sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

PERGUNTE AO VIVES

Dúvidas, angústias, tristezas profundas? O presidente da república em quem você votou não cumpre o que prometeu? Seu gato precisa de dentadura? Envie suas lamúrias para centraldoleitor@sorryperiferia.com.br e leia aqui depois um conselho que, se não é bom, pelo menos é de graça. Fica aí a indicação.


Nobiliárquico Vives,


Sou o ministro da fazenda desse país. Pode me chamar de Antônio, mas não vou dar o nome completo por precaução. Meu caro, estou em crise. Tá, ok, o país também está, mas não te procurei pra falar disso. Veja bem: desde que assumi meu posto há dois anos, fiz novos amigos muito mais simpáticos e bem vestidos do que meus antigos companheiros da Libelú (que parece nome de boneca mas que, hoje reconheço, era um núcleo terrorista anti-cristão). Pois bem: dias desses eu estava assistindo aquele filme de terror chamado O Chamado. Sim, aquele do vídeo amaldiçoado em que a menina morta dentro de um poço o escala e vai em direção da câmera matar o espectador. Confesso que fiquei muito assustado, pois naquela noite tive um pesadelo horrível. Sonhei que assistia esse filme, jogado no sofá de shortão e sem camisa, comendo leite moça com Nescau (não conta isso pra minha mulher). De repente, no lugar da menina, adivinhe quem escalava o poço e vinha em minha direção? León Trotsky em pessoa! Isso mesmo, meu antigo ídolo, com o machado enterrado na cabeça e tudo! Aí ele vem se aproximando de mim dizendo: "Você me traiu!", atravessa a tela da TV e fica correndo atrás de mim na sala, uma coisa horrível! Então ele tira o machado da cabeça e o aponta pra mim, dizendo "Essa é pra você, Toninho!" Vives, me ajuda. Sonho com isso todas as noites, e lá se foram três reuniões do COPOM desde a primeira vez. Logo, pergunto: o que devo fazer para acabar com essa maldição?
Antônio, Ribeirão Preto-SP


Antônio, em primeiro lugar, leite moça com Nescau é coisa de menininha, hein? Te cuida, rapá! Isso deve ser influência do Henrique Meireles, que, segundo dizem, costuma esticar a poupança para ver o espetáculo do crescimento dos estagiários do Banco Central. Mas nada contra, século XXI é isso aí. Pois bem, tô vendo que a a situação é periclitante e exigirá destreza de tua parte. O negócio é espiritual e tu precisas mesmo é de um exorcismo. Eu tenho uma receita tradicional pra tirar o capeta: vá até o banheiro, enfie a cabeça na privada profundamente e puxe a descarga. Repita o ato sucessivas vezes por dia, até o dia em que você parar de sonhar com isso. Mas devo advertir que um amigo meu, que tem um quê de Henrique Meireles - nada contra, século XXI é isso aí - fez isso e passou a sonhar que o Vitor Fasano o perseguia pelado dizendo: "Chega mais, meu querubim". Em verdade, ele adorou isso e até hoje me agradece muito por essa nova fase da vida dele.


Serendipitoso Vives,

Estou muito chateado e em crise. Agora só ando com meninas e - o que não é praxe - não xaveco nenhuma delas. Logo eu, o sujeito que devastou a Cásper Líbero no início do século com meu xaveco sensual! Devo admitir que hoje estou passivo demais. E como se não bastasse, adorei aquele filme Closers - Perto Demais, que você achou horrível. Meu caro, começo a achar que estou virando uma menina também. Será que isso já está acontecendo?
Daniel Patife, Ribeirão Pires, SP

Rapaz, realmente você só anda com meninas e, pelo que tenho visto, tu tá mais manso que labrador de cego. Já é praticamente uma menina também. Dou seis meses pra você ter uma gravidez psicológica. Mas nada contra, século XXI é isso aí. Quanto a falta de libido, é normal a partir de uma certa idade que você já ultrapassou faz tempo. Mas tenho boas notícias. Sabe aquele livro do Fausto Wolff, À Mão Esquerda, que você me pediu emprestado? Estará em tuas mãos logo logo! Pois é, quero ver tu não sair da crise após ele. E se não gostar, dou porrada. Fica na sua aê, patifão.


