). Esqueçamos o biógrafo e o ritmo de texto contagiante. Esqueçamos a história incrível que o livro conta sobre o personagem e que ele escondeu de todo mundo enquanto esteve vivo. Eu quero me concentrar em um só detalhe. 

Em Maldição e Glória você fica sabendo que a hanseníase era um doença assustadora ainda nos anos 40 (pensava eu que em 1900 ela já era uma doença menor). Você também fica sabendo que havia seis campos de concentração (chamados de asilos-colônia) para leprosos no estado de São Paulo até o final dos anos 40. Em todo o Brasil, eram 16 mil internos que foram tirados de suas famílias debaixo de porrada e levados para lá, sem a menor perspectiva de saída. Você acaba conhecendo também uma mulher chamada Conceição da Costa Neves, uma das primeiras mulheres parlamentares brasileiras e ativista da Cruz Vermelha, que encampou a luta contra os asilos-colônia. Em maio de 1945, Conceição obteve autorização para visitá-los junto de uma comitiva composta por assessores, jornalistas e que tais. O autor conta em detalhes diálogos, quebra-paus entre ela e as autoridades responsáveis pelas internações e depoimentos impressionantes de doentes. Você fica com a pulga atrás da orelha e se pergunta como o autor chegou a detalhes tão fortes e exatos de diálogos e depoimentos. 

Um asterisco esclarece. Tudo está documentado na Assembléia Legislativa de São Paulo. Na comitiva que acompanhou Conceição aos campos, havia um taquígrafo. O nome dele é Erasmo de Freitas Nuzzi

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