
Não bebi para dormir na noite do dia 30, mas sonhei que estava de fogo. Um marimbondo de fogo. Explico: sonhei que estava bêbado e que José Sarney, o eterno sósia do Mentor do He-Man, o autor de Marimbondos de Fogo, Brejal das Guajas e outros livros de poesia que nem a Roseana leu, morreu.
Pior: recebi a notícia quando me encontrava em transe etílico em um lupanar não sei onde, com alguns amigos que não sei quem eram.
Adendo: por lupanar entenda-se puteiro.
Os agravantes contra minha pessoa não param: no imbróglio, eu estava com uma camisa amarela-berrante aberta até o peito, subindo as escadas do recinto em uma bicicleta também amarela-berrante, É quando toca o meu celular, com a tradicional Balada do Morto Muito Louco:
- Alô.
Era minha irmã, honesta funcionária pública do Banco Central:
- Fernando, é crise na certa! Escuta: o Sarney subiu no telhado, escutou? Subiu no telhado!
Morreu! Bateu as botas!
- Mentira!
- Mentira nada! É batata! É batata!
Ao receber a notícia, pedalei para o mezanino - sim, eu subi as escadas de bicicleta - em busca dos meus amigos imaginários, e passamos a entoar freneticamente um merecido coro de marchinhas de carnaval. É quando a Balada do Morto Muito Louco pula o meu celular do bolso mais uma vez:
- Alô.
- Fernando, sou eu de novo.
- Não morreu??
- Morreu, já falei! Escuta: a crise é grave, percebe? É gravíssima! O Banco Central está apreensivo, o Copom vai se reunir após o velório! Os juros vão disparar! O FMI não quer saber, não quer saber! É a falência do país!
- E o Zequinha?
- Dane-se o Zequinha! Escuta: você precisa fazer um pronunciamento. Um pronunciamento!
- Eu!?!? Desregulaste?
- Sim, você! Escuta, Fernando: o país precisa de um jornalista! O Sarney morreu, é a falência do Brasil! Precisamos de um discurso que acalme a nação! É o discurso ou a falência do Brasil!
- Mas de falido já me basta! Um país a mais ou a menos na bancarrota não vai me fazer diferença!
- Escuta, Fernando: cala essa boca e te prepara! Te ligo em cinco minutos e você entra ao vivo, entendeu? Ao vivo! Em rede nacional!
Minha irmã desligou. Puxo a manga da camisa amarela, estufo o peito e chamo o garçom:
- Fabão! Desce uma cachaça que hoje eu viro notícia!
(Cai o pano)
(infelizmente eu despertei nesse ponto, sem ouvir o meu próprio pronunciamento. Pudera, eram duas da tarde. Desculpe pelo final sem final. Os diálogos foram dramatizados, mas não perderam o sentido. Prometo sonhar em três atos completos da próximo vez)
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