quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

O DIA EM QUE SARNEY MORREU

Uma tragédia nem tão tragédia assim, em meio ato apenas

Não bebi para dormir na noite do dia 30, mas sonhei que estava de fogo. Um marimbondo de fogo. Explico: sonhei que estava bêbado e que José Sarney, o eterno sósia do Mentor do He-Man, o autor de Marimbondos de Fogo, Brejal das Guajas e outros livros de poesia que nem a Roseana leu, morreu.
Pior: recebi a notícia quando me encontrava em transe etílico em um lupanar não sei onde, com alguns amigos que não sei quem eram.

Adendo: por lupanar entenda-se puteiro.

Os agravantes contra minha pessoa não param: no imbróglio, eu estava com uma camisa amarela-berrante aberta até o peito, subindo as escadas do recinto em uma bicicleta também amarela-berrante, É quando toca o meu celular, com a tradicional Balada do Morto Muito Louco:
- Alô.

Era minha irmã, honesta funcionária pública do Banco Central:

- Fernando, é crise na certa! Escuta: o Sarney subiu no telhado, escutou? Subiu no telhado!

Morreu! Bateu as botas!

- Mentira!

- Mentira nada! É batata! É batata!

Ao receber a notícia, pedalei para o mezanino - sim, eu subi as escadas de bicicleta - em busca dos meus amigos imaginários, e passamos a entoar freneticamente um merecido coro de marchinhas de carnaval. É quando a Balada do Morto Muito Louco pula o meu celular do bolso mais uma vez:

- Alô.

- Fernando, sou eu de novo.

- Não morreu??

- Morreu, já falei! Escuta: a crise é grave, percebe? É gravíssima! O Banco Central está apreensivo, o Copom vai se reunir após o velório! Os juros vão disparar! O FMI não quer saber, não quer saber! É a falência do país!

- E o Zequinha?

- Dane-se o Zequinha! Escuta: você precisa fazer um pronunciamento. Um pronunciamento!

- Eu!?!? Desregulaste?

- Sim, você! Escuta, Fernando: o país precisa de um jornalista! O Sarney morreu, é a falência do Brasil! Precisamos de um discurso que acalme a nação! É o discurso ou a falência do Brasil!

- Mas de falido já me basta! Um país a mais ou a menos na bancarrota não vai me fazer diferença!

- Escuta, Fernando: cala essa boca e te prepara! Te ligo em cinco minutos e você entra ao vivo, entendeu? Ao vivo! Em rede nacional!

Minha irmã desligou. Puxo a manga da camisa amarela, estufo o peito e chamo o garçom:

- Fabão! Desce uma cachaça que hoje eu viro notícia!

(Cai o pano)

(infelizmente eu despertei nesse ponto, sem ouvir o meu próprio pronunciamento. Pudera, eram duas da tarde. Desculpe pelo final sem final. Os diálogos foram dramatizados, mas não perderam o sentido. Prometo sonhar em três atos completos da próximo vez)

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