quarta-feira, 13 de julho de 2005

QUANDO A LITERATURA É MAIS COXINHA

do enviado a Parati

Se você faz uma feira de automóveis, as pessoas vão lá para discutir automóveis. Da última perua Jaguar à repimboca da parafuseta automática daquela marca coreana cujo nome você nem se lembra. Da mesma forma, ao freqüentar uma feira de coxinhas, as pessoas discutirão coxinhas. Receitas, condimentos, recheios, coxinhas lactovegetarianas, coxinha de cupuaçu com mel, Coxinheira George Foreman. Em feira de coxinha, coxinha rules. Agora siga a bolinha pulando na legenda: em feira literária, as pessoas vão lá pra discutir literatura, não é?

Claro que não, seu burro. Pelo menos não é isso o que pensam os cocotões que organizaram a III Feira Literária Internacional de Parati, a FLIP. Em verdade, o que se viu por lá foi nada além de uma overdose propagandística de lançamentos de meia dúzia de grandes editoras.
A idéia era organizar várias mesas de discussão por dia. Pois então imagine dois ou três escritores fodões sentados em uma mesma mesa, apresentados normalmente por um outro escritor fodão. Todos com livros recém-lançados, é claro. Em cada mesa, um tema a ser discutido. Até aí, a água enche a boca - e de fato não tenho nada contra o viés comercial da coisa.

Eis quando você percebe que o presunto-de-parma vira apresuntado. Após serem apresentados, o escritor A lê um trecho de seu lançamento para a platéia que pagou 17 reais para vê-los no salão principal, ou 12 para ver tudo no telão do outro lado. É aplaudido. Depois, é a vez do escritor B ler o seu lançamento. É aplaudido. Segue duas ou três perguntas. São aplaudidas. Aí os escritores vão embora aplaudidos e, no lado de fora, sentam para autografar, sob aplausos, os livros que os espectadores compraram na livraria conveniada, com os mesmos preços de São Paulo. Observando atônitos a tudo isso, nós.

Mas ninguém nos aplaudiu.

Me desculpe, mas se é pra ouvir trechos dos livros, eu entro no Submarino e leio o primeiro capítulo de cada um. Seria melhor então criarem um serviço 0900 onde uma voz feminina sensual lesse um trecho da obra escolhida.

Não se discutiu literatura. Não sei viu pessoas preocupadas em discutir tendências, um autor, uma obra que seja. Havia sim pessoas que queriam ver e ser vistas. A FLIP não passou de uma grande masturbação mental coletiva. E, apesar de ser uma feira, sequer houve local onde se pudesse comprar livros com preços mais baratos. Necas. Tudo isso em uma cidade que fede esgoto e onde o PF mais barato custa 16 reais. Um reles pastel de palmito, 5 contos. A minha paciência jogada no lixo: não tem preço.

Por outro lado, se o xis da questão era ver figurinhas tarimbadas em situações pouco usuais, isso a gente se superou. Eu mais uma figura mui falciônica seguimos Salman Rushdie pelas vielas da cidade junto de uma loira, que ele não catou, embora a dita cuja tenha feito de tudo para isso; dei duas ombradas na Zezé Polessa em ocasiões diferentes, o que provavelmente a fez pensar que "esse cara grande tá cheio de graça pro meu lado"; vários atores de teatros cujo nome a gente não lembra, mas que sempre fazem um ponta nas Xica da Silva da vida. E até uma ex-popozuda que sempre aparecia pelada na novela Pantanal, mas cujo nome só a mãe dela de fato se recorda. Ah, e é claro, Gabriel Aveia Kwak.

Enfim, a minha parte da FLIP eu quero em pinga. Aliás, em agosto tem a Feira da Cachaça de Parati.

Faz sentido. Só bebendo pra esquecer.

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