segunda-feira, 10 de maio de 2004

NÃO SOU HERÓI E MEU CAVALO NÃO FALAVA INGLÊS

Tive um sonho ridiculamente cult este noite. Sonhei que o telefone tocou. Machado de Assis estava do outro lado da linha e queria falar comigo. Disse-me que estava no Rio de Janeiro e que iria me ajudar em dois projetos meus: o primeiro é o TCC, uma vez que conhecera Ferdinand Porsche no Além (mas ele não disse que estava no Rio?). Um encontro tão improvável quanto encontrar Mikhail Gorbatchov tomando um chope com a Narcisa Tamborendeguy no Riviera.

Depois, ele disse que meu projeto de vida - que eu não tenho - estava defasado e que eu deveria fazer a gentileza de deixar de levar a pedra até o topo da montanha, já que depois ela sempre acaba caindo na minha cabeça. Pelo menos foi isso que eu acho que ele disse. Depois disse várias coisas completamente sem sentido e que eu nunca vou lembrar (não que algo tenha sentido nisso tudo). O Machado de Assis que falou comigo é um sujeito afável, de voz pausada e que sempre esboça um sorrisinho cínico ao final de cada frase. Aos literatos nerds de plantão digo que ele não gaguejou uma única vez. Me enganaram a vida inteira. 

Por fim, disse-me que Berthold Brecht me mandou um abraço (ah, mas o Gerald Thomas ia adorar ler esta viadagem). Até coçou-me uma vontade de ir atrás atrás de alguma coisa desse cara hoje de manhã. Quem sabe um aviso...Mas o pouco que sei dele – umas citações na coluna do Fausto Wolff, nenhuma obra dele eu conheço – indica que tudo isso não passou de um devaneio de bobagens sobre bobagens travestida de Machado de Assis, e que esse diálogo obtuso foi tão real quanto a minha participação no exército soviético na guerra fria que estourou no meu quintal em Jundiaí, como naquele sonho alucinógeno que tive certa vez.

Nem sei porque tô escrevendo isso aqui. Paul McCartney sonhou com Yesterday e a transcreveu para o piano ao acordar. Sonhei que recebi um interurbano de Machado de Assis, e o transcrevo agora neste este blog. Nem todo mundo é Paul McCartney. Seja modesto quanto a sua falta de talento.

Nenhum comentário: