segunda-feira, 9 de março de 2009

NA CALADA DA NOITE, UMA CHULETA MAL SUCEDIDA

Nitidamente irritado por conta do gol que Ronaldo Picanha marcou contra o meu time aos 47 do segundo tempo, após o goleiro ter saído a caçar borboletas em uma bola aérea, saí do meu plantão em busca de vingança, o que, no meu caso, consiste em comer uma chuleta ao alho e tomar um porre em plena meia-noite. Eu realmente sou um cara moderno.

Estacionei Wantuir, meu carro, na frente da Esquina do Fuad, no Santa Cecília, que é pertinho de casa e é um dos meus bares prediletos, embora seja caro, sujo, exibe um festival de erros de português no cardápio e mantenha retratos na parede do dono com figuras espúrias da política brasileira: Maluf, Conte Lopes, etc.

Enquanto tomava um açude de cerveja para combater o calor e a mágoa que Ronaldo Picanha me causou, raspava pão no azeite a esperar que a chuleta ficasse pronta. Foi quando Pedro Bial e sua cara de intelectual que toma um porre de Smirnoff Ice enquanto lê O Monge e o Budista deu as caras na TV que tive um pressentimento avassalador: "essa chuleta vai descer quadrada esta noite".

Menos de dois minutos depois de eu saborosamente passar a garfar a chuleta, silêncio no bar. Todos os rostos se voltavam para a calçada. O braseiro saiu de seu posto e foi junto dos outros garçons na porta do bar para ver uma briga entre um cara sem camisa e um de regata. Passei a ouvir gritos de "Filhodaputa! Cê vai morrer, lazarento!", e outras frases de extrema expressão artística.

Nestas horas eu gosto é de filosofar. Virei para minha chuleta e, com olhar reluzente, citei uma frase do maior de todos os cantores, Nelson Ned: "E tudo passa, e tudo passará", o que, naquele contexto, quis dizer que eu iria continuar a nababescamente digerir minha chuleta porque em poucos minutos os bêbados da calçada parariam de brigar.

Ledo engano. Dez minutos de briga, correria no bar. Uma mulher gritava "DANILÃO, PÁRA COM ISSO, DANILÃO!!!", enquanto aqueles "PLOFTS!" típicos do seriado do Batman apareciam ao redor da porta. Duas adolescentes correram para o banheiro chorando. Um japonês velho entrou mancando gritando pra todas as mesas: "O cara tá armado! O cara tá armado!", e todos passaram a pedir a conta ao mesmo tempo. Não que os garçons fossem trazer: eles estavam ocupados na calçada a observar o briga das toupeiras.

Os tiros, se acaso ali estivessem, certamente saíram pela culatra, uma vez o silêncio voltou à tona e, em poucos minutos, passei a ouvir uma fantástica manifestação de ironia coletiva: os dois caras discutiam na calçada e o bar inteiro cantava, em coro: "BEIJA! BEIJA! BEIJA! BEIJA!".

Pois bem, a polícia chegou, o Danilão continou tentando matar o outro sujeito, eu terminei minha chuleta e pedi a conta. Na hora de pagar, cheguei perto de um garçom que é a cara do Marcelinho Carioca:

- É por causa de mulher?

E ele, simplório:

- Mulé? Há! O negócio aí deve ser pinto. Tudo bichona, seu Alemão, tudo bichona!

Depois da conta paga, fui em direção ao meu carro, na esquina contrária de onde estava a correria. Foi quando um sujeito bêbado sem camisa - seria o Danilão? - começou a tentar tirar algo da cueca. Alguém gritou "ELE VAI TIRAR A ARMA!". Os policiais se abaixaram atrás da porta igualzinho nos filmes americanos. Eu, por minha vez, me atirei atrás do carro e esperei o sujeito descarregar a arma, o que não aconteceu. Quando olho de volta, a namorada do sujeito tava tirando a mão dele dali e colocando-o dentro do carro. Ele não tinha arma, e sim tentou - não sei se conseguiu - tirar sua parafernália genital para fora e mostra-la ao sujeito com quem estava brigando.

Enquanto eu entrava no carro, com a chuleta já dando indícios de nervosismo em meu estômago, olho para o mesmo garçom, que me sorri:

- Não falei, seu alemão? O negócio ali é pinto! Tudo bichona!

Na próxima vez, afogo as mágos num restaurante vegetariano. Deve ser mais seguro.

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