Voluptuoso Vives,

Volta. Não agüento mais. Os meus braços precisam dos teus, teus abraços precisam dos meus. O Michael é um rude cruel e insensível, estamos juntos somente pela fachada. Quero te encontrar naquele cassino em Las Vegas onde a gente se conheceu. Te pago a passagem, não me importa o dinheiro. O que me importa é te ter ao meu lado. Beijo, da sempre sua,
Catherine. Los Angeles, EUA.


Catherine, que é isso? Pára de dar vexame, esse é um blog público! Já falei que não volto e não é por tua causa. É por causa das crianças. Não agüento mais, quando a gente se encontra, aquele berreiro na outra sala. Já tá na hora de levar essa gurizada no veterinário pra cortar as cordas vocálicas. E não vem com essa de que o mais novo gosta muito de mim. Não foi você quem falou que ele tem que ficar longe de mim? Entendo que é melhor ter oficialmente um avô como o Kirk Douglas do que ter um aposentado do Banco do Brasil e ex-professor de Jundiaí, que é o avô dele de verdade, mas até aí não tenho que aturá-lo. Resolva esse pequeno impasse e conversaremos.


Simpaticíssimo Vives,

Sou ex-aluno da Cásper Líbero. Em verdade, não me formei. Serei mais específico: passei quase uma década nessa grandiloqüente instituição de ensino e não me formei. Até arrumei umas tetas em uma das coordenadorias, onde, depois de tanto tempo, quase poderia me aposentar. Mas não consegui me formar. Hoje, depois de tanto tempo, estive pensando no assunto e me veio a dúvida: será que sou burro? O que achas?
Fúlvio Bertolozzi, Jubilados do Oeste, ES.


Caro Fúlvio, eu diria que você só não relincha por pura modéstia. O legal de ser burro é não ter capacidade pra saber que você é burro. Logo, deixa isso pra lá, sangue bão. A Unisantana tá aí pra essas coisas.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

CLOSERS, PERTO - E RUIM - DEMAIS

Eu não pretendia me manifestar sobre o dito filme, mas me instigaram. A redação de SorryPeriferia recebeu mais cartas que o Baú da Felicidade, todas pedindo minha opinião sobre Perto Demais. Recebi um e-mail de um famoso crítico de um jornalão de São Paulo dizendo que ele só escreverá sobre o filme depois dos meus comentários. Pessoas me paravam nas ruas, apertavam meu braço a exclamar "Comenta, diabos, comenta!". Fui acordado de madrugada com um telefonema anônimo que dizia "Não agüento mais! Comenta! Comenta!" . Pois benevolentemente comentarei (francamente não sei do que seria da cultura ocidental sem minha análise. Fica aqui a consternação).

Agora oficialmente: queria dizer que não pretendo ofender ninguém com o conteúdo abaixo (exceto o escritor da história?). Há certos exageros e jocosidades das quais não abro mão, mas que não quer dizer que eu pretenda humilhar quem porventura tenha gostado dele. Também queria deixar claro que essa aqui é só minha opinião, e que não considero ninguém pior só porque pensa diferente de mim (gostaria que isso já fosse óbvio o suficiente, mas não custa reforçar).

Pois bem. Posto o intróito - ui - teçamos alguns comentários sobre a referida película.

Perto Demais trata de um swing entre dois casais, que no intervalo de alguns anos fazem de tudo entre si - só não rolou homem com homem e mulé com mulé. Temos a stripper, vivida por uma atriz convincente - a gostosinha que era a princesa feinha de Guerra nas Estrelas -, o médico onanista, interpretado por um ator bastante razoável, uma songa-monga vivida pela também songa-monga Julia Roberts e um escritor loser, na realidade o sofrível Jude Law. O enredo se passa em Londres bem como poderia se passar no Leblon, palco preferido pela Globo em novelas das oito e filminhos similares. A associação com a Vênus Platinada não é mera coincidência: por um momento achei que a assinatura de Manoel Carlos saltaria dos créditos. Botemos o Marcelo Anthony como o escritor loser, Giovana Antonelli como a songa-monga, Marcos Ricca como o doutor-punheteiro e a Débora Duarte como a stripper e -voi là - temos uma mercadoria do núcleo Guel Arraes. O elenco é pouco melhor que o da Globo. E o enredo, bem, vamos chegar lá.

