terça-feira, 31 de agosto de 2004

UMA IDÉIA DE ELEGÂNCIA

CartaCapital, 1º de setembro de 2004. Seção de Cartas. 

Caubóis da liberdade de imprensa 

Já era sabido que CartaCapital é órgão comunista e apóia o que há de comunista no partido que hoje governa. Não deixa de ser, contudo, chocante ver um órgão da imprensa apoiar o ditatorial projeto de cendura à imprensa, ostentando em manchete a contrariedade dos "mandachuvas". Ora, o Sr. Mino Carta é um desses mandachuvas. Graças a ele e a outros como ele estão no Planalto o Lula, o José Dirceu e companhia. Será que o Sr. Mino Carta espera que os seus amigos nunca sairão de lá? Sem dúvida, eles acalentam esse sonho. Porém, é possível que tenhamos algum governo de direita em breve - graças, inclusive, à incompetência do PT -, e então o que dirá o Sr. Mino Carta sobre a censura à imprensa? 

Milena Cardoso Costa 
por e-mail 

RESPOSTA DE MINO CARTA 
Não sei qual é o regime alimentar do presidente Lula e cia. Quanto a mim, apraz informar, dona Milena, que devoro criancinhas, semana adentro, no almoço e no jantar

sexta-feira, 27 de agosto de 2004

MODÉSTIA À PARTE, EU SOU UM BOSTA

Em um certo núcleo de publicações infantis e adolescentes da editora da árvore verde, onde ficam a Capricho e a Playboy, há um sub-núcleo esquecido onde se encontra uma revista obscura para crianças chamada Intervalo (seria Recreio? Algo assim. Vai saber). Esta revista carrega consigo um paradoxo jornalístico: fazer uma revista para indivíduos que não sabem ler, e que não são cegos. Afinal, graças ao governo Covas, crianças que vão mal na escola não podem repetir de ano, o que está formando uma geração paulista de burros, toupeiras e escritores de auto-ajuda. A revista acaba indo cada vez pior, já que criança alguma consegue mais ler. 
Pois tenho uma idéia única, genial e modesta, inspirada no que Morgan Spulock estudou e dedou sobre o McDonalds naquele filminho engraçado: seduzimos as crianças, não no sentido patírico da coisa, é claro. Trata-se de uma seção sobre sexo e que tais na Recreio. Assim, os pimpolhos vão aprendendo a gostar da coisa e, futuramente, sem perceber, estarão comprando Playboy, Vip, a PHT e qualquer coisa que tenha um par de nádegas bem fornido na capa. Como primeira pauta, sugeri para a estagiária da revista que contasse a história da macarronada à la putanesca, surgida num bordel da Itália. Depois passasse para as melhores brincadeiras de médico, com depoimentos e um guiazinho prático para brincar sem restrições. As melhores cantadas para testar em sua professora de história, aquela balzaquiana gostosona. E - por que não? - patrocinar um campeonato de strip-super trunfo. Enfim, sacanagem com glamour. Mas a estagiária, sem visão mercadológica da coisa e preocupada com a formação humanística de seu próprio rebento, rechaçou a idéia. 
Minha cara, saiba que formação humanística é coisa de viado. Você não entende o que é esse mundo, não sabe se vender, não se preocupa com nádegas e pensa que criança gosta de salamandras e guloseimas. 
Mandasse eu aqui e te mandaria pro almoxarifado. Como diria aquele outro: "Caia sobre mim, ó mais valia!". 

terça-feira, 24 de agosto de 2004

VAGANDO E RUMINANDO POR ESTE VALE DE LÁGRIMAS

Em 1998, quando meu objetivo de vida era ganhar pêlo no buço pra deixar o cavanhaque, vi entrar pela porta da sala um Pentium 233 branco nos braços do meu irmão e de um amigo dele. Uma sobrancelha levantou-se involuntariamente, entre o espanto e a curiosidade: 

- É de comer? 

