
Foi-se o tempo em que a felicidade era um bem a ser alcançado coletivamente. Foram-se as grandes greves em nome dos oprimidos, foi-se o sonho de um socialismo socialista, foi-se a social-democracia. O que vale é tudo aquilo que está na Veja e quem não concordar é retrógrado ou extremista. Os maiores nomes da política hoje são burocratas que precisam de assessores até para fazer a própria barba. Pergunte a Tony Blair qual era a cor do cavalo branco de Napoleão e terás uma resposta vaga através da secretária dele de número 4. Os grandes nomes políticos de outrora que sobreviveram enfiaram a cabeça na privada do establishment e o rapaz da foto acima está aí para não me deixar mentir. Trinta milhões de pessoas beijaram o Sapo Barbudo em 2002 e ele não virou príncipe porque preferiu deixar tudo como está há 506 anos. O importante é desideologizar nossas atitudes, disse ele em entrevista recente. Logo ele, o porta-vez da ideologia de toda uma geração, esta que agora se enxerga como mais uma em meio a tantas outras perdidas.
Aprendemos a nos acostumar. Nos acostumamos com os barracos no fim da avenida e hoje nem nos assutamos por terem se transformado no Jardim Irene. Nos acostumamos com a impossibilidade de fazer greve para aumento de salário. Greve é selvageria exótica, virou o dragão-de-komodo das relações trabalhistas. Nos acostumamos com tudo. Eu me acostumei com os seis pedintes que circulam entre a Angélica e a Paulista que antes não existiam. A nossa praga é nos acostumar.
A tolerância virou uma faca de dois gumes. Se hoje comemoramos os umbandistas e os gays, também assistimos ao fenômeno da tolerância do lixo. O funk carioca deve ser tolerado porque é um fenômeno social e cultural das favelas, já diria um desses sociologozinhos de merda, e não encarado como um retratado da degradação vividas por quem vive no morro. Então tem-se o funk como algo positivo e não como um pedido indireto de socorro por quem agoniza na latrina social da periferia brasileira.
A felicidade coletiva nunca existiu. Passamos o século XX achando que um dia ela poderia existir, mas ela não existirá. O conceito de felicidade hoje, como quase tudo nessa vida de século XXI, é individual. A ela só restou me acostumar.
Me acostumei. E dentro deste contexto, não tenho do que reclamar. Estou cercado das pessoas certas. Às vezes é bom demonstrar aos amigos o quantos eles nos acrescentam. Não há o sindicato, não há o partido, não há a Igreja. Tudo que há é o legado que você deixa entre os seus e o legado que os seus deixam em você. É por isso que apesar de toda a torcida contra que carrega os parágrafos acima, ainda assim 2005 foi um grande ano. A todos os 10 ou 15 grandes amigos que carrego comigo fica aqui o agradecimento. Se o universo vai de mal a pior, nosso microcosmo continua sensacional. O mundo foi estreito para Alexandre, um desvão no telhado é o infinito para algumas andorinhas.
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