segunda-feira, 31 de maio de 2004

A NOSTALGIA É MÃE DA INIQÜIDADE

Quando tinha cinco anos, minha mãe colocou o dedo no meu umbigo pra fazer cócegas. Disse que não deixasse ninguém fazer isso, pois se desatarraxassem o umbigo a bunda cairia.

Alguns anos mais tarde descobri que o umbigo não tem relação alguma com a retaguarda. E foi a partir deste momento que perdi a crença na religião, na política, nas diretrizes econômicas e nas faculdades de jornalismo.

O umbigo como parafuso da bunda foi minha primeira virgindade.

quinta-feira, 27 de maio de 2004

PLANETA TERRA CHAMANDO

Me perdoe a deselegância do exemplo que vem pela frente, mas este post vem do que há de mais ácido entre o fígado e a alma. Você é homem e quer fazer seu mapa astral? Esqueça a irmã do Gugu, eu tenho uma sugestão caseira. Vá até o departamento de xerox de seu emprego, abaixe as calças e coloque os testículos sobre a fotocopiadora. Tire cópias. Pegue uma delas e tente localizar onde estão Saturno, Escorpião, Alfa Centauro, a Mir e o caralho a quatro. Depois faça observações fundamentais, do tipo "Hoje meu dia não está propenso a relações afetivas", "Não vá ao banheiro sem um novo rolo de papel higiênico" ou ainda "o momento exige limpeza entre os vãos dos dedos dos pés".

Não me aborreçam, seus trilobitas!

(sim, é verdade que estou descontando em algo que já não me incomoda. Mas em algo eu tenho que descontar)

quarta-feira, 19 de maio de 2004

O LIDE QUE NINGUÉM DEU

Manchete dos principais jornais de hoje: 26 milhões de brasileiros não têm dentes

O lide que eu não vi:

 26 milhões de brasileiros não têm motivos para sorrir.

 É a nação corintiana que cresce.

terça-feira, 18 de maio de 2004

ESTE MUNDO É UM PANDEIRO

Nuzman: "Estamos no caminho certo. Somos candidatos em 2016."

NOSSOS BOSQUES TÊM MAIS VIDA, NOSSAS VIDAS MAIS AMORES

Fico profundamente indignado que o Rio de Janeiro tenha caído fora logo na primeira seletiva para levar as Olimpíadas de 2012 – aliás, igualzinho em 97, quando o Rio disputou as prévias para os Jogos Olímpicos deste ano. Só porque você não pode andar duas quadras a mais que já dá de cara com uma favela e um tiroteio entre traficantes? Só porque todo turista que lá põe os pés é rodeado por pobres mal cheirosos cheios de bexiga na cara e que expelem um dialeto próprio, algo do tipo "Descola um migué aí, tio!" e "Ô branquelo, me paga um BigMac"? Só porque a Lagoa Rodrigo de Freitas – onde seriam disputadas as provas de remo – é praticamente sólida, dado o alto grau de excrescências humanas? Saibam todos que a pobreza faz parte da nossa cultura. Como negar o charme daqueles morros em que político só sobe em época de eleições, trocando dentadura por votos? Ninguém pensou que os morros seriam os locais apropriados para as provas de tiro, com os pobres deselegantes servindo de alvo? Como negar o glamour do organizador do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que sugou uma quantia esplendorosa de dinheiro público para fingir que o Brasil é capaz de bancar uma Olimpíada?

Infelizmente todo este charme não foi levado em consideração pelos velhinhos caquéticos do COI. A candidatura brasileira perdeu, por exemplo, para a desenvolvidíssima cidade de Moscou, umas das mais seguras do mundo, onde não há violência, não há máfia e não há mendigos entupidos de vodka jogados pelas ruas.

Há meia dúzia de descontentes que bem merecem umas boas palmadas nos glúteos porque reclamam que o projeto olímpico do Doutor Nuzman criava um gueto na Barra da Tijuca, onde seriam os jogos de fato, e que o restante da cidade continuaria como sempre esteve. Mas querem o que? Que os pobres também participem? Que eles ganhem alguma coisa com a Olimpíada? Não basta acompanhar o Galvão Bueno e o Gato Mestre pela TV? Saibam estes descontentes que pobre é uma raça que deve ser acompanhada a distância. No máximo, sugiro que dois ou três ônibus blindados levem os turistas para observar os pobres na Rocinha, jogando algumas migalhas de pão velho para os subnutridos. Os pobres ficariam felizes, pois teriam o que comer nestes dias, e os turistas religiosos fariam a boa ação do dia.

Mas como quem vive de passado é museu, esqueço a candidatura do Rio. Aproveito aqui para convidar o mundo a se juntar na candidatura Jundiaí Olimpic Games 2018, com o slogan We´re poor but we´re little cleaned. Elejo o cachorro do meu vizinho, o Boris, um dobermann castrado e bem educado, para superintendente da organização. Afinal, se o Nuzman pôde organizar um comitê olímpico na Barra da Tijuca, não vejo porque um dobermann bem treinadinho não poderia fazê-lo em Jundiaí.

São pessoas como o Dr. Nuzman e todos os homens de bem que o apoiaram nesta empreitada que fazem do Brasil esta potência global que a todos nos orgulha e nos enche de esperança.

sexta-feira, 14 de maio de 2004

PEQUENAS PENSATAS ORIENTAIS

- O novo Stand Center sem muambas é como vender caviar na Somália.

- Tenho certeza absoluta que vi três vendedores do Stand Center fazendo bico de figurante em Kill Bill. Os vendedores de Yaksoba também.

- Hoje vi um japonês careca e de barba. Só faltava ser anão.

- Tudo que cai do céu é sagrado, já diriam os habitantes de Hiroshima e Nagazaki. 

quarta-feira, 12 de maio de 2004

O MUNDO É BREGA

    - Ministério dos Esportes, boa tarde?

    - Boa Tarde, por favor eu gostaria de falar com a assessora do Ministro.

    - Quem gostaria?

    - É Fernando, desta revista.

    - Ah sim, um momento, por favor.

(Música de espera) I JUST CALL TO SAY I LOVE YOU....

segunda-feira, 10 de maio de 2004

NÃO SOU HERÓI E MEU CAVALO NÃO FALAVA INGLÊS

Tive um sonho ridiculamente cult este noite. Sonhei que o telefone tocou. Machado de Assis estava do outro lado da linha e queria falar comigo. Disse-me que estava no Rio de Janeiro e que iria me ajudar em dois projetos meus: o primeiro é o TCC, uma vez que conhecera Ferdinand Porsche no Além (mas ele não disse que estava no Rio?). Um encontro tão improvável quanto encontrar Mikhail Gorbatchov tomando um chope com a Narcisa Tamborendeguy no Riviera.

Depois, ele disse que meu projeto de vida - que eu não tenho - estava defasado e que eu deveria fazer a gentileza de deixar de levar a pedra até o topo da montanha, já que depois ela sempre acaba caindo na minha cabeça. Pelo menos foi isso que eu acho que ele disse. Depois disse várias coisas completamente sem sentido e que eu nunca vou lembrar (não que algo tenha sentido nisso tudo). O Machado de Assis que falou comigo é um sujeito afável, de voz pausada e que sempre esboça um sorrisinho cínico ao final de cada frase. Aos literatos nerds de plantão digo que ele não gaguejou uma única vez. Me enganaram a vida inteira. 

Por fim, disse-me que Berthold Brecht me mandou um abraço (ah, mas o Gerald Thomas ia adorar ler esta viadagem). Até coçou-me uma vontade de ir atrás atrás de alguma coisa desse cara hoje de manhã. Quem sabe um aviso...Mas o pouco que sei dele – umas citações na coluna do Fausto Wolff, nenhuma obra dele eu conheço – indica que tudo isso não passou de um devaneio de bobagens sobre bobagens travestida de Machado de Assis, e que esse diálogo obtuso foi tão real quanto a minha participação no exército soviético na guerra fria que estourou no meu quintal em Jundiaí, como naquele sonho alucinógeno que tive certa vez.

Nem sei porque tô escrevendo isso aqui. Paul McCartney sonhou com Yesterday e a transcreveu para o piano ao acordar. Sonhei que recebi um interurbano de Machado de Assis, e o transcrevo agora neste este blog. Nem todo mundo é Paul McCartney. Seja modesto quanto a sua falta de talento.

sexta-feira, 7 de maio de 2004

ROBERTA NUA, CRUA E RODRIGUEANA

Durante uma troca de e-mails informais:

"Eu mato se descobrir a infeliz que lutou pela emancipação das mulheres. Queria ficar em casa cozinhando, vendo novela e tocando piano, meu pai podia escolher meu marido, ia ser tudo ótimo... mas não, a filha da puta foi queimar sutiã em praça pública... deu nisso."

Roberta S., estagiária da Editora Globo, uma mulher à frente de seu tempo.

CONTRIBUIÇÕES PASQUINIANAS

"Depois que os cientistas japoneses anunciaram a reprodução sem sexo de um camundongo criado por um casal de fêmeas e sem pai, conversei com minha amiga, o Almeidão, líder da ONG Poder Sapatão. Ela limitou-se a me dizer: "Não precisamos de vocês para porra nenhuma". (Nataniel Jebão)

"Se tivesse morrido há um ano, hoje faria um ano que o Senador Antônio Carlos Magalhães teria falecido. Se fosse há 35 anos, entretanto, seria ótimo". (Fernando de Castro)

quinta-feira, 6 de maio de 2004

TODOS ESTÃO SURDOS

Karen Cunsolo é uma das mulheres da minha vida. Me sinto à vontade pra dizer isso, uma vez que ela é mulé do meu brother Richard Muniz. Nesta sexta-feira encerro um ciclo de seis semanas trabalhando um andar abaixo dela, no qual todos os dias tomamos chocolate na sala de café ou comemos pizza na padoca da esquina.


Eu e Karen Cunsolo somos cúmplices de pensamentos politicamente incorretos e de piadas pesadas. Quando um elemento ordinário pinta na área, eu levanto a sobrancelha daqui enquanto ela pisca o olho de lá. Ao mesmo tempo.

Nesta sexta-feira eu vou ficar mais triste. Acostumei com essa presença pequena porém gigante no meu cotidiano. Como no início de ano, nos encontraremos provavelmente apenas nos bares da vida, uma vez por mês, talvez menos. E como eu lamento isso.

E ela não é a única que eu lamento.

Às vezes penso que deveria, por exemplo, passar seis semanas ao lado de Gabriel Falcione. Pra discutir o Palmeiras, a Verrazano-Narrows do Gay Talese ou, simplesmente, a vida. O mundo deveria estar cheio de estelionatários como Gabriel Falcione.

Da mesma forma, por onde anda Rodrigo Joselito, que sequer deu-se ao trabalho de me adicionar no msn? Por que não passamos benditas seis semanas voltando da Benedito Calixto completamente bêbados ao amanhecer, como em tempos passados? Por que eu nunca mais o espanquei quando ele cantou bêbado e não deixou ninguém dormir no meu apartamento?
Eu poderia citar também o próprio Richard Muniz, meu quase companheiro de Timor Leste, ou as siamesas Geiza e Maíra, ou ainda Daniel Patire, ou tantas outras pessoas as quais tenho mais afinidade do que aparento. Se eu fosse um cara menos displicente, daria aqui com todas as honras a lista completa de todas aquelas pessoas com quem converso menos do que deveria conversar, com quem bebo menos do que deveria beber, com quem deveria passar seis semanas com a mesma cumplicidade com a qual passei com Karen Cunsolo.

E na falta de todas essas possibilidades, a Karen fica como símbolo. Nesta sexta-feira ela representa pra mim o que todo esse grupo de pessoas sempre significou. Muito do que sou, e principalmente muito do que quero ser, terá sempre como foco essas pessoas.

Que não esqueçam disso.

quarta-feira, 5 de maio de 2004

Ó TEMPORA, Ó MORES



*** Cientistas da Universidade Anhembi-Jundiaí confirmam: o refrão Difícil é ter você perto dos olhos, mas longe do meu coração é mal interpretado por cegos e safenados em geral;

*** Ratos que viviam no porão da Academia Brasileira de Letras abandonaram sua moradia em protesto frente a posse de Marco Maciel na cadeira 39 do recinto. Indignados, os roedores mudaram-se para a Rocinha. "O clima lá está menos tenso", teria comentado um dos retirantes;

*** Toda vez que vejo Dado Dolabella sendo entrevistado por Lyon Wolff e afins, entendo todo o sentido intrínseco existencial do Auto da Barca do Inferno. Aliás, Dado, você tem dado em casa? (piada óbvia, porém deliciosamente necessária);

*** 25 habitantes da parte de baixo do Minhocão suicidaram-se de alegria ao saber do novo aumento do salário mínimo. Economizando mais 45 anos, poderiam comprar um apê em Higienópolis. E ainda reclamam do ministro Paloffi;

*** Filme pornô com o Alexandre Frota é zoofilia;

*** Fernando Vives, 23, é dublê de jornalista e autor do best-seller 'Quem mexeu na minha mortandela?';

*** La situacion ces´t periclitant.

terça-feira, 4 de maio de 2004

Hoje é aniversário de Kátia Mello. Os deuses devem estar felizes. Não há festa que caiba no Monte Olimpo para ela. Alegria deste que vos fala.

O QUE TE TROUXE A ESTAS BANDAS, GULLIVER?

O chuva que tomou conta de São Paulo – que ameaçou desabar o mundo mas que não encheu um copo d´água – deu origem a um arco-íris cuja ponta acaba aqui no jardim desta editora. Reza a lenda que no final de todo arco-íris há um anão tomando conta de um pote de ouro. O anão eu já vi – Karen C., estagiária lilliputiana local. Aguardo maiores informações sobre o paredeiro do pote de ouro.

segunda-feira, 3 de maio de 2004

Enquanto isso, no Globo Online

Juliana Paes ao alcance da mão

Sensacional manchete de duplo sentido. Ao alcance da mão porque a Playboy dela está nas bancas, ao alcance da mão porque...sim, oras. Repare a foto de capa, com as partes confortáveis da moça ao vento. Como diria Chico Buarque em fins dos anos 70, em Tango do Covil:

Benvinda, tua beleza é quase um crime,

Tu és a bunda mais sublime,

Aqui deste covil.

Como sempre, Chico Buarque 25 anos na frente da concorrência.