Logo de início, uma cena comum onde o escritor loser conhece a stripper. Nada de anormal, não fosse a música melada que borrifa os tímpanos com um mau gosto ímpar, a ponto d`eu perguntar por meu disk-man. Melada mesmo, coisa de matar diabético. Não sei quem canta, é uma espécie de Odair José do Alabama que o roteirista prossivelmente encontrou em algum bar de beira de estrada nos States. Após o incidente auditivo, o filme mostra como todo mundo conhece todo mundo e desanda quando passa a discutir o amor.

Pois bem, nada contra falar de amor. Muito pelo contrário, desde que bem feito. O universo feminino da questão é bem retratado pela personagem da stripper gostosinha. E só. A Julia Roberts é songa-monga e não quer dizer muita coisa (a confusão entre a personagem e a atriz nessa citação é proposital). Infelizmente, o universo masculino fica restrito a um filhodaputa e a um ogro punheteiro, que não se cansam de ter atitudes estúpidas, o que simplifica a relação homem-mulher ao extremo. É muito, mas muito fake um homem torrar os pacovás da cônjuge pra saber se o cara que ela estava antes a fez gozar mais do que ele e a perguntar detalhes sobre o coito com o "rival". Grande parte dos conflitos do filme é isso. Duvido que Kenneth Starr tenha feito tanto no interrogatório da Monica Lewinsky. Junto disso, os diálogos forçados dos momentos de briga, os clichês (as eternas barba por fazer e gravata desarrumada quando os caras estão por baixo) dão ao filme um ar patético, aquela sensação de que poderia ser melhor. Como falar de amor sendo tão simplista quanto ao universo masculino? É o mesmo que narrar um jogo de futebol fazendo a cobertura de apenas um dos times. Quanto ao outro time, o narrador diz apenas que são onze ogros chamados Gilmar Fubá. A certa complexidade existente na personagem da stripper (sustentada também pela boa atuação da ex-feinha) é substituída, no universo masculino, pela profundidade de uma chapa de hamburguer (Maurício copyright).

No fundo, comercialmente entendo isso. Acho até que seja proposital. Perto Demais foi feito para que o público feminino, sobretudo classe média, se identifique. Aquela mulher de trinta e poucos anos que guarda um rancor de um amor antigo, a recém-divorciada traída pelo marido, enfim, todos esses elementos são sugados pelo enredo fácil e simplista. Mesmo que elas não percebam isso, mesmo que elas não queiram isso, há a identificação com a personagem da stripper e a sensação repelente quanto ao machão rudimentar. Aí vem o alívio de saber que elas não são as únicas a passar por isso, e as conclusões de que todos os homens são iguais, que o amor é impossível, que os homens não entendem as mulheres e outros clichês que assolam toda semana a caixa postal do Pai Bidú. Isso é perfeitamente natural no cinema, nesse filme em relação às mulheres, o mesmo ocorrendo em outros em relação aos homens. O cinema vive dessa identificação natural, muito disso na base do clichê.

Enfim, o filme não é de todo ruim - é bem filmado, sobretudo a conversa pela internet e alguns relances de pontos cruciais dos diálogos - mas é simplista demais. Está alinhado com Laços de Família e Por Amor na facilidade errônea da trama e de contextos. Ou como diria um acadêmico de esquerda: "É a representação dos integrados contra o legado epifânico dos apocalípticos, em um mundo onde a representação burguesa desconstrói valores absolutos, logo fazendo da película prontamente indicada para as leitoras da Readers Digest e ideal para as empregadas domésticas porto-riquenhas dos Estados Unidos".

Fica aí a contra-indicação.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

DE TEORIAS, PARAÍSOS E MÃOS PELUDAS

Sábado. Ilha de Waikiki, Havaí. Taieitê Bus Terminal. Dentro do busão vinha eu sentado ao lado de uma mulher que lia vorazmente um livro intitulado O que eu encontrei do outro lado da vida. Achei que o autor fosse o Patrick Schwaize depois de Ghost, mas não era. Gostei do tema. Me veio em mente a primeira vez que indaguei meus pais sobre o que acontece depois que a gente morre. Tinha eu uns 5 ou 6 anos. Lembro que minha mãe colocou a mão sobre meu ombro e disse:

- Meu filho, preste atenção ao que eu vou te dizer. Um dia... (meu cérebro dá um nó quando chega nessa parte e eu não me lembro de nada do que minha mãe disse. Talvez eu não tenha prestado atenção, como ela pediu).

