
Há um momento de angústia profunda e pausa na respiração quando penso no primeiro homem que olhou para um quiabo e disse "eu vou comer isso". Apesar de minha relutância gástrica, compreendo que a humanidade um dia já padeceu de fome profunda - e ainda padece - e que o bicho-homem precisava estar aberto a novas experiências, e não é de homossexualismo que estou falando. Enfim, ele tinha que colocar qualquer coisa na boca e engolir - eu já disse que não é de homossexualismo que estou falando - tal qual um Antônio Mezenga comendo bigatinhos na floresta depois que o avião caiu.
Creio que esse raciocínio justifica não só o quiabo como também o jiló, a buchada de bode, a linguada de boi e o curanchinho do frango. Na próxima vez que você olhar torto para alguém a saborear uma jaca, pense que um ancestral seu de 75 gerações atrás pode ter comido uma similar e sobrevivido às intempéries, o que manteve de pé a perpetuação desse gene arrogante dentro de você, que te faz olhar para a jaca com cara de "isso é um tanto disgusting".
Por outro lado, percebo que houve um momento na história em que sucessivos desvios de conduta fizeram do homem o único bicho capaz de compreender que dois com dois são quatro, mas também de fazer as coisas mais imbecis como se fosse o percurso natural da vida. Por exemplo: mordo-me ao pensar no primeiro sujeito que escalou cinco quilômetros de uma montanha e, ao chegar no topo, pensou "Quebrei meus poucos dedos que não gangrenaram, mas isso foi sensacional. Porque não fazer de novo e transformar isso em uma modalidade de esporte masoquista"?
Mas o alpinismo não é nada se comparado a uma manchete que certa vez li na internet: "Flórida estuda legalizar arremesso de anões". Diz-se que na terra da Disney a prática de jogar pessoinhas à distância é tão comum que há um movimento para que tal fenômeno seja reconhecido pela Estado como um esporte. Particularmente nutro o hábito de arremessar alguns amigos em festas quando me encontro trebadaço, anões ou não, mas não encaro isso como uma modalidade esportiva, para alegria da minha amiga Karen C..
Voltemos ao quesito gastronomia e similares. Enquanto tomava capirinha no Ibotirama com três figuras interessantes no último sábado, o mais exótico deles relatou o prazer que sente ao tomar uma cachaça curtida com cobra coral falsa. Explico: coloque a pinga em vasilhame junto de uma cobra coral falsa morta. Com o tempo, o bicho vai se desmanchando e a bebida adquire gosto e coloração muito específicas. Tal fenômeno ocorre com regularidade em Minas Gerais, não com manjericão, não com pimenta: com répteis mortos.
A imagem de tal vasilhame no balcão de um boteco qualquer, ao lado do compartimento de ovos coloridos, pegou-me entre o fígado e a alma. Como diria Alberto Einstein: "Só conheço duas coisas que não têm limite: o espaço sideral e a estupidez humana".
A minha parte eu quero em pinga. Sem animais mortos.
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