Eu ia dizer que lembro como se fosse ontem mas, como se não bastasse o clichê, é mentira. Fiz um esforço hercúleo para tirar da memória a primeira vez que fiquei bêbado. Localizada a sinapse, os fatos vieram à tona feito nhoque cozinhando na panela – a metáfora gastronômica surge porque é uma e meia da manhã e eu estou com fome.
Havia uma danceteria – não existia a expressão “balada” naquela época - em Jundiaí chamada “Dreams”. Reza a lenda que em muitas outras cidades o nome “Dreams” se refere a puteiros, o que faz mais sentido. Porém, na minha terra, “Dreams” era onde, por 15 reais, Whigfield, Alexia, La Bouche, Double You, Scatman John e outros ícones da batistaca invadiam os ouvidos ao mesmo tempo em que a fumacinha de eucalipto surgia na pista de dança. Se você queria ser um cara legal em Jundiaí em 1997 – Deus meu, que triste dizer isso - você tinha que ir à “Dreams”.
Naquele tempo, um dos meus poucos amigos era o Maguila. Não o original, e sim um sósia dele na minha sala do colegial. Maguila era o sujeito calado por excelência. No primeiro dia de aula, fiz duas perguntas quaisquer para ele, e tive como resposta: “Não sei”. Ficamos amigos. Era o único sujeito que falava menos do que eu – sintaticamente, todas as suas frases eram formadas por períodos simples, jamais compostos - e, de quebra, ria de absolutamente qualquer coisa que eu falava.
Eu e o Maguila combinamos uma semana inteira de ir à Dreams na sexta-feira. Eu passaria a pé na casa dele e juntos andaríamos um quilômetro até a danceteria, que batia muro com uma Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A fila ficava na frente da igreja, o que me permitiu decorar o nome dela – e tive tanto sucesso nesta empreitada que hoje, dez anos depois, o escrevi inteiro neste parágrafo sem dar uma olhadela no Google.
O interior da Dreams era roxo, as luzes também era roxas e o fumacê de eucalipto da pista de dança me deixava um tanto confuso. Eu tinha o maior medo de pisar nas pessoas, o que de fato ocorria a torto e a direito. O que eu era xingado por meninas só porque pisava no salto agulha delas nas baladas não estava escrito.
Lembro que eu e o Maguila entramos, pisamos em alguns pés femininos, ouvimos alguns xingos e ficamos com cara de merda. Eu tinha vergonha de dançar porque era maior que todo mundo no recinto e as pessoas ficavam me olhando com as sobrancelhas arriadas, sem contar no espaço que eu gastava pra me mexer pros lados. Aí o Maguila teve a grande idéia: “Vamos beber”.
Saímos da pista de dança para entrar na fila dos drinques que eram feitos por um barman que era a cara do Eduardo Suplicy. Eu achei o máximo o Suplicy ali girando a coqueteleira como se fosse fácil. Por sugestão do Maguila, pedimos uma Pina Colada que, naquela idade, era uma coisa deliciosa, doce como todas as bebidas deveriam ser aos 16 anos. Depois pedimos ao Seu Suplicy um Curaçao Blue. Este sim era uma merda. Tinha gosto de bagaço de laranja.
Voltei para a pista de dança um pouco mais solto, me mexendo mais, para azar do resto das pessoas. Comecei a observar a liturgia do xaveco furado. Perguntei ao Maguila se ele não ia arriscar a fazer o mesmo com alguém, no que ele me respondeu que tinha vergonha e – frase clássica – tava “di boa”. Resolvemos sair de lá em definitivo para beber.
Como a fila de bebidas era enorme e bagunçada, o Maguila me ensinou um truque que ele havia visto em outra balada: “Era só chegar no balcão no meio das duzentas pessoas reclamando da demora, gritar “Cadê a minha cerveja, porra?” que o coitado do atendente deixava uma correndo na minha mão. Fiz isso com cervejas e caipirinhas, mas não lembro quantas.
Lembro do Maguila arriscando algumas orações com período composto a dizer que pretendia arrumar um emprego, o que não conseguiu até o fim do colegial – anos depois fui saber que ele trabalhava num lava-car, tinha um pit bull e duas tatuagens de rothweiller nos braços. Passamos o tempo pendurados no balcão falando mal das professoras, ranqueando as meninas gostosas da escola e outras coisas sobre a vida de dois adolescentes que não tinham muita intimidade com os holofotes.
Deixamos a Dreams às três da manhã e voltei pra casa bêbado fazendo a Dança da Manivela nas ruas. O Maguila, coitado, não parava de pedir pra eu parar porque poderia acordar a vizinhança.
Ao contrário do que possa parecer, eu me diverti muito naquela noite.
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