O fato é que o primeiro papo que me lembro sobre o que acontece depois que vestimos o paletó de madeira - eu sempre adorei essa expressão - foi no catecismo, o que talvez explique minha ignorância sobre o assunto. Eis o que foi dito pela chefe das catequistas, que hoje provavelmente é carcereira em Abu Ghreib:

- Quando morremos, vamos todos para o Juízo Final. Deus pesa nossos prós e contras e decide se vamos para o céu ou para o inferno. Por isso temos que ser bons, rezar e comungar durante toda a vida. Devemos ir às missas. Deus está de olho em tudo que fazemos.

Essa mulé não era má pessoa, mas sim um tanto simplista em suas convicções, como a grande maioria dos católicos. Parênteses: uma vez uma outra me repreendeu porque fiz o sinal da cruz com a mão esquerda. Disse-me que era pecado. Perguntei se ser canhoto era pecado. Ela disse que não, mas que atrapalhava um bocado. Fecha parênteses. Logo, se Deus não for agente da CIA, ele é o John de Mol, o holandês que criou o Big Brother. Ele fica sentado numa mesa transformando água em vinho e se divertindo com os apóstolos, todos decidindo quem vai esticar as canelas dessa vez:

- Hoje vai o Inojozas da quitanda, que não chegou nos 70 mas que não sai do lupanar, o safado.

- Mas Senhor, e o Papa João Paulo II? Faz 20 anos que ele vai pro paredão toda semana, e nada?, indagaria um apóstolo, atônito.

- Moleque, a Igreja tá capengando há 2 mil anos, porque eu vou matar o velho que tá capengando só com 80 e poucos? Além do que, o dito cujo babando todo domingo de manhã na janela da Basílica de São Pedro dá mais ibope que a Fórmula 1. Fica aí a indicação.

Depois dos 12 anos, quando os hormônios me fizeram descobrir que minhas mãos também tinham utilidades indecentes, voltei a pensar no assunto e formulei minha própria definição sobre o paraíso. Sabe aquela vez, naquele momento de muita inspiração e transpiração com sua namorada, que vocês pareciam Adão e Eva após morderem a maçã alucinógena? Sabe aquela fração de segundo em que você coloca pra fora toda a angústia da humanidade e grita "ÉÉÉÉÉÉÉ DO PALMEEEEEEIRAS!!!!!!!!!"? (tá, só o Flor grita "É do Palmeiras" nessas horas). Então, tratava-se da Teoria do Orgasmo Eterno. Quem era bonzinho em vida, quem ia todo domingo na missa, comungava e não descabelava o palhaço no banheiro vendo revistinha de mulé pelada, ia passar o resto da eternidade com a sensação daqueles picantes momentos junto da namorada. Em compensação, o diabo seria um negão estivador do porto de Santos que joga um sabonete no chão e diz pra ti: "Pega, benzinho, pega".

Numa outra oportunidade, acho que numa dessas reuniões comunitárias de lavagem cerebral que a igreja do meu bairro faz na época do Natal, uma outra carcereira, essa de Guantánamo, disse as seguintes palavras:

- O Inferno é uma mesa farta de comida e bebida. Só que as pessoas sentadas à mesa têm os cotovelos invertidos, e não podem desfrutar dela. O Paraíso é também uma mesa farta composta por gente com os cotovelos invertidos, só que essas servem-se umas às outras.

Ou seja, a diferença é que os burros vão para o inferno. Sinceramente, se essas forem as duas hipóteses do pós-mortem, prefiro ficar vivo por um bom tempo. Como é que os caras vão no banheiro com os cotovelos nesse estado? Como é que eles dançam That´s the way a-hã a-hã I like it sem levantar o dedinho na hora do ã-hã?

Penso que se o Paraíso for como a Igreja diz - as boas almas têm lugar garantido no céu, sem passagem de volta - a coisa lá em cima tá feia. Tá mais superlotado que presídio em Franco da Rocha. Quem morre agora vai para o céu disputar espaço no tapa com neguinho que morreu na Guerra da Criméia. Duvido que dê pra juntar todo mundo. Imagino então que a proposta do budismo, a da reencarnação em qualquer coisa, seja a mais interessante do ponto de vista espacial: quem tá enchendo muito lá em cima é despachado pra baixo na forma de uma capivara. Por quê eu não pensei nisso antes? Resolve-se o problema do IPTU no Além. Se a Marta tivesse pensado nisso em São Paulo, as últimas eleições teriam sido diferentes.

De qualquer forma, com exceção da Teoria do Orgasmo Eterno, da qual muito me orgulho, nenhuma das teorias oficiais sobre o Paraíso me satisfaz. Ou como diz aquela comunidade do Orcute: "Só vou pro céu se for open bar". A minha parte do além eu quero em pinga.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

(SILÊNCIO)


Evil Ways, Santana
Tattva, Kula Shaker
Walk on the wild side, Lou Reed

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Take it Back, Pink Floyd
Atmosphere, Joy Division
With a little help from my friends, (com) Joe Cocker

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The Universal, Blur
1979, Smashing Pumpkins
Como te Extraño, mi Amor, Café Tacuba

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O Sol Nascerá, Cartola
Folhas Secas, (com) Beth Carvalho
Quando o Carnaval Chegar, Chico


(SILÊNCIO)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA, NOSSAS VIDAS MAIS AMORES

"O novo presidente da Câmara é um político ultra-conservador. Católico de ir à missa e de comungar regularmente, defende as idéias que a Igreja professava até antes do Concílio Vaticano II nos idos de 60 - e que João Paulo II vem resgatando ao longo do seu pontificado.
Tem horror a homossexuais - considera o homossexualismo uma forma de perversão.


É visceralmente contra o aborto em qualquer circunstância.

Se pudesse aboliria a lei do divórcio porque acha que o casamento deve durar para sempre.

É um político com jeito de caipira - e disso se orgulha.

Faz a política miúda do atendimento às necessidades básicas dos seus eleitores."

Ricardo Noblat, em seu blog, 15/02/2005, 10:50

"Durante a ditadura, (Severino) foi um dos maiores opositores do então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, da ala progressista da Igreja Católica. Com mandato de deputado estadual, usava a tribuna para fazer críticas e para pregar o afastamento de Dom Hélder, a quem chamava na época de "bispo vermelho". Severino foi mais longe e pediu a expulsão do padre italiano Vito Miracapillo. O sacerdote, que vivia no Brasil desde 1975, foi expulso porque, em setembro de 1980, recusou-se a celebrar uma missa pela Independência do Brasil, em Ribeirão (PE), alegando que não acreditava que o povo brasileiro fosse independente.


(...) Há cinco anos, em entrevista ao "Jornal do Commercio" (PE), Severino disse que não se arrependia de seu gesto:

- Voltaria a fazer a mesma coisa porque ele estava desagregando a sociedade de Ribeirão. A prova disto é que eu tive a maior votação da história da cidade. O segundo deputado mais votado teve metade do que eu tive. Isto é uma consagração. "

Gerson Camarotti, O Globo, 16/02/2004


"(Severino) define-se, porém, como um "eterno vigilante contra a pornografia e a libertinagem. (...) Para o deputado, "o papa João Paulo 2º é a figura maior do século 20". Severino se define como "católico roxo". Além de combater a união civil entre homossexuais, deseja restringir a exposição de cenas que contenham sexo e violência na televisão no intervalo de 6h às 22h e proibir o aborto, mesmo em casos de estupro e risco de morte da mãe."

Josias de Souza, Folha, 16/02/2004.

"O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que se orgulha do apelido de "rei do baixo clero", não gostou da idéia de elevar o salário para 19.000 reais, teto do funcionalismo público. Propõe 21.000 reais e nem se importa que seja inconstitucional."

Site dos Funcionários Fiscais do Estado de Minas Gerais (AFFEMG) (achei no Google)


"O Severino representa tudo que eu condeno em política, mas eles (a Situação) merecem".

Roberto Brant, deputado do PFL/MG, hoje, no Painel da Folha

"Os severinos tomaram conta da Câmara. Eles podem tomar conta do Planalto um dia. Até nos Estados Unidos há uma onda severina, que levou à vitória dos Severinos americanos nas últimas eleições. George W. Bush é um Severino texano. Os novos Severinos governarão o mundo."


Alcino Leite Neto, Folha de hoje ("A Apoteose dos outros Severinos").

Por que eu publiquei isso aqui? É trágico. Tanto quanto é engraçado. O último a sair que roube a lâmpada. A minha parte eu quero em pinga.

SORRY PERIFERIA E NATIONAL GEOGRAPHIC APRESENTAM...


AMOR, ESTRANHO AMOR: Praia de Caraguá. Cientistas flagram dois exemplares de uma espécie rara em plena dança do acasalamento. O cortejo é tão elegante quanto o de um casal de flamingos, mas os resultados não foram satisfatórios. Ao que parece, o mesmo ritual feito pelo mesmo casal em um cativeiro na Avenida Paulista gerou resultados melhores. Ainda não se sabe quem botou os ovos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

ENQUETE SORRY PERIFERIA

A flor, entre as flores: "Dizem que sou feia, mas o importante é o espírito".


Você é a favor do casamento entre o Príncipe Charles e Camilla Parker-Bowles?

SIM - GABRIEL FALCIÔNICO, tarado: Véio, meu, vou te falar: pago um pau pra essa Camilla. Sério. A galera fala que ela é feia, que é isso, que é aquilo, mas eu sei que ela é fogosa, pode crer. Meu, eu sinto isso, essa mulher é uma máquina. Acho que o Príncipe Charles tem que cair matando mesmo. E se o bafo tiver ruim, toma umas e encara, véio, porque a coroa vale a empreitada. Fica aqui a indicação.

NÃO - ERASMO COM FRITAS NUZZI, taquígrafo: Meu jovem, essa menina não vale a pena não. Quando eu era mais moço, fui pra Grã-Bretanha junto de uma comitiva presidencial e taquigrafei uma conversa entre o Presidente Epitácio e a Rainha Mãe, progenitora da Elizabeth. E vou te contar: aquilo sim é que era mulher, viu? Sorriso caliente, apesar dos dentões amarelos pelo uso do cachimbo, vocabulário envolvente, andar provocante. E a rainha-mãe se vestia com muito estilo: tinha um vestido florido, chapéu com flores de verdade (as abelhinhas que permanentemente a rodeavam são a prova da doçura daquela mulher), cabelos ondulados pelos bobs, muito melhor que essa menina aí. Acho que Charles não tá com nada se casando com ela. Fica aí a contra-indicação.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

DECADENCE AVEC ELEGANCE

Baseado na leitura diária da grande imprensa nativa, a Editora Companhia das Bundas, responsável pela publicação de Sorry Periferia, acaba de lançar a Enciclopédia Vives de Verbetes Simplistas. Trata-se de um manual sobre tudo o que você precisa saber para entender os jornais de hoje, relatado em poucas linhas e de maneira bem fácil. Até sua tia cega, seu cachorro ou seu colunista preferido podem ler. Este hebdomadário virtual, na ânsia de mastigar cultura para a meia dúzia de leitores ignaros que aqui acessam, publicará alguns verbetes periodicamente, sem ordem alguma ou compromisso com a ética ou com o politicamente correto (vide o verbete politicamente correto). Confira alguns:


POLÍTICA AMBIENTAL: Setor político inventado recentemente pelos governos ocidentais, com o objetivo de ter sua verba cortada diante do menor indício de crise econômica ou do lobby de madeireiras, siderúrgicas e gigantes do setor farmacêutico. É bonitinho na hora de fazer campanha eleitoral.


CONTESTAÇÃO: Ato de ir contra alguma coisa e se manisfestar através do debate. Em alguns setores da esquerda radical, significa dar com a testa na parede simplesmente.


NEOLIBERALISMO: Sistema econômico, político, filosófico e religioso em voga nos dias atuais, caracterizado pelo apego a porra nenhuma but money. Quase o mesmo que anarquismo e niilismo. As diferenças: o neoliberal é contra tudo o que não for dinheiro e está rico; o anarquista é contra tudo e está pobre; o niilista é contra tudo e está louco. Vide dadaísmo.


DADAÍSMO: Ã? Tchanã? Pluff.


BÁ: Expressão utilizada pelos gaúchos para absolutamente tudo e que significa absolutamente nada.


ÍNDIA: Um país exótico, habitado por pessoas exóticas que nadam em um rio exótico e fétido chamado Ganges. Não costuma ser mais do que isso.


OCEANOGRAFIA: Estudo das águas e dos oceanos feito por hippies que cheiram a peixe e maconha. O resultado prático é salvar tartaruguinhas.


FILME NOIR: Atrizes gostosas sendo filmadas em ambiente com fumacinha atrás. Normalmente as atrizes gostosas morrem tempos depois na mais completa depressão.


NUDISMO: Filosofia de vida que consiste em transformar os glúteos em bifes à milanesa em plena praia. Normalmente os adeptos são escandinavos barrigudos com mais de 65 anos de idade.


CHINA: Uma enorme pastelaria coletiva com excesso de pasteleiros. Historicamente mantém relações conturbadas com a Rússia, Tibet, Taiwan, ONU, OTAN e com a Vigilância Sanitária Internacional.


MIOJO: Sebo industrializado em forma de minhoquinha, cujo sabor varia de acordo com a boa fé da vítima que o come, ou com a intensidade do apetite do mesmo.


ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA: O mesmo que zoológico. A diferença é que aqui os animais é que se divertem às custas do público.


ESPAGUETE: Um miojo aprovado pela História.


JUNDIAÍ: Não vale a pena.


ORTOPEDIA: Habilidade médica praticada por açougueiros e estivadores sem muita habilidade. Vide veterinária.


VETERINÁRIA: Seleto grupo de indivíduos que passam os cinco anos da faculdade cortando sapos. Não é o mesmo que zoofilia, mas tem a ver.


ZOOFILIA: Atração sexual por neoliberais. Vide dadaísmo.


DEMOCRACIA: Na teoria, governo (cracia) do e para o povo (demo). Na prática, a cracia é composta e governa para fazendeiros, multinacionais ou qualquer instituição ou pessoa que financie as campanhas eleitorais.


MINISTÉRIO DA CULTURA (no caso brasileiro): Setor do governo federal comandado por um cidadão que não comanda nada, já que nunca há verba. Em outras palavras, o ministro da cultura está lá para representar o governo federal todos os anos na festa do Boi-Bumbá e depois dar entrevistas, utilizando frases como "Essa foi uma demonstração da riqueza cultural brasileira" ou "Temos consciência da importância do folclore na constituição da nação". Não mais que isso. Atualmente, o Ministro da Cultura é um hippongo perdidão, para a alegria da TV Globo. Por seu comportamento, suspeita-se de que seja um oceanógrafo, para a alegria também das tartaruguinhas.

AMOR: Sexo promíscuo.


AMOR PLATÔNICO: Falta de sexo promíscuo.


TEXAS: Segundo um filme cujo nome não me lembro, é o lugar onde um urso dançarino ganharia mais dinheiro do que Beethoven.


POLITICAMENTE CORRETO: Está para a mídia assim como o bá está para os gaúchos. Vide dadaísmo.


CORIZA: Muco de nariz, só que mais nojento. Vide http://www.rumoatangamandapio.blogger.com.br/

JORNALISTA: Um jornaleiro com glamour, mas que ganha menos.

LITERATURA INFANTO-JUVENIL: Revista de mulher pelada. Também vale a coleção Posições Amorosas.


REUNIÃO DO COPOM: Encontro mensal de uma espécie de maçonaria transcendental com poderes mágicos, na qual seus integrantes, durante o culto, raciocinam com o intestino grosso em prol do mercado especulativo.


TIRANIA: Governo com mãos de ferro, normalmente associado ao poder de uma pessoa só. Muito legal, desde que essa pessoa seja eu.


SARCASMO: Um misto de indignação com senso de humor.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

FORUM SOCIAL MUNDIAL 2005: E A ESPERANÇA FICOU COM MEDO

Se o Forum de 2003 foi o da esperança, o desse ano ficou marcado por pessoas falando de lado e olhando pro chão, como na música do Chico. Em grande parte das palestras, nacionais ou internacionais, ficou explícito que a galera vai de mal a pior e que só em muitos anos vai ser possível mudar alguma coisa, se der. No seminário de José Saramago e Eduardo Galeano, o primeiro falou que tem medo do mundo que seus netos encontrarão. Galeano, pra não perder o fundo marxista, disse que é fundamental manter a utopia. E completou: "Pobre do dicionário que não contém a palavra utopia". Foi uma tentativa de manter os ânimos em um patamar aceitável, o que anda meio difícil.


Assisti um seminário do ATTAC, com o título: "Social-Democracia escandinava: ainda é possível?". Fui crente que dali sairia coisa boa - tenho simpatia pela social-democracia. Os palestrantes - membros do ATTAC da Noruega, Índia, Nepal e de Porto Alegre - taxaram: a social-democracia acabou. Não há saída para agora. Se a sociedade se mobilizar, como aconteceu no pós-guerra, daqui a muitos anos o andar debaixo conseguirá equilibrar as coisas, só que de maneira diferente.

Acho que as esquerdas têm um problema muito maior de forma que de conteúdo. Explico: enquanto já existe uma noção por parte de todos de que só com a mobilização da sociedade civil a gente pode chegar em algum lugar, não importa o que você pregue, a maneira como eles dizem isso é no mínimo rudimentar. Não dá pro João Pedro Stédile subir num palanque e gritar "Cuspam nas calçadas das multinacionais", como ele disse há dois anos em São Paulo, por mais que ele tenha razão em dizer isso. Palavras e expressões como "imperialismo ianque", "anti-bush", "morte ao capitalismo" e outras deveriam ser aposentadas. Não dá pra ficar pregando a revolução socialista em todo lugar, pelo simples fato de que ninguém sabe o que é isso. Simplesmente associam com algo muito ruim - e ela pode ou não ser ruim. Nesse ponto o Hugo Chavez foi perfeito: enquanto não tinha moral na Venezuela, quase não falava em socialismo. Simplesmente mobilizava a sociedade com o discurso de mudança. Conforme a popularidade e legitimidade dele foram crescendo, Chavez inseria em seu discurso elementos mais incisivos de esquerda. Agora, no topo, ele fez um discurso em Porto Alegre recheado de elementos socialistas e bolivarianos. Hugo Chavez é tudo, menos burro.

Agora, não dá mais pra agüentar o pessoal da esquerda hormonal, mais precisamente as Juventudes do PT, PC do B, PCB, PSTU, Anarquista e várias outras menores ainda. São as viúvas do Muro de Berlim, que lêem os clássicos da esquerda ao pé da letra. Não dá pra transferir para o nosso momento histórico o que Gramsci dizia no início do século XX, mas apenas utilizar seu raciocínio. Acho que se fechassem a zona pra essa garotada, eles deixariam de ser tão chatos e prolixos. A Juventude do PT é completamente burra: durante a passeata de abertura, José Genoíno pintou na área. Achei que ele ia ser linchado, já que a JPT só fala em socialismo. Mas não, teve gente que chorou de emoção e todos passaram a cantar gritos socialistas, abraçados ao Genoíno. Vai entender essa gente.

Em certa noite, o ministro Gilberto Gil foi até o acampamento acompanhado do Sérgio Amadeu. Foi com o violão, pensou que ia ser ovacionado. Não merecia, e em grande parte não foi. Mas também não era o caso do que fez uma dessas juventudes viúvas do muro de Berlim. Enfiaram o auto-falante dentro do barracão onde estava o Gil e não deixaram ele falar. Queriam discutir a situação das rádios comunitárias. Como não conseguiram, atravessaram tudo. Não perguntaram se os demais que estavam lá se queriam discutir a reforma da legislação das rádios-comunitárias. Foi um horror. O sujeito que queria debater com o ministro ainda se apresentou como sendo do "Grupo Mídia Independente, que está espalhado ao redor do mundo acompanhando o crescimento da revolução". Cadê a revolução, porra, que eu não tô vendo? Ninguém me avisa? O cara vive na quarta dimensão? Pelo menos valeu a pena ver o ministro nervosinho, caindo do salto alto. Afinal, como ministro, ele é um excelente cantor.

Enfim, o Forum foi depressivo, apesar de muitas coisas boas que vi por lá. Mas a viagem em si foi sensacional. Mas isso não é assunto de blog. Mais sobre o forum aqui.