segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

DE TEORIAS, PARAÍSOS E MÃOS PELUDAS

Sábado. Ilha de Waikiki, Havaí. Taieitê Bus Terminal. Dentro do busão vinha eu sentado ao lado de uma mulher que lia vorazmente um livro intitulado O que eu encontrei do outro lado da vida. Achei que o autor fosse o Patrick Schwaize depois de Ghost, mas não era. Gostei do tema. Me veio em mente a primeira vez que indaguei meus pais sobre o que acontece depois que a gente morre. Tinha eu uns 5 ou 6 anos. Lembro que minha mãe colocou a mão sobre meu ombro e disse:

- Meu filho, preste atenção ao que eu vou te dizer. Um dia... (meu cérebro dá um nó quando chega nessa parte e eu não me lembro de nada do que minha mãe disse. Talvez eu não tenha prestado atenção, como ela pediu).

O fato é que o primeiro papo que me lembro sobre o que acontece depois que vestimos o paletó de madeira - eu sempre adorei essa expressão - foi no catecismo, o que talvez explique minha ignorância sobre o assunto. Eis o que foi dito pela chefe das catequistas, que hoje provavelmente é carcereira em Abu Ghreib:

- Quando morremos, vamos todos para o Juízo Final. Deus pesa nossos prós e contras e decide se vamos para o céu ou para o inferno. Por isso temos que ser bons, rezar e comungar durante toda a vida. Devemos ir às missas. Deus está de olho em tudo que fazemos.

Essa mulé não era má pessoa, mas sim um tanto simplista em suas convicções, como a grande maioria dos católicos. Parênteses: uma vez uma outra me repreendeu porque fiz o sinal da cruz com a mão esquerda. Disse-me que era pecado. Perguntei se ser canhoto era pecado. Ela disse que não, mas que atrapalhava um bocado. Fecha parênteses. Logo, se Deus não for agente da CIA, ele é o John de Mol, o holandês que criou o Big Brother. Ele fica sentado numa mesa transformando água em vinho e se divertindo com os apóstolos, todos decidindo quem vai esticar as canelas dessa vez:

- Hoje vai o Inojozas da quitanda, que não chegou nos 70 mas que não sai do lupanar, o safado.

- Mas Senhor, e o Papa João Paulo II? Faz 20 anos que ele vai pro paredão toda semana, e nada?, indagaria um apóstolo, atônito.

- Moleque, a Igreja tá capengando há 2 mil anos, porque eu vou matar o velho que tá capengando só com 80 e poucos? Além do que, o dito cujo babando todo domingo de manhã na janela da Basílica de São Pedro dá mais ibope que a Fórmula 1. Fica aí a indicação.

Depois dos 12 anos, quando os hormônios me fizeram descobrir que minhas mãos também tinham utilidades indecentes, voltei a pensar no assunto e formulei minha própria definição sobre o paraíso. Sabe aquela vez, naquele momento de muita inspiração e transpiração com sua namorada, que vocês pareciam Adão e Eva após morderem a maçã alucinógena? Sabe aquela fração de segundo em que você coloca pra fora toda a angústia da humanidade e grita "ÉÉÉÉÉÉÉ DO PALMEEEEEEIRAS!!!!!!!!!"? (tá, só o Flor grita "É do Palmeiras" nessas horas). Então, tratava-se da Teoria do Orgasmo Eterno. Quem era bonzinho em vida, quem ia todo domingo na missa, comungava e não descabelava o palhaço no banheiro vendo revistinha de mulé pelada, ia passar o resto da eternidade com a sensação daqueles picantes momentos junto da namorada. Em compensação, o diabo seria um negão estivador do porto de Santos que joga um sabonete no chão e diz pra ti: "Pega, benzinho, pega".

Numa outra oportunidade, acho que numa dessas reuniões comunitárias de lavagem cerebral que a igreja do meu bairro faz na época do Natal, uma outra carcereira, essa de Guantánamo, disse as seguintes palavras:

- O Inferno é uma mesa farta de comida e bebida. Só que as pessoas sentadas à mesa têm os cotovelos invertidos, e não podem desfrutar dela. O Paraíso é também uma mesa farta composta por gente com os cotovelos invertidos, só que essas servem-se umas às outras.

Ou seja, a diferença é que os burros vão para o inferno. Sinceramente, se essas forem as duas hipóteses do pós-mortem, prefiro ficar vivo por um bom tempo. Como é que os caras vão no banheiro com os cotovelos nesse estado? Como é que eles dançam That´s the way a-hã a-hã I like it sem levantar o dedinho na hora do ã-hã?

Penso que se o Paraíso for como a Igreja diz - as boas almas têm lugar garantido no céu, sem passagem de volta - a coisa lá em cima tá feia. Tá mais superlotado que presídio em Franco da Rocha. Quem morre agora vai para o céu disputar espaço no tapa com neguinho que morreu na Guerra da Criméia. Duvido que dê pra juntar todo mundo. Imagino então que a proposta do budismo, a da reencarnação em qualquer coisa, seja a mais interessante do ponto de vista espacial: quem tá enchendo muito lá em cima é despachado pra baixo na forma de uma capivara. Por quê eu não pensei nisso antes? Resolve-se o problema do IPTU no Além. Se a Marta tivesse pensado nisso em São Paulo, as últimas eleições teriam sido diferentes.

De qualquer forma, com exceção da Teoria do Orgasmo Eterno, da qual muito me orgulho, nenhuma das teorias oficiais sobre o Paraíso me satisfaz. Ou como diz aquela comunidade do Orcute: "Só vou pro céu se for open bar". A minha parte do além eu quero em pinga.

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