terça-feira, 18 de maio de 2004

NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA, NOSSAS VIDAS MAIS AMORES

Fico profundamente indignado que o Rio de Janeiro tenha caído fora logo na primeira seletiva para levar as Olimpíadas de 2012 – aliás, igualzinho em 97, quando o Rio disputou as prévias para os Jogos Olímpicos deste ano. Só porque você não pode andar duas quadras a mais que já dá de cara com uma favela e um tiroteio entre traficantes? Só porque todo turista que lá põe os pés é rodeado por pobres mal cheirosos cheios de bexiga na cara e que expelem um dialeto próprio, algo do tipo "Descola um migué aí, tio!" e "Ô branquelo, me paga um BigMac"? Só porque a Lagoa Rodrigo de Freitas – onde seriam disputadas as provas de remo – é praticamente sólida, dado o alto grau de excrescências humanas? Saibam todos que a pobreza faz parte da nossa cultura. Como negar o charme daqueles morros em que político só sobe em época de eleições, trocando dentadura por votos? Ninguém pensou que os morros seriam os locais apropriados para as provas de tiro, com os pobres deselegantes servindo de alvo? Como negar o glamour do organizador do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que sugou uma quantia esplendorosa de dinheiro público para fingir que o Brasil é capaz de bancar uma Olimpíada?

Infelizmente todo este charme não foi levado em consideração pelos velhinhos caquéticos do COI. A candidatura brasileira perdeu, por exemplo, para a desenvolvidíssima cidade de Moscou, umas das mais seguras do mundo, onde não há violência, não há máfia e não há mendigos entupidos de vodka jogados pelas ruas.

Há meia dúzia de descontentes que bem merecem umas boas palmadas nos glúteos porque reclamam que o projeto olímpico do Doutor Nuzman criava um gueto na Barra da Tijuca, onde seriam os jogos de fato, e que o restante da cidade continuaria como sempre esteve. Mas querem o que? Que os pobres também participem? Que eles ganhem alguma coisa com a Olimpíada? Não basta acompanhar o Galvão Bueno e o Gato Mestre pela TV? Saibam estes descontentes que pobre é uma raça que deve ser acompanhada a distância. No máximo, sugiro que dois ou três ônibus blindados levem os turistas para observar os pobres na Rocinha, jogando algumas migalhas de pão velho para os subnutridos. Os pobres ficariam felizes, pois teriam o que comer nestes dias, e os turistas religiosos fariam a boa ação do dia.

Mas como quem vive de passado é museu, esqueço a candidatura do Rio. Aproveito aqui para convidar o mundo a se juntar na candidatura Jundiaí Olimpic Games 2018, com o slogan We´re poor but we´re little cleaned. Elejo o cachorro do meu vizinho, o Boris, um dobermann castrado e bem educado, para superintendente da organização. Afinal, se o Nuzman pôde organizar um comitê olímpico na Barra da Tijuca, não vejo porque um dobermann bem treinadinho não poderia fazê-lo em Jundiaí.

São pessoas como o Dr. Nuzman e todos os homens de bem que o apoiaram nesta empreitada que fazem do Brasil esta potência global que a todos nos orgulha e nos enche de esperança.

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