Uma das coisas que mais me assustam é notar que aquele velhinho ranheta que distribui bengaladas nas crianças no parque um dia pode ter sido um doce de pessoa. As razões que transformam jovens tranquilos em idosos insuportavelmente chatos vão desde a questão hormonal e física - as coisas começam a funcionar mal conforme vamos envelhecendo e isso não é legal - até as desilusões que a vida nos presenteia: aos 20 você sonhava em mudar o mundo, plantar uma árvore e ter um filho; aos 60 você se dá conta que o mundo te mudou, você comprou um casaco de pele Taillissime pra sua mulher e constantemente surpreende a si mesmo perguntando ao espelho do motivo de não ter comprado um cachorro ao invés de ter 3 filhos.
Agora que estou prestes a completar 28 anos e as três décadas de idade já começam a me acenar ali da esquina, as primeiras desilusões começam a aparecer - e, acima de tudo, espero que não sejam muitas até o (distante) final da minha vida. Acho que minha primeira grande desilusão foi com esse nojoso e pusilânime costume a que a subnitrato de pó de repórter Glória Maria tanto vangloria: o jeitinho brasileiro.
Quero explicar para o simpático leitor que porventura tenha a honra de não conviver com o que estou falando: jeitinho brasileiro é quando você burlar leis ou regras para se dar bem, sorri marotamente para os outros e fica extremamente bem consigo mesmo por ter obtido êxito na empreitada, mesmo quando isso prejudique outra pessoa, ou um conjunto de pessoas, ou uma sociedade inteira. O jeitinho brasileiro é a pequena corrupção, é a vitória do "eu" sobre o "nós". Teve origem quando a única lei da terra de Veracruz era a Lei do Mais Forte. Tornou-se hoje a Leia do Mais Tosco.
O ambiente mais aconchegante para o brasileiro demonstrar sua incrível habilidade em ser um filhodaputa é o trânsito. E vou mais longe: a alma do brasileiro está no pisca-alerta. Você pode julgar o caráter de uma pessoa pela forma como ela utiliza o pisca-alerta do carro.
Assim sendo, aquela senhora não tem o menor pudor em ligar o pisca-alerta do seu Fiat Dobló e parar em fila dupla na frente da escola dos filhos, mesmo que isso cause um congestionamento de 15 quilômetros em toda região. Você passa ao lado dela, xinga, e ela ergue o vidro, liga o ar-condicionado e finge ouvir a Alpha FM enquanto os filhos não chegam. Não importa que os 10 minutos que ela passou ali, observando o pisca-alerta acender e apagar, acender e apagar, acender e apagar, piorou a vida de um bairro inteiro num fim de tarde. O que importa é que os filhos dela não precisaram dar mais que dez passos para sair da escola e entrar no carro. Ela sabe que a chance de um marronzinho passar ali naquele período é pequena e ela permanecerá impune e fará de novo. Esta senhora é uma corrupta monumental.
Perceba: o brasileiro típico crê piamente que o pisca-alerta lhe dá a autoridade de um tzar russo. Você liga o pisca-alerta e, tchanans!, pode fazer qualquer coisa, burlar todas as leis, rasgar o código de trânsito. Assim sendo, quando um engarrafamento ocorre na estrada, o que faz o brasileiro típico de qualquer classe social? Liga o pisca-alerta e, tchanans!, se transforma no Super-Brasileiro Típico, o que corresponde a cair para o acostamento e acelerar, às vezes rindo dos trouxas que estão obedecendo as leis parados ali na pista. Então quando o Super-Brasileiro Típico passa no acostamento do seu lado com o pisca-alerta acendendo e apagando, você grita "Que você morra com sucessivas cãimbras nas partes íntimas, seu filho de um tatu-anão com um fusca!", ele esboça um sorriso, debochado. Ele sabe que a chance de ser multado é ínfima e fará de novo, porque compensa. Este sujeito não pode falar mal de Paulo Maluf. Esse sujeito é Paulo Maluf. Esse sujeito é um corrupto monumental.
Sabe, fino leitor, essas pequenas grandes coisas cansam e só as vejo aumentar, nunca diminuir. Lembrei de uma coisa que dará o desfecho final deste post: a CartaCapital publicou no último carnaval uma ótima reportagem sobre os arquivos de Charles Darwin de quando ele passou aqui em Terra Brasilis. Entre outras pouco edificantes palavras, disse Darwin sobre os brasileiros: "Ignorantes, covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-humorados enquanto isso não lhes causar problemas; temperados, vingativos, mas não explosivos". Era 1831 e o biólogo inglês descrevia ali o jeitinho brasileiro. O homem era um gênio mesmo. E nós, desconsoladamente corruptos.
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Há 5 semanas