Seis anos separam o fato concreto da lembrança que meia dúzia de neurônios ainda desocupados insistem em guardar. Porra, seis anos é muito, não parece e eu lembro de tudo. Deixei de lado o jogo Escócia X Noruega pela Copa e ajudei meu irmão a plugar os fios. E, quando pronto, o "faça-se a luz" surgiu ao apertar o botão redondo do Start. Minha irmã me ensinou que existia algo chamado e-mail e outro chamado site, e que só um deles continha o arroba, que pra mim era algo usado pra medir peso de gado. Era engraçado. Só não era mais engraçado do que quando ela criou um e-mail pra mim num negócio azul e branco chamado "Correio Quente", que eu traduzi como "Mala quente" por pura pirraça. Eu gostava de ser o palhaço. Era bom ser o caçula, eu perguntava sobre bananas e me respondiam uma plantação inteira. Qualquer piada sem graça era devolvida com apertões de bochecha. 
Mas o legal era jogar. Eu que nunca havia tido um video game agora podia jogar o Fifa 94 por horas a fio, até virar craque e vencer uma Copa com a Costa do Marfim. Não demorou muito, isso aconteceu antes do meu buço encorpar e eu deixar o cavanhaque, sob encomenda de uma moça cujo rosto mal me lembro, mas cujo cheiro ainda resvala aqui dentro quando pego o carro e passo em frente à escola onde ela estudava. Tinha também um rali de vans sobre rodões em versão demo, que eu viciei mas não lembro nem do nome. 
Mais tarde descobri que internet era algo a explorar, e havia um tal de chat, que eu chamava de "xati", onde a gente só conhecia menina feia e ficava zuando com nicknames chamativos de momento. Por exemplo: quando o Brasil perdeu pra Noruega, entrava como Flo, nome do artilheiro norueguês. Tinha aquela novela Torre de Babel, e eu entrava como Jamanta e ficava repetindo "Jamanta explodiu o shops. Bum!". Ou então me denominava Johnny Percebe e ficava chamando as meninas de "Minha Edileuza" e "Berinjela da minha marmita". O palhaço perde a dignidade mas não perde a oportunidade de arrancar um sorriso besta aos tapas. Depois o Bandido da Luz Vermelha foi solto, deu uma coletiva ao vivo no Ratinho e virou meu nickname por um bom tempo, e, na escola, ficava imitando o dito cujo cantando pros microfones dos repórteres. 
Depois disso meu passatempo predileto passou a ser entrar nos chats de evangélicos como "Ateu" ou "Padre Quevedo" (antes da fama), o que me gerou várias gargalhadas, dado o desespero daquelas figuras coitadas que achavam que iam me converter na base do "Este corpo não te pertence". O ápice foi quando encontrei uma menina do meu estilo em uma dessas salas e fingimos fazer sexo virtual, esvaziando a sala na hora e deixando um evangélico tão nervoso que acabou me chamando de filhodaputa. 


Tô pensando onde quero chegar. Há uns dez dias, na última vez que estive em Jundiaí, bati o olho naquele Pentium 233 amarelado no mesmo canto da sala em que minha irmã me pegou pra ensinar a diferença entra um e-mail e um site, e senti um arrepio. Um vento imaginário me soprou no ouvido: "O tempo passou, idiota". Hoje, sem nada pra fazer nessa madrugada insone, entrei novamente num "xati" evangélico por pura descontração. Mas na hora de entrar, o mesmo vento imaginário soprou no ouvido: "O tempo passou, idiota". Não tenho a menor intenção de voltar no tempo. Saí pra ler meu e-mail. 
Eu gosto de Sílvio Rodriguez, cantado por Chico Buarque: "Soy feliz, soy un hombre feliz, y quiero que me perdones por este dia los muertos de mi felicidad." 

Tô falando de mim por puro ócio e egocentrismo, são quatro da manhã. Prometo voltar ao sarcasmo desenfreado o mais rápido possível.

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

OLÍMPICAS

- Como diz um editor meu: o Brasil na Olimpíada só tem medalha no nabo sincronizado. Você assiste basquete, e nabo. Muda pro hipismo, e nabo. Muda pro judô, e nabo. Tudo sincronizadinho entre os canais. 

- O iatista brasileiro Robert Scheidt perdeu hoje a liderança de sua classe para um um austríaco. Detalhe: a Áustria não tem mar. O sujeito deve treinar escorrendo dos Alpes. O próximo passo é perder na canoagem pra equipe boliviana. Nabo! 

- Nem tudo são trevas para o Brasil. Mantivemos nossas tradições: na natação, não levamos medalha e fizemos xixi na piscina. 

- O momento sensacional dos Jogos até agora foi a partida de pólo aquático entre Austrália e Egito, 30 a 6 pros primeiros. No final do jogo, o goleiro egípcio, de um metro e meio de altura e que, pelo placar, nunca teve muita intimidade com a coisa, quase morreu afogado. E pior: quando agonizava, tomou uma bolada na cabeça. Lance pra contar pros netos. 

- Depois da guerra, os iraquianos juntaram onze mancos de muletas, foram pra Atenas e ganharam de Portugal no futebol. Os portugueses já marcaram um amistoso contra um combinado de chimpanzés anciãos, mas temem pela experiência dos adversários. 

- A prova de arremesso de martelo feminino ocorreu em seu berço, Olímpia. Todas as partipantes são muito parecidas com Zorba, o Grego. Só que têm bigodes mais avantajados. Dizem que a russa que levou a medalha de ouro é presidente do Sindicato dos Estivadores Transformistas da Sibéria. Mas talvez seja só maldade. 

- Hipismo é a modalidade mais cretina dos Jogos. A medalha devia ir pros cavalos, e não para os idiotas que os montam. Ou então, uma mudança radical nas regras: os cavalos montam nos idiotas. O último idiota a relinchar leva o ouro. 

- As japas da China surpreenderam na natação, os japas do Japão surpreenderam na ginástica artística, os japas da Coréia, como sempre, estão tentando imitar pra um dia fazer igual. Como são todos japas, poderiam competir como um país só e esquecerem os preconceitos entre si. Porque eu odeio preconceito. 

- Continua a todo vapor a campanha "Jundiaí Olimpic Games 2014 - Poor, but little cleaned". Jayme Cintra vai tremer. Chupa Nuzman. 

segunda-feira, 16 de agosto de 2004

O PROCESSO LETÁRGICO

Poucos livros são tão marcantes na História da Literatura quanto O Processo, de Franz Kafka. Mas quase ninguém teve o privilégio de conhecer a obra O Processo Letárgico, de seu primo pobre e desconhecido chamado Franz Kafé. Sorry Periferia recuperou a obra da lixeira da História e publica um trecho dela em primeira mão: 

"Alguém devia ter contado mentiras a respeito de Fernando V., pois, não tendo feito nada de condenável, uma bela noite, sentado em um Franz Café de Jundiaí, teve todos os seus pedidos recusados. V. ainda esperou mais um pouco, observando de sua mesa a senhora idosa do outro lado do shopping que parecia olhá-lo com uma curiosidade fora do comum, mas logo, esquecendo-se dela, sentiu fome e tocou a campainha. Imediatamente ouviu uma batida à porta e em seguida entrou um atendente que nunca vira antes. 
- Tocou a campainha? 
- Sim, eu queria um chocolate quente - disse V., e pôs a analisar o camarada silenciosa e cuidadosamente, tentando descobrir que espécie de atendente ele poderia ser. O atendente não se submeteu à análise por muito tempo, mas dirigiu-se à porta da cozinha abrindo ligeiramente, como para prestar contas a alguém que evidentemente estava por trás dela: 
- Ele disse que quer chocolate quente. 
Como resposta ouviu-se na cozinha uma gargalhada que soou como se viesse de várias pessoas. Embora o atendente desconhecido não pudesse ter sabido com aquela risada coisa alguma que já não soubesse, disse a V., como se transmitisse uma informação: 
- É impossível. 
- Essa é boa! - exclamou V., saltando da cadeira e apressando-se em enfiar a jaqueta. - Quero ver quem está atrás da porta da cozinha e como o gerente explicará tudo isso. 
- Não seria melhor ficar aqui? 
- Não ficarei, e não permitirei que se dirija a mim até que o gerente se apresente. 
- Minha intenção foi boa - disse o estranho atendente, abrindo a porta por iniciativa própria. 
Na cozinha, na qual V. entrou mais devagar do que se pretendia, à primeira vista tudo pareceu igual a qualquer café existente na cidade. E em um canto estava um outro atendente, sentado em frente à janela aberta e lendo um livro, do qual ergueu os olhos assim que viu V. 
- Devia ter ficado em sua mesa! 
- Não. E acho melhor o senhor ir servir meu chocolate quente - disse V. 
- Não - disse o atendente perto da janela, atirando o livro sobre uma mesinha e erguendo-se. - Não podemos servi-lo. 
- É o que parece - revidou V. - Mas por quê? - acrescentou em seguida. 
- Não estamos autorizados a dizer-lhe. Vá para sua mesa e espere lá. Abriu-se um pedido de recusa contra o senhor, que será informado de tudo no devido tempo. Estou infringindo ordens que me foram dadas, falando-lhe assim gentilmente. Espero, porém, que ninguém esteja ouvindo a não ser Franz - o outro atendente - que por sua vez também se permitiu demasiadas cordialidades ao dirigir-se ao senhor. 
- Mas eu só pedi um chocolate quente! - bradou V. 
- Lamento - disse Franz -, mas temos ordens expressas de não lhe servir. Sente-se em sua mesa e espere a chegada dos superiores. Não sei porque o senhor não pode ser atendido. Mas compreendemos bem o fato das autoridades do Franz Café, às quais servimos, de terem nos ordenado lhe dar um chá de cadeira ao invés de um chocolate quente. Devem ter se informado cuidadosamente sobre os motivos do atendimento precário e a sua pessoa. Não pode haver nenhum erro sobre o caso." 

TO BE CONTINUED... 

CONSIDERAÇÕES ALEATÓRIAS* SOBRE O NADA

 - Ó mar sem igual, quanto do teu sal são piadas de Portugal

- Após assistir trechos da partida entre Alemanha e China, pelo futebol feminino das Olimpíadas, Sorry Periferia sugere trocar o nome da modalidade para "Futebol Semi-Masculino". 

- Como diria um grande orientador de TCC: "Olimpíada nada mais é que um grande Jogos Abertos do Interior". 

- Após ver as fotos da filha nua sem pêlo para a Playboy, a mãe de Mel Lisboa declarou: "Ela tem muito respeito pelo poder do cosmo e por isso tem seu mapa astral tatuado no dorso". Fernando Vives, notória figura astrologicamente subversiva, se propôs a tatuar um cérebro na cabeça da atriz. 

- Cheire cocaína. Trinta milhões de pessoas não podem estar erradas. 

- Uma famosa estagiária de uma revista para ninfomaníacas frustradas, de uma grande editora de Pinheiros, declarou à reportagem que um amigo seu utilizou folhas da Bíblia para bolar e fumar um baseado. A Bíblia, procurada pela reportagem, não quis comentar o assunto. 

- Vale frisar que a reportagem está ouriçada com as possibilidades lisérgicas de se tragar o Pentateuco. 

- Nabil Bonduki: caso não tenha reparado, esses seus retratos espalhados pelos postes da cidade mostram uma bereba enorme brotada no alto de sua testa. Segundo fontes infiltradas pelas farmácias de São Paulo, a procura por Acnase e Minâncora aumentou em 30% graças ao merchandising eleitoral. 

- Após olhar para um dos out-doors do candidato José Serra espalhados pela capital, a aposentada Tritolina Froboño, 75 anos, passou mal e deu entrada às pressas no HC paulistano, onde é mantida em coma induzido. Ao entrar no hospital, teria declarado: "Mordomos de filme terror deveriam permanecer em filmes de terror". 

- Após nunca ter batido o carro uma vez sequer, o editor de Sorry Periferia ralou de leve dois carros diferentes em um mesmo dia. Agora me dêem licença, pois vou tentar o suicídio e volto já. 

- Como diria o Feliz: "E Pirirí, e Pororó". 

*copy®ight FV. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2004

A SÉRIE: GRANDES DIÁLOGOS DE SEXTA-FEIRA

Troca de e-mails tarde adentro. Uma estagiária confusa de uma revista infantil questiona um estagiário não confuso de uma revista adulta. 

Estagiária Confusa: Vi a edição especial sobre Olimpíadas da sua revista. Você sabe o que há nela? 

Estagiário Pragmático: Olimpíadas. 

Estagiária Confusa: Grrrrrrrrrrrrr...mas todos os esportes? 

Estagiário Pragmático: Só os olímpicos. 

Cai o pano.

MATEM O CANTOR E CHAMEM O GARÇOM

Quinta-feira, 05 de agosto de 2004. Às dez horas e onze minutos da noite, coloco um chocooky na boca com uma das mãos, enquanto a outra dá o click que atualiza meu e-mail. É quando deparo com a seguinte mensagem: 

CASA DO SABER INFORMA: O FEMININO E O MASCULINO EM QUESTÃO 

Tema do curso 
Novas Configurações do Feminino e do Masculino 

Interessante que haja novas configurações para isso. Mas continuo preferindo as antigas, ou seja, o velho teste da enfermeira na maternidade: se tiver um pistolinha, é masculino. Se tiver faltando alguma coisa, é feminino. Se misturar os dois, aí deu xabu. 


Diante da atualidade das discussões sobre a identidade sexual, a visão da psicanálise sobre a formação do indivíduo e de sua sexualidade continua sendo um dos maiores pontos de referência para entender as diferenças entre o comportamento feminino e masculino. Sob esta ótica, abre-se uma discussão sobre as transformações na sexualidade e na identidade do homem e da mulher na sociedade atual. 

Em outras palavras, você vai pagar 140 reais pra descobrir de uma maneira cult se você é gay ou não. Felipe Corizza deixou rastros profundos na Casa do Saber. O que um banheiro espelhado não faz. Tudo seria mais feliz se a instituição em questão ministrasse cursos de biriba e distribuísse cachacinha em lata para os participantes. "E Deus viu que era bom", diriam as Escrituras.