quinta-feira, 2 de junho de 2005

AS INEBRIANTES TETAS DO PODER

Não veja, não fale, não ouça. Vote.

Não é novidade para ninguém que o PT vive uma crise das brabas. Ninguém lá se entende, e não é para menos. O PT governa com culpa. Foram 20 anos pregando uma coisa, e menos de cinco fazendo justamente o contrário. Daí seus líderes, deputadores e senadores não conseguirem fazer o básico, que é votar coesamente em uma sessão de plenário. A culpa.

O PT é hoje um Renato Russo moral. Dentro dele há quem pose de esquerda revolucionária e quem ternalmente felacie os lobistas do mercado. O médico e o monstro, o estivador e o transformista, a chapeuzinho vermelho e o lobo mau. Tudo ao mesmo tempo agora, no mesmo espaço, no mesmo bat-horário e no mesmo bat-canal. Não é fácil defenestrar toda a sua ideologia em questão de minutos. Enfim, um ambiente criselento, como era a cabeça do ícone loser da Legião Urbana.

Não há dúvidas, a política é transexual. Talvez eu ainda devesse dizer que a política está transexual, mas duvideodó que ela volte a patamares anteriores de compreensão. Mas uma coisa que não consigo entender, por exemplo, porque ultrapassa todos os limites do juízo crítico, é essa frase do ex-companheiro e atual cafetão político José Genoíno, na Bolha de S. Paulo, 21 de maio:
"A oposição tem o direito de querer a CPI (dos Correios). É uma estratégia legítima de fazer disputa política. Está fazendo o que o PT fez no passado. O PT, que agora participa do governo, não deve apoiar uma CPI, mas aguardar as investigações já em curso."

Apertemos a tecla SAP da vergonha. Acredita-se que José Genoíno queira dizer o seguinte:

- Quando a gente tava lá, queria as tetas do poder. Agora que estamos cá, a teta é nossa e conosco não há quem possa. Para os nossos amigos, tudo. Para os nossos inimigos, a lei. Mas a nossa lei.

O mais triste é que essa frase não veio de um Severino qualquer, e sim de um ex-guerrilheiro com um histórico fantástico de luta contra a ditadura militar. Logo, supunha-se que ele também entenda um pouquinho de preceitos éticos. Sim, ética, aquela que, como o Fiat Stilo, ou a gente tem ou a gente não tem (adendo: jogar no mesmo barco a ética e o slogan da propaganda do Fiat Stilo é o que eu chamaria do coice com ferradura de pelica utópico. Fecha adendo). Alguém que muda seus conceitos de política (e, intrinsecamente, éticos) de acordo com qual lado está não é o que pode ser chamado de um sujeito sério.

Por essa e por outras é que cada dia mais este é um assunto que causa caretas nas pessoas. É a bola de neve. Não queremos saber de política, pois nossos políticos são escrotos. Nossos políticos são escrotos porque não queremos saber de política. Acabaremos sozinhos e desiludidos.

Ou, como diria Paulinho da Viola,

"Solidão palavra, cravada no coração, resignado e mudo no compasso da desilusão".

Paulinho da Viola dá de dez a zero no Renato Russo. Dentro deste contexto, infelizmente.

Talvez não seja mera coincidência que Renato Russo seja de Brasília.

Nenhum comentário: