segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

TODA FASHION WEEK TEM UM QUÊ DE MIRIAM LEITÃO

Pavão anoréxico desfila motivos sulfurosos em tom amarelo hepático

Alguém já leu algum livro de Fernando Henrique Cardoso? Aposto uma falangeta do meu dedinho que todos os que leram FH assim fizeram porque obrigados, com a exceção da Dona Ruth e da Miriam Leitão. A primeira é aquela que há quarenta e poucos anos esquenta a janta do dito cujo; a segunda é só uma intelectual de churrascaria apaixonada pelo FH.

No entanto, é salutar - eu sempre quis usar a palavra "salutar" - que todos os meios de comunicação clamem o Fernando Henrique como um pensador do Brasil contemporâneo, um intelectual a frente de seu tempo, um Caio Prado de lábios grandes, etc. Para a imprensa, FH é o Mister M da sociologia do Brasil. Para o Brasil, FH é só o ídolo da Miriam Leitão, a intelectual de churrascaria apaixonada pelo FH.

Com a São Paulo Fashion Week a coisa também vai por aí. Eu poderia fazer demagogia barata aqui - adoro uma demagogia barata bem safada - e mandar perguntar ao pipoqueiro da esquina o que ele achou da essência futebolesca do desfile da Rosa Chá. Mas isso não o farei, pois até a demagogia barata tem limites. No entanto, a cobertura da SPFW na mídia ocupa inenarráveis minutos de TV que ocupam a cabeça do espectador com absolutamente nada que faça sentido. "Mulheres cadavéricas desfilam com roupas coloridas da grife tal", narra o speaker. E acabou.

Na qualidade de hebdomadário atual, SorryPeriferia não se furta a dar sua versão sobre o que é o São Paulo Fashion Week, em simpáticos tópicos:
- É tudo mentira essa história de que a moda dá lucro. Quem lucra com a semana da moda são os traficantes. Todo mundo é cheirador nessa fanfarronice. Os estilistas cheiram, as modelos cheiram, os jornalistas cheiram. Se tivesse gandula no desfile, até os gandulas cheirariam. A overdose é cool.

- Roupa mirabolantes podem até dar status, mas, como disse acima, não dá lucro. Aposto uma falangeta e dois metacarpos da minha mão que esse negócio é uma voluptuosíssima lavagem de dinheiro. Eu, diretor comercial fodão de uma grande empresa têxtil, injeto uma grana pra essa bichona organizar um desfile com o nome da empresa enquanto alguns milhões de dólares entram no país por baixo do pano. E ainda dou um tapa na peruca de umas modelos cheiradonas.
- Nada contra as bichonas, mas tudo contra as bichonas rancorosas (leia-se estilistas). Dizem que as modelos são magras daquele jeito porque as roupas têm que ficar penduradas como se estivessem em cabides. Só que roupa não é feita pra ficar no armário. Parece raiva de mulher bonita mesmo. "Eu, estilista famoso, não posso ser o mulherão que queria. Logo, só trabalho com mulheres horríveis". Frustração pessoal transpassada ao profissional. Então, quanto mais feio, mais bonito: a mais gordinha das passarelas pode ter as pernas quebradas ao meio após o desfile e utilizadas como garfo pra catar sushi. Fosse eu mercador de modelos, iria até a Somália revelar talentos. Mas temo que as somalis não aceitem pagamento em cocaína.

- O interesse do público na SPFW em si quase inexiste. As pessoas querem saber quem é que o Ronaldinho foi catar e nas fofocas do Henri Castelli, não na estamparia do Caio Gobbi. Ao menos para a TV aberta e para as revistas (Em TV a cabo, site e jornal cabe espaço ao público específico), acreditar no contrário é má fé ou mau jornalismo.

A minha parte da Fashion Week eu quero em pinga.

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