
Escrevo estas linhas com os dedos da galhofa e as teclas da melancolia, e mal sei o que esperar deste conúbio. Digo que na última noite sonhei com um chuveiro. Ele estava lá, branco e límpido acima de mim, jorrando água fresca por toda a minha extensão. Acordei suado e resolvi tomar um banho. Faz sentido. Se em algum lugar o calor é anti-ético, este lugar é aqui. Sonho com banhos o dia inteiro.
Abre adendo. Faz 24 anos que tento corpulentamente ser sutil. Faz 24 anos, também, que não me deixam ser corpulentamente sutil. Não, meu caros, nunca servi pra ser beque central, jogador de basquete ou de rugby. Lamento informar que tampouco quero ser bom de briga de bar, não era o bam-bam-bam da minha turma nem penso em ser estivador no porto de Santos.
Abre adendo. Faz 24 anos que tento corpulentamente ser sutil. Faz 24 anos, também, que não me deixam ser corpulentamente sutil. Não, meu caros, nunca servi pra ser beque central, jogador de basquete ou de rugby. Lamento informar que tampouco quero ser bom de briga de bar, não era o bam-bam-bam da minha turma nem penso em ser estivador no porto de Santos.
Tira esse sorriso bobo e clichelento de seu rosto. É verdade que algumas crianças, ao me verem, saem correndo, pois, com esse tamanho, talvez eu seja o iete em pessoa, uma versão terrestre do Monstro do Lago Ness ou, simplesmente, o homem do saco. Confesso que isso me incomoda. Mas enfim, apesar deste detalhe, entendo que lutar contra o pejorativo quanto ao meu tamanho tem sido a eterna luta do rochedo contra o mar. Fecha adendo.
Pois bem, eu entrava no banho após acordar. Tirei a roupa. Segue música erótica. Entrei no chuveiro, que, por sua vez, é menor do que eu, o que obscurece a higienização capilar, se me permitem dificultar o léxico neste trecho. Ao fechar a porta do box, ela decididamente optou por emperrar. Eu só quis dar um empurrão. Juro por toda a história da higienização humana que eu só quis dar um empurrão para que ela me obedecesse. Foi quando parte do box cedeu, e eu me peguei com a porta na mão, feito figurante de vilão em finalzinho de fita de James Bond. Em outras palavras, eu, o iete, arranquei a dita cuja, e parte do box ruiu. Fim da músico erótica.
Tentei chegar a um consenso junto ao combalido conjunto do box que, felizmente, era de plástico, não de vidro. Arrumei daqui, encaxei dali, mas nada que pusesse o bendito de pé. Investi, desisti. Se há sorte eu não sei, nunca vi, já diria Renato Teixeira. Encostei a porta na parede e fui tomar meu banho, agora com a bucólica visão do bidê a me observar, calado. Eu já tomara banhos mais felizes.
O clichê venceu a esperança. A eterna luta do rochedo contra o mar.
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