domingo, 31 de agosto de 2008

POLÍTICA, PINDAMONHANGABA E O ALASCA

Todos sabem que sou um excepcional comentarista de política internacional. Á Áustria nunca mais foi a mesma depois que SorryPeriferia dissertou sobre o porão da família Fritzl. Já Francis Fukuyama leu a comparação física entre Obama Barack e Dadá Maravilha postada aqui há alguns meses e declarou: "É o fim da História". Pois vou seguir nesta toada de sucesso, mas não sem antes falar sobre as eleições municipais paulistanas.

Tenho um amigo que trabalha na campanha de Geraldo Alckmin. Ele está apaixonado pelo candidato tucano. É sério. É comum chamarmos as pessoas que gostamos de "Chuchu", mas nunca vi tamanha propriedade quando este meu amigo chamou o dito cujo de "o meu chuchu". Primeiro, porque Alckmin é a encarnação humana desta leguminosa e, segundo, porque havia no olhar deste meu amigo um pantagruélico estupor sexual. Coisas de campanha.

Mas o fato é que, tirando a tietagem explícita deste meu amigo, Geraldo Alckmin está só. Primeiro foi o prefeito Giba Kaká que nem cogitou em apoiá-lo, como queria o tucano. Preferiu a carreira solo e, se as pesquisas continuarem assim, é até capaz de ir ao segundo turno no lugar do outro. Depois, o governador José Serra viu que Geraldo estava na beira do precipício e resolveu ajudá-lo a dar um passo a frente: apoiou o Giba Kaká.

Veja bem, eleitor leitor, a coisa não pára por aí. Desde 1994 que eu era obrigado a agüentar o Dominguinhos fazendo a maioria dos jingos de campanha do PSDB. No entanto, esta semana liguei no horário político e não havia nem sinal do forrozeiro. É impressionante: até o Dominguinhos abandonou Geraldo Alckmin.

Em favor da falta de carisma do mais leguminoso dos tucanos está o fato de que existe uma tendência internacional em políticos sem carisma, mesmo com esta onda de achar que o Obama Dadá Maravilha é o novo Messias. John McCain, o republicano candidato a brincar com estagiárias no Salão Oval da Casa Branca, escolheu uma vice-candidata que é um chuchu, no mau sentido.

A companheira se chama Sarah Pelin, tem 44 anos, cinco filhos e é governadora do fundamental estado do Alasca - segundo um estrategista da campanha democrata, "McCain escolheu uma vice que é a governadora de primeiro mandato de um estado que tem mais rena do que gente"*.

Sarah Pelin é casada, tem cinco filhos e seu marido é quem leva os cinco filhos pra escola. Até aí tudo bem. Mas antes que alguém comece a enxergar ares de feminismo na moça, é melhor avisar que ela é membro-militante da Associação Nacional Do Rifle (que o Exu Bebeta o tenha, Charlon Heston), é contra o casamento gay e o aborto, adora uma caçada e recentemente ficou possessa porque botaram o urso polar na lista de animais sob risco de extinção. Segundo ela, colocar o urso nesta lista dificulta a exploração do petróleo nas reservas onde eles vivem.

O fato é que McCain jogou na lareira o único discurso que tinha para beter no Babá Maravilha: a falta de experiência. Vai ver o que McCain, vendo que o elefante republicano está atolando-se no brejo, resolveu trucar e colocar um ingrediente inusitado jogo desta eleição: a desconhecidíssima Sarah Palin. Se nem a razão nem a emoção estão do seu lado, o melhor é apelar ao exótico.

Se as próximas pesquisas anunciarem um crescimento do McCain, Geraldo poderia seguir a mesma estrégia e anunciar alguma bizarrice, tal como adotar o Aerotrem do Levi Fidélix ou anunciar o Sérgio Mallandro (candidato a vereador) como Secretário da Cultura. Amadurecimento das instituições democráticas é isso aí.

*frase tirada do Estadão deste sábado.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

DE REPENTE, UM ACONTECIMENTO IMPRESSIONANTE

Aproveitando a quentura da noite desta quinta-feira, saí por aí a caminhar para aliviar as marcas de pneu nas minhas costas e acender um cigarro existencial nalgum bar. O escolhido, muito por acaso, foi o Esquina do Fuad, que é, ao mesmo tempo, um dos piores bares de São Paulo e um dos que eu mais freqüento (não deixe de reparar nos erros de português do cardápio, que dão um charme nada especial ao recinto).

Depois de duas Serra Malte e de ficar chuchando um pãozinho no azeite jogado ao prato, fazendo de conta que o azeite é de oliva mesmo, e não óleo Soya, eis que surge do meu lado um dos meus ídolos: o apresentador Nerivan Silva, do Amigos do Forró, espetacular programa brega/trash que passava na TV Gazeta aos sábados à tarde.

Nerivan está com um cabelão anos 80 a la Echo and the Bunnyman e foi logo pedindo uma chuleta na brasa. Engasguei de emoção. Bati nos bolsos da calça procurando a câmera fotográfica, mas ela ficou em casa.

Se eu fosse um fã profissional, teria perguntado qual o futuro do Amigos do Forró, teria questionado sobre a marca de xampu que ele usa, teria ao menos oferecido o prato com óleo Soya pro Nerivan também chuchar um pãozinho.

Mas não. Pedi a conta e fui embora. Eu e essa mania de fugir do sucesso. Besouro, quando cai de costas, não se levanta nunca mais.

P.S.: Aqui, uma espetacular entrevista em ping pong com Nerivan Silva.

DE QUANDO EU ME TORNEI POLÊMICO

Foi mais ou menos assim: era aula de História da Arte com uma professora para quem um dia alguém disse que seria uma gênia ou uma louca. Essa pessoa evidentemente estava mentindo, pois juro por minhas unhas encravadas que ela era 100% doida varrida, mas doida varrida mesmo, com gigantes exclamações ao fim desta expressão.

Ela explicava a diferença entre impressionismo e expressionismo porque era a única coisa que ela conseguia fazer. A companheira doida varrida então pediu para que exemplificássemos uma comida que fosse impressionista - leve, sutil - e outra expressionista - forte, chocante.

Bem, eu gosto de exemplificar coisas. Mas na hora de falar sobre minha experiência gastronômica impressionista, outros alunos ergueram o dedinho antes e citaram o mousse de maracujá. Ok, mousse de maracujá é impressionista.

Na hora de citar um exemplo expressionista, novamente fui lento o bastante para permitir que outra pessoa erguesse o dedo antes e citasse o mousse de chocolate. Ergui as sobrancelhas em reprovação. Mas a doida varrida do corpo docente juntou as mãos e, atônita, bateu palminhas curtinhas: "Excelente!!! Mousse de maracujá é mais leve; o de chocolate é uma experiência mais expressionista mesmo!!!".

Inconformado com o último exemplo, ergui os dois braços e já fui logo rasgando: "Professora, expressionista pra mim é buchada de bode...".

Parte dos presentes riu, outra parte me censurou por atravessar a experiência artístico-gastronômica de maneira tão pouco sutil, e a companheira professora da porca solta me repreendeu com a veemência de um Napoleão de hospício.

Mas apostaria uma buchada de bode que eu ainda tenho razão.

Moral da História 1: Quando um louco está acima de você, não importa o que ele faça: o louco sempre vai ser você.

Moral da História 2: A bienal de arte moderna está chegando e a polícia não faz nada.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

NÃO TEM SUPER TRUNFO NAS OLIMPÍADAS

Olha, até acho que houve um tempo em que os Jogos Olímpicos eram algo sensacional. Não, fino e escasso leitor, não boicotei as Olimpíadas de Pequim e inclusive perdi algumas madrugadas para assistir, por exemplo, uma dupla brasileira do vôlei-de-praia perder para a da Áustria, que não tem praia. Se fosse vôlei-de-porão eu até entenderia, porque de porão os austríacos entendem, conforme atestaria a família Fritzel. Mas também não tenho nada que falar mal da meia dúzia de medalhas de bronze que o Brasil trouxe da China.

Para falar a verdade, olímpico leitor, há algo que me incomoda muito. É como uma pedra no rim moral. Trata-se da decepção por conta da amarelite aguda que toma conta da psique do atleta brasileiro em momentos importantes, e que em Pequim atingiu os 40 graus no termômetro no judô e na ginástica artística.

Veja só que vida miserável tem um atleta. Peguemos (no bom sentido) o Diego Hypólito, ginasta até então considerado o melhor do mundo e que caiu sentado (no bom sentido) no tablado junto como sonho da medalha olímpica. Anti-carismático por natureza e consideravelmente arrogante, Diego passou a maior parte de sua vida ouvindo um treinador ucraniano gritar todos os dias os dias todos para que ele melhorasse cada salto, cada movimento, cada gesto. Aos poucos ele passou a se destacar, ganhar competições cada vez mais importantes, e, conseqüentemente, a ouvir o tal ucraniano gritar cada vez mais para ele se preparar cada vez mais para o objetivo maior, que era o ouro olímpico. Não deu. Minutos depois de encostar os glúteos no tablado ao vivo para milhões de pessoas, um destroçado Diego deu entrevista aos prantos pedindo desnecessárias desculpas ao Brasil.

Se o financeiro leitor acha que o Diego Hypólito ganha o suficiente para viver sob confinamento e tamanha pressão, simplesmente não entendeu nada do que estou tentando dizer. Isso não tem nada a ver com dinheiro. Eu não trocaria nada desta minha vida classe média tatibitate pela vida de um atleta de alto rendimento. Enquanto nos últimos quatro anos eu passava as terças-feiras à noite no Asterix jogando conversa fora com os amigos e calibrando a barriga de cerveja, Diego dormia sonhando com medalhas olímpicas.

Para não ficar apenas nos mal sucedidos, peguemos o exemplo de César Cielo, primeiro medalhista de ouro da história da natação brasileira. Se refugiou dos Galvões Buenos da vida ao ir aos Estados Unidos, onde treina em uma universidade no Alabama. Há alguns meses, a revista Piauí fez um perfil da vida que Cielo leva nos States. Seu técnico é tão comovente quanto um ditador latino-americano dos anos 70: grita sem parar, é constantemente cruel com o nadador (o objetivo é sempre incentivá-lo) e o confina o máximo possível. Moral da história: a vida de Cielo é tão interessante quanto a de um exilado na Gulag. Quando Cielo levou o ouro, chorou feito uma criança. De alívio, claro. Se ele refugasse tal qual Baloubet do Rouet fez nos Jogos de Sidney, vai saber o que aconteceria com a cabeça do menino.

O amigo Leandro Beguoci tem escrito ótimos posts desancando o Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei. Bernardinho é o tipo vencedor que tem legiões de fãs entre os alpinistas corporativos que têm como único objetivo de vida subir na empresa. “Ele é osso duro, tira o sangue do time, sempre mostra resultados”, já cansei de ouvir. Não, toupeira, Bernardinho é uma figura deplorável. Se para atingir um objetivo eu tiver que viver sob a angústia e o medo, então este objetivo não merece ser atingido. Prefiro ficar tomando cerveja no Asterix.

Triste daquele que vive em função de um só objetivo na vida. E o esporte de alto rendimento é isso: percamos a vida por a merda de uma medalha. Vou injetar umas tranqueiras nas minhas veias, vou morrer de câncer aos 40 anos, mas vou ganhar o ouro e entrar para a História.

Lembrei de tudo isso neste sábado, quando voltei pra minha terra e dei de cara com minha coleção de Super Trunfo. Passei boa parte da infância a jogar cartas com o vizinho da frente na garagem dele ou na minha. Este meu amigo hoje é metalúrgico, trabalha de madrugada e quase não temos contato. Sei dele por minha mãe, que fala com a mãe dele, e vice-versa. Nas poucas vezes em que nos vemos, de relance, sempre encerro as conversas com “Qualquer dia passo na tua casa pra gente jogar um Super Trunfo”. Se fosse modalidade olímpica, eu iria a Pequim, com certeza. E não estaria muito preocupado em ganhar medalhas. Não é essa a liturgia da coisa. Chupa, Michael Phelps.

domingo, 17 de agosto de 2008

OSCAR NIEMAYER, O MICHAEL SCHUMACHER DA GERIATRIA

Pois é, não tem mais bobo na terceira idade. 2008 chegou para abalar os corações mais sensívels (safenados) e já mostrou que joga no time de Oscar Niemayer, o arquiteto de Stonehage.

Veja só: até o mês de junho, nosso Matusalém predial tinha concorrentes centenários ou quase centenários à altura, todos com suas dentaduras cerradas para - como diriam Milionário e José Rico - ver quem chega mais longe nesta longa estrada da vida.

Mas em junho foi-se Jamelão aos 95 anos. O grande Jamela puxava samba-enredo no Morro da Mangueira desde que este tinha vista para a África, não para o Oceano Atlântico, porque durante a Pangéia era tudo ali grudadinho. Não precisava nem de uma Rio-Niterói. Mas nos últimos anos, tal qual a Super Aguri na Fórmula 1, o motor dava sinais de que ia pifar em breve. E pifou. Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu.

Eis que veio o mês de julho e levou a líder da prova, Dercy Gonçalves, que chegou aos 101 anos esbanjando absolutamente nada. É como a McLaren, que sempre entrega no final. E Niemayer viu-se então líder da prova com certa folga, seguido a uma certa distância por Dorival Caymmi que, com seus 94 anos, permitia ao arquiteto poder até dar uma parada nos boxes e mesmo assim voltar líder à corrida.

Mas agosto chegou e levou Dorival para Maracangalha, deixando Niemayer sem o mais longínquo sinal de que terá adversário pela próxima década. É o Schumacher da velhice. Quem tem Oscar não precisa de Cocoon.

----------------------------

Agora prometo voltar ainda esta semana com alguns comentários sobre os Jogos Abertos do Interior que estão ocorrendo ali em Pequim. Como diria Nietzsche: "É, amigo... haja coração!